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A ESCALA INTUITIVA DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS DE WESTCOTT

A pesquisa empírica mais extensa sobre a intuição foi feita por Malcolm Westcott em uma série de estudos que cobriram uma década terminando no final dos anos 60. Declaradamente predisposto ao modelo intuição-como-inferência, Westcott, atualmente na Universidade de York em Toronto, tentou definir pessoas intuitivas não apenas pelo estilo de comportamento como também pelo desempenho real. Depois, então, usou testes padrões de personalidade para determinar como são as pessoas intuitivas.

Westcott fazia as pessoas analisadas resolverem problemas envolvendo séries e analogias, tanto verbais como numéricas. Cada problema tinha uma única resposta, o que seria óbvio para qualquer um que tivesse todas as pistas. Por exemplo, o indivíduo devia preencher o número que falta na relação 16:___. As pistas, reveladas em ordem à medida que solicitadas, são 4:2, 9:3, 25:5, 100:10, 64:8. A resposta, naturalmente, é 4.

Westcott olhava em duas variáveis: primeiro, quantas pistas os indivíduos solicitavam antes de se disporem a fazer julgamentos; e, segundo, a correção das respostas. Ele concluiu que as duas medidas eram relevantes para os padrões segundo os quais normalmente julgamos as pessoas intuitivas: aqueles que pulam para conclusões precisas mais rapidamente que o esperado. Ele descobriu que as pessoas caíam em dois contínuos separados: um variava de muito preciso a impreciso, o outro de precisando de poucas pistas a precisando de muitas. Com base nos valores dos testes, Westcott dividiu cada um dos 1.097 indivíduos de seus onze estudos (197 homens, 900 mulheres, todos estudantes) em quatro grupos:

1. Pensadores intuitivos; poucas informações, muito bem sucedidos na descoberta de soluções.

2. "Chutadores"; poucas informações mas tipicamente malsucedidos.

3. Sucessos cuidadosos; informações excessivas e muito bem sucedidos.

4. Fracassos cuidadosos; malsucedidos apesar do excesso de informações.

Usando uma variedade de testes de personalidade e entrevistas, Westcott e seus colegas descobriram que as pessoas intuitivas tendem a ser:

não convencionais e à vontade nessa situação.

confiantes (eram mais seguras em suas respostas no teste que aquelas que esperavam mais pistas).

auto-suficientes (não baseavam suas identidades na participação em um grupo social).

emocionalmente envolvidas em questões abstratas, em termos intelectuais ou acadêmicos, ou em valores humanos (a distinção pode ser semelhante ao NP e NT junguiano).

dispostas a explorar incertezas e considerar dúvidas, e capazes de fazê-Io sem medo.

dispostas a se exporem a críticas e desafios.

capazes de aceitar ou rejeitar as críticas quando necessário. dispostas a mudar de maneiras que consideram apropriadas. resistentes a controle e direcionamento externo.

independentes. previdentes. espontâneas.

Houve claras diferenças de personalidade entre intuitivos e chutadores, ambos parecendo ter um estilo intuitivo na medida em que requeriam relativamente poucas pistas. Os chutadores, que não eram bons na solução de problemas, eram absorvidos consigo mesmos, cínicos, e tinham alto grau de problemas físicos e

emocionais. Havia também uma clara distinção entre pessoas intuitivas e pessoas de sucessos cautelosos, que tinham respostas corretas mas que necessitavam de muita informação.

Esses últimos se destacaram na preferência pela ordem, certeza, controle e respeito pela autoridade. Mais conservadores, funcionam melhor em situações onde as expectativas são claramente estabelecidas. Essas diferenças correspondem à distinção comum entre estilos intuitivo e racional.

Precisamos ser circunspectos quanto tentamos generalizar a partir dos estudos de Westcott. Ele usou estudantes em situações altamente artificiais, onde havia pouca motivação intrínseca. E ele estava testando intuição de um tipo específico (se é que, de fato, era intuição) que pode não ser comparável à intuição associada com rompantes imaginativos, inspiração criativa, introspecções interpessoais penetrantes, ou revelação espiritual. E nem a estruturação lembrou a vida real: cada problema tinha apenas uma única resposta certa; os problemas e os ingredientes necessários para a solução eram claramente defmidos; e as respostas podiam ser obtidas com pura dedução.

Não obstante, as estruturas de personalidade que emergem dos estudos de Westcott (documentados em seu livro de 1968, Toward a Contemporary Psychology of Intuition) correspondem muito de perto aos dados junguianos sobre o tipo intuitivo. E ambos se encaixam bem com os dados sobre estilos de solução de problemas e com medidas de qualidades associadas com pessoas intuitivas: criatividade, originalidade e independência de julgamento. As estruturas descrevem uma constelação de características: não-conformistas, auto confiantes e altamente motivados que podem tolerar ambigüidade, mudança e incerteza, e dispostos a se arriscarem a parecer tolos ou estar errados.

Não há nenhuma resposta fácil para a pergunta "Quem é intuitivo?" Mas, usados com cautela, os testes e estruturas de personalidade existentes podem ajudar-nos a reconhecer pessoas intuitivas. Quando uma situação exige uma abordagem intuitiva, as pessoas que preenchem as características deverão, em média, ser mais adequadas. Embora não haja garantia, é provável que as pessoas

independentes, confiantes e flexíveis aprendam a usar sua intuição melhor que a maioria. De fato, é provavelmente verdade que uma das razões de elas terem essas características é que em algum ponto aprenderam a confiar em suas vozes interiores.

Quando defrontadas com incerteza e ambigüidade, as pessoas sem esses aspectos poderão tentar restabelecer o equilíbrio impondo o máximo de previsibilidade que puderem, grudando-se como cola a regras e procedimentos rígidos, ou procurando a segurança geralmente falsa das estatísticas. Elas poderão definir problemas de maneira excessivamente simples, coletar informações somente em locais seguros, e considerar apenas alternativas seguras e predizíveis. Dessa maneira desencorajam suas mentes intuitivas de operar efetivamente. Aqueles que gostam, ou pelo menos toleram, condições de incerteza e que são adaptáveis e independentes, têm mais probabilidade de encorajar sua intuição e dar-lhe espaço para operar.

Poderia ser tentador para qualquer um que queira tornar-se mais intuitivo, tentar cultivar os atributos e estilos da personalidade intuitiva. Isso, porém, deveria ser feito com cuidado. É perigoso adotar certos comportamentos externos na esperança de ser transformado internamente. A tensão do indivíduo de tentar ser algo que não é pode representar uma barreira maior à intuição do que os traços de comportamento. Certos aspectos da personalidade intuitiva e do estilo intuitivo podem, no entanto, ser adotados sem artifícios demais e sem o sacrifício das nossas tendências naturais. Fazer isso pode ser um benefício definitivo à intuição. Voltaremos a esse assunto no Capítulo 8.