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Nick e Nora vão a uma festa onde conhecem gente nova. No caminho de volta, Nick diz: "Os Carters formam um belo casal, não?".

"Gostei deles", diz Nora, "mas acho que o casamento deles não vai lá muito bem."

"Qual é? Eles são ótimos! Pode até ser que eu faça algum negócio com o Carter."

"Eu não confiaria nele", diz Nora.

Mais tarde, ficou provado que Nora estava certa em todos os pontos. E assim, através dessas experiências comuns, o folclore da intuição feminina é reforçado.

Isso vem de longe. Vemos as palavras feminino e intuitivo sob o antigo símbolo taoísta do yin, que representa o lado suave, submisso, receptivo, passivo, interno da natureza. No yang, o lado rude, dinâmico, ativo, dominante, está associado com masculino e lógico. Isso parece emprestar autenticidade aos rótulos, dando- lhes a sanção da antigüidade e da ordem cósmica. E, realmente, existe aiguma coisa de yin na intuição. Mas será verdade que as mulheres realmente são mais intuitivas que os homens? E, se forem, é um traço determinado biologicamente ou culturalmente adquirido?

As tentativas diretas de estudar essa questão não foram conclusivas, principalmente por ser tão difícil medir a intuição. Quanto ao estilo, alguns estudos constataram que as mulheres são mais intuitivas; outros concluíram o oposto. Veriticar as diferenças de sexo nas medidas de desempenho e de comportamento poderá indiretamente lançar alguma luz à questão.

Pesquisas sugerem fortemente que os homens se saem melhor em testes de visualização espacial (lidar com mapas, labirintos e objetos tridimensionais) e em raciocínio matemático, particularmente quando envolve organização espacial, como na geometria. Ao solucionar problemas, os homens os encaram de maneira mais limitada e são menos dependentes de variáveis situacionais. As mulheres, em contraste, são mais sensíveis ao

contexto: elas captam informações periféricas não diretamente relacionadas com a tarefa em questão. As mulheres processam informações mais rápido, são melhores para entender informações não verbais e ler expressões faciais, e mais sensíveis a ligeiras variações de som e odor.

Se, como as evidências sugerem, as mulheres são mais receptivas ao material periférico e subliminar, elas poderiam adquirir mais a matéria-prima que a mente processa em lampejos intuitivos. A orientação masculina para objetos concretos, que parece começar na infância, poderia predispô-Ios a um estilo de pensamento racional e quantitativo, uma vez que os objetos materiais podem ser manipulados dessa maneira. Isso poderia explicar a cena da festa; embora estivesse inconsciente delas, Nora captou indicações sutis que não foram registradas nem subliminarmente por Nick. Isso também poderia ajudar a explicar por que, ao passarem por uma cidade estranha, a mulher pode depois lembrar- se do atraente restaurante ou reagir aos estímulos do ambiente, enquanto o homem está planejando um roteiro melhor.

Essas conhecidas diferenças entre os sexos são relativamente pequenas, porém, constituem diferenças médias. Em média, o homem ou a mulher se saem melhor em certos testes: os homens em matemática, as mulheres em linguagem, para citar um outro exemplo. Naturalmente, isso não significa que todos os homens são melhores que todas as mulheres em matemática, ou vice- versa com linguagem, nem equivale a dizer que todos os homens são mais altos que todas as mulheres. Acrescente-se que a magnitude das diferenças dentro de cada sexo é maior do que entre os sexos. No todo, os testes comportamentais não indicam nenhuma predominância da intuição das mulheres; no máximo, eles constituem uma explicação parcial se é que o fenômeno existe.

Ninguém sabe se as diferenças comportamentais entre os sexos são uma questão de natureza ou de educação. A controvérsia é grande, e a objetividade muitas vezes remete à política, o que torna difícil aos cientistas entregar-se de bom grado ao debate

público. Atualmente está na moda admitir que as diferenças dos sexos podem ser atribuídas ao condicionamento ambiental.

Cientistas que simplesmente tropeçam em evidências contrárias, correm o risco de serem rotulados sexistas, independentemente de suas convicções políticas ou sociais.

As pequenas evidências existentes sugerem que o debate irá continuar por muito tempo e talvez não seja resolvido antes que se resolva o problema da galinha e do ovo. Alguns pesquisadores acreditam que existem diferenças estruturais e organizacionais entre os cérebros masculino e feminino, mas não existem provas conclusivas disso. O que nós sabemos é que existe uma relação entre comportamento e hormônios sexuais. Mulheres com excesso de hormônios masculinos no período pré-natal irão mostrar maior interesse por esportes e carreira, menos interesse em bonecas, roupas e maternidade; homens com excesso de hormônios femininos desenvolvem habilidade atlética abaixo da média, além de menos agressividade e afirmação. Mas a pesquisa neurológica está apenas começando, e se os dados se relacionam à intuição é algo que só o futuro dirá.

E quanto aos dois hemisférios do cérebro? Tentar dar sentido às noções populares sobre diferenças dos sexos e dos hemisférios pode deixar qualquer um maluco. Já li que os homens são orientados pelo hemisfério esquerdo e as mulheres pelo direito, porque raciocínio matemático é basicamente uma função do cérebro esquerdo e ler expressões faciais é mais uma função do cérebro direito. Mas também li o oposto: as mulheres são controladas pelo hemisfério esquerdo porque ganham nas habilidades verbais, uma responsabilidade do lado esquerdo, e os homens tendem para o lado direito devido à sua superior percepção espacial, que parece ocorrer no hemisfério direito. Quando apresentei a questão à biopsicóloga Jerre Levy, uma figura proeminente na pesquisa dos hemisférios cerebrais, ela compartilhou da minha consternação. ''Toda essa idéia de que cada sexo opera com um lado oposto do cérebro", disse ela, "é uma noção idiota que não está apoiada em nenhuma evidência, nem mesmo em dados psicológicos." Os dois sexos apresentam as

diferenças usuais de função entre os dois hemisférios do cérebro, mas os homens tendem a se especializar mais. As mulheres parecem ter uma maior capacidade de mudar de um lado para o outro e mais probabilidade de terem qualquer dos hemisférios realizando a mesma tarefa. Se, conforme suspeito, a intuição envolve uma espécie de sincronia inter-hemisférica, isso pode corroborar a idéia de que as mulheres são mais intuitivas. Mas, também, não passa de conjectura, e se houver diferenças hemisféricas entre os sexos, a causa pode muito facilmente ser ambiental, ou seja, os padrões do uso hemisférico poderiam ser determinados por papéis sociais.

Talvez os homens e as mulheres sejam igualmente intuitivos, mas fatores culturais levaram-nos a pensar diferente. Dados seus papéis tradicionais de cuidar dos filhos, as mulheres precisam de uma boa capacidade de julgamento com relação às pessoas. Elas precisam saber quando alguém é sincero ou está escondendo alguma coisa. Elas precisam saber quando alguém está doente, amedrontado, preocupado, ou zangado. Como especialistas em outras áreas, elas podem desenvolver uma perspicácia nessa matéria e aprender a reagir apropriadamente sem deliberação racional. Os homens, por outro lado, aprendem a tratar com objetos mecânicos e símbolos matemáticos. Certamente eles precisam ler as pessoas também, mas geralmente no contexto de preocupações pragmáticas ou estratégicas que podem ser tratadas de uma maneira mais calculada. As preocupações tradicionais das mulheres são as emoções, e nessa área os julgamentos são geralmente definidos como intuitivos. Não é assim quando um comerciante diz, "Compre", ou um marceneiro intui uma maneira particular de aumentar o espaço de uma cozinha. Os homens podem ser igualmente intuitivos, mas grande parte de seu trabalho pode ser explicada como o produto da razão pura.

A situação é composta por conotações culturais que fazem a maioria dos homens querer parecerem lógicos; a intuição está de algum modo ligada a emocionalismo, fantasia e feminilidade. O orgulho masculino tem a ver com estar no comando, o que geralmente significa ser objetivo e não-emocional. Os homens

ficam afiados na argumentação lógica porque esta se encaixa nos valores masculinos dominantes, é encorajada pelos pais e professores, e porque suas tarefas tradicionais se prestam à exposição racional.

Poder-se-ia argumentar que foram fatores culturais o que realmente tornou as mulheres mais intuitivas. A intuição vem com mais facilidade a uma mente paciente e receptiva, que se rende a ela. Talvez o condicionamento que torna as mulheres mais passivas também cultive maior abertura à intuição, para deixar as coisas acontecerem em vez de tentar fazê-Ias acontecer. Elas poderiam também desenvolver a intuição simplesmente porque é considerado aceitável que o façam. As mulheres não são desencorajadas de ter sentimentos, tanto de tipo emocional como cognitivo. Até entrarem nos domínios masculinos, elas têm menos motivação para serem analíticas e objetivas e menos necessidade de argumentar logicamente.

Ou se poderia dizer que as mulheres apenas parecem ser mais intuitivas porque não hesitam em expressar sua intuição e porque seus papéis sociais não exigem exatamente o mesmo grau de racionalidade. Talvez ambos os sexos sejam igualmente intuitivos, mas em diferentes áreas devido a interesses e preocupações contrastantes. O que temos chamado de intuição feminina na verdade tem a ver com situações interpessoais, e à medida que os papéis sexuais se tornatn menos rígidos podemos verificar que as diferenças aparentes diminuem. Realmente, há evidências de que pode ser assim. Segundo Frances Vaughan, estudos da psicóloga Iudith Hall revelaram que as mulheres interpretam indicações não verbais, como expressões e gestos, de uma maneira mais precisa que os homens, mas homens liberais fizeram mais pontos que homens tradicionais, e mulheres tradicionais fizeram mais pontos que mulheres liberais.