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Desde que iniciei minha pesquisa, estive envolvido em inúmeros debates sobre se certos eventos particulares são realmente intuitivos. Da mesma maneira como um grupo de pessoas pode concordar sobre uma definição básica da palavra amor e depois discordar veementemente ao aplicá-Ia a situações específicas (algumas pessoas achando que é amor enquanto outras acham que é luxúria, atração, afeição, necessidade, etc.), uma pessoa pode chamar uma experiência cognitiva de intuição enquanto outras podem chamá-Ia de adivinhação, especulação, conjectura, inferência, percepção extra-sensorial, ou uma série de outras coisas, tanto lisonjeiras como depreciativas. Por essa razão, deve- se ter dois pontos em mente ao se fazer a classificação de qualquer experiência: primeiro, a definição básica de intuição deve ser enriquecida e, segundo, em muitos casos o veredicto final será de certo modo arbitrário, dependendo da própria interpretação do intuidor.

Para ser chamada de intuição a idéia ou sensação deve ser precisa. Concordo com Frances Vaughan, autor de Awakening Intuition, de que quando alguma coisa se mostra não ser correta, isso deve ser chamado de suposição falha. Devemos lembrar-nos, porém, de que à intuição muitas vezes falta aquele tipo de precisão de detalhes que esperamos de alguma coisa que seja ou verdadeira ou falsa. Com muita freqüência trata-se de uma sensação vaga, obscura, pouco mais que um pressentimento ou

um senso de direção. Isso não lhe tira o valor, apenas a torna mais difícil de avaliar.

Além disso, a intuição pode estar correta apenas em parte. Uma mulher chamada Diane relatou-me esta experiência típica: "Estava pensando sobre um antigo namorado, Roy, de quem nunca mais ouvira falar, quando de repente senti que ele iria aparecer aquele fim de semana. Ele não veio, mas menos de uma semana depois bateu à minha porta." Talvez a experiência de Diane fosse meio intuição, meio suposição falha.

Uma intuição pode também exigir alguma interpretação, e se ela se mostrar incorreta a falta pode estar no que foi entendido dela. Por exemplo, um novelista amigo meu teve uma sensação forte e persistente de que deveria ir a Londres. No seu entender, a intuição estava lhe dizendo que os editores ingleses iriam lançá-Io à fama e à fortuna que seus compatriotas americanos lhe haviam insensatamente negado. Vendeu tudo e mudou-se para Londres, com resultados pessoais e financeiros desastrosos. Concluiu amargamente que o que pensara ser intuição era na realidade uma farsa e voltou aos Estados Unidos. Mas sua intuição não dissera nada sobre mudar para Londres, quando ir, nem o que aconteceria lá. Muito possivelmente, ele foi longe demais, ou estava sendo guiado para alguma experiência de que não gostou na época. Cinco anos depois, no entanto, mudou-se novamente para Londres e casou-se com alguém que conhecera na primeira viagem.

A relação entre intuição e fenômenos psíquicos é freqüentemente abordada, e não é fácil de distinguir. Algumas pessoas usam esses termos quase como equivalentes. O que chamamos de "fenômeno psíquico" ocorre de várias formas: telepatia mental ou transferência de pensamento; clarividência e cIariaudiência (ver ou ouvir a distância); precognição e outras categorias que não são pertinentes à nossa discussão, como influenciar objetos materiais por meio do pensamento. No meu entender, apenas a precognição se qualifica como intuição; os outros fenômenos parecem mais relacionados à percepção do que ao conhecimento.

Telepatia e clarividência não são intuição; são meios de se obter informações com as quais a intuição possa então trabalhar. Elas

ampliam o alcance dos cinco sentidos, como o termo extra- sensorial sugere, e sua existência, que eu aceito inequivocamente, ajuda a explicar como às vezes intuímos coisas além do que seria justificado pelos nossos sentidos. A mente intuitiva seria capaz de processar dados colhidos de maneira subliminar ou psiquicamente, além dos percebidos pelos canais sensoriais comuns.

A distinção pode ser ilustrada com um exemplo. Suponha que você olhasse pela janela e visse um jovem caminhando em direção a uma senhora. O mero relato disso não se qualificaria, naturalmente, como intuição. Mas seria se você olhasse a cena e dissesse: "Aquele rapaz vai roubar a bolsa daquela mulher." Agora, suponha que você estivesse sentado na sua sala a um quilômetro de distância e visse essa mesma cena com os olhos da mente. Isto seria clarividência, mas seria intuitivo apenas se, como na situação inicial, você fosse além das informações trazidas pela percepção extra-sensorial.

Do mesmo modo, se você conseguisse ler a mente de alguém e dizer o que ele estava pensando, isso seria telepatia; mas se você tivesse então uma visão profunda do seu caráter, isso seria intuição. Você teria ido além das informações até um conhecimento não evidente, mas preciso. Admito que essa distinção possa ser discutível, mas parece apropriada em um livro preocupado mais em ler nossas próprias mentes do que as dos outros.

Implícita no uso da palavra intuição está alguma coisa inesperada, fora do comum, não automática. O conhecimento revelado não pode ser algo que a maioria das pessoas concluísse sob as mesmas circunstâncias. E as circunstâncias geralmente se resumem à quantidade de informações à disposição da pessoa e à precisão do conhecimento.

É aqui que entram o contexto e a interpretação individual. Em muitas situações, a linha divisória entre intuição e outros tipos de conhecimento é obscura. Usemos alguns exemplos para percebermos os limites normais. Em um exemplo que usamos antes, Diane intuiu a ocorrência . da visita de um antigo namorado. Sua intuição ficou um tanto diminuída pela previsão imprecisa do momento da chegada, mas quão perto ela precisaria ter chegado?

Um dia? Uma hora? Não há critérios estabelecidos, mas, obviamente, quanto mais precisa fosse a sua predição, mais as pessoas lhe dariam a denominação de intuitiva. Agora considere isso: e se Diane tivesse recebido recentemente uma carta na qual Roy manifestasse uma intenção de revê-Ia? Isto diminuiria um tanto o seu feito. E se a carta também dissesse que Roy estava a caminho da cidade em viagem de negócios, Diane provavelmente seria eliminada do rol dos intuitivos.

Praticamente toda alegação de intuição deve ser avaliada de maneira semelhante. Em um exemplo anterior, chamamos de intuitiva a pessoa que, ao encontrar um homem muito sociável pela primeira vez, sentiu que ele era tímido na realidade. Bem, poderíamos não chamá-Ia de intuitiva se ela fosse amiga íntima da ex-esposa desse homem. Analogamente, o colecionador que antecipou o sucesso de um determinado artista não seria chamado de intuitivo se, antes de fazer o julgamento, tivessem-lhe dito que meia dúzia de outros colecionadores haviam comprado obras do artista.

Segundo esses exemplos, o comportamento que algumas pessoas chamam de raciocínio indutivo, outras o chamam de intuitivo. A indução é, na realidade, um salto, indo de um conjunto limitado de fatos para um princípio geral. Quando possui uma base óbvia, defensável, o ato é mais provavelmente rotulado de lógica; quando não, poderá ser chamado de intuição. Se, por exempIo, você começar em um novo emprego e ver que seu patrão tem um ataque de nervos todo dia durante uma semana, poderá induzir que ele é volátil. A maioria das pessoas chamaria isso de inferência lógica indistinta. Se, por outro lado, você pular para a mesma conclusão, presumindo que ela seja correta, após um breve e agradável encontro com o patrão, poderíamos chamá-Ia de intuitiva.

Finalmente, voltemos para o argumento de intuição ou inferência, que parece ser a distinção mais provocativa. Aqui está um exemplo da minha própria experiência. Um dia, entrei em meu escritório e encontrei um recado de um velho amigo chamado Jerry. No momento em que vi o bilhete, um pensamento saltou em minha

mente: "Jerry casou-se." Uma vez que eu estava pesquisando este livro na época, observei o acontecido e concluí que se Jerry tivesse se casado, o fato de eu sabê-Io seria claramente intuitivo. O recado continha apenas seu nome e um número de telefone, e eu não ouvia falar dele fazia três anos. A última vez que o vira estava levando uma feliz vida de solteiro em Nova York, e não tinha nem namorada fixa.

Então percebi que o número do telefone poderia ter dado uma pista suficiente. O código de área era 914, que eu sabia ser de Westchester, subúrbio bem ao norte de Nova York. Assim, a linha de raciocínio poderia ter sido esta: a maioria das pessoas que mudam para Westchester são casadas e estão criando famílias; Jerry, que gosta da vida noturna das cidades, mudou-se para Westchester; portanto, Jerry deve estar casado e criando família. Quando contei a história para outros, houve uma divergência quanto a chamá-Ia de intuição ou razão.

Mas, para mim, o ponto importante é este: não desenvolvi essas etapas conscientemente. A mensagem entrou em minha cabeça da mesma maneira como um pássaro entra por uma janela aberta. Eu não havia nem mesmo aberto a janela pensando sobre o estado civil de Jerry. Poder-se-ia argumentar que eu executei a seqüência lógica na velocidade de um computador, ou que eu simplesmente não me lembro de ter executado essas etapas. E por tudo que eu sei tal análise é correta. Mas eu argumentaria que aquele fato de ficar sabendo merece a denominação de intuitivo, simplesmente porque as etapas, se elas tivessem realmente sido executadas, não foram nem conscientes nem deliberadas. Essa é uma distinção crucial. O fato de uma seqüência lógica poder ser construída depois não significa que a seqüência foi realmente empregada.

Por isso, em muitas situações, a percepção subjetiva do conhecedor deve ser avaliada junto com os outros critérios. E mesmo então haverá discordância, pois os indivíduos terão diferentes padrões dependendo do que a intuição significa para eles. Você pode dar uma parada agora, pensar sobre suas próprias experiências e os exemplos usados aqui e determinar seus

próprios critérios. Fazer isso irá ajudá-Io a reconhecer e entender sua própria intuição. Mas antes de determinar sua posição, considere o que aconteceu quando liguei de volta a Jerry.

"Você está casado, não está?", eu disse após trocarmos os cumprimentos.

Jerry disse que sim e quis saber como eu havia descoberto. Para simplificar, disse que deduzira pelo código de área.

"Foi muito inteligente", Jerry disse, "exceto por uma coisa. Mudeime para cá dois anos atrás porque minha empresa se transferiu para este lado da cidade. Mas só encontrei minha esposa um ano depois.”

Capítulo 3