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6. DISCUSSÃO

6.1.8. Escala Total do IEP

O uso de um Estilo Parental adequado, ou seja, com predominância de práticas educativas positivas, foi relacionado à maior satisfação dos responsáveis com os domínios psicológico, relações sociais e total de qualidade de vida, o que indica que estes responsáveis estão mais satisfeitos com sua autoimagem e com a qualidade das relações de amizade estabelecidas, indicando que estes responsáveis recebem suporte da comunidade social em que está inserido. Também foi encontrado que quanto mais adequado o estilo parental, mais frequente é a expressão de afetividade entre os membros da família e, consequentemente, ocorrem menos comportamentos e sentimentos negativos entre os membros. Portanto, estilo parental adequado está associado a um maior nível de adaptação familiar. Klassen, Miller e Fine (2004) encontraram que, quando comparados com pais de crianças sem o transtorno, pais de crianças com TDAH reportam significativamente mais problemas emocionais, comportamentais, de saúde mental e menor autoestima. Complementarmente, o estudo realizado por Martin e colaboradores (2014) demonstrou a importância de se desenvolver grupos de suporte emocional para familiares de crianças com transtornos do desenvolvimento, pois a percepção de suporte se relacionou à menor ocorrência de indicadores de ansiedade, depressão e estresse em pais de desenvolvimento atípico.

Os resultados mostraram também que quanto mais adequado o Estilo Parental adotado, menor foi a ocorrência dos seguintes problemas de comportamentos nos responsáveis: ansiedade/depressão, problemas de atenção, agressividade, comportamento de quebrar regras, problemas internalizantes, externalizantes e totais.

Além disso, a prática também se associou negativamente à ocorrência de comportamentos considerados de risco nos responsáveis, indicando que responsáveis com estilo parental adequado tendem a ter menos comportamentos que possam ameaçar sua segurança e a de outros a sua volta. De acordo com estudo de Gomide e colaboradores (2005), foi verificado que pais que optavam por práticas negativas não tinham repertório suficiente de habilidades sociais e apresentavam sintomas de depressão e altos níveis de estresse.

Sobre a redução dos problemas de atenção nos responsáveis que usam estilo parental adequado, é necessário lembrar os componentes genéticos imbricados na etiologia do transtorno, responsáveis pela sua alta taxa de herdabilidade. Pais que também apresentam TDAH tendem a ter mais prejuízos em suas competências parentais, sendo que a presença nos pais dos sintomas de TDAH está relacionado a uma maior gravidade dos sintomas nos filhos com o transtorno (AGHA et al., 2013). Chronis-Tuscano e colaboradores (2008) encontraram que mães com sintomas de TDAH geralmente usam práticas parentais inadequadas, principalmente permeadas pela disciplina inconsistente. Tal dado foi corroborado pelo presente estudo, pois ambas as práticas parentais negativas em que não há constância de comportamentos (isto é, Disciplina Relaxada e Punição Inconsistente) foram associadas com a ocorrência de problemas de atenção nos responsáveis.

Com relação às crianças, o uso adequado de estilo parental foi encontrado em crianças com menos problemas relatados de atenção, problemas externalizantes, principalmente a agressividade, e problemas totais, na percepção dos responsáveis. O estilo parental adequado se associou a crianças com menos sinais de hiperatividade e problemas totais de comportamento, observados em sala de aula pelo professor, e com melhor desempenho acadêmico. De acordo com Harpin (2005), crianças com TDAH apresentam maior probabilidade de vivenciarem fracasso ou, até mesmo, evasão escolar. Portanto, saber que o uso de práticas positivas contribui de alguma forma para um melhor rendimento escolar nestas crianças é importante para se pensar em intervenções como treino de habilidades parentais. O uso adequado do estilo também foi encontrado em crianças com melhor desempenho em atividades e em competências sociais, o que é de extrema relevância uma vez que Buitelaar e Medori (2010) encontraram que o melhor preditor na infância de adaptação na idade adulta não é o nível de funcionamento intelectual, desempenho acadêmico ou comportamentos em sala de aula,

mas sim a competência social da crianças em termos de qualidade de interação com os pares. Neste mesmo sentido, Becker e colaboradores (2013) encontraram que quanto maior era a dificuldade de meninas com TDAH na interação social com os pares, maior era também a probabilidade de apresentarem problemas internalizantes, como depressão e ansiedade. A associação de práticas parentais positivas com crianças que apresentam melhor rendimento acadêmico e competências sociais é um resultado importante, uma vez que o DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013) elenca a dificuldade na interação social com os pares e desempenho escolar insatisfatório como consequências prováveis em crianças com TDAH devido aos sintomas característicos do transtorno.

Para Bolsoni-Silva, Del Prette e Oishi (2003), diversas são as variáveis que contribuem com o surgimento e manutenção dos problemas de comportamento, como, por exemplo, práticas parentais inadequadas e presença de conflitos conjugais. De maneira geral, os estudos sobre programas parentais apontam que os aspectos mais importantes de uma intervenção para prevenir problemas de comportamento das crianças são: ensinar os pais a serem menos punitivos em suas práticas educativas, a utilizarem monitoria positiva, a usarem reforçamento positivo, a melhorarem a comunicação interpessoal, a ampliarem a rede de apoio, bem como ensinar a desenvolverem habilidades para aumentar o envolvimento com o filho e para resolver problemas e conflitos (RIOS, WILLIAMS, 2008)

Quanto ao desempenho nos testes cognitivos, quanto mais adequado foi o estilo parental adotado pelos responsáveis, menos erros totais, erros perseverativos e respostas perseverativas foram cometidos pelas crianças no WCST, sugerindo habilidades desenvolvidas de flexibilidade cognitiva e memória operacional. Estes resultados corroboram o estudo de Bernier e colaboradores (2012) em que encontraram que a qualidade da interação comportamental entre pais e filhos e a relação de apego estabelecida entre eles nos primeiros anos de vida estão relacionadas ao desenvolvimento posterior de flexibilidade cognitiva e memória operacional. Por outro lado, Wagner e colaboradores (2015) verificaram em seu estudo que as crianças com pior funcionamento executivo tinham níveis mais elevados de cortisol salivar e seus pais relataram maior estresse parental. O stress parental, como já visto, está associado a maior probabilidade dos pais de optarem por estratégias educativas menos adaptativas para lidarem com os filhos (GOMIDE et al, 2005).

Entretanto, ao analisar cada prática parental, seja positiva ou negativa, foi possível observar quer o uso destas práticas apresentou maior número de correlações significativas com variáveis de ajustamento comportamental das crianças quando comparado com as variáveis referentes ao desempenho cognitivo delas. Talvez as práticas parentais exerçam maior impacto no autorregulamento emocional de crianças com TDAH e não tanto no autorregulamento cognitivo, apesar de relacionados, mas tal hipótese precisa ser investigada com mais estudos. Outra explicação é o fato de crianças com TDAH, em tarefas estruturadas e quando altamente motivadas, conseguirem ter desempenho satisfatório nas funções cognitivas avaliadas (SEIDMAN et al., 2004). Ainda, neste mesmo sentido, o estudo de Schroeder e Kelley (2009) não encontrou relação estatisticamente significativa entre estilos parentais, ambiente familiar e funcionamento executivo em crianças com TDAH, mas encontraram tal relação estatisticamente significativa para crianças sem o transtorno. O presente estudo, entretanto, encontrou correlações significativas entre práticas parentais e funcionamento executivo, mas apenas em menor quantidade quando comparada as variáveis comportamentais. Uma possível justificativa para a diferença entre os resultados dos dois estudos refere-se ao fato de Schroeder e Kelley (2009) utilizarem medidas de relato de pais sobre desempenho de funções executivas das crianças e o presente trabalho fez uso de medidas diretas de funções executivas das crianças por meio de testes psicológicos.

6.2. Perfil Comportamental dos Responsáveis

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