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CAPÍTULO 4. CONCENTRAÇÃO SOCIAL E DISPERSÃO EDUCACIONAL:

4.1 PRIMEIRO EIXO – ELEMENTOS GERAIS

4.2.1 Escola Estadual Effie Rolfs (E.E.E.R)

A Escola Estadual Effie Rolfs foi fundada em 1965, e está localizada no campus

Universitário (UFV), conta com 17 salas de aula utilizadas para o Ensino Fundamental

composto por 643 alunos, e o Médio atendendo 416 estudantes. A escola recebeu nos últimos dois anos cerca de 15 alunos do bairro Nova Viçosa.

A localização da Escola Effie Rolfs é um dos grandes diferenciais que a faz ser reputada e tão almejada por parte dos pais de todos os bairros da cidade, o fato de se situar

dentro de uma instituição de excelência, traz a concepção que o ensino tem maior

qualidade e voltado para o ingresso na Universidade, incidindo diretamente na elevada procura, na fala do diretor, “os pais têm a ilusão de que os filhos já estão dentro da UFV”. É oportuno ressaltar em recente estudo sobre a formação de mercados escolares no

município de Viçosa/MG, Lacerda (2010) verificou – ainda que furtivamente, um

processo de seleção de clientela escolar por parte de alguns estabelecimentos.

As regiões que apresentam prioridade em termos de zoneamento e que devem ser atendidas pela escola são as rurais Romão dos Reis, Paraíso, Cristais, sudeste do bairro

Santo Antônio, e uma parte centro – a Avenida P.H. Rolfs. (Figura 24)

De acordo com a direção, a escola recebe alunos de todo o município, entretanto, as famílias residentes nas áreas centralizadas e/ou capitalizadas, em virtude da sua procura, são mais atendidas pela escola, isso revela que essas vagas são influenciadas diretamente pelas redes sociais e os diferentes capitais que as famílias possuem. Em uma das falas do diretor, “tem famílias que teriam condições de pagar escola particular para o filho, mas todo bimestre vem aqui procurando vaga, até documentação falsificam para isso”.

Espacialmente é possível perceber que a região de influência desta escola compreende basicamente a área da Universidade Federal de Viçosa, o que a faz absorver o público residente na zona rural que tangencia o território da Universidade, e uma parte da clientela do centro, por serem locais com menor demanda, sobram vagas, estas amplamente concorridas são preenchidas por meio de sorteios anuais.

A escola recebeu no ano de 2013 um número de 9 estudantes do bairro Nova Viçosa, diminuindo para 6 estudantes no ano seguinte, em 2014.

Fomos atendidos nessa escola pelo vice diretor que já faz parte do quadro de gestão da escola há mais de cinco anos. Dentre os principais pontos abordados na

entrevista (apêndice) pôde-se ressaltar, o zoneamento, que restringe em grande medida a liberdade da escolha escolar por parte das famílias.

Figura 24: Área de absorção de alunos da Escola Estadual Effie Rolfs

Quando abordado a respeito do elevado índice de evasão do bairro na mudança de

ciclo – do fundamental para o médio, o vice diretor nos indicou como uma das principais

causas o mercado de trabalho. Nas suas palavras, “ao entrar no mercado de trabalho o aluno perde um pouco da motivação com os estudos, [...] geralmente trabalha no centro,

ter que fazer esse longo trajeto, casa-trabalho depois casa-escola, é muito complicado”.

O jovem em situação de vulnerabilidade é seduzido pelo mercado de trabalho, a sair da

casa dos pais, ter filhos, casar-se, entre outros, são mecanismos que na atual sociedade permitem em certa medida a emancipação dos indivíduos.

Como alerta Salata e Santana (2010), a realidade Brasileira é marcada por um elevado percentual de estudantes ingressantes precocemente no mercado de trabalho, ou mesmo o conciliando com os estudos, assim sendo, o percurso usual de término das funções escolares para ingresso no primeiro emprego, não é uma realidade para grande parcela da população de estudantes no Brasil.

Em referência à elevação do analfabetismo, nos foi dito que o contexto familiar muitas vezes retrai a ânsia do estudante em almejar maior instrução, principalmente por questões de violência, descrença da necessidade de formação escolar, entre outros. “É necessário complementar a atividade pedagógica com a instrução doméstica, assim como é feito pelo REBUSCA”.

Existem no bairro algumas instituições de apoio a crianças e adolescentes que realizam vultuosos trabalhos no bairro Nova Viçosa, como: a Associação Assistencial e Promocional da Pastoral da Oração de Viçosa (APOV), e o programa REBUSCA, ambos seguidamente citados pelos entrevistados como fundamentais à inserção cultural, profissional e social dos atendidos. Instituições presentes no bairro desde a década de 1980, realizam serviço social com crianças e adolescentes em situação de risco, destinadas à tarefa de acompanhamento e reforço escolar; promovem o engajamento em alguma atividade trabalhista; auxiliam jovens em situação de desvio de conduta, e etc. Dentre elas podemos destacar:

- Associação Assistencial e Promocional da Pastoral da Oração de Viçosa (APOV): entidade sem fins lucrativos e tem como missão promover ações educacionais, esportivas, culturais e religiosas de crianças, adolescentes, jovens e famílias. A sua fundação data do ano 1982, localizada na rua Joaquim Nogueira, 235, Nova Viçosa. As ações são financiadas por pessoas físicas por meio de apadrinhamentos e convênios públicos e privados. Durante os 33 anos de existência foram assistidas mais de 6.000 crianças e adolescentes. A APOV, atualmente, oferece a educação básica (pré-escola), promove cursos profissionalizantes (Centro de Conhecimento) e desenvolve programas complementares à escola formal.

- Ação Social Evangélica Viçosense (REBUSCA): instituição filantrópica fundada em 1981, se dedica ao trabalho com crianças e adolescentes em vulnerabilidade

social, dentre seus programas destacam-se: Centro Educacional – Escola de Educação

Infantil, que promove o desenvolvimento integral da criança de 2 a 6 anos; Centro

Estudantil – Promove ações socioeducativas, complementares à escola pública. Atende

crianças de 6 a 11 anos; Programa Integração Mãe Criança – atuação voltada para

mulheres vulneráveis que vivem em situação de exclusão social e pobreza extrema; Mais

que vencedores – Promove ações socioeducativas complementares à escola pública

atende pré-adolescentes e adolescentes, de 12 a 17 anos. Os três primeiros com sede no bairro Nova Viçosa e Posses.

No que se refere à carga cultural e informacional, ou capital na sua forma incorporada91, esta escola por absorver alguns alunos de localidades mais distantes, advindos da zona rural, admite que estes alunos junto com os das periferias da cidade apresentam maior escassez quando comparado aos alunos de bairros centralizados. Entretanto, é notória a diferença de tratamento dispendido pelos funcionários da escola, muito mais positiva aos primeiros, dado isso pela composição de valores mais sobressaltados. Não descartou um número considerável de alunos que apresentam déficits de aprendizagem talvez pelo menor volume de informação, ou trajetória educacional pregressa.

Sobre a necessidade de uma escola no bairro Nova Viçosa, na opinião do gestor entrevistado, esta deveria necessariamente apresentar um currículo e profissionais diferenciados, em virtude dos muitos problemas de ordem familiar que os alunos carregam, este exercício deveria ter quase um perfil “missionário”.

Os ajustes realizados na logística do transporte por parte do poder público minorou substancialmente os problemas tão recorrentes até o início de 2015. Atrasos e superlotação em certa medida foram solucionados, o que precisa melhorar ainda, sobretudo aos bairros mais afastados, em que os alunos ficam boa parte dentro do ônibus, é um auxiliar para os motoristas, pois este tem de cumprir várias funções.

Em concluso, o diretor nos apresentou dentre os principais entraves à continuidade estudantil de alunos de bairros segregados, a situação familiar, que é afetada diretamente

pelo perfil do bairro e os recursos disponíveis. “Com certeza os alunos de Nova Viçosa

ou de qualquer bairro mais pobre, não possuem as mesmas condições dos outros alunos em situação econômica mais favorável, cabe às escolas e ao município oferecer meios que garantam mais igualdade a esses alunos”, finaliza.