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CAPÍTULO 4. CONCENTRAÇÃO SOCIAL E DISPERSÃO EDUCACIONAL:

4.1 PRIMEIRO EIXO – ELEMENTOS GERAIS

4.2.3 Escola Estadual Santa Rita de Cássia (E.E.S.R.C)

A escola foi fundada em 1964, localiza-se na Rua Eça de Queiroz, 119, bairro de Fátima. Possui 13 salas de aula e oferece o ensino fundamental e médio em três turnos,

matutino e vespertino e noturno, este com vistas a findar-se em breve. A escola recebeu

em nível médio no ano de 2013 cerca de 171 alunos do bairro Nova Viçosa, reduzindo em 2014 para 109 estudantes.

De acordo com a gestão escolar – na ocasião fomos recebidos pela diretora, as

regiões atendidas são o Alto Santa Clara, Bairro de Fátima, Bom Jesus, Sagrada Família

e principalmente o Nova Viçosa (Figura 26), “essa escola quando abriu o ensino médio,

o objetivo de fato foi acolher os alunos do Nova Viçosa por ser mais próxima do bairro. Para os alunos do centro era fácil acomodá-los nas escolas existentes, aos estudantes do Nova Viçosa, não”.

Pela sua localização em uma região com alta população escolarizável, a escola não apresentou uma perda substancial no número de alunos, “pois nos bairros que nós absorvemos, as famílias não apresentam um controle de natalidade, nós somos uma escola

que vamos demorar perder turmas”. Diferentemente das instituições mais centralizadas,

posicionadas em sítios com baixa demanda de alunos, convivem cada vez mais com o fechamento de turmas, é o caso da escola “Effie Rolfs, por exemplo, está perdendo o

perfil de alunos oriundos do centro, está tendo que atender a alunos de outros bairros”.

Ou seja, a Lei de Zoneamento tende a saturar as instituições posicionadas nas regiões que

apresentam maiores quantidades de alunos.

94 In: RIBEIRO, S. C. A pedagogia da repetência. In: Estudos Avançados. v. 5, no 12, São Paulo, IEA/USP, 1991, p. 7-12.

Figura 26: Área de absorção de alunos da Escola Estadual Santa Rita de Cássia

O bairro Nova Viçosa faz parte do zoneamento apenas da Escola Estadual Santa Rita de Cássia entretanto, o número de vagas não atende à demanda do bairro, necessitando com isso a oferta de transporte a outras instituições, principalmente ao E.S.E.D.R.A.T.

No que se refere ao número de desistências e evasões dos alunos do bairro Nova Viçosa, a diretora apontou que existe maior significância de acordo com o turno, e os motivos são de diversas ordens, sendo os mais recorrentes a saída para o trabalho e a dificuldade para acompanhar a turma. Em suas palavras, “o aluno na verdade não conclui, aquele aluno que está fora da faixa etária certamente ele prefere trabalhar, principalmente

com a extinção do ensino noturno95, que foi feito pelo governo para “forçar” a criança a

estudar, mas ocorreu justamente o inverso, um significativo número de abandonos.

Outro motivo que faz esses alunos do Nova Viçosa evadirem “é a decepção que

eles têm por não acompanhar o ritmo da turma. No turno na manhã a evasão é menor, eles recebem bastante incentivos para permanecer na escola, e geralmente são de famílias em que não precisa de sair para trabalhar”.

95 A partir de 2014 algumas escolas fecharam o primeiro ano do ensino médio noturno. A resolução nº 2442/2013, determina que as novas turmas somente poderão ser abertas com alunos maiores de dezoito anos ou que apresentem carteira de trabalho assinada.

Com relação ao elevado e crescente índice de analfabetismo, a diretora explicou

que um provável motivo seja a migração, em especial das cidades vizinhas. “Isso pode

ser explicado pelo processo de formação do bairro, a migração responde a isso, esse produto não é nosso [nós instituições de ensino], esse produto vem de Porto Firme, isso vem de Paula Cândido, é o que eu acredito com uma visão de desenvolvimento

econômico”. Nesta linha, CORRÊA (1995) aponta que no processo de formação das

periferias a população advém de outras periferias valorizadas, bem como de zonas rurais e pequenas cidades do entorno.

A supressão do ensino noturno vem impactando diretamente no número de evasões escolares, os alunos que realizam alguma atividade profissional possuem apenas esse turno para o seu processo de escolarização, e, como se sabe, muitos do bairro Nova Viçosa são de famílias com renda total inferiorizada, e portanto, é costumeira a realização de atividades remunerativas para complementação.

As relações interpessoais e as características do bairro podem ser percebidas no perfil do alunado, são donos de capitais culturais ou informacional próprio, diferente dos alunos da região central, “considero o perfil do aluno do Nova Viçosa mais rural, e trazem consigo a sua bagagem, da horta, do chá, do respeito, do senhor, senhora. As trocas comunitárias são maiores por parte destes alunos”.

Foi possível perceber com base na fala da diretora, que, se por um lado estes alunos tem uma bagagem teórico-conceitual defasada, por outro, a vivência com as situações cotidianas são mais sobressaltadas. Há de se sublinhar que estes conhecimentos devem ser úteis ao ensino dito formal, de forma a contribuir no caminho de um constructo pedagógico mais contemporâneo, significativo e robusto.

Quando questionada a respeito da necessidade e importância de uma escola em nível médio no bairro, a diretora manifestou um certo “protetorado” à sua clientela, justificando que os alunos ao migrarem para o centro, tendem a apresentar uma melhora no comportamento, por “sair de sua zona de conforto”, e que se fosse para criar uma escola no bairro, esta deveria ser aberta à comunidade de forma a absorver o seu perfil e não ficar ilhada, e mesmo assim não teria o devido valor,

a escola que tem lá vira e mexe é depredada, também é uma questão cultural, eles em algum momento buscariam vagas em escolas do centro, porque eles querem crescer, e para isso eles precisam sair dali, e isso é muito positivo, que mesmo estigmatizados, eles têm o sucesso escolar. (Informação verbal)

Com base nas aproximações com os gestores escolares, percebeu-se que as condições socioespaciais são de grande relevância e excedem os fatores intra-escolares. O fato de se residir em uma localidade segmentada da região central faz com que grande parte dos alunos já recebem pré desígnios, em sua maioria desfavoráveis. Na visão dos gestores o alto índice de analfabetismo atinge esses valores em virtude do contexto familiar adjunto ao processo de migração, pois é um bairro mais acessível à população imigrada de menor renda.

A conjuntura social e espacial do bairro determina fortemente os processos de absenteísmo educacional de jovens e adolescentes, a saída para o trabalho além de necessária é incompatível com as distâncias que devem ser superadas, entre a residência, o trabalho e a escola. Com relação ao transporte que é ofertado, os três gestores não apresentaram queixas substanciais.

Cabe explorar também a instabilidade do transcurso escolar da maior parte dos alunos, tendo em vista a permanente migração interescolar, discentes de bairros segregados não conseguem se habituar em uma determinada escola por problemas de aprendizagem, estigma e outros, e rotineiramente se matriculam em outras instituições, esse fenômeno foi bastante visível entre as Escolas Estaduais Santa Rita e Dr. Raimundo Alves Torres.