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CAPÍTULO 2. O DESENVOLVIMENTO DESIGUAL DA CIDADE DE VIÇOSA,

2.4 A formação de periferias urbanas em Viçosa: o florescer de uma “Nova” Viçosa

2.4.2 Nova Viçosa: feições socioespaciais

Como exposto no campo teórico deste texto, a acessibilidade é um dos fatores centrais na formação de uma região segregada. O bairro Nova Viçosa distancia-se aproximadamente cinco quilômetros do centro da cidade. Aos padrões urbanos de Viçosa é relativamente distante. Existem duas vias para acesso. A entrada principal pelo bairro de Fátima, além de uma via alternativa pelo bairro Santa Clara.

De natureza residencial, o bairro Nova Viçosa conta atualmente com uma população de 5.214 habitantes. Posicionado a sudoeste da área central e separado por uma elevação que distância física (Figura 15) e simbolicamente a população, Christovão (2009), traz a tona que contrastes socioespaciais urbanos são materializados na

“fronteira explícita demarcando a divisão entre um e outro não impede que, como diz o dito popular, ‘cada um saiba o seu lugar’. As crianças e os adolescentes do morro, por exemplo, não circulam em redes sociais que incluam moradores do bairro. Mesmo não existindo restrições legais à circulação livre de pessoas, o que se vê é uma diferenciação de circuitos e regiões de sociabilidade. (CHRISTOVÃO, 2009, p. 290) As visitas realizadas no bairro nos mostraram o relevo como um dos condicionadores na urbanização do Nova Viçosa. As casas tendem a ser construídas em áreas íngremes nos topos de morro e encostas, e por consequência, os danos ambientais e a degradação da paisagem são bem visíveis. Entretanto é oportuno ressaltar que este cenário é resultado de uma questão social, tendo em vista que muitas vezes a pobreza é relacionada à degradação do meio ambiente – exemplo claro de determinismo cultural. Lima (2005) entende que não é o nível baixo instrucional dos moradores que os motivam a habitar áreas impróprias, mas na verdade, o processo de segregação que os localizam em áreas condizentes com o seu poder político e econômico.

As vias de ligação são bem distintas quanto à sua capacidade e pavimentação, inclusive na área interna do bairro. Percebemos ruas bastante estreitas que dificultam o fluxo de pedestres e do transporte coletivo. As vias asfaltadas se localizam na entrada do Nova Viçosa e no entorno da praça, sendo que as áreas mais longínquas deste centro possuem pedra fincada ou nenhum calçamento.

Fonte: Google Earth (2014)

Dias et. al., (2011) observaram diversas irregularidades construtivas e fundiárias no bairro, dentre estas podemos destacar, inexistência ou dimensões inferiores aos padrões estabelecidos para calçadas em acordo com a Lei n. 280/1956. Poucos logradouros principais atendendo à metragem mínima de 18,00 m. Segundo esta mesma lei, o loteador deveria arborizar parte do loteamento, destinar (3,0%) para implantação de estabelecimento de ensino oficial, (5,0%) para espaços livres de uso público, entre outros, que claramente não foram atendidos.

No que tange às irregularidades construtivas, até o ano de 2010, das 1300 unidades habitacionais, apenas 24 obtiveram permissão de construção pela prefeitura. Problemas com afastamento lateral entre as residências; ocupação em áreas de declividade acima de 30%; ocupação com afastamento reduzidos dos cursos d´água; taxa de permeabilidade, entre diversos outros, foram verificados no bairro. Sendo estes problemas gerados pelo interesse do loteador em maximizar seus lucros, flexibilização da fiscalização e legislação além da indisponibilidade financeira dos proprietários (DIAS, et. at., 2011).

A ocupação se torna mais densa próxima à praça e nas vias de ônibus, distante dessas áreas tendem a ficar mais rarefeitas, ou seja, o acesso é um fator importante à instalação das moradias. Como dito, o bairro absorve boa parte da população de menor renda, sendo a autoconstrução bastante comum em territórios de periferia. Kowarick (1980) aborda sob o capitalismo, o crescente surgimento de empresas destinadas ao setor

de habitação, porém boa parte da população não pode fazer uso destes serviços. Para o autor a própria construção da residência seria a única alternativa viável, uma espécie de “economia natural”.

Com relação aos serviços médicos o bairro possui um posto de saúde PSF – Programa Saúde da Família, que oferece tratamento odontológico, vacinações, campanhas contra doenças sexualmente transmissíveis, entre outros. Apresenta a menor população relativa vinculada a pelo menos um plano de saúde (15,96%). Já na área central (64,82%) possuem algum tipo de assistência médica privada. O bairro possui também o maior número de famílias em situação de vulnerabilidade64 (24,54%), contra (3,17%) do centro. Nova Viçosa apresenta uma das maiores densidades em número de moradores por domicílio, (3,62hab/dom). A coleta de lixo que é realizada periodicamente seis vezes por semana nas diversas regiões da cidade, ocorre apenas em três dias da semana no bairro Nova Viçosa. (CRUZ, et. al., 2014).

CRUZ, et. al., (2014) verificaram que a renda média encontrada para o ano de 2013 no perímetro urbano de Viçosa/MG foi de R$ 2.742,16, ficando a região com a presença do condomínio Acamari, próximo a Universidade, com o maior valor (R$ 6.178,02). Por sua vez, o bairro Nova Viçosa, aparece com a menor renda familiar dentre as regiões pesquisadas, com média de (R$ 1.387), acusando a metade da renda familiar média dentre as regiões, e aproximadamente de 4,4 vezes inferior à maior renda média familiar nos locais considerados, evidenciando assim, a grande concentração de renda em zonas específicas no espaço urbano de Viçosa/MG (Tabela 3).

Tabela 3: Renda familiar entre as regiões de planejamento

REGIÃO

RENDA FAMILIAR

MÉDIA PER CAPITA

CENTRO 4.635,57 1.638,01 ACAMARI 6.178,02 1.735,40 BOM JESUS 2.281,85 669,16 NOVA VIÇOSA 1.387,40 384,32 FÁTIMA 3.043,37 916,68 LOURDES 4.002,68 1.356,84

64 O estudo considerou hierarquicamente os critérios de infraestrutura, renda familiar e per capita, desemprego, instrução escolar com base na proposta do IBGE (2010).

SANTA CLARA 2.074,15 577,76

SANTO ANTÔNIO 2.960,34 916,51

NOVA ERA 2.175,71 684,19

AMORAS 1.873,38 541,44

SILVESTRE 2.656,68 819,96

Fonte: Pesquisa Census 2014 – Adaptada

A renda familiar per capita média reafirma tais distinções, os valores mais elevados compreendem as regiões Acamari (R$ 1.735), Centro (R$ 1.638) e Lourdes (R$ 1.356), em clara oposição aos encontrados para Nova Viçosa (R$ 384) (Figura 16). Ou seja, a região central e aquela composta por auto-segregação – ou dos condomínios, apresentaram uma renda per capita da ordem de 4,5 vezes maior que o bairro Nova Viçosa, este, gerado a partir da segregação imposta. Tal diferença de renda existente no conjunto urbano, evidencia que a proximidade geográfica é sinônimo de assimetria ou distanciamento social. (IBGE, 2010).

Figura 16: Renda per capita na área urbana de Viçosa e destaque para o bairro Nova Viçosa

Com relação à distribuição da renda em cada região, as que apresentaram as menores desigualdades foram Nova Viçosa e Amoras, onde a apropriação da renda pelos 20% mais ricos foram 33% e 35%, respectivamente. As maiores desigualdades foram

observadas nas regiões Acamari e Centro onde os 20% mais ricos se apropriavam de 67% e 55% da renda respectivamente. (CRUZ, et. al., 2014).

Diante desse panorama, ao se relacionar a renda per capita e a apropriação de renda intra-regional, percebe-se que o bairro de estudo se enquadra em uma das principais características das áreas segregadas, ou seja, o bairro apresenta certa homogeneidade interna e discrepância com outras regiões da cidade.

Entendemos que a baixa renda restringe os moradores frequentem outros ambientes dentro da cidade, ficando recolhidos junto ao seu bairro. Esta falta de mobilidade devido a renda é uma característica importante dos bairros segregados. Apesar de se deslocarem para trabalhar não fazem uso do espaço urbano para outros fins já que não podem pagar por esse serviço. A cidade capitalista, de acordo com Lefebvre (1991), perde a sua função de lazer ficando subjugada a produção e reprodução do capital.