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Mapa 3. Mapa geográfico do Paraná em 1951

2.5 Ensino da higiene nas escolas primárias e o Programma de ensino

2.5.1 Nota sobre a Escola Normal de Curitiba

A Escola Normal Secundária é uma nota à parte da história da educação do ensino no Paraná. Resultou de divergências entre o inspetor geral Prieto Martinez e do diretor da Escola Normal, Lysimaco Ferreira da Costa. A Escola Normal, em funcionamento em Curitiba desde a data de sua implantação, em 1876, foi reformada pelo Decreto nº 274, de 26 de março de 1923, reforma proposta por Lysimaco e que a definiu no documento Bases Educativas para a organização da Nova Escola Normal Secundária do Paraná. O plano de estudos da Escola era, segundo seu autor, semelhante ao das demais Escolas Normais de outros Departamentos da República, que, segundo Maria Elisabeth Blank Miguel, separou as aulas da Escola Normal das aulas do Ginásio e introduziu as disciplinas Antropologia Pedagógica, Psicologia Infantil Aplicada à Educação e Metodologia

Geral e História da Pedagogia, nos 2º, 3º e 4º anos, respectivamente (MIGUEL, 1997, p. 32).

Na primeira parte do referido documento, Lysimaco Ferreira da Costa estabelece os pressupostos da reforma face à educação popular, problema que considerava vital em todo Paraná. Chegava a afirmar que tal educação, ou seja, a instrução primária, “conduziria, fatalmente, à diminuição da pobreza – segundo ele numerosa no Paraná-, quando não à sua extinção”. Definia a boa escola como aquela capaz de criar bons hábitos de trabalho e de leitura sã. Essas habilidades redundariam no desenvolvimento de hábitos morais e mentais que, ao lado de uma instrução “concreta e útil‟, propiciada pelos trabalhos manuais, formariam o cidadão capaz de desenvolver ações necessárias à sua própria felicidade e ao bem comum”. A escola seria o meio mais eficaz de transformação da indolência em “uma sã atividade criadora”. Cabia a ela ministrar um mínimo de conhecimentos “concretos e úteis” capazes de iniciar os paranaenses numa vida laboriosa e fecunda, transformando cada um deles em um fator real do progresso brasileiro.

O diretor da Escola Normal reconhecia o esforço das professoras primárias, pois afirma que, como o ofício não possibilitava fazer fortuna, os homens estavam “desertando” das Escolas Normais e fugindo do exercício do magistério primário. Cabia então à mulher o “sacerdócio do ensino primário” e essa formação deveria ser o objetivo primordial das Escolas Normais. A Escola Normal, ou a profissionalização das professoras, “seria o santuário educativo das moças da melhor sociedade curitibana”. Mesmo com esse objetivo, havia outro ainda maior:

[...] o espírito nacional se fortificará através do entusiasmo com que o professor primário, por sua cultura adquirida na Escola Normal e pelo exemplo de sua boa conduta, souber implantar o regime da ordem, da disciplina, do respeito à lei, às autoridades e às instituições nacionais, e souber transmitir as nobres tradições da nossa raça concretizadas nos feitos heróicos dos nossos antepassados. (COSTA, 1987, p.148).

Segundo suas letras, a Escola Normal deveria preparar o professor para assenhorear-se da psicologia do meio em que iria trabalhar; adquirir uma cultura intelectual suficiente para transmitir aos escolares os conhecimentos e hábitos capazes de fazê-los bons brasileiros; conhecer, depois dos primeiros dias de aulas, o grau de desenvolvimento intelectual e o grau de capacidade mental de cada um deles para que pudesse aplicar os métodos, processos, formas, modos e sistema de ensino, soubesse transmitir os conhecimentos e cumprisse os programas de ensino.

A Escola Normal deveria formar uma professora que evidenciasse “um caráter reto e uma severa linha de conduta”. Todavia a formação do bom professor estava na dependência do ambiente educativo das Escolas Normais a ser definido pelo diretor e auxiliado pelos professores. Aquele deveria ter uma “alma de educador” e estes deveriam “aliar o espírito de obediência e disciplina à boa compreensão da nobreza de sua missão”.

Quanto à missão de ambos – diretores e professores –, resumia-se ela na missão do magistério: “nobre missão do magistério impunha hábitos de obediência, disciplina, modéstia, tolerância, observação, estudo e dedicação leal”. Assim, portanto, a primeira reforma deveria ser a do corpo docente. Este seria constituído de professores primários normalistas, estes devidamente selecionados tendo como critério fundamental a retidão de caráter, ficando em segundo plano a sua pouca capacidade intelectual.

A Reforma, além de atingir o “caráter” das professoras, deveria reestruturar o plano de estudos da Escola Normal de então, em que apontou, entre seus maiores problemas, os seguintes:

[...] a formação profissional dos professores era restrita à Pedagogia e à Prática Pedagógica, predominando no Curso Normal os conhecimentos gerais; ausência da Psicologia Infantil considerada indispensável ao ensino eficaz das Metodologias; o ensino da Pedagogia Geral e Especial concomitante ao ensino das matérias gerais do Curso, quando sua aprendizagem exigia do aluno conhecimentos e desenvolvimento intelectual prévios para o estudo das doutrinas pedagógicas. (COSTA, 1987, p. 143).

Após a “crítica”, propôs a criação de dois cursos: Geral e Especial. Os fins do curso geral ou fundamental eram dois: ministrar os conhecimentos que os futuros professores deveriam ensinar mais tarde aos seus alunos e proporcionar-lhes uma cultura geral. Uma condição essencial para que o curso geral fosse considerado bom era que ele ampliasse os horizontes intelectuais do normalista, de modo que ele pudesse alcançar com segurança a extensão toda de cada ramo de conhecimento. O curso geral teria a duração de três anos.

O curso especial ou profissional, com a duração de três semestres, teria como finalidade:

[...] proporcionar o domínio das técnicas metodológicas apoiadas nos „princípios gerais e regras da Pedagogia e nas noções fundamentais da Psicologia da Educação... Ministrar ao normalista o ensino completo do processo físico do conhecimento e do processo didático do ensino, é o fim

capital deste curso, como essencial é que dele saia... senhor perfeito da técnica didática. (p. 142).

Em ambos os Cursos ficaram evidentes as preocupações com o progresso, a ordem, a disciplina e a obediência, além da crença de que a escola seria capaz de transformar os paranaenses, afastando os “hábitos e costumes, crendices” e criando uma visão moderna da sociedade e da educação. O autor ainda justificou a reforma diante do grande crescimento que o Estado estava registrando e criando uma grande procura pelo ensino. Afinal, o dispositivo regulamentar criado em 1932 – O Regulamento Interno dos Grupos Escolares do Estado (Decreto nº 1874, de 29 de julho de 1932) – garantia este tipo discursivo, como mencionado linhas acima.

Já as Escolas Normais do Paraná foram transformadas em Escolas de Professores através do Decreto nº 6150, de 10 de janeiro de 1938. Um ano antes, um anteprojeto foi apresentado na Assembleia para a reformulação do Código de Ensino de 1917. Não aprovado, resultou no decreto de 1938.

Entre essas escolas estava a Escola Normal Secundária de Curitiba, que passou a se chamar Escola de Professores de Curitiba. O curso ficou estruturado em 4 seções e aprofundou a formação cientificista dos professores pelo desdobramento da disciplina Psicologia em Geral e Infantil e pela introdução das disciplinas Sociologia Geral, Sociologia Educacional e Biologia Aplicada à Educação, numa aproximação ainda maior aos processos higienistas ainda predominantes.

Coube ao professor paranaense Erasmo Pilotto elaborar e aplicar a proposta educacional da Escola de Professores de Curitiba de acordo com o regulamento dos cursos de formação de professores de 1938. Segundo Maria Elizabeth Blanck Miguel (2007, p. 191), Pilotto “[...] redimensionou as normas contidas no Regulamento, dando-lhes estofo teórico e aplicação prática, construindo um plano de formação do magistério primário”.

Segundo esse plano, as finalidades da Escola de Professores de Curitiba eram: formar professores primários; ser um centro de cultura pedagógica voltado para a investigação filosófica e a investigação experimental de problemas educacionais e tornar-se um centro de vulgarização pedagógica atingindo todo o magistério do Estado e, mais remotamente, a família. A disciplina de Filosofia, proposta pelo Código de Educação de 1937, não foi incluída na estrutura curricular dessa Escola. Mesmo assim a investigação filosófica de problemas educacionais foi

definida, por Erasmo Pilotto, como uma das atividades da Escola, que almejava ser um centro de cultura pedagógica.

Os estudos filosóficos não incluídos na estrutura curricular da referida instituição escolar foram desenvolvidos através do Centro Superior de Pedagogia, destinado, segundo Pilotto, “aos melhores alunos”. Sua frequência era, contudo, facultada aos demais. Esse Centro desenvolveu, segundo o professor paranaense, “um curso de Filosofia Moderna e Contemporânea, com o fito de fazer compreender aos alunos as bases filosóficas da Pedagogia”.

2.5.2 Higiene e escolarização no Paraná: canteiro fértil para o trabalho da visitadora