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4. M ETODOLOGIA – CONSTRUÇÃO DO TEMA E DEFINIÇÃO DO CAMPO

4.6 A ESCOLHA DAS ESCOLAS

Desde o início da participação no Projeto ―TIC-Educação‖ já estavam sendo estruturados os desdobramentos da presente pesquisa.

Após a etapa inicial do pré-campo (primeiros contatos, apresentação da pesquisa, levantamento geral do perfil das escolas), foi decidido que as duas instituições nas quais eu participaria como pesquisadora seriam, posteriormente, o cenário de observação e aprofundamento das questões e temas que norteiam esta pesquisa.

A análise do contexto geral levou à opção pelas escolas situadas nos municípios de São Paulo e Carapicuíba.

Um dos fatores que teve papel significativo nesta decisão foi já ter sido estabelecido um vínculo com as instituições, não só no aspecto mais estrito das aproximações formais, mas, sobretudo, na participação em rotinas das escolas através da observação de atividades pedagógicas (reuniões de professores, HTPC, aulas). Havia também, o trânsito informal em ambientes que permitiram a interação, ainda que pontual, com alunos (sala de informática, biblioteca, pátio, refeitório) e professores (sala de professores, de informática, sala de área – espaço reservado para reuniões, pesquisa, preparação de aulas), além de funcionários dos diversos setores.

Considerou-se ainda, o fato de nestas duas escolas haver se destacado algumas características peculiares.

A partir deste ponto, antes de dar sequência ao relato, as escolas passarão a ser identificadas não mais pela localidade, mas por nomes fictícios. A transição do pré-campo para a presente pesquisa implicou não só no aprofundamento da observação, mas laços foram estabelecidos; uma identidade se constituiu. Nomear torna-se um ato de tradução deste vínculo. O mesmo ocorrerá sempre que nos referirmos às pessoas que participaram da pesquisa.

A escola situada no município de Carapicuíba passa então a ser identificada como ―Escola da Aldeia‖ e a da capital recebe o nome de ―Escola da Metrópole‖.

Na Escola da Aldeia há a parceria com um Ponto de Cultura do Município, o que propicia amplo investimento em atividades de contraturno ligadas às artes e aos esportes. Este movimento, associado ao histórico da instituição no qual é frequente que membros de uma mesma família estudem ou trabalhem na escola, parece fortalecer os vínculos comunitários criando um compromisso por parte da grande maioria para com o processo de aprendizagem.

As observações iniciais apontaram para uma posição atuante de boa parte do corpo docente, composto por profissionais que se mostraram críticos e engajados com o projeto pedagógico da escola.

Já a Escola da Metrópole tem como importantes diferenciais a composição de seu quadro de alunos – cujo preenchimento das vagas é feito através de sorteio entre a comunidade em geral e filhos de funcionários e de docentes de uma universidade – e a participação no ―Programa Um Computador por Aluno‖ (PROUCA) 60

, cujo objetivo é ―[...] ser um projeto Educacional utilizando tecnologia, inclusão digital e adensamento da cadeia produtiva comercial no Brasil.‖

Para tal ―Cada escola receberá os laptops para alunos e professores, infraestrutura para acesso à internet, capacitação de gestores e professores no uso da tecnologia.‖

Colocava-se a oportunidade de observar uma comunidade heterogênea em termos de realidade sócio-cultural e também, um ambiente no qual o uso das TICs vem sendo incrementado sistematicamente ao longo dos últimos dez anos através de apoios governamentais e iniciativas de grupos de pesquisas da Universidade, contexto que acaba por criar condições facilitadoras à implantação de recursos tecnológicos no projeto pedagógico da escola.

Em contrapartida, a opção por estas duas instituições também colocou um viés (o que acontece com toda escolha) na medida em que se trata de escolas que, embora participantes da rede pública, encontram-se em condições diferenciadas no que se refere ao suporte e engajamento da comunidade na qual estão inseridas.

Tanto a mídia quanto os institutos de pesquisa apontam sistematicamente para uma realidade na qual prevalece a baixa qualificação dos docentes e a desmotivação e falta de engajamento destes e dos alunos; também são frequentes relatos de atos violentos e

discriminatórios (que desde sempre existiram e agora, ganham novo status graças à descoberta de um termo que ‗universaliza‘ e insere no imaginário global – o bullyng). Entretanto, a pesquisa se desenrolou em um cenário pouco ou quase nada marcado por tais características.

A Escola da Metrópole, pelo próprio histórico de sua constituição, tão integrada a uma Universidade acaba por atrair para seu corpo docente, jovens recém-formados na própria universidade, quase sempre engajados em projetos de pesquisa e voltados para o investimento em sua formação; boa parte da equipe de docentes e gestores é constituída de mestres e doutores ou doutorandos.

A Escola da Aldeia recebe profissionais oriundos do ensino público; parte deles graduou-se em faculdades particulares de pouco destaque.

Ainda assim, foi possível observar e constatar nas entrevistas e no acompanhamento de reuniões, um grupo engajado, crítico, altamente comprometido com o projeto pedagógico da escola, sobretudo no que diz respeito à atenção e investimento no aluno e na formação destes como indivíduos e cidadãos.

Além disso, em ambas as escolas não encontramos ambientes depredados; ao contrário, são espaços aproveitados ao máximo, organizados, limpos, especialmente na Escola da Aldeia, com a marca da produção artística dos alunos em todos os ambientes.

A partir da análise do material levantado no pré-campo foram estabelecidos os próximos passos da pesquisa.

A primeira ação foi a retomada do contato formal com as duas escolas61, para alinhamento da agenda.

Simultaneamente, foi elaborado o Roteiro de Entrevista em suas duas versões (Professor / Aluno – Anexo B).

A escolha dos entrevistados no geral ocorreu de maneira aleatória, ainda que seguindo alguns critérios básicos. Seria oportuna a participação de um gestor em cada escola, considerando que, na origem e na essência, são professores, interagem de maneira próxima com os docentes e, tanto a diretora da Escola da Aldeia quanto o vice-diretor da Escola da

61 No período entre novembro de 2010 (conclusão do pré-campo) e janeiro de 2011, ocorreram conversas telefônicas, visitas e reuniões.

Metrópole atuam também como professores. O fato de ocuparem duas posições no cotidiano da escola intensifica a participação em situações diversificadas quanto às demandas. Transitam entre a consolidação em sala de aula das diretrizes da gestão da qual eles próprios são os principais responsáveis.

Com o propósito de realizar uma análise em profundidade, privilegiou-se o perfil dos entrevistados e não a quantidade de participantes (especialmente no caso dos professores). O interesse era ter acesso a profissionais que demonstrassem senso crítico, envolvimento com o cotidiano da instituição e interesse em participar da pesquisa.

Durante a etapa do pré-campo, por conta do acompanhamento de reuniões e visitas freqüentes às escolas já havia uma aproximação com muitos dos professores, que possibilitava ter certa percepção de estilos, ainda que bastante superficial. Além disso, as próprias entrevistas seriam os principais balizadores e indicadores da possível necessidade de ampliar o número de participantes para obter material apropriado à análise.

Em cada uma das escolas foram entrevistados dois professores e dois alunos. Na Escola da Aldeia, houve uma terceira entrevista com professor, pois o convite, por sugestão da diretora, foi feito na sala dos professores, quando muitos estavam presentes e duas professoras, de imediato, se prontificaram a participar.

As conversas com professores foram realizadas em horários de HTPC (Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo) ou em horários livres entre aulas. 62 No caso dos alunos, foram convidados aqueles que estavam na escola com algum tempo livre por conta de intervalo entre atividades de contraturno, aulas de reforço ou por estarem aguardando alguém que iria buscá-los.

Nas duas escolas as pessoas mostraram disponibilidade para participar, ainda que o agendamento tenha sido um pouco mais demorado na Escola da Metrópole, em função de certas formalidades que já haviam surgido no pré-campo. Embora a diretora e o vice-diretor tivessem orientado no sentido de convidar os professores diretamente, uma das pessoas abordadas solicitou que fosse feito um encaminhamento por email para secretaria, que validaria com a direção. Não houve resposta deste email e a entrevista não aconteceu. Com

62 Na Escola da Metrópole os professores trabalham em regime de 40h semanais sendo 32h em sala de aula e 8h em atividades complementares (cursos, preparação de aulas etc). Isso torna possível encontrar professores na escola em horários em que não estão em sala de aula.

os alunos a aproximação foi direta, sempre dentro da escola. Houve alunos que mostraram interesse, mas no período da aula não havia tempo hábil e não teriam disponibilidade para estarem na escola fora daquele horário.

No total, foram realizadas nove entrevistas; na Escola da Aldeia participaram a diretora, a professora de Artes, a professora de Educação Física, uma aluna e um aluno. Na Escola da Metrópole, além do vice-diretor (que também é professor de Sociologia no Ensino Médio) houve a participação de um professor de História e dois alunos: uma garota e um garoto.63

63 Nas referências às escolas serão utilizadas as siglas EA para Escola da Aldeia e EM para Escola da Metrópole.