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4. M ETODOLOGIA – CONSTRUÇÃO DO TEMA E DEFINIÇÃO DO CAMPO

4.2 O REFERENCIAL TEÓRICO

A pesquisa bibliográfica foi mantida ao longo de todo o estudo e o arcabouço teórico do trabalho foi desenvolvido, essencialmente, a partir dos campos da Educomunicação, da Economia da Informação e da Psicanálise.

Sistematicamente recorreu-se à produção específica da Internet por meio do acompanhamento de sites voltados a temas como educação, mentoring, tecnologias da informação e comunicação, cibercultura. Constante também foi a navegação por blogs, sites e redes sociais; espaços que proporcionam proximidade e atualização em relação ao que vem sendo experimentado, discutido e relatado pelos mais diversos atores envolvidos com a temática da educação na cultura digital.

32 No original: (a) questions about the meaning of events and activities to the people involved in these, (b) questions about the influence of the physical and social context on these events and activities, and (c) questions about the process by which these events and activities and their outcomes occurred.

33 No original: […] you are the research instrument […] and your eyes and ears are the tools you use to make sense of what is going on.

Muito dessas aproximações não se encontra relatado ou indicado de maneira formal neste trabalho. Trata-se de uma inserção intensa no que é, em parte, o próprio campo da pesquisa. Paralelamente ao trabalho de consulta ao referencial teórico e levantamento, análise e discussão de dados coloquei-me a proposta de realizar uma experiência metapórica (sic).

Na proposta do ―quase-método‖ em estudos de comunicação Ciro Marcondes Filho parte da premissa de que

[...] o mundo é permanente movimento e de que nós, inseridos nele, devemos pensar em movimento, produzir teorias ‗no durante‘, sugerir descrições e constatações que considerem a provisoriedade do saber. [...] a descoberta de algo que não se sabia antes, é o expor-se à ‗violência‘, é o ato de [a comunicação] nos fazer pensar nas coisas, nos outros, em nós mesmos, na nossa vida. É algo de natureza absolutamente diferente do mero se informar e das falas triviais; trata-se de uma diferença radical de qualidade na participação em um acontecimento.34 (pp.121-122, grifos do autor).

O autor segue em suas considerações:

Metáporo supõe um ato de permitir o acesso, de deixar entrar, de liberar, de hospedar o outro, de me atravessar. O próprio observador se ‗porifica‘ abrindo a corrente de água enquanto nada. Água que o preenche, que o perfura, que o atravessa como se ele fosse uma tela, que o dissolve nela. A integridade se dilui. Merleau-Ponty diria que nos desfazemos na carne do mundo. Tornamo-nos seres cartesianos em decomposição, em diluição, em desaparecimento, misturando-nos no tudo-envolvente. [...] Dissolução da rigidez. É o que se chama, também, ‗abrir-se à estranheza do outro‘, do outro enquanto outra pessoa e enquanto objeto, cena, drama. É a origem da própria comunicação. Eu só posso descrever um ato genuinamente comunicacional na medida em que eu, ao mesmo tempo, o sinto, o vivencio, permito que meus poros sejam atravessados por esse clima, esse espetáculo, essa atmosfera circundante, essa energia produzida pelo amorfo mediático. Por isso, poros é também arte e inventividade. (Ibid., p. 127).

Um convite para que o pesquisador não só fique atento a esta fluidez permanente do mundo, mas perceba-se inserido no território no qual está se movendo, observe e sinta o seu ―próprio movimento nele, de caráter errático, nômade, em rodeios; nosso olhar, nossa observação do fenômeno comunicacional, onde há precedência das relações e a observância da ocorrência do Acontecimento; por fim, o registro.‖ (p. 119).

Ao eleger o recorte da tecnologia, mais especificamente das mídias digitais, como um dos eixos da pesquisa ingressei intensa e sistematicamente no chamado ―mundo virtual‖

34 Extraído do texto ―O princípio da razão durante - Parte V‖, disponibilizado pelo autor nos Seminários realizados no segundo semestre de 2009 no CJE da ECA-USP, os quais freqüentei como ouvinte.

passando a ser a web um importante espaço de busca, troca e estruturação de conhecimentos e saberes.

Ia assim, me experimentando no mesmo ambiente que, em parte, pesquisava e me defrontando com os apelos e desafios que se colocam dia após dia aos participantes desta pesquisa: buscar conteúdos, filtrar informações, ter uma leitura crítica e seletiva, escolher fontes, participar das redes sociais.

Optar entre pesquisar, ouvir música, surfar pelos por sites de arte, ler receitas culinárias, contos, poesia, chatear com os amigos. Pesquisadora-campo-máquina: a vivência do ator-rede.

Uma dimensão que se revela no corpo, no real. Das dores por conta das muitas horas diante do computador, ao conforto das reuniões por Skype, fugindo do trânsito estressante.

Desta experiência que nunca havia sido tão intensa para mim fica, sobretudo, o encantamento com as possibilidades que este mundo oferece. E os dissabores provocados pela tentação da navegação à deriva...

Voltando ao referencial teórico estabelecido, havia o objetivo de realizar reflexões sobre em que medida é possível transgredir regras dadas e limitantes e ―reconfigurar‖ o sistema global para que se encontrem localmente (e até individualmente) saídas alternativas para criar outras maneiras de intervenção neste cenário da cultura digital. Pensar os caminhos sustentados pela construção - e não pela degradação; uma acumulação coletiva sustentável (capital social). Uma aproximação com as ciências econômicas.

O tema mentoring vem sendo tratado essencialmente em dois cenários: o das instituições educacionais e o das empresas, o que nos levou a recorrer tanto às abordagens da área da Educação, quanto da Administração, Psicologia Organizacional e Educomunicação.

E para falar e pensar sobre a cibercultura e as tecnologias da informação e da comunicação muitas foram as fontes, nas mais diversas áreas do conhecimento.

E porque a psicanálise? Minha formação, minha prática – e minhas crenças – necessariamente me levam a pensar o sujeito e os fenômenos, como processos do inconsciente.

Instalou-se então, o desafio de desenvolver a pesquisa acadêmica a partir de um olhar que se distanciasse das conclusões fechadas e da busca de uma verdade ou de um saber racional.

Desde o início do projeto estava claro que, ainda que não houvesse a proposta de realizar uma pesquisa de cunho psicanalítico, recorreria à psicanálise de orientação freudiana e lacaniana para levantar questionamentos acerca do observado, do dito – e do não dito - e para embasar as reflexões, indagações, observações e percepções.

Procurei realizar, ainda que sem aprofundar, reflexões sobre um sujeito que se move num mundo capitalista e que busca, frente ao incontrolável do gozo e do imaginário, construir uma ação emancipatória no simbólico para lidar com o duro do real. Possibilidades de expansão e riscos de alienação. Da mais-valia ao mais-de-gozar. (LACAN, 1968-1969, 2008).

A partir destes recortes, foi possível refinar o conteúdo trabalhado no pré-campo e encontrar subsídios atuais para a sistematização da abordagem no campo. Em outras palavras, nortear entrevistas, pauta de reuniões, contatos diversos. Considerar e respeitar temáticas e momentos das instituições pesquisadas, porém, sem perder de vista movimentos globais do cenário nacional.

4.3PROJETO ―TIC-EDUCAÇÃO‖– O PRÉ-CAMPO