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3.2 Fases do desenvolvimento do método

3.2.1 Escolha dos indicadores

A idéia de indicador está intimamente relacionada com a de monitoramento, controle. Em geral, indicadores são úteis para informar ou possibilitar interpretações sobre realidades complexas que apresentariam dificuldades ao serem avaliadas de forma direta (GIRARDIN; BOCKSTALLER; WERF, 1999). É também clara a importância dos indicadores na medida em que podem funcionar como parâmetros de controle, principalmente em relação aos padrões definidos pela legislação ambiental.

Partindo desse raciocínio é que o desenvolvimento deste trabalho levou em consideração alguns fatores importantes em relação aos indicadores escolhidos, os quais devem: representar uma síntese da área de estudo; possibilitar a comparação em relação a uma determinada referência; ser facilmente quantificáveis e sensíveis às variações do sistema e, sobretudo, proporcionar uma leitura compreensível e uma objetiva interpretação dos resultados.

Para o caso específico desta pesquisa, dentre os fatores mencionados, dois tiveram uma maior relevância: o que diz respeito à facilidade de quantificação e o relacionado à possibilidade de proporcionar uma leitura fácil e uma objetiva interpretação dos resultados. Na realidade da indústria têxtil estudada, como já foi comentado, os principais impactos ambientais concentram-se sobre o elevado consumo de água e os efluentes resultantes do processo industrial. A partir dessa necessidade, optou-se por trabalhar com três categorias de indicadores:

„ Eficiência de recursos Æ compõe-se de medidas relativas ao aproveitamento dos recursos no processo industrial e tem a finalidade de possibilitar a avaliação da tendência de produzir mais, utilizando menos.

„ Efluentes Æ esta categoria traz indicadores relativos aos efluentes líquidos gerados no processo, considerando parâmetros exigidos pela legislação, em função das determinações do órgão ambiental.

„ Emissões gasosas Æ este grupo trata de indicadores destinados ao monitoramento de emissões oriundas do processo de geração de vapor (caldeiras) e também considera padrões em relação à legislação ambiental vigente.

Essa configuração proporcionou uma maior aderência do método desenvolvido ao processo estudado. A seguir, são fornecidos detalhes sobre cada categoria e sobre o processo de medição dos indicadores, demonstrando razões que levaram à escolha dos indicadores adotados neste estudo.

3.2.1.1 Indicadores da categoria Eficiência de Recursos

Para esta categoria, foram determinados 4 indicadores:

„ Consumo de Energia Elétrica;

„ Consumo de Água14;

„ Consumo de Água (preparação); e

„ Consumo de Vapor.

Esses indicadores já faziam parte, antes do desenvolvimento deste método, do grupo de indicadores de desempenho geral da companhia e foram aproveitados no sentido de que denotam, com clareza, a eficiência do processo industrial como um todo, do ponto de vista ambiental.

14 Este indicador tem como base o consumo de água de toda a unidade industrial em questão, enquanto que o indicador Consumo de Água (Preparação) considera somente o consumo na área de preparação.

Cada um dos indicadores dessa categoria está focado na visão preventiva de que falhas no processo, provindas da operação ou da manutenção inadequada de equipamentos, ou mesmo de outros fatores, podem contribuir negativamente com o desempenho ambiental da organização.

Para as medições realizadas, são utilizados equipamentos existentes na própria empresa, de forma que a obtenção desses dados é bastante simples e não gera custos adicionais.

Elaborou-se a Tabela 3.1, a fim de demonstrar o método de determinação, a unidade de medida e o modo de interpretação de cada indicador.

Tabela 3.1 – Indicadores da categoria eficiência de recursos.

Indicador Determinação Unidade Interpretação

Consumo de Energia Elétrica ( ) ) ( m fabricado tecido de Quantidade kwh Consumida Energia kwh/m Fornece a idéia da eficiência energética do processo. Consumo de Água Fornece a idéia de eficiência do processo em relação ao uso da água. Nesse indicador é considerado todo o consumo da planta industrial. Consumo de água (preparação) ) ( ) ( 3 km fabricado tecido de Quantidade m Consumida Água m³/km A fórmula de cálculo é a mesma, porém neste indicador só se considera o consumo da etapa de preparação. Consumo de Vapor ( ) ) ( km fabricado tecido de Quantidade Ton Consumido Vapor Ton/km Determina o consumo específico de vapor no processo.

No caso dos indicadores gerais (Consumo de Energia Elétrica, Consumo de Água e Consumo de Vapor) fica muito clara a razão da escolha: monitorar recursos utilizados em função do que é produzido. Para o caso do indicador Consumo de Água (preparação), a motivação é a mesma, porém com um enfoque ainda mais específico: é neste setor do processo industrial que ocorre grande parte da utilização da água, tendo importância sobre o resultado geral do consumo.

Um desempenho fora do esperado em qualquer um desses indicadores pode demonstrar a incorreta utilização de recursos ambientalmente estratégicos como: água, energia elétrica e combustíveis (no caso, para a geração de vapor em caldeiras).

3.2.1.2 Indicadores da categoria Efluentes

Dentro dessa categoria, foram eleitos 10 indicadores:

„ pH;

„ Vazão;

„ Temperatura do efluente;

„ Sólidos sedimentáveis;

„ Substâncias solúveis em hexano;

„ Sulfeto;

„ Sulfato;

„ Amônia total;

„ Índice de fenóis; e

„ Chumbo.

Quando se trata de qualidade de água, os parâmetros de avaliação, geralmente, diferem dos mencionados acima. Como exemplo, podem ser citadas: a metodologia da National Sanitation Foundation (NSF), nos Estados Unidos, com o WQI (Water Quality Index), mencionado por Canter (1996); e a abordagem da CETESB, no Brasil, que é uma adaptação da metodologia da NSF, apresentada por Derísio (2000). Ambas incluem medidas de oxigênio dissolvido, coliformes fecais, DBO, pH, fosfato, nitrato, temperatura, turbidez e sólidos totais.

Vale ressaltar que, no escopo deste trabalho, considera-se a avaliação da situação de efluentes industriais e não da qualidade de água propriamente dita. Em função disso, pode-se assumir que os parâmetros escolhidos representam, com boa abrangência, o processo estudado. Outro aspecto importante é o fato de que o monitoramento desses parâmetros é exigido pelo órgão ambiental (SEMACE). Dessa forma, o método se torna mais adequado à rotina da organização.

Diferentemente dos escolhidos na categoria eficiência de recursos, os indicadores desta categoria independem de fórmulas de cálculo e são medidos diretamente por meio de aparelhos ou através de análises periódicas dos efluentes.

Os valores de pH, vazão e temperatura do efluente são medidos sob a responsabilidade do próprio pessoal da empresa estudada, por meio de equipamentos que são periodicamente calibrados (exigência para empresas com certificado ISO 14001). A vazão é importante por uma questão de enquadramento por categoria, na portaria SEMACE nº 154/02 (CEARÁ, 2002). As análises para a determinação de outros parâmetros, por sua vez, são feitas por uma empresa contratada, com experiência na área de monitoramento de efluentes industriais, a qual tem utilizado os reconhecidos Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater.

3.2.1.3 Indicadores da categoria Emissões Gasosas

Apesar do processo da indústria estudada não trazer, em si, emissões gasosas relevantes, devido à importância da utilização do vapor pela empresa (na planta industrial em questão existe um sistema de geração de vapor formado por caldeiras que funcionam 24 horas por dia), tornou-se fundamental o estabelecimento de indicadores de emissões gasosas para este sistema.

Sendo assim, 4 indicadores foram escolhidos nesta categoria:

„ Dióxido de Enxofre (SO2); „ Monóxido de Carbono (CO);

„ Óxidos de Nitrogênio (NOx); e „ Material Particulado.

Atualmente, apenas dois dos indicadores escolhidos são monitorados pela SEMACE, em função da Resolução CONAMA nº 008/90: dióxido de enxofre e material particulado (BRASIL, 1990). As medições são realizadas por empresa especializada, que utiliza equipamentos e métodos adequados, de acordo com a legislação ambiental vigente.

Pode ser questionável o fato de não ter sido incluída medição em relação ao dióxido de carbono (CO2). A atual discussão sobre o efeito estufa e o fato de se

levar em conta que o CO2 é um dos principais responsáveis pelo aquecimento global

seriam, com certeza, razões para incluir um parâmetro relacionado a este gás. Porém, existe dificuldade em determinar um padrão para emissão de CO2, visto que

não está presente na legislação brasileira.

Além disso, a emissão de CO2 deveria ser computada não somente em

função da queima de combustível, mas de outras atividades presentes na planta, potencialmente geradoras desse gás (ou seus GHGs15 equivalentes), o que tornaria o processo de medição extremamente complexo, fugindo do escopo do trabalho. Esta questão é discutida com maior profundidade em aplicação do método demonstrada em seção posterior deste trabalho.

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