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Em seus escritos, Cícero louva a ciência profunda de Divitiac, o único druida que foi a Roma.

No documento Portal Luz Espírita (páginas 97-100)

Religião dos celtas, o culto, os sacrifícios, a ideia da morte

56 Em seus escritos, Cícero louva a ciência profunda de Divitiac, o único druida que foi a Roma.

indicações daqueles nossos guias espirituais que viveram na época céltica.

O chefe dos druidas era eleito pela corporação inteira e investido de um poder absoluto. Era ele que resolvia as divergências entre as tribos turbulentas, agitadas, sempre prontas a recorrer às armas. Estando acima das rivalidades dos clãs, essa instituição representava a verdadeira unidade da Gália. Toda a elite juvenil da nação se agrupava em volta desses filósofos, ávida de receber seus ensinos que eram dados longe das cidades, no interior dos recintos sagrados.

Os druidas não só mantinham a justiça nas tribos, como também se pronunciavam sobre as causas graves, em uma assembleia solene que se reunia todos os anos no país de Chartres. Essa assembleia tinha ao mesmo tempo um caráter político, e cada república gaulesa a ela enviava seus delegados.

O gênio religioso dos celtas tinha estabelecido três formas superpostas de crenças e de culto em relação com o grau de aptidão e de compreensão dos gauleses. Inicialmente era o culto dos Espíritos dos mortos, ao alcance de todos e que todos praticavam, pois os videntes e médiuns eram numerosos nessa época. Depois vinha o culto popular dos semideuses ou Espíritos protetores das tribos, símbolos das forças da natureza ou das faculdades do Espírito; esse culto tinha sobretudo um caráter local. Finalmente, havia o culto do Espírito divino, fonte e criador da vida universal, que domina e rege todas as coisas e cujas obras são o principal objeto dos estudos e pesquisas dos druidas e dos iniciados.

Na realidade, o politeísmo gaulês, que se condena como sendo uma idolatria, não era senão a representação dos Espíritos tutelares, guias, protetores das famílias e das nações, dos quais nós podemos constatar, hoje em dia, pelos fatos, a existência e a intervenção nas horas necessárias. O mesmo se deu em todas as religiões antigas e nas crenças dos povos que colocavam na classe dos deuses os Espíritos daqueles que eram distinguidos pelos seus méritos e suas virtudes. O povo tem necessidade de crer nos intermediários entre ele e Deus infinito e eterno, que ele imagina estar bem afastado, embora todos estejamos mergulhados nele, conforme a palavra de São Paulo. Em todos os países, vários seres simbólicos, concebidos pela imaginação dos seus primeiros homens, são, sob formas materiais, graciosas ou terríveis, a expressão viva de seus temores e de suas esperanças.

Os druidas, dizíamos, ensinavam a unidade de Deus. Os romanos, pervertidos nesses assuntos, confundiram os personagens secundários do céu gaulês, as personificações simbólicas das potências naturais e morais, com seus próprios deuses. O Panteão gaulês apresenta mais frescor e beleza do que os deuses envelhecidos do Olimpo. O Teutatès gaulês era uma representação das forças superiores; Gwyon representava a ciência e as artes; Esus o símbolo da

vida e da luz. Outros, como Hu-Kaddarn, chefe da grande migração “kymris”, eram heróis glorificados. Mas, nesse Panteão não se encontravam os deuses do mal, os ídolos do Egito e de Roma. Ali não se viam os deuses infames, um Júpiter adúltero, uma Vênus lasciva, um Mercúrio corrompido. Também não se encontrava esse cortejo imundo dos Bacos, dos Priapos, isto é, os vícios endeusados. Conhecia-se somente a sabedoria, a virtude e a justiça. E mais alto, acima dessas forças intelectuais e morais, resplendia o foco de onde todas elas emanam, a potência infinita e misteriosa que os druidas adoravam ao pé dos monumentos de granito, na solidão das florestas. Eles diziam que o ordenador do imenso Universo não poderia estar preso entre as muralhas de um templo, que o único culto digno dele devia cumprir-se nos santuários da natureza, sob as abóbadas sombrias dos grandes carvalhos, à beira dos vastos oceanos. Eles afirmavam que Deus era muito grande para ser representado por imagens, sob formas modeladas pela mão do homem. Por isso, eles somente lhe consagravam monumentos de pedra bruta, dizendo que toda pedra talhada era uma pedra maculada.

Assim, todos os símbolos religiosos dos druidas eram emprestados da natureza virgem, livre. O carvalho era a árvore sagrada, seu tronco colossal, seus possantes galhos representavam o emblema da força e da vida. O visco, que era retirado com pompa, o visco sempre verde, mesmo quando a natureza adormece, quando os vegetais parecem mortos, era, para seus olhos, o emblema da imortalidade e, ao mesmo tempo, um princípio regenerador e curativo.

Esses ritos do Druidismo, esse culto sóbrio e grande, não teriam alguma coisa de imponente? As matas de carvalho, o visco renascente sobre os troncos carunchosos, as grandes rochas de pé, na beira do oceano, eram, do mesmo modo, símbolos da eternidade dos tempos e do infinito dos Espaços.

O Catolicismo parece ter tomado emprestado do culto druídico o que há de mais nobre e belo. Os pilares e as naves das catedrais góticas são a imitação dos troncos esbeltos e dos galhos dos gigantes das florestas; o órgão, pelos seus sons, lembra o sussurro do vento na folhagem; o incenso é o vapor que se eleva das planícies e dos bosques ao surgirem os primeiros raios solares.

O Druidismo era o culto do imutável, do que permanece, em uma palavra, o culto da natureza infinita, dessa natureza fecunda no seio da qual todo espírito se revigora, se viriliza, reencontra as forças naturais.

Para nós, como para nossos antepassados, os espetáculos que ele oferece são as fontes de meditação salutares, de ensinos pelos quais se revela o Deus imenso, eterno, que os celtas adoraram, Deus, alma do mundo, “eu” consciente do Universo, foco supremo em direção do qual convergem todas as ligações e de

onde se irradiam, através dos espaços sem limites e dos tempos sem demarcações, todas as potências morais: o Amor, a Justiça, a Verdade e a Infinita Bondade!

* * *

Uma sombra, porém, se estende sobre o Druidismo. A história nos ensina que os sacrifícios humanos se cumpriam sob os grandes carvalhos, o sangue corria sobre as mesas de pedra. Talvez esteja aí o erro capital, o lado imperfeito do culto, tão grande em outros pontos de vista. Não esqueçamos, entretanto, que todas as religiões, na sua origem, todos os cultos primitivos tinham o sacrifício do sangue.

Ainda hoje, cada manhã e em todos os ambientes do mundo católico o sangue do Cristo não jorra sobre o altar, pela voz do padre? Com efeito, ante os olhos dos crentes isso não é uma simples imagem, é o corpo e o sangue do grande crucificado que lhes são oferecidos. O dogma da presença real é, para eles, absoluto. Se alguma dúvida subsiste em certos Espíritos, meditemos nestas palavras de Bossuet:

Por que os cristãos não conhecem mais o santo pavor de que eram tomados outrora ante o sacrifício? Será que ele cessou de ser terrível? Será que o sangue de nossa vítima não corre mais a não ser sobre o Calvário?57

Além do sacrifício sangrento da missa, é preciso ainda lembrar os suplícios e as fogueiras da inquisição, todas essas imolações que não são somente atentados à vida, mas também ultrajes à consciência?

Esses sacrifícios não são mais odiosos do que aqueles dos druidas, onde somente figuravam criminosos e vítimas voluntárias? É preciso lembrar que os druidas eram magistrados e justiceiros. Os condenados à morte, os assassinos, eram oferecidos em holocaustos àquele que era para eles a fonte da justiça.

Era um ato sagrado e, para torná-o mais solene, para permitir ao condenado refletir em si mesmo e preparar-se para o arrependimento, eles deixavam sempre um intervalo de cinco anos entre a sentença e a execução. Essas cerimônias expiatórias não seriam mais dignas do que as execuções de nossos dias, onde vemos um povo, que pretende ser civilizado, passar as noites ao redor das guilhotinas, atraído pelo chamariz de um espetáculo horrível e de impressões nocivas?

No documento Portal Luz Espírita (páginas 97-100)

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