• Nenhum resultado encontrado

Ver a revista La Bretagne Touristique, de 15 de outubro de 1924.

No documento Portal Luz Espírita (páginas 37-42)

A Bretanha francesa Lembranças druídicas

17 Ver a revista La Bretagne Touristique, de 15 de outubro de 1924.

18 Ver Le Goffic, em L’Âme Bretonne, volume I, p. 4 e seguintes, Champion, editor, e H. de la Villemarqué, em Le Barzaz-Breiz, Perrin e Cia. editores.

ornamento mais belo, Quellien morreu esmagado por um auto, deixando uma obra densa, da qual duas peças de teatro, ritmadas no dialeto do país de Tréguier, chamadas “Annaïk” e “Perrinaïk”, ele esperava representar na sua querida Bretanha.

Coisa estranha, Quellien parecia ter previsto seu fim trágico, pois escreveu no prefácio de sua Bretagne Armoricaine: “Tenho o pressentimento de que as tempestades da vida me levarão antes do tempo.” Alguns viram, nessa morte acidental, uma punição por ele ter desencaminhado o Bardismo nos cabarés da colina de Montmartre.

O Sr. H. de la Villemarqué publicou, em 1903, uma coletânea considerável de poemas e de cantos populares da Baixa-Bretanha que foi objeto de contestações e de críticas intermináveis; aí se encontram, entretanto, coisas muito interessantes, de belos ritmos e sugestivas evocações, em outras palavras, a expressão das alegrias e das dores de um povo inteiro.

Não está na minha ideia lembrar aqui as polêmicas ardentes, originadas a propósito de fraudes literárias atribuídas a certos escritores celtistas, ainda menos nelas tomar parte. Esses debates e discussões fazem ressaltar todo o preconceito e o fanatismo que os interesses políticos ou religiosos podem colocar em jogo para abafar uma grande ideia que os prejudica.

Pouco importa para nosso assunto, por exemplo, que a epopeia do Rei Arthur e os romances da Távola Redonda tenham sido adornados pela imaginação. Pouco importa, também, que os manuscritos dos poemas de Ossian sejam a obra do advogado Macpherson ou que os Srs. Luzel e de la Villemarqué tenham refeito e ampliado os cantos populares da Bretanha.

Nosso alvo é bem outro. Não se trata, para nós, de fazer a crítica literária, mas de mostrar toda a beleza e a grandeza da doutrina dos druidas que se têm diminuído, à vontade. Para isso basta nos elevarmos acima das contestações, mais alto do que as rivalidades das escolas, para nos ligarmos aos testemunhos dos historiadores imparciais que viveram na própria época dos druidas e os conheceram melhor. É o que faremos no desenrolar dos capítulos seguintes.

É verdade que a lenda de Merlin, o encantador, poderia chamar a nossa atenção, porque tais pensadores eminentes a consideram como o poema no qual se refletem, mais brilhantemente, as qualidades e os defeitos da alma céltica. Entretanto, um exame atento de tudo o que foi escrito sobre esse assunto demonstrou-nos que a parte de ficção, ali, é considerável e nós preferimos deixar ao nosso amigo Gaston Luce, poeta inspirado que preparou sobre esse tema um drama lírico de grande elevação, o cuidado de lhe fazer realçar todo o interesse. Nós nos limitaremos a reproduzir estas linhas do célebre escritor

Edouard Schuré, tiradas de seu livro As Grandes Lendas da França (Les Grandes

Légendes de France) e nas quais ele resume “a longa, a heróica luta dos celtas

contra o estrangeiro”:

“Arthur torna-se, para toda a Idade Média, o tipo do cavalheiro perfeito. Desforra na qual os bretões não tinham pensado, mas não menos gloriosa e fecunda. Quanto a Merlin, ele personifica o gênio poético e profético da raça, e se ele ficou incompreendido na Idade Média, como também nos tempos modernos, é porque, primeiro, a importância do profeta ultrapassa, de muito, a do herói; depois porque a lenda de Merlin e todo o Bardismo se confinam a uma ordem de fatos psíquicos onde o espírito moderno somente agora começa a penetrar.”

* * *

Quando, sob a inspiração de meu guia, exploro as camadas profundas de minha memória para reconstituir o encadeamento de minhas vidas passadas, se eu remonto às origens, aí reencontro, não sem emoção, os vestígios de minhas três primeiras existências vividas na Terra, no oeste da Gália independente.

Por lembrança, eu revejo essa Natureza ainda virgem, semisselvagem, toda impregnada de mistério e de poesia, e que o homem, apesar de sua pretensão de embelezar, somente conseguiu mutilar e despojar. Revejo esses grandes promontórios, batidos pelas tempestades, que se erguem ante os horizontes infinitos do mar e do céu. Creio ainda ouvir essas grandes vozes do oceano, ora lamentosas, ora ameaçantes, e o sussurro da onda que vai morrer no fundo das enseadas solitárias, riscando sobre a praia sua orla de espuma. A vaga embaladora não seria a imagem do pensamento humano, sempre inquieto, sempre fremente e agitado?

Revejo a floresta profunda, toda cheia de murmúrios de uma vida invisível; a floresta assombrada pelos Espíritos dos antepassados que encantam os santuários onde se realizam os sacrifícios e os ritos sagrados. Essa floresta céltica era tão vasta que seriam precisos meses inteiros para atravessá-la; tão espessa, tão cerrada, que no verão o tempo era escuro em pleno meio-dia, sob suas abóbadas verdejantes, imponentes como naves de catedral.

Todo celta guarda no coração o amor ardente, imperecível, da floresta. Ela é para ele um símbolo de força e de vida imortal. Após o fim do inverno, não renasce ela na primavera, assim como a alma, após um tempo de repouso, volta à Terra para manifestar os poderes da vida que estão nela?

Nesse ponto, como em muitos outros, o ensino dos druidas se inspirou nos espetáculos da natureza. No estudo de suas leis, eles acharam uma fonte

abundante de lições sempre vivas e expressivas, sempre ao alcance dos homens que ofereciam uma base sólida, uma força incomparável para suas convicções. Daí nenhuma dúvida, nenhuma hesitação, visto que eles pensavam que a natureza era uma emanação da vontade divina. É por estar afastada dela e por ter desconhecido suas leis que, desde então, o homem caiu no cepticismo e na negação. Mas então uma fé nova e pura brotava das almas, como a fonte límpida jorra do solo sob a ramagem dos grandes bosques. Espírito impetuoso e ardente, dela me impregnei a tal ponto que, apesar das vicissitudes de numerosas existências, ainda lhe guardo uma profunda impressão.

Eu gostava de penetrar nos círculos de pedra [cromlechs] onde se evocavam os Espíritos dos mortos. Escutava, com ansiedade, as lições dos druidas, que nos entretinham com as narrações das lutas da alma no “Abred”, para conquistar a ciência e a sabedoria, e sua plenitude de vida no “Gwynfyd”, para posse da virtude, do gênio e do amor. Sob a indicação do Mestre, eu me aplicava em aprender e recitar os inúmeros versos que constituíam o ensino sagrado.

Por essas experiências repetidas, consegui dar à minha memória a destreza e a duração que dela fizeram o precioso instrumento de estudo e de trabalho que me seguiu em todas as minhas vidas ulteriores.

No curso de minha vida atual eu queria rever as paisagens imponentes que, nesses tempos longínquos, com a ajuda de minhas primeiras existências terrestres, me tinham impressionado tão fortemente.

Segui, detalhadamente, os cortes da costa bretã e os restos dos grandes promontórios que as investidas da tempestade reduziram, de século em século. Nessa luta gigantesca, o oceano leva a melhor e o continente recua. O homem impotente se resigna, porém, como ele se vinga na floresta!

No lugar dos santuários druídicos, ambientes augustos e sagrados, não se vê senão urzes informes sem encanto e sem beleza. Eu queria percorrer Brocéliande, a floresta encantada onde Merlin e Viviane abrigavam sua paixão e seus sonhos; encontrei somente uma floresta devastada pelo machado, com as grandes superfícies desnudas, semelhantes às manchas leprosas sobre um solo empobrecido. A fonte de Baranton, de águas mágicas, é agora uma cloaca onde se agitam batráquios indefinidos.

Os próprios nomes foram mudados, Brocéliande tornou-se a floresta de Paimpont, propriedade do bispo de Nantes, que procedeu a derrubadas frequentes. E o mesmo ocorreu por toda a parte em que se estendeu a floresta céltica. Onde estão essas abóbadas de verde que os raios de sol atravessavam com muito custo para se lançarem sobre os musgos e as samambaias?

Mas quando a Terra tiver perdido o seu adorno e se tornar calva e nua, quando as águas pluviais rolarem em torrentes devastadoras, para onde o homem voltará seus olhares para desfrutar do espetáculo do Universo? Um de nossos eminentes políticos não declarou que as luzes do céu foram extintas? Mas não, Viviani19 está morto e as estrelas brilham ainda no seio das noites

profundas. Elas nos falam do poder, da sabedoria, da bondade do Criador! Elas serão sempre um símbolo de eterna esperança para a humanidade!

19 Trata-se, provavelmente, de René Viviani, político francês nascido em 1863, em Sidi-bel-Abbès, e que foi Presidente do Conselho no início da Grande Guerra. Morreu em 1925 — N. R., conforme o Nouveau Petit Larousse Illustré.

CAPÍTULO V

No documento Portal Luz Espírita (páginas 37-42)

Outline

Documentos relacionados