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Todos os esportes têm dimensões específicas e um tempo próprio a ser seguido. A constatação parece óbvia e de fato é. Há um tempo e um espaço para que ele aconteça. As linhas delimitam a superfície a ser utilizada e o cronômetro indica o seu andamento. São elementos fixos, controlados por um conjunto de árbitros27 especializados para atuar e manter toda “ordem” e “forma” do seu decorrer.

Em alguns esportes esses elementos são relativamente “curtos” e “pequenos”, como no caso do atletismo e da natação, em outros, relativamente “longos” e “grandes”, como nos esportes coletivos e automobilísticos, mas todos marcados e regidos por delimitações e temporalidades próprias.

No caso do handebol, a estrutura da partida revela na existência dessa organização interna uma duração determinada para a partida e uma limitação para os espaços que serão preenchidos.

A partida é realizada no interior de uma quadra retangular previamente delimitada. Oficialmente, suas dimensões são estas: 40 metros de comprimento e 20 metros de largura, existindo, em cada extremidade, uma área de gol, que compreende, na sua amplitude máxima, 6 metros a partir da linha de fundo. Nesse espaço, chamado a área do gol, a princípio só pode ser utilizada pelos goleiros, sendo punidos os demais jogadores que a invadirem.

As partidas são realizadas em um período de tempo relativamente longo. Uma partida oficial dura 1 hora, sendo esta dividida em dois tempos iguais de 30 minutos, com um intervalo de 10 minutos entre eles.

Nesse esporte é possível ao atleta viver tempos diferentes em um mesmo espaço: o do próprio ato da partida que, conforme dito, divide-se em dois momentos, e é onde desencadeiam-se as jogadas e criam-se as movimentações; e o intervalo,

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Cada esporte tem um conjunto de arbitragem própria. No handebol, além dos dois árbitros que atuam diretamente no jogo, controlando as ações que possam fugir das regras, existem dois mesários na lateral da quadra, o secretário e o cronometrista. O secretário tem como função fazer a súmula da partida, computando todas as estatísticas do jogo (cartões, gols, faltas etc.). Já o cronometrista, que possui um cronômetro, é quem controla o tempo da partida, interrompendo-o todas as vezes que os árbitros ou técnicos (pedido de tempo) solicitarem.

compreendido como período de descanso, de troca de jogadores e de possíveis orientações técnicas.

São tempos distintos de um mesmo cenário que se comunicam. Logo, pode- se considerar os movimentos realizados como uma inter-relação dos elementos da partida (espaço, tempo, bola, quadra e jogadores), visto que eles se ligam ao tempo como dependente direto do que é acionado no corpo. Ou seja, não há como separar, no esporte, tempo-espaço e corpo. Posto que, ambos compõem as ações dos atletas em quadra e a forma como eles habitam este lugar.

Percebo que esses fatores formam uma atmosfera em que habito desde os meus 11 anos. O corpo já não é o mesmo desse tempo. A agilidade parece estar reduzida, os arremessos gradativamente menos potentes, as dores multiplicaram-se e as fragilidades técnicas/táticas/físicas estão mais aparentes. Entretanto, a experiência que habita o corpo ao longo desses anos ainda suplanta proezas como as dos momentos áureos da adolescência, recuperando percepções somente sentidas em quadra, as quais justificam a minha permanência no esporte para me sentir mais feliz, mais viva e mais humana, semelhante ao que diz Merleau-Ponty (2011, p. 321): “Meu corpo toma posse do tempo [...] ele faz o tempo em lugar de padecê-lo”.

Por isso, não experiencio o tempo e o espaço de modo cronológico e físico simplesmente. Vivo-os no fluxo das minhas ações e vou habitando pela extensão do meu corpo, experiências que ele vivencia e que ele mesmo mede.

Desse modo, meus movimentos não se configuram somente como um deslocamento no tempo e no espaço, mas é um mover do próprio corpo, afinado a eles, pela temporalidade e espacialidade habitada em mim, assim como reconhece o filósofo: “[...] nosso corpo não está primeiramente no espaço: ele é no espaço” (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 205)

Nesse pensamento, quando habito os espaços da quadra, meu corpo lhe assume e galga, em cada movimento, um tempo-espaço que lhe é peculiar, antecedido pela potência criadora de viver e coexistir com esse mundo.

Essas ações acionam meu corpo, mobilizam os meus sentidos e me fazem andar num fluir técnico sempre imprevisível e auto-organizado pela vivência espaço- temporal que tenho de mim.

Fotografia 02: Tempo-espaço do corpo Fonte: http://www.cbdu.org.br (2011)

Por meio disso, vou engajando o corpo e colocando em ação sua força criadora, buscando novos acordos para viver a fixação do tempo e do espaço como condição existencial. Uma maneira de existir que certamente aprendi com as limitações que me foram impostas, mas que não foram suficientes para me indicar os caminhos da criação imediata do jogo. Razão pela qual busco nas interseções dos gestos, dos movimentos e dos encontros ali vividos, espaço e tempo para vivê- los, do mesmo modo como afirma Gil (2005) acerca do espaço paradoxal28: “O esportista prolonga o espaço que rodeia a sua pele, tece com as barras, os tapetes, ou simplesmente com o solo que pisa, relações de conivência tão íntimas como as que têm com o seu corpo” (GIL, 2005, p. 47).

Para ele, na experiência do movimento há um prolongamento ou uma ampliação do espaço que rodeia o corpo, constituindo a ocupação de um novo espaço: o espaço do corpo.

Tal proposição corrobora aquilo que vivo quando me movo pelas quadras e nelas vou criando, entre as ordens fixas e lógicas do handebol, novos referentes para viver o tempo-espaço que pertence ao meu próprio corpo.

Nesse cenário, entre o parecer do jogo e os meus movimentos, vou desenhando caminhos de ação e dirigindo meu corpo ao alvo pretendido. Em função dessa capacidade motriz, preencho pequenos e grandes espaços, projeto-me para aqui e para acolá, em encadeamentos temporais

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“Espaço paradoxal: diferente do espaço objetivo, não esta separado dele. Pelo contrário, imbrica-se nele totalmente, a ponto de não ser mais possível distingui-lo deste espaço” (GIL, 2005, p. 47).

sucessivos, causando a impressão de que meu movimento não tem espaço nem tempo definido (Fotografia 02).

Com o corpo em trânsito sigo! Não há inércia! Se ando ou se paro, se vou ou se volto, não sei. Os sentidos me guiam e o corpo me leva a uma nova condição de existência ao transitar por suas próprias direções.

É um outro espaço, é um outro tempo. O movimento não tem ordem e a velocidade parece diminuída. Retorcido e sem direção, opõe as características do jogo e vai compondo sua ação, “dobra-se, curva-se, adapta-se, gozando de pelo menos trezentos graus de liberdade, desenha dos pés à cabeça ou à ponta dos dedos um caminho variável e complexo entre as coisas do mundo” (SERRES, 2001, p. 76).

Esse é o tempo e o espaço que habita em mim no universo do esporte e que faz do esporte a expansão do meu ser no mundo. Logo, não é a celeridade das passadas ou a localização do corpo que compõe as minhas ações, mas o tempo- espaço que em mim se projeta e faz dos meus movimentos uma expressão das experiências ali vividas.

Mesmo que a ênfase da movimentação esteja visivelmente coordenada com o tempo-espaço do jogo, são eles que se projetam em meu corpo para conduzirem meus gestos e se misturarem a mim. E isto expressa, como forma elementar da existência, a indissociabilidade entre tempo e espaço. O que significa entender o espaço como o lócus onde se vivificam as relações humanas, como parte da existência, o mundo de onde o corpo compõe o seu fundamento, “pode-se dizer ao pé da letra que o espaço se sabe a si mesmo através do meu corpo” (MERLEAU- PONTY, 1980, p. 437).

Para Merleau-Ponty (2011), o corpo é o espaço, é o tempo, é o movimento, é o lugar. Ainda mais quando ele age e reage no mundo, espaço e tempo não são pontos adjacentes entre si, nem uma relação sintética da consciência. Os movimentos dilatam-se com eles, e entre o que está dado e o vir a ser, o determinado e o indeterminado, o caos e a forma, o corpo pulsa e o gesto simplesmente flui.

Portanto, se toda experiência é corporal, ela é por definição uma experiência espacial. O que permite afirmar que corpo e espaço não são elementos separados, mas se configuram como único ser, enraizados na existência, um corpo no mundo.

Tempo e espaço não podem ser pensados somente por princípios físicos, cronológicos ou mecânicos, como se fossem dados dissociados do corpo, mas como próprios da existência e do movimento humano. Com isso, os atletas se entregam às criações, sendo absorvidos por essas noções, sem perder de vista o contexto da partida. Afinal, é em meio ao tempo e ao espaço que os atletas correm, gerenciam a posse de bola, sabem o momento oportuno para saltar, arremessar e realizar o gol. E essa lógica, embora pareça, não é imediata, mas é dada no nível da própria ação, desencadeada no amálgama do corpo, sem cálculo nem previsão.

É a partir da espacialidade e do tempo que o atleta é no mundo esportivo de modo encarnado. Sua experiência funda-se em uma perspectiva espaço-temporal e na relação com os elementos da partida, aos quais ele não tem acesso em sua totalidade, posto ser aberto e inacabado, tratando-se de uma relação marcada pelo sentir do corpo em seus movimentos.

Segundo Caminha (2008), os movimentos do corpo são determinantes na amplitude do raio de ação da capacidade perceptiva do homem. Esses movimentos lhe dão o poder de desabrochar como ser-no-mundo e nele situar-se, em suas palavras: “O mundo toma forma visível ou fenomenaliza-se de uma maneira dinâmica porque a motricidade de nosso corpo nos permite galgar o espaço” (CAMINHA, 2008, p. 340).

Nesse contexto, o corpo não se reduz ao espaço, mas seu movimento é meio de percepção do espaço, do tempo e da ação, permitindo o ir e vir do corpo ao encontro do mundo.

Desse modo, não há temporalidade e espacialidade sem o corpo, sem a presença e a experiência do homem no mundo, em uma perspectiva de vivência deles, assumida pela percepção e pela motricidade, ou seja, pela experiência vivida. Tempo e espaço são construídos nessa relação, quando o corpo habitado e abarcado por eles enraíza seus sentidos a fim de fazer brotar, no lugar de experiência, um lugar de conhecimento, pois, “não é apenas a experiência do meu corpo, mais ainda uma experiência de meu corpo no mundo e ele que dá um sentido motor as ordens verbais” (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 196).

É nessa existência encarnada, no homem em situação no mundo, que a experiência do atleta se liga aos espaços e tempos da partida como elementos vividos pelo corpo, em sua manifestação ontológica de existir.

O atleta suspende o tempo e o espaço que lhe fora destinado. E, o que para ele são “horas” de experiência, para o ato da partida são “segundos” de um dado movimento. Nuances potencializadas pela capacidade espaço-temporal do corpo, em sua infinitude de brincar com eles e de usá-los, sem negar os regulamentos impostos.

O tempo cronológico dado aos atletas e as linhas das áreas demarcadas não teriam função se não fossem vividos. E é nessa vivência do tempo-espaço que as experiências deles são construídas em quadra. Um fluxo que não podem controlar, mas que reinventam pelo sentir do corpo.

Como esclarece Merleau-Ponty (2011), o tempo funde-se através do homem, em qualquer coisa que ele faça. A propriedade dessa temporalização aparece na espontaneidade das ações, quando nele o corpo encontra recursos contra ele mesmo, abrindo espaços para outros feitos: “Ele me arranca daquilo que eu ia ser, mas ao mesmo tempo me dá o meio de apreender-me à distância e de realizar-me enquanto eu” (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 572).

O corpo nessa perspectiva ganha destaque, pertence à criação, torna-se leve, flexível, encanta e se encanta, experiencia outros modos de existir que pervertem os padrões de um corpo domesticado pelo esporte.

A prática esportiva acontece num tempo-espaço próprio do corpo que não é fechado num sentido determinando e único. O corpo transita pelos conceitos e vai criando diferentes durações e projeções, haja vista:

Todo o movimento do corpo visto do interior supõe um espaço particular [...] ao mesmo tempo, projeta-se sobre este espaço não um corpo ou membros em movimento, mas o próprio movimento que abriu o espaço e se confunde com o movimento do exterior visto do interior: daqui resultam linhas ou planos em movimento (GIL, 2005, p. 133).

A prática esportiva aciona esse espaço, propiciando de algum modo um campo privilegiado de exploração do corpo ao jogar, por meios dos sentidos situados na experimentação dos gestos.

O tempo e o espaço nesse sentido são vividos pelo corpo, criados por ele na contingência dos seus acontecimentos. Corpo este que resolve a si mesmo, muda, faz e se refaz, descerrando uma pluralidade de perspectivas, de vivência espaço- temporal por meio da sensibilidade posta no jogo.

Por meio disso, é possível compreender que o corpo do atleta subverte os ditos, amplifica modos de fazer e de sentir, quando engajado nas quadras, nos campos ou nas piscinas, experimenta, por meio da abertura das estruturas processuais do esporte, autonomia para viver tempo-espaço como o entrelaçamento entre o mundo e o corpo.

Ao adentrar nesse tempo-espaço vivido do corpo, certamente não podemos negar que ele está situado em um modo físico e cronológico socialmente localizável. Eles atendem a um regime disciplinar, com indicações que vêm se configurando ao longo dos processos sócio-históricos, cada vez mais investidos por determinações sociais, culturais, científicas e políticas. Um tempo e um espaço mecânico, marcado por regularidades que repetem o agora pontual, racionalmente transcorrido, objetivado por suas marchas e repetições numéricas.

Porém, as relações espaço-temporais conforme dito, não se reduzem às orientações mecânicas, elas são determinados pelo tipo de ação envolvida, as quais dependem de experiências prévias e do conhecimento simultâneo do espaço e do próprio corpo.

Assim, como uma trama tecida no corpo, o vivido no esporte transcorre a existência, coagulando no marco de um sistema, possibilidades de movimento. Pois, o corpo, não obstante a cronologia e delimitação estabelecidas, consegue experienciar um novo tempo e um novo espaço ao estar envolvido no enlace estético da existência da partida e da vida.

Ora, não se trata de um sistema espaço-temporal a priori, sem marcação ou direções distinguíveis, mas um espaço-tempo aberto às condições dos movimentos e das possibilidades que compõem os lugares experienciados pelo corpo. E isso acontece no mundo e nas relações intersubjetivas, em que o homem, mergulhado no universo do sensível, dilata-se, alterando a sua percepção. Os limites impostos vão se diluindo, se distribuindo pela superfície do corpo e simultaneamente adentrando nas esferas da existência, tornando o corpo presente, vivo e aberto à experimentação de novos contornos e novas temporalizações.

Conectado ao mundo, o homem vai criando movimentos e sentidos existenciais, um modo distendido pelo esporte, levado para a vida habitual. Um revelar ativo e atuante do corpo imbricado no mundo, que move-se em razão dos

entrecruzamentos existenciais, sociais e históricos que envolvem o tempo e o espaço não como dimensões, mas como orientações significativas da vida.

O movimento do corpo abre o espaço, acomodando o movimento ao espaço aberto, uma feitura fendida pelo enraizamento do corpo no mundo, síntese assumida pela percepção e pela motricidade, ou seja, pela experiência vivida, original e originária, em que “a amplitude dessa apreensão mede a amplitude de minha existência; [...] o espaço e o tempo que habito de todos os lados têm horizontes indeterminados [...]” (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 195).

Nesse pensamento, como aponta o autor, em referências intermitentes o movimento vivido é vislumbrado como devedor originário da vida, ou seja, a temporalização vital se mostra na novidade da ação latente, reestruturada nos horizontes sedimentados e garantidos pelo mundo. Uma peculiar reorganização do movimento, em outras palavras,

Uma “espontaneidade” adquirida de uma vez por todas que “se perpetua no ser em virtude do adquirido”, eis o tempo e eis exatamente a subjetividade. Eis o tempo, já que um tempo que não tivesse suas raízes em um presente e, através disso, em um passado não seria mais tempo, mas eternidade (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 573).

Nesse sentido, o espaço-tempo é apreendido como num correlato indissociável de transformação e de construção de um sujeito encarnado em suas experiências. Um movimento simultâneo do fazer, que é permitido no esporte e elaborado diariamente pelos caminhos das relações singulares e múltiplas, fluidas e atemporais, que se auto-organizam no próprio corpo.

Esse tempo-espaço vivido abriga um corpo mutante, que se metamorfoseia nas demarcações da quadra e também da vida. Ondulações e modificações inconclusas, sem certezas, sem seguranças. Um fluxo contínuo de intensidade, de mobilidade e de projeções nascidas por todas as saliências e reentrâncias do corpo que não cessam de traçar as suas próprias vias.

O tempo da partida constrói uma outra temporalidade, medida do corpo. E o esporte aposta nesse corpo que se liberta da demarcação de uma territorialidade fixa, que não se organiza a partir de estratificações numéricas ou justaposições estáticas. Um corpo que muda de gradiente, que perde a localização imposta, que

modifica planos, curvas e projeções em função dos movimentos que vai realizando e descobrindo continuamente.

A experiência do jogar, portanto, aponta para o delineamento desse corpo e desses novos acordos que rompem com a estabilidade e com a fixação. Pois seu estado é de criação, conexões autênticas, atualizadas em cada acontecimento da partida e da vida. Afinal, não se pode esquecer que o movimento é inerente à dinâmica do viver. Um modo ativo que o esporte efetua pelos territórios do corpo, engajando entre os sentidos e a inteligência, visão e tato, interioridade e exterioridade, movimentos de afirmação e leitura do corpo no mundo.

O olhar no contexto esportivo

O olhar é uma ação que está presente em todas as fases do contexto esportivo. É ele quem determina as ações e as condutas técnicas e táticas dos jogadores em quadra.

No caso do handebol, a complexidade da partida solicita do atleta um olhar aguçado para perceber as atitudes dos adversários, para compreender a partida e, simultaneamente, para conduzir os seus próprios movimentos, os quais se apresentam em três condições básicas: o tempo29, o espaço30, e a visão. O tempo para se tomar uma decisão de forma muito rápida, o espaço como orientação da situação da partida e a visão como percepção e interação com o entorno.

De acordo com Silva e Carvalho (2007), em uma partida de handebol os atletas correspondem com conhecimento tático e técnico, com o engajamento corporal e ao mesmo tempo com a visão que têm do todo.

Nesse contexto, a forma de perceber a partida e elaborar juntamente com isso estratégias para o ataque ou para a defesa não depende somente do potencial individual e coletivo dos jogadores, mas, junto a isso, do campo visual atado aos movimentos do corpo.

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O tempo aqui mencionado refere-se ao tempo cronológico do jogo, à velocidade de decisão do jogador em quadra.

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O atleta que recebe a bola no engajamento31, por exemplo, precisa olhar rápido para saber onde está posicionado, a qual distância está do gol, onde se encontra o adversário mais próximo e decidir se é possível o passe, o drible, ou mesmo o arremesso.

Quando ele adquire uma certa experiência ao longo de sua trajetória esportiva, o saber latente adquirido pelo corpo lhe dirige à situação requerida de maneira rápida e precisa. Não é mais necessário olhar fixamente para a bola, o posicionamento dos adversários, nem a cor dos uniformes daqueles que o rodeiam. Depois de alguns anos, basta sentir o jogo, ver com um só olhar tudo e todos ao mesmo tempo.

Nessa direção, tomo meu olhar no jogo como um sistema que me abre ao mundo esportivo, ao pensamento e ao sensível. Não como um sentido humano, mas que isso, um movimento entrelaçado ao meu corpo, semelhante ao que diz Merleau- Ponty (2004b, p. 20) sobre o mundo visível do pintor: “O pintor, qualquer que seja, enquanto pinta, pratica uma teoria mágica da visão [...] Nada muda se ela não pinta a partir do motivo: ele pinta, em todo caso, porque viu, porque o mundo, ao menos uma vez, gravou dentro dele as cifras do visível”.

Nessa compreensão, o olhar aparece como guia do homem no mundo, como

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