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No handebol a partida acontece com duas equipes de 7 jogadores em cada uma delas, sendo 6 na linha e 1 gol. Além disso, um time pode ter ainda mais 5 reservas, que ficam à disposição da comissão técnica para entrarem a qualquer momento, quando houver necessidade.

Em quadra os atletas buscam realizar o gol, movendo a bola de mão em mão por meio de passes ou se deslocando com ela, quicando-a no chão ininterruptamente.

Dentro desse formato, esse esporte se engendra pela alta competitividade, pela performance máxima e pela atenuação dos erros em busca da vitória. Para alcançá-la é necessário obter um maior número de gols dentro da partida.

A díade vitória/derrota no handebol como em qualquer outro esporte funda-se na imprevisibilidade. E, para isso, não há presunção. A audácia dos jogadores vai constituindo o seu resultado final, o que torna imprevisível e surpreendente os seus resultados.

Por esse motivo, nem sempre vence o time mais expressivo ou equipe que possui os melhores atletas. Embora essas características sejam importantes, para o atleta a conquista de uma partida ou de uma competição pauta-se na fluidez do corpo, no sentido coletivo e na atuação em quadra.

Por isso, vencer ou perder não inclui apenas o placar final. Há uma antítese vivida pelos atletas que é a “derrota com sabor de vitória” e a “vitória com sabor amargo”, a qual se refere, respectivamente, à suplantação do desempenho esperado ou um rendimento inferior, aquém daquilo que normalmente a equipe apresenta.

Nessa ambivalência o resultado esportivo representa algo mais que o seu significado imediato. Vitória e derrota constituem uma infinidade de vicissitudes demarcadas sem contexto prévio. O atleta não sabe, mas o corpo quer mais, movimenta-se incessante, construindo possibilidades de reinventar-se a si mesmo, de avançar, de repousar e de recomeçar tudo outra vez.

Quando me entrego às quadras, não há espaço para pensar em mais nada. Meu corpo está, vai se situando no mundo por meio do movimento, sem ter pressa para sair. Não há inércia. As sensações eclodem no corpo quando jogo. A cada passo, uma nova história. Ele dilata-se, move-se, segue adiante, experimenta o mundo.

Por isso, mais que o resultado final, o contexto esportivo é uma das experiências mais extraordinárias que já vivi. Talvez porque sua sinergia me faça experimentar sentimentos nunca antes sentidos, me faça tocar o que sem ele eu não tocaria e me faça ver o mundo para além da minha visão comum. Tudo acontece de forma imprevista. Ele penetra minha dimensão corpórea e ascende sentidos à minha existência por meio da experiência do ganhar ou do perder.

Não há limites para as várias formas de envolvimento com o resultado de uma partida ou de uma competição. Ele penetra na dimensão corpórea, ampliando a sensibilidade para uma nova forma de sentir e de se entregar ao mundo por intermédio das correntezas da sinergia.

Nessa direção, sendo a estesia na visão de Merleau-Ponty (2006) o movimento ontológico do corpo, uma explosão metafísica do homem ao ser afetado pelas coisas que compõem o mundo da beleza e o âmbito esportivo. Orgânica e sensitiva, a estesia arrebata os sentidos pela entrega corpórea ao universo da experiência estética, impulsionada pela experiência do corpo no mundo, interagindo com os encantos da beleza.

O conceito de estesia do corpo em Merleau-Ponty, apresentado nas obras

Fenomenologia da percepção (2011), O visível e o invisível (2009) e O olho e o espírito (2004b), apresenta-se na percepção do corpo por meio dos sentidos,

afastando-se consideravelmente do racionalismo, rompendo com as dicotomias clássicas e com a linearidade humana.

A estesia por intermédio do acontecimento esportivo faz das sensações o sentido sublime dos atletas se reconhecerem como humanos, como seres que não são máquinas, manipulada e esteriotipada, mas agentes ativos na produção da experiência, sujeito corpóreo, sensorial.

O corpo do atleta é fonte da estesia, quer dizer, uma capacidade fisiológica, simbólica, histórica e afetiva de impressão dos sentidos, capaz de alterar todo o

organismo quando é afetado através dos sons, dos ritmos e dos movimentos que o esporte proporciona.

A proposta fenomenológica do filósofo supracitado apoia-se em uma compreensão sensível do conhecimento, da vida e do corpo. Uma perspectiva que faz compreender que, no atleta ela se realiza quando o jogo invade seu corpo e se apossa dele para um entrelaçamento do senciente com o sensível. Um êxtase e uma emoção que aflora, que lhe destaca no tempo, da vida ordinária e do anonimato, para um corpo glorioso35, do sentir orgânico que conecta o corpo ao mundo e aos outros como um suplemento de sentido.

Sendo assim, seja qual for o resultado obtido, ele se constrói na experiência estética, no universo da sensibilidade que vai sendo construída pelo mundo da experiência vivida, da indivisão do meu corpo e dos outros corpos: tu e eu, nós.

A exemplo de uma derrota, o momento é dado a uma manifestação emocional desencadeada na maioria das vezes pela tristeza, pela raiva e pela frustração, uma espessura de sentidos na textura dos acontecimentos vividos.

A derrota, por exemplo, produz significações mais amplas que a definem como perda. Pois, embora perder faça parte do repertório de todo atleta, na maioria das vezes, ela gera decepção. Como explica Rúbio (2006), diante do resultado obtido e comparando-o com o desejado, é compreensível o sentimento de fracasso do atleta quando ele não consegue atingir sua meta.

Para a autora, os momentos de derrota são sempre tidos como próprios para avaliar erros e refazer planejamentos, levando atletas e equipes a se considerarem duplamente punidos. Isso reforça o desconforto e o peso que essa categoria traz, sobretudo, pela ligação do esporte com o imaginário heroico de força, conquista, recordes e vitórias.

Perder é ruim, e até doloroso. Promove a frustração, mas também a superação. Quem já perdeu uma vez, perderá outras vezes ainda. É um ciclo de término e de recomeço. E não há dúvida que quem perde não domina a tristeza. Ela vem, rouba os sorrisos e mostra a condição dúbia que o esporte proporciona.

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O corpo glorioso é um termo adotado por Merleau-Ponty e refere-se ao corpo iluminado pelo contato do visível e do tangível (MERLEAU-PONTY, 2009).

Fotografia 05: O peso da derrota Fonte: http://www.cbdu.org.br (2011)

Ao perder um jogo em uma competição nacional, a tristeza toma conta de mim, evidenciando o peso da derrota (Fotografia 05). Mãos ao rosto, cabeça baixa, vou me desviando em pequenos passos para fora da quadra, e meu corpo, aparentemente em estado de impotência, vai chorando o mundo que deixou. Nesse momento solitário e doloroso, vou revelando a dor e a angústia pela tristeza da torcida, pela alegria do adversário, pelo movimento “não acertado”.

Nesse instante, percebo como é difícil suportar aquilo que não pode mais ser revisto. As luzes se escurecem, os sons se emudecem, o trágico parece não ter fim, e a realidade teima em existir.

Perder gera peso, suscita desconforto e provoca o desalento. Sentidos que nos atingem e com os quais não queremos nos deparar. Pois, compreendido como um desvio do caminho natural, ao apregoado em nossa cultura, que tem como modelo social a vitória, a derrota, na maioria das vezes, soa surpreendente demais, trazendo, entre outras coisas, a solidão.

Mesmo no caso de um esporte coletivo como é o handebol, a derrota traz um peso individual, em que os afagos, abraços e toda coletividade são esquecidas pela ausência do contato e pelo isolamento necessário, restando “a vergonha pelo objetivo perdido, a confusão com a incapacidade e a falta de reconhecimento pelo esforço realizado” (RÚBIO, 2006, p. 3).

Por outro lado, embora haja esse peso em momentos de derrota, não é o resultado final nem a possibilidade de vitória que me faz permanecer em quadra, ao

Fotografia 06: Pan-americano 2001 Fonte: Arquivo da autora (2001)

contrário, é o próprio contexto do jogo, as sensações sentidas e o prazer de jogar que me atraem a esse mundo independente do seu resultado.

É certo que na vitória os sentimentos eclodem na entrega do corpo ao momento de conquista, de superação, de realização pessoal, e principalmente de alcançar um lugar no pódio. Sentimentos esses mediados pelo reconhecimento e pelo coroamento que tem como símbolos: festejos, medalhas e troféus.

Embora no mercado essas premiações tenham preços simbólicos, para o atleta seu valor é inestimável, conquistá-los é algo duradouro e inesquecível que desperta e reconvoca por inteiro seus sentidos e suas emoções, em momentos de vitória e de conquista.

Como pode ser visto, a felicidade toma conta de minhas expressões. Não penso em mais nada, apenas sorrio, expressando a felicidade por ter conquistado uma competição (Fotografia 06).

Pois, diferentemente da derrota, a vitória traz alívio, alegria e leveza. Ela deixa o corpo leve, tira do chão os pés dos que dela participaram e dos que a comemoram. Seus sentimentos são de euforia, de êxito e de celebração. Traz o afago inebriante, o choro contagiante e retira por algum tempo a sintonia e afinação com a realidade, levando o atleta a uma plenitude una e indivisível que atravessa o corpo e afeta de maneira profunda a sua existência. É como se ali, entre as quatro linhas, tudo fosse mais intenso e de fato é. A comemoração, o sorriso, o grito, o choro, os abraços e beijos, quase sempre, dos mais sinceros. O olhar cúmplice e a persistência coletiva e menos egoísta, eis

algumas das manifestações das mais humanas vividas no esporte. Acontecimentos onde não há maiores considerações, além das atitudes que são tomadas naquele momento.

Por isso, a intensidade do ser atleta move a busca pelo prazer da conquista, da perfeição do movimento, da beleza dos gestos e da eficiência tática, favorecendo uma mistura de corpos, de usos e de costumes diversos. Indivíduos diferentes que, em prol de um único objetivo, tornam-se “uns” para alcançar o desígnio ao qual se destinam.

No festejo de uma vitória os corpos se misturam, indistintamente e participam de um envolvente estado emocional (Fotografia 07). Sorrisos, gritos, abraços, emoções diversas vão surgindo, envolvendo meu corpo e todos os outros ao mesmo tempo.

A vitória inquieta e reinventa sob novas formas a minha condição existencial. Esse momento não é ideia, nem imaginação, é ato sensível que se instala no corpo, movimenta minhas emoções e reencontra no corpo vibrante do outro as mesmas sensações que percorrem o meu.

Fotografia 07: A leveza da vitória Fonte: http://www.cbdu.org.br

Os laços se atam despertando e reconvocando por inteiro meus sentidos e minhas emoções, em momentos de vitória e de conquista. É impossível não ir ao encontro das outras, pois não venci sozinha. Aí quando se ganha a coletividade é um instante necessário, com graus de envolvimento emocionais diferentes, mas concebidos em unidade, na relação mútua com o grupo.

Ganhar é poder viver essa leveza do corpo em movimento, da vibração que altera os ritmos dos meus órgãos e também da minha vida, dando novas sensações à existência.

Os sentimentos surgem em cada instante ali vivido e paradoxalmente eclodem no corpo a coragem e o medo, o nervosismo e a tranquilidade, a euforia e a melancolia. Sentidos encontrados por mim no âmbito esportivo e experimentados no campo da experiência sensível, os quais ganham amplitude através dos gestos e revelam ao corpo um mundo infindável de sentidos e significados vivenciados em momentos de vitória e de derrota.

Embora a educação ocidental eduque o homem para ser feliz, alegre e vencedor, como se a infelicidade, a tristeza e a perda não fizessem parte da vida, no esporte, os atletas encontram obrigatoriamente o vencer e o perder em seu contexto. Todos pautados por um educar e uma atribuição de um sentido singular, sem a necessária hierarquização da vitória.

Como escreve Lovisolo (2009), uma competição que se expressa em ganhar e perder é a alma do esporte, isto porque, não faz sentido uma em que todos ganhem, inclusive é contra a lógica da competição esportiva.

É o risco que o esporte impõe, mas que não deixa de incitar o atleta a viver e se lançar na aventura do esporte, mesmo sem saber o seu resultado. É certo que muitos esportistas entram em competições sabendo que não poderão ganhar, mas desejam estar ali para acumular experiência, para superar desempenhos anteriores, para estarem em uma seleção, para jogarem (LOVISOLO, 2009).

Trata-se de viver o esporte, de ser penetrado por ele e entregar-se ao mundo por intermédio do sensível, da incerteza, do vir a ser. Tendo o corpo como lugar onde as formas de sentir ganhem vida e as coisas do mundo adquiram sentidos, fazendo do esporte um lugar de fundação e afetação humana.

Nessa direção, o ganhar e o perder aparecem como elementos importantes para o que o atleta possa descobrir as diferentes formas de envolvimento com o mundo esportivo, fazendo deles uma experiência estética sempre nova.

Em todos os casos, não há quem tenha, ao longo da carreira esportiva, vivido apenas a condição de vencedor, tendo em vista que a vitória e a derrota são as duas condições básicas que marcam a trajetória atlética.

No caso da derrota, na maioria das vezes ela ajuda o esportista a visualizar com mais clareza os erros cometidos, os pontos vulneráveis de um atleta ou de uma equipe e apontam-se aqueles que podem ser melhorados. Enquanto a vitória dá a sensação de que os erros não foram bastante, que o objetivo foi alcançado e que tudo foi perfeito. Fato que traz para a derrota e para a vitória, respectivamente, sentimentos de peso e de leveza. Oponentes que caminham juntos, mas que são experimentados de maneira paradoxal pelos esportistas.

Caminhos que são percorridos de diferentes formas, abertos aos sentidos do corpo e as fontes inesgotáveis de significações, o que inviabiliza estabelecer hierarquias entre o ganhar e o perder, mas que abre espaço para reflexão da leveza e do peso que neles residem.

Como ressalta Calvino (1990), para vivenciar a leveza é necessário conhecer a experiência do peso, saber o seu valor. Embora o pensamento do autor esteja voltado aos valores literários, compreendemos que o conceito de peso e leveza explorado a partir da sensação do leitor nos permite estabelecer relações com o vivido no esporte.

No aspecto leveza, Calvino a tem, antes de tudo, como um antídoto ao peso do mundo. Em que a leveza e o peso em que ele argumenta não referem-se apenas ao peso corporal, mas aos caminhos explorados da vida.

Nesse sentido, para o autor o homem busca leveza como reação ao peso de viver, ou seja, ele sai do convencional para olhar o mundo de outras maneiras sem negar o real, mas aceitando-o de diversas perspectivas. Para ele,

A leveza para mim está associada à precisão e à determinação, nunca ao que é vago e aleatório. Paul Valéry foi quem disse: Il faut être léger comme l’oiseau, et non comme la plume [É preciso ser leve como um pássaro e não como a pluma.] (CALVINO, 1990, p. 28).

Nessa direção, a leveza não se reduz aos aspectos do voo, mas busca na vida o sentido dessa ação, naquilo que conduz o ser ao ato de voar, como algo consistente, preciso e autêntico.

A leveza e o peso de Calvino são perceptíveis dentro do esporte quando o momento vivido conduz à sensação de transformar as limitações do que estar posto, fazendo o corpo buscar novas formas de equilíbro para oscilar e viver a inconstância esportiva.

Assim, ele coloca o atleta à espreita e o muda por um instante, exigindo novas formas de ser, de mover, de parar, de equilibrar e desequilibrar. Um vai e vem constante que modifica a existência pela rigidez e pelo encanto, fazendo do corpo um refém, sem necessariamente tê-lo como presa.

Isso permite que o atleta encontre com os equilíbrios e desequilíbrios de suas ações, de uma forma ou de outra, convoca-o as fontes profundas e adormecidas do seu ser, elevando-o para uma vivência estética que amplia o sentido da vida e impulsiona o corpo para as coisas ainda não vividas.

A experiência paradoxal do contexto esportivo envolve o corpo numa dança cinestésica que dilacera as emoções, amplia os horizontes e evoca sentidos para a existência. Não há contornos definidos, o sensível flui de forma confusa e indeterminada, atado ao corpo, a sua sensorialidade e ao viver estético.

Nesse mover, o atleta revela sua móvel forma de ser, passando pelo mundo da criação e da recriação, ampliando o conhecimento e a vivência para um aprendizado sensível, como uma forma de buscar novos sentidos e significados para as incongruências que o esporte lhe apresenta.

Há algo no resultado do esporte que vibra o corpo, que faz os sentidos serem tocados e que estimula o atleta a continuar ali. No jogo o atleta se inunda em sensações e deságua numa correnteza de significações que refletem a abertura do ser ao mundo esportivo, sem as determinações do que está pronto. Como afirmam Fernandes e Lacerda (2010, p. 5): “A vitória e a derrota estão, portanto, implicadas na experiência estética, manifestando-se a fruição de cada uma delas por um estado emocional que conflui para uma multiplicidade de opiniões e formas de sentir e viver o momento”.

Para as autoras, não há dúvida de que o esporte leva ao corpo sensível do atleta, experiências e estados emocionais multiformes expressos nas sensações decorrentes dos resultados por eles alcançados.

Por isso, ele é capaz de mobilizar os sentidos, de confundir as categorias lógicas e de ascender à existência para um viver estético sem limites, visto que nele o vivido se faz propósito de sua existência e encontra no atleta um mundo vivo, expressivo e em constante movimento.

Afinal, o esporte é assim, permite ao corpo viver tudo de novo, tudo diferente, repetir o novo. Uma abertura ao desconhecido. Experiências que se renovam e tecem um nó de significações, configuradas pela plasticidade do corpo em movimento, afinal, “[...] tudo o que vivemos ou pensamos sempre tem vários sentidos” (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 233).

Se o esporte institui diferentes sentidos e valores em seu contexto, nos conduzindo a uma liberação de pulsões, emoções e prazeres inimagináveis, a experiência estética nasce desse encontro sensível entre atleta e esporte, em que o sentido não está em nenhum deles isoladamente, mas na interação estabelecida entre eles.

Nela, o mundo vivido, pautado na sensibilidade de existir, revela, a todo instante, sentidos que não estão na ordem por vezes lógica e linear do contexto do esporte, como por exemplo, a alegria na vitória e o choro na derrota. Ao contrário disso, ela se mostra sempre de forma indeterminada, me colocando entre interrogações, permitindo que, captada pelos sentidos, o corpo ganhe uma nova dimensão existencial e se expresse no mundo.

Logo, é por meio da experiência estética que eu me torno sensível ao mundo esportivo e sou convocada a viver sempre uma nova sensibilidade. Seja pela leveza da vitória, seja pelo peso da derrota. Um paradoxo que possibilita novas formas de enxergar, sentir e habitar o mundo. Todos pautados nas múltiplas impressões e interpretações permitidas no jogar.

A prática esportiva, nas condições apontadas, faz com que a vitória deixe de ser razão de sua realização e o estético ganhe forma nos acontecimentos que até então estava latente, fazendo desvelar a cada instante uma nova forma de sentir e perceber as coisas do mundo.

Dessa forma, mesmo baseado numa lógica social contemporânea que busca a excelência e a produção, o esporte também perpassa por uma lógica pessoal, apropriado por diferentes grupos e contextos culturais particulares, em que sua lógica, ao desencadear situações de conflito, estabelece aos participantes experiências estéticas decorrentes dos seus resultados.

A relação vitória/derrota, materializada no contexto esportivo, afigura-se como um cenário importante à estruturação da experiência estética do atleta no ato da competição e também no mundo. Implicações expressas que se consubstanciam em estados emocionais multiformes incorporadas e atribuídas de significados que confluem para uma multiplicidade de formas de sentir e existir.

Assim, implicado na experiência estética, o resultado de uma partida manifesta uma fruição de um estado emocional capaz de transformar as situações presentes em aprendizados diários. Isto porque, o corpo sensível experimenta-se em performances que podem ser vitoriosas ou não, consoante o objetivo proposto e o resultado esperado.

Desta feita, as situações antagônicas vividas na prática esportiva ensinam a viver no mundo conflituoso em que vivemos. Não por uma receita determinada, mas uma forma de viver sensível, estabelecida a partir das coisas indeterminadas e

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