• Nenhum resultado encontrado

Espaços de formação em habilidades sociais, comunicacionais e de

No documento Em diálogo: um espaço aberto à mediação (páginas 100-106)

IV. Enquadramento Metodológico do Estágio

5.8. Espaços de formação em habilidades sociais, comunicacionais e de mediação –

5.8.1. Espaços de formação em habilidades sociais, comunicacionais e de

Selecionar atividades para analisar com maior rigor não foi tarefa fácil pois todas comprometeram muito trabalho para a sua concretização e é efetivamente custoso dar destaque apenas a algumas, no meio de tantas. No entanto, também a vida é feita de escolhas e por isso, após um período de reflexão e baseada numa breve análise dos objetivos e dos diários de bordo

100

(apreciações pos-sessão), selecionei um total de sete atividades, a saber: a) Jogo da Teia; b) Grupo: Um veículo para regras e valores; c) Desenvolvimento de um debate sobre o tema; d)Dinâmica do “Patinho Feio”; e) Baralho de Sentimentos; f) Quiz: descobre o mediador que há em ti e g) Em Diálogo pela mediação: conflitos simulados. Note-se que todas as atividades tiveram por base uma dinâmica comunicacional e dialógica pois

“este processo comunicacional e reflexivo, característico da mediação, favorece a construção de uma consciência metacognitiva no aprendente, essencial à construção da competência de aprender a aprender, a qual lhe permitirá identificar os instrumentos e operações de aprendizagem e avaliar os seus próprios conhecimentos e esquemas de ação” (Silva, 2008, p. 50).

Neste sentido, sugiro uma análise atenta do apêndice 39, no qual é apresentada, sob forma de tabela, as atividades eleitas para estudo e os respetivos objetivos para elas definidos, cruzando estes dados com a avaliação tecida através das apreciações pós-sessão (diários de bordo).

Adianta-se que a avaliação das atividades é muito positiva, especialmente com o grupo do 5ºano. Este grupo apresentou uma evolução bastante evidente e o impacto destas sessões é inquestionável. No 6º ano, verifiquei algumas alterações e melhorias porém, mais pontuais. Os objetivos foram, em grande escala alcançados mas a tarefa não foi tão fácil, o que exigiu de mim muito mais empenho. Este grupo, sendo mais velho, tem as problemáticas mais enraizadas, o que dificulta a intervenção. De referir que todos valorizaram as sessões e respetivas atividades, apesar de serem despoletados mais constrangimentos neste grupo. Por exemplo, lê-se, como constrangimento registado na apreciação pós-sessão do dia 12 de Dezembro de 2013, o seguinte: “Alunos um pouco agitados, evidenciando algum desrespeito de regras. Conversas paralelas constantes, hábitos não apropriados ao contexto (uso do telemóvel), linguagem menos própria entre outros foram alguns constrangimentos observados nesta sessão, durante o desenvolvimento da atividade. Para ultrapassar este constrangimento, fui chamando à atenção, sem subir o tom de voz para que eles se calassem para me ouvirem e depois, no fim da sessão, após me ter certificado se eles gostaram da minha presença e após ter ouvido comentários muito positivos relativamente à mesma, senti que era o momento certo para, em poucas palavras, os repreender. Para isso, analisei a sessão, dizendo que fiquei desiludida com algumas atitudes deles, nomeadamente o desrespeito geral do grupo. Apercebi-me de imediato que todos se calaram e tiveram consciência de que não o deviam ter feito e de certa forma ficaram “tristes” por me terem desapontado. A partir desse momento comportaram-se melhor, com a responsabilidade de não me desapontarem, uma vez que eu frisei que também não quero desapontá- los”.

101

Por sua vez, e relativo também a este grupo (6ºano), destaco uma sessão que correu menos bem e que exigiu um “pulso firme” da minha parte para responder aos constrangimentos identificados. Na apreciação do dia 29 de Maio, lê-se que "(…) esta sessão foi demasiadamente agitada e marcada, de forma geral, por um comportamento bastante desajustado. Este comportamento poderá estar relacionado com o facto de os alunos saberem que esta era a última sessão mais formativa e “formal”, uma vez que tinham conhecimento de que a próxima sessão seria mais lúdica para comemorar o encerramento (no caso, seria, através da realização de uma Caça ao Tesouro). Consequência disso ou não, a verdade é que alguns alunos prejudicaram bastante a sessão e os respetivos colegas. No entanto, e tal como referi em cima, aproveitei estes constrangimentos da melhor maneira para estimular a reflexão sobre algumas das suas atitudes (…) Por tudo o que foi registado, os objetivos delineados para esta sessão não foram totalmente atingidos porém, tenho consciência que ressaltei outros aspetos importantes e tentei desenvolver outros objetivos (como o estímulo da reflexividade, da consciência de si, corresponsabilização, etc)”. Recordo-me perfeitamente desta sessão e do modo de como tentei ultrapassar este constrangimento. Numa tentativa de enriquecer a intervenção e tal como registei nas potencialidades da apreciação do mesmo, “para que eles compreendessem que os nossos comportamentos têm consequências (ora positivas, ora negativas), no final da sessão reuni todos junto da porta e informei que perante o comportamento apresentado nesta sessão, me ia despedir deles e que, desta forma, esta foi a última sessão com o grupo do 6ºano. Expliquei-lhes os motivos e disse que não iria desenvolver a sessão da Caça ao Tesouro com eles, uma vez que isso seria premiar o comportamento desajustado apresentado nesta suposta penúltima sessão”. Todos os alunos compreenderam e não apresentaram qualquer comportamento de revolta, o que revela que tiveram consciência dos seus atos menos positivos. Este comentário foi considerado por mim como uma potencialidade na medida em que “acho que se há, da minha parte e enquanto profissional, a intenção de os dotar de ferramentas que os formem enquanto cidadãos ativos, eles têm de experienciar que tudo tem consequências. Se eles roubarem, são penalizados, vão presos. Logo se o seu comportamento não foi adequado, faz sentido evidenciar a penalização. Pedi desculpa aos elementos que tinham revelado um comportamento adequado e todos perceberam. Desejei-lhes boa sorte para o futuro e salientei algumas competências que seriam importantes para contribuir para o seu sucesso. Enquanto estava a arrumar o meu material na sala onde tínhamos desenvolvido a sessão, reparei que alguns alunos vieram espreitar à porta para ver como eu estava mas mesmo assim fingi não me ter apercebido da situação e mantive-me firme”.

102

Tenho consciência de que as minhas formas de atuar nem sempre podem ter sido as mais ajustadas mas as respostas a constrangimentos como estes tinham de ser dadas no momento, o que pode ter despoletado alguma precipitação por minha parte. Enquanto profissional, não podia transparecer as minhas fragilidades e por isso movi esforços para me manter firme e respeitada. De relembrar que estava num contexto de estágio, ou seja, também eu estava na posição de sujeito aprendente, visando adquirir uma experiência profissional, contactando com os primeiros constrangimentos do contexto real de trabalho. No entanto, “a melhor maneira de minorar os aspetos negativos é encará-los de forma verídica, consciente, crítica e vigente” (Carvalho, Sousa & Pintassilgo, 2005, p. 5).

Para terminar, não posso deixar de fazer referência a um dos instrumentos que criei, visando obter um feedback dos alunos relativamente às sessões. Este é fruto de comentários escritos por parte dos alunos do 5º e 6ºano. Refiro-me ao diário “A escrita de um diálogo”. Este instrumento foi construído ao longo destas sessões, de acordo com as opiniões dos intervenientes que, no final de cada sessão grupal, escreviam dois a três comentários sobre a mesma. Deste modo, apesar de ser uma estratégia simples, apresenta uma grande riqueza que, para mim, enquanto profissional e dinamizadora das sessões, foi de extrema importância. Após uma leitura atenta de todos os comentários, saliento (confirmar através da leitura do anexo 11):

“Eu gostei muito porque aprendi o que é um grupo”; “Já vamos na 2ª sessão, para mim foi uma experiência fantástica”; “Adoramos esta aula porque nos conhecemos melhor uns aos outros”; “Gostei de conviver com os meus amigos e do jogo”; “Aprendemos o que é um grupo, estivemos unidos e trabalhamos juntos”; “Foi uma aula divertida, aprendemos os deveres e os direitos fazendo entrevistas”; “Gostei desta sessão porque falamos sobre a educação. Eu «não gostei» de nada”; “Eu gostei desta sessão porque falamos e ficamos a saber mãos sobre bulling e outros problemas”; “A aula de hoje foi um máximo. Foi uma aula fantástica e com muita importância nas nossas vidas. Eu gostei imenso da aula de hoje”; “Hoje a sessão foi muito interessante, gostamos de interagir uns com os outros”; “Hoje aprendemos como os outros se sentem, foi muito fixe”; “Eu adorei esta sessão porque falámos sobre os sentimentos das pessoas e gostava de voltar a repetir esta atividade”; “Eu gostei da sessão porque aprendemos sentimentos, falamos à-vontade e foi muito divertida”; “Esta aula foi muito divertida, aprendi que não se resolve os problemas «à chapada»…”; “Nesta sessão aprendemos o que é a mediação, mas não nos portamos muito bem”; “Eu gostei de todas as sessões e queria que se repetissem”; “Eu gostei muito das aulas e não há maneira de melhorar”; “Eu gostei imenso destes meses com a Sílvia, aprendi imenso com ela. Vou ter muitas saudades dela”. Saliento ainda , um dos

103

comentários que revela claramente o impacto destes espaços de formação em habilidades sociais, comunicacionais e de mediação, o último comentário escrito no diário: “Nestas sessões, eu gostei de tudo, aprendi muitas coisas novas. Gostaria que no 6ºano também houvesse outra vez estas sessões. E vou ter saudades”. Esta observação, complementada com tantos outros comentários orais que recebi, revela especificamente a apropriação desta estratégia de intervenção e de se trabalhar a mediação socioeducativa no âmbito desta instituição. Estes foram escritos autonomamente pelos intervenientes, ou seja, crianças e jovens com idades compreendidas entre os 11 e 13 nos, pelo que se justifica a simplicidade dos mesmos e, de certa forma, a sua modéstia e autenticiadade.

Findando, de modo a clarificar a pertinência deste projeto de mediação e visando estimular a reflexão do leitor, leia-se que

“é igualmente importante a elaboração de projetos de mediação, de forma partilhada e responsável, que tenham em consideração ou possam dar visibilidade às diferentes lógicas de funcionamento institucional (…), num espírito de cooperação interpessoal, interinstitucional e interprofissional, contribuindo desse modo para a melhoria do ambiente escolar [educacional]” (Almeida, 2009, p. 126).

105

No documento Em diálogo: um espaço aberto à mediação (páginas 100-106)