• Nenhum resultado encontrado

Gabinete de mediação “Laços” – Caso A

IV. Enquadramento Metodológico do Estágio

5.1. Gabinete de mediação “Laços”

5.1.1. Gabinete de mediação “Laços” – Caso A

O primeiro caso surgiu em 11 de Dezembro de 2013. No final da primeira sessão desenvolvida em grupo no âmbito da estratégia 5.8 – espaços de formação em habilidades sociais, comunicacionais e de mediação, na qual aproveitei para esclarecer os presentes sobre o meu âmbito de intervenção, demonstrando total disponibilidade para os ajudar a resolver eventuais conflitos ou situações que interferissem não só no seu rendimento escolar mas na sua vida, fui abordada por uma menina. Deixei que todos os restantes colegas saíssem da sala, assegurando a confidencialidade. Apesar de ser uma situação inesperada, não podia deixar de cumprir com a disponibilidade total a que me tinha comprometido. Esta era uma situação para a qual não estava preparada o que despoletou algum nervosismo. No entanto, mantive-me confiante, procurando que não transparecesse a minha fragilidade. Peguei no meu caderno de anotações, numa caneta e sugeri que a criança se sentasse, deixando-a confortável e à-vontade. Sentei-me em frente a ela e iniciei o questionamento. Ocorreu, deste modo, a primeira sessão de mediação da minha carreira, do meu estágio e deste processo. Apesar de não estar preparada, julgo que fiz um bom trabalho. Ouvi-a, ajudei-a a reconhecer o problema (que até então apenas os pais e uma amiga tinham conhecimento), questionei-a,

83

estimulando a compreensão do conflito, respeitei a sua posição e mantive-me atenta. De forma geral, auscultei as implicações do conflito na sua vida. A Margarida12 tinha medo de dormir sozinha pois, no

seu entendimento, podia ser assaltada, roubada ou morta. Esse medo atormentava-a todas as noites, gerando já algumas discussões em casa, entre os pais e ela. Esta situação tinha influências negativas na sua vida em geral e especificamente na sua vida escolar. Questionei quando esse medo começou, qual a opinião dos pais, estratégias que já foram usadas para ultrapassar esse medo, situações que influenciam o mesmo, entre tantas outras questões. O registo de todo o processo encontra-se no apêndice 17.

Entretanto dei a conhecer a situação à minha Orientadora, que me incentivou a acompanhar o caso apesar da complexidade e especificidade do mesmo. E este caso revelou-se efetivamente complexo, totalizando o desenvolvimento de 12 sessões compassadas (uma delas desenvolvida unicamente com a mãe da Margarida pois, tornou-se necessário, ouvir uma outra versão para além da protagonista), desde o dia 11 de Dezembro de 2013 até ao dia 18 de Junho de 2014. A temporalidade entre as sessões foi definida consoante os interesses dos implicados (esta situação aplica-se a todos os casos de mediação nos quais intervim ao longo do ano) e dando-lhes tempo para refletirem e aplicarem as estratégias definidas durante o processo. No entanto, “as partes têm também o seu próprio modo de gestão da temporalidade e podem utilizá-lo de uma forma estratégica em função dos seus interesses recíprocos; sobretudo quando uma das partes tem interesse em fazer durar o processo de mediação para obter vantagens suplementares.” (Bonafé-Schmitt, 2006, p. 29). Infelizmente, a determinado momento, senti e apercebi-me de que a menina começou a apresentar alguma resistência (não declarada) em praticar as soluções que eram definidas para ultrapassar esse conflito. Fui alertada pela minha Orientadora e Acompanhante de estágio de que essa situação poderia ser propositada e uma estratégia que a mediada encontrou para conseguir passar mais tempo comigo. Deste modo, e no seguimento da citação acima transcrita, mantive-me mais atenta. A verdade é que verificamos progressivas melhorias, até porque, exceto esta situação, a menina respeitava o que tínhamos acordado.

Leia-se os seguintes excertos do documento de acompanhamento deste caso (apêndice 17), no que respeita os progressos registados: “A Margarida conseguiu dormir uma vez sozinha. Segundo a aluna, conseguiu-o porque seguiu as orientações acordadas com a mediadora” – sessão nº 2; “Pais e filha conversam sobre estratégias a aplicar para que a Margarida enfrente o problema. A Margarida conversa em casa os assuntos que tratamos nas sessões (…), elogiando a minha prestação” – sessão

84

nº3; “Não se evidenciaram avanços, embora a aluna diga que se sente mais forte e que este medo já teve mais impacto do que o que tem atualmente” – sessão nº 6; “A Margarida conseguiu dormir sozinha uma noite, aplicando uma das estratégias combinadas (…)” – sessão nº 7; “A Margarida conseguiu dormir sozinha uma noite. (…) É notável que a Margarida começa a sentir-se mais corresponsável pelo e para o sucesso deste processo, tem aprendido e se (trans)formado com o mesmo” – sessão nº 8; “A Margarida conseguiu dormir sozinha duas noites, revelando uma postura e um discurso muito positivos” – sessão nº 9; “A Margarida conseguiu alcançar a terceira e última fase do acordo, dormindo sozinha e ultrapassando os seus medos” – sessão nº 12.

Apesar do conflito ter sido positivamente resolvido, entre a sessão 10 e 11 a principal interveniente regrediu. Repentinamente, ela deixou de apresentar avanços e mais do que isso, regrediu sem conseguir identificar a razão para essa regressão. Mesmo no início do processo, a evolução foi relativamente lenta. O passo para começar a dormir uma noite sozinha foi rápido mas, para avançar para as próximas etapas, verificou-se uma desaceleração. No entanto, a determinada altura, antes da última sessão, tive de ter uma conversa mais direta com a Margarida. O que está aqui em causa não é o tempo que ela demora a cumprir o acordo assinado pois isso sempre respeitei. O que estava em causa era o facto de ela não apresentar progressos porque não cumpria com as soluções encontradas nem com as estratégias definidas de acordo com os seus interesses e necessidades. Ora, tive de explicar novamente a esta interveniente que ela era corresponsável no processo, logo o (in)sucesso do mesmo dependia dela.

Pela dimensão de todo o processo, recomenda-se uma leitura mais atenta do referido apêndice.

Importa salientar que ao longo do processo tanto eu como os implicados avaliamos, aleatoriamente, as sessões. As sessões que foram avaliadas foram: 1ª, 3ª, 4ª, 6ª e 9ª sessão.