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Espaços dos jovens e a representação de Porto Alegre

2 MARCO TEÓRICO: DA SOLIDEZ DOS AUTORES À FLUIDEZ DOS DAS

4.2 OS JOVENS E SUA CIDADE

4.2.1 Espaços dos jovens e a representação de Porto Alegre

Em uma sequência da caracterização da amostra da presente investigação, já proporcionando uma amarra com as discussões que seguirão, apresento os mapas construídos a partir do levantamento dos bairros de Porto Alegre (ou outras cidades,

em minoria), nos quais os jovens participantes das escolas “A” e “B” afirmaram morar. A importância da espacialização destes dados diz respeito à necessidade de sobrepor os dados dos espaços da cidade que serão posteriormente apresentados e discutidos, bem como dos fluxos que estes jovens urbanos afirmam exercer em seus cotidianos ou, ainda no campo da imaginação, daqueles espaços que gostariam de visitar, por exemplo.

Quando observamos os mapas temáticos dos bairros dos jovens – quanto maior o círculo cinza, mais jovens residem naquele bairro –, temos não apenas a dimensão da espacialização desses sujeitos em Porto Alegre, mas também a dimensão de presença ou ausência de determinados jovens em determinadas regiões da cidade.

Há um quantitativo importante de jovens, em ambas as realidades, que vivem no Centro Histórico de Porto Alegre. Os jovens que vivem próximos a suas escolas tendem a locomover-se a pé no fluxo casa-escola, proporcionando, posteriormente, para as análises, outras tantas importantes reflexões.

Em relação aos jovens que não moram no Centro Histórico, ou seja, os que vivem em outros bairros da cidade ou em outras cidades, a diferenciação de espaços de moradia é grande. A observação e análise dos mapas permitirão realizar tais diferenciações.

Figura 4 - Bairros dos jovens da escola A

Fonte: Elaborado pelo Geógrafo Antunes Filho (2018a).

Figura 5 - Bairros dos jovens da escola B

É possível destacar que existe uma concentração de jovens da escola “A” que moram em bairros periféricos15 da cidade de Porto Alegre, tais como Bom Jesus, Lomba do Pinheiro, Restinga e Humaitá, enquanto outros jovens da mesma escola moram em bairros reconhecidamente de classe média ou classe média baixa de acordo com o IDH dos bairros de Porto Alegre (ATLAS, 2008). A partir dos dados trazidos na caracterização da amostra da pesquisa, é possível confirmar tal espacialização.

Os jovens da escola “B”, por sua vez, concentram-se em moradias localizadas predominantemente nos bairros Menino Deus, Petrópolis, Boa Vista e Rio Branco, bairros considerados de classe média alta ou classe alta na capital gaúcha de acordo com o IDH dos bairros de Porto Alegre (ATLAS, 2008), além disso, há uma maior espacialização16 na cidade, o que inclui significativa parcela de jovens que residem em bairros da zona sul da cidade, como Cristal, Tristeza, Camaquã e Ipanema, dados esses que são importantes, posteriormente, para a interpretação de um ponto significativo que diz respeito às territorialidades e aos territórios de jovens dessa escola, elencado a partir das análises do Grupo Focal.

As diferenciações na espacialização dos jovens pela cidade de Porto Alegre nos faz avaliar como as condições explicitadas na caracterização da amostra da pesquisa se refletem no espaço geográfico, na medida em que as condições de moradia são, de certa forma, um espelhamento das condições socioeconômicas dos jovens sujeitos.

A primeira pergunta do questionário que teve o propósito de captar as primeiras impressões desses jovens sobre a cidade foi: “Qual é a primeira palavra que vem à sua mente quando pensa em Porto Alegre?”. A partir das respostas dos jovens estudantes – que foram muitas e diversas, tais quais são as juventudes –, pude montar as nuvens de palavras que seguem. Tive o cuidado metodológico de recortar apenas as palavras que ocorreram mais de duas vezes, pois, caso assim não o fizesse, a nuvem de palavras seria ilegível, dada a grande quantidade de palavras que emergiram.

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Entendo, para fins de conceituação, um bairro periférico não apenas como aquele que está afastado, espacialmente, do centro da cidade. Aqui também me aproprio do entendimento de que morar em um bairro periférico também pode ser morar em um bairro afastado das oportunidades, as quais os governantes deveriam disponibilizar, efetivamente, para a população, tais como: saúde, educação, segurança, moradia, entre outros.

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Entende-se, para fins de conceituação, que a espacialização corresponde ao processo de espalhar-se por determinado espaço geográfico, nesse caso, o espaço urbano de Porto Alegre. (SANTOS, 1996).

Figura 6 - Nuvem de palavras dos jovens da escola A e B

ESCOLA A ESCOLA B

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

É possível observar, inicialmente, as palavras mais citadas pelos dois grupos de jovens, as que estão em evidência em um primeiro plano, ou seja, “assalto” para os jovens da escola “A” e “casa”, para os jovens da escola “B”. Essa relação, por si só, justificaria o que será apresentado posteriormente, quando analisaremos as respostas dos jovens sobre o que consideram ser as vantagens ou desvantagens de morar em Porto Alegre. Além disso, o fato de essas palavras tão distintas serem apresentadas já nos coloca em xeque uma importante reflexão: Quais produções de cidade se dão, na contemporaneidade, para jovens de distintos segmentos sociais?

Aos jovens que evidenciam que a primeira palavra que lhes emerge à mente quando pensam em Porto Alegre seja “assalto”, que cidade esses jovens vivem? Certamente a experiência urbana desses jovens é muito distinta daqueles que evidenciam “casa” como a primeira palavra que lhes vem à mente quando pensam em Porto Alegre.

Outras palavras que ficam em “segundo plano” também chamam a atenção, pois, nos dois casos, a palavra “insegurança” permaneceu em segundo plano, denotando, efetivamente, uma relação que liga um alerta em afinidade ao tema da segurança pública em áreas urbanas.

A partir da leitura dessas nuvens de palavras, refleti sobre a relação de palavras que foram silenciadas. Quais palavras não foram ditas? Por que tais palavras ficaram no esquecimento? Talvez a continuação das análises e discussões dos dados da investigação auxilie nessa resposta.

Apresentei aos jovens uma lista com 13 espaços genéricos da cidade, sem nominá-los com marcas ou nomes de referência e solicitei que assinalassem quais daqueles espaços tinham frequentado, ao menos uma vez, no último ano. Os espaços que estavam na lista eram: aeroporto, cinema, clube, estádio de futebol, hospital, igreja, livraria, museu, parque, restaurante, rodoviária, shopping e teatro. As porcentagens de marcações encontram-se no gráfico que segue.

Gráfico 13 - Espaços de Porto Alegre – Comparativo A e B

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Os espaços mais citados, por ambos os grupos, foram “shopping” e “parque”. São espaços de importantes trânsitos juvenis. A sequência das análises evidenciará alguns exemplos importantes das presenças (ou ausências) dos jovens nesses espaços. Outra análise interessante que se pode obter a partir da interpretação do gráfico é que 100% dos jovens da escola “B” afirmaram ter frequentado um restaurante no ano anterior, em detrimento de 80% dos jovens da escola “A”. Tal comparativo reafirma os diferentes condicionantes socioeconômicos, pois, como um jovem cuja família afirma ter renda média mensal em torno de um salário mínimo terá condições de comer em um restaurante?

Se, em relação à alimentação, já se verifica tamanha diferença, quando lançamos o olhar para as marcações no espaço do aeroporto, os dados “saltam aos olhos”: 90% dos jovens da escola “B” afirmaram ter frequentado o aeroporto no último ano, em comparativo aos menos de 40% dos jovens da escola “A”. Nesse ponto, reside outro importante marcador social, daqueles que têm possibilidade de viajar de avião e dos que não têm. Esse padrão se repete em outros espaços, tais

como clube, hospital, livraria e teatro, aos quais os jovens da escola privada têm mais acesso dos que os da escola pública.

Por outro lado, os jovens da escola “A” afirmaram ter frequentado, em um ano, mais que os jovens da escola “B”, apenas dois espaços: o museu e a igreja. Sobre o museu, tal afirmação vem ao encontro de uma divergência que será apresentada nas discussões posteriores, visto que apenas os jovens as escola “B” afirmaram frequentar, com regularidade, a Casa de Cultura Mário Quintana, espaço cultural/museu localizado no Centro Histórico da cidade, próximo às escolas de ambos os grupos.