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2 CULTURA ESCRITA E AS GENTES DO LIVRO NA BAHIA DO SÉCULO

2.3 ESPAÇOS E OBJETOS PARA LER E ESCREVER

A Biblioteca Pública é também um espaço que merece destaque em nossa análise sobre o mundo e as gentes do livro na Bahia do século XIX. Fundada em 1811 pelo Conde dos Arcos, encontramos a biblioteca, em 1840, em estado de “amortecimento”, em que pese o reconhecimento pelo presidente da província, Thomaz Xavier Garcia de Almeida, de que a biblioteca colocava “ao alcance de todos o deposito, ou coleção de luzes, com as que se alarga[va] o circulo dos conhecimentos humanos”, e sua defesa de reforma, com atenção especial para a livraria onde se conservam os livros.88 Em sua proposta apresentada à

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CASTILLO GÓMEZ, Das tabuinhas ao hipertexto..., cit., 2004.

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De acordo com a lista de Presidentes da Província da Bahia (1824-1889) apresentada por Tavares, Thomaz Xavier Garcia de Almeida governou a Bahia no período de 26/04/1838 a 16/10/1840. Cf.

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Assembleia Provincial, Almeida defendia, ainda, a transferência para o prédio da Casa da Moeda e a criação de uma “consignação” para compra de livros publicados na Europa e para a tradução da obra Viagens, de Spix e Martius. Na sua fala, o presidente da província qualifica as Viagens como “escriptas em Alemão, e que havendo custado avultada somma, augmentada com dois volumes, conservão-se fazendo as funções de inútil alfarrábio”, despertando a curiosidade de alguns “as estampas, em que são desenhados os indígenas das diversas tribos selvagens”. Por fim, o presidente pede a revogação da lei que permite o empréstimo dos livros para evitar o extravio e a danificação dos mesmos.89

Fabiano Cataldo Azevedo, em artigo sobre a Biblioteca Pública da Bahia no período de 1811 e 1818, destaca a possibilidade de analisar a composição da biblioteca já extinta através da permanência do seu catálogo. Segundo Azevedo, a Biblioteca Pública da Bahia, em seus primórdios, era sediada na antiga biblioteca jesuítica que funcionava no prédio do Colégio, no Terreiro de Jesus, e foi fundada junto com a Tipografia Silva Serva como uma resposta aos anseios iluministas de instrução e progresso.90 Com base na análise do Plano

para estabelecimento de uma biblioteca publica na cidade de Salvador, Azevedo explica que

a constituição do acervo tanto de livros quanto de periódicos ocorreu através da aquisição por compra, sobretudo na Europa, possibilitada por um modelo associativo em que os leitores pagavam uma taxa de subscrição de forma periódica. Outro meio para a formação do espólio da biblioteca era a doação. Nas listas de doações apresentadas no artigo, figuram os nomes do Conde dos Arcos, do Arcebispo, da Condessa da Ponte e sobrenomes de famílias ricas, como Muniz Barreto, Pires de Carvalho e Pereira Sodré. Interessante notar, nas listas compiladas pelo autor, que as doações ocorriam de forma circunstanciada e poderiam ser “perpétua”, “pelo tempo da residência na Bahia”, “alguns livros dos poucos que tem” e oferecidas por empréstimo. Nota-se, nestas razões dos doadores, o apreço por seus livros assim como o

TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. São Paulo: Ed. UNESP; Salvador: EDUFBA, 2001, p. 290-291. Sobre os presidentes da província, ver, também: WILDBERG, Arnold. Os presidentes da província da Bahia. Salvador: Tipografia Beneditina, 1949.

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FALLA que recitou o presidente da Província da Bahia, Thomaz Xavier Garcia de Almeida, na abertura da Assemblea Legislativa da mesma província, em 2 de fevereiro de 1840. Bahia. Typographia de Manoel Antonio da Silva Serva, p. 20-21. Disponível em: <http://www- apps.crl.edu/brazil/provincial/bahia>. Acesso em: 6 abr. 2016.

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Azevedo destaca os percalços que levaram à dispersão e perda do acervo de livros da Biblioteca Pública da Bahia, chamada de “fênix”, por resistir ao incêndio, em 1912, após o bombardeio da cidade ordenado pelo presidente Hermes da Fonseca e, em 1961, quando pegou fogo um edifício vizinho. Em 1970, a biblioteca foi reconstruída e passou a ocupar um prédio construído para este fim, nos Barris, onde se mantem até os dias de hoje. Cf. AZEVEDO, Fabiano Cataldo. 200 anos da primeira biblioteca pública do Brasil: considerações histórico-biblioteconômicas acerca dessa efeméride. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 17, n. 2, p. 2-25, abr./jun. 2012.

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desejo de disponibilizá-los para a instrução da sociedade, bem ao gosto dos ventos iluministas.

Embora a biblioteca pública tenha sido fundada somente no século XIX, Clado Lessa salienta a existência de diversas bibliotecas ou livrarias particulares no Brasil colonial, mesmo que a circulação de livros fosse difícil.91 Segundo o autor, os jesuítas tiveram grande destaque na promoção da educação no Brasil seguidos de outras ordens religiosas, a exemplo dos franciscanos, beneditinos e carmelitas. Dessa forma, é possível atestar a existência e a circulação de livros de Teologia, breviários, catecismos, bíblias e cartilhas usados nas atividades catequéticas e litúrgicas, ao longo do período colonial. Os livros podiam ser impressos ou manuscritos e se encontravam reunidos em diversas bibliotecas particulares, como a que permitiu a Gabriel Soares de Souza escrever sua obra, e em bibliotecas coletivas, como as sediadas nos cenáculos das ordens religiosas que se constituíam através de aquisições no reino e de doações de religiosos falecidos.

Para Lessa, um bom método para inventariar as leituras é observar os livros citados pelos autores que escreveram no Brasil nessa época, usando como exemplos as obras de Bento Teixeira e Gregório de Mattos, além da análise que Capistrano de Abreu fez para a obra do frei Vicente do Salvador. Contudo, não se pode perder de vista que os autores podem também ter se valido de leituras feitas fora do Brasil “e tomado seus apontamentos, ou citá-las de memória quando escreviam”92

. De qualquer modo, argumenta o autor que a atividade intelectual atribuída a cronistas e poetas não teria se desenvolvido “sem a presença, no país, de muitos livros em mãos de particulares”, inclusive aqueles proibidos.93

Outra fonte que atesta a existência dos livros são os inventários. Lessa utiliza como exemplo o estudo empreendido por Afonso de Taunay para a capitania de São Paulo que faz menção a utensílios

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LESSA, Clado Ribeiro de. As bibliotecas brasileiras dos tempos coloniais: apontamentos para um estudo histórico. Revista Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), Rio de Janeiro, v. 191, abr./jun. 1946, p. 339-345. Disponível em: <https://ihgb.org.br/publicacoes/revista- ihgb/item/107884-revista-ihgb-volume-191.html>. Acesso em: 6 abr. 2016. Merece destaque, também, no referencial teórico desta pesquisa, a obra de Lilia Schwarcz na qual a autora discute o papel da Biblioteca Real no processo da transferência da corte real portuguesa para o Brasil. O trabalho é inspirador, no sentido em que nos mostra as possibilidades de compreensão de uma sociedade através do espólio acumulado em uma biblioteca, da análise da trajetória dos bibliotecários e de suas redes com os sujeitos envolvidos na produção e circulação dos livros e, por consequência, das ideias por eles veiculadas. SCHWARCZ, Lilia M. A longa viagem da biblioteca dos reis: do terremoto de Lisboa à independência do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

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LESSA, As bibliotecas brasileiras dos tempos coloniais..., cit., p. 339. Disponível em: <https://ihgb.org.br/publicacoes/revista-ihgb/item/107884-revista-ihgb-volume-191.html>. Acesso em: 6 abr. 2016.

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para imprimir e encadernar livros nos inventários paulistas. Gregório de Mattos também cita, em sua poesia, a existência de um livreiro na Bahia. Esses e outros exemplos são mencionados no estudo de Lessa com o intuito de reforçar sua tese de que não é possível negar a existência e a circulação de obras impressas no Brasil colônia. A difusão do livro vai se intensificando, com o passar do século, até chegar aos fins do setecentos, quando os livros se fizeram presentes, também, entre os objetos dos conjurados que se levantaram contra o Império português, tanto em Minas Gerais, em 1789, quanto na Bahia, em 1798, para citar os exemplos mais estudados pela historiografia. Esse período testemunhou também a ação das academias literárias e de seus membros entusiasmados pelas luzes francesas. Para afirmar a importância destas agremiações, Lessa apresenta um breve quadro das redes que interligavam a atuação dos acadêmicos no Reino e na colônia, nas diferentes capitanias.94

Sobre as bibliotecas de ordens religiosas, Lessa destaca a dos inacianos. Na ocasião da expulsão dos jesuítas da América Portuguesa, em 1759, o Colégio da Bahia contava com cerca de 15 mil volumes, o do Rio de Janeiro, com 5.434, e o do Maranhão e Pará, com 12 mil. Os dados reunidos pelo autor apontam também diversas bibliotecas particulares, o que reforça os dados da pesquisa de Márcia Abreu que foi capaz de remontar as redes que permitiam o envio dos livros do reino à colônia e suas remessas internas, passando os livros de capitania a capitania.95 Mas foi no século XIX, após a fixação da corte portuguesa no Rio de Janeiro, que floresceu a atividade livresca no Brasil, em especial, com a implantação da Biblioteca Régia na capital do Império em 1810 e da Biblioteca Pública da Bahia, como já vimos, um ano depois.

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As academias não tiveram um funcionamento permanente e regular. Muitas delas só tiveram uma sessão. Para Lessa, as academias eram, na verdade, “congressos” nos quais se reuniam homens letrados para recitar textos escritos em homenagem a datas e autoridades especiais. Com base nos registros que resultaram desses “conclaves”, Lessa inventariou as academias literárias que se reuniram ao longo do século XVIII no Brasil, por capitania: − Bahia: Academia dos Esquecidos (1724) e Academia dos Renascidos (1759); − Rio de Janeiro: Academia dos Felizes, Academia dos Seletos (1752), Sociedade Científica (1772) e Sociedade Literária (1786); − Minas Gerais: Arcádia Ultramarina (1768). Cf: LESSA, As bibliotecas brasileiras dos tempos coloniais..., cit., p. 341. Disponível em: <https://ihgb.org.br/publicacoes/revista-ihgb/item/107884-revista-ihgb-volume- 191.html>. Acesso em: 6 abr. 2016. Sobre o tema em questão, ver, também: KANTOR, Iris. Esquecidos e renascidos: historiografia acadêmica luso-americana, 1724-1759. São Paulo: Hucitec; Salvador: Centro de Estudos Baianos/UFBA, 2004.

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Diversas bibliotecas particulares no Brasil do século XVIII são comentadas e analisadas por Lessa. Destacamos, para exemplificar, apenas aquelas sobre as quais o autor apresenta a quantidade de livros que a compunham: Minas Gerais: o cônego Luis Vieira da Silva, 592 volumes, e o bispo D. Manuel da Cruz, 2 mil volumes; Rio de Janeiro: o marquês de Maricá, Mariano José Pereira da Fonseca, 97 volumes; Bahia: Cipriano José Barata, 74 volumes, o tenente Francisco Hermógenes de Aguilar, 26 volumes, Garcia D’Avila Pereira de Aragão, 300 volumes. Cf. LESSA, As bibliotecas brasileiras dos tempos coloniais..., cit., p. 339-345.

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Ainda sobre a Biblioteca do Colégio da Bahia do século XVIII, que originou a Biblioteca Pública da Bahia, no século XIX, Luís de Moura Sobral destaca a importância de sua decoração em quadratura para o cenário da arte barroca no Brasil, de inspiração italiana. Na opinião do autor, a pintura do teto da biblioteca “se impõe de imediato ao espectador, mal ele entra na sala”. A técnica da quadratura representa uma arquitetura pintada a partir da qual se cria uma “ilusão espacial”96

. Quatro figuras são representadas nessa pintura – Fama, Sapiência, Tempo e Fortuna. A disposição das três últimas é em pirâmide e a Fama tem uma representação alada com o uso de uma faixa na qual se lê o provérbio bíblico: A Sapiência

construiu a sua casa.97 Segundo o autor, esse programa iconográfico é muito semelhante ao de outras pinturas que tiveram lugar em diferentes espaços do Reino de Portugal que foi atribuído ao artista plástico Antônio Simões Ribeiro.

O interessante, no estudo realizado por Sobral, é notar, também, o cuidado que os jesuítas dedicaram a este espaço de conservação e leitura de seus livros. Um exemplo é a representação da Sapiência Divina, que leva em sua mão direita um cetro, símbolo da realeza, e, na esquerda, um livro, que cita mais uma vez a serviço de quem deveria estar a ciência: “O começo da sabedoria é o temor de Deus”98. A escolha da linguagem alegórica no século XVIII parece ter substituído a linguagem devocional, comum até os finais do século XVII. Isto é explicado pelo autor, em parte, pela circulação dos ideais de uma cultura letrada e pela tensão entre Fé e Razão. Antes, a Sapiência Divina era personificada pela imagem da Virgem Maria e do Cristo Crucificado; agora, passa a ser representada por uma figura alegórica que seguia os padrões simbólicos da arte. O programa iconográfico do teto da biblioteca dos jesuítas na Bahia do século XVIII ensinava a seus leitores três lições:

Primeiro, a composição celebra a Triunfo da Divina Sapiência; segundo, ela afirma que só através do Temor de Deus se pode aspirar à verdadeira sabedoria; terceiro, ela diz que o acesso ao conhecimento verdadeiro (a Sapiência) depende das circunstâncias do Tempo e da Fortuna – mas que sendo esta propícia (A Fortuna está de pé na parte superior ou favorável da roda), não há que deixar passar a Ocasião... A composição celebra ainda, emblematicamente, o Triunfo da própria Companhia de Jesus, em cuja Biblioteca, a Divina Sapiência elegera domicílio.99

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SOBRAL, Luís de Moura. Uma nota sobre ilusionismos e alegorias na pintura barroca de Salvador da Bahia. Varia Historia, Belo Horizonte, v. 24, n. 40, jul./dez. 2008, p. 511-522.

97

A citação se refere ao livro dos Provérbios 9,1.

98

A citação se refere ao livro de Eclesiástico 1,14 e não Eclesiastes, como citado pelo autor.

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SOBRAL, Uma nota sobre ilusionismos e alegorias na pintura barroca de Salvador da Bahia..., cit., p. 515.

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A representação alegórica desse conteúdo instrucional acerca do poder da posse do livro e do domínio da cultura escrita adentra o século XIX, pois a biblioteca funcionava na mesma sala sobre a sacristia da antiga igreja dos jesuítas e ao lado da Faculdade de Medicina, instalada em 1808, onde funcionava o colégio. Ela permanecia na sala emoldurada pela pintura emblemática que a identificava como herdeira da biblioteca inaciana. O valor atribuído aos livros e às bibliotecas no Brasil colônia pode ter sido legado à nova centúria.

Como observamos nas falas dos presidentes da província da Bahia, a preocupação com a biblioteca pública era constante. Na análise desses discursos, que cobrem o período de 1840 a 1870, a necessidade de reforma e de investimento para a compra de livros foi a tônica. Em 1846, além dos problemas estruturais do prédio, como os vazamentos do telhado e a mobília estragada, preocupava-se o presidente da província com a organização e a conservação dos livros. Ao lado da preocupação com a biblioteca, figura também o cuidado com o Gabinete de História Natural para o qual se destinavam grandes quantias.100 Na reforma do telhado da biblioteca, foram empregados 13 homens e as despesas somaram 90$280 réis.101

No relatório do Conselho da Instrução Pública de 1846, o sonho da Ilustração parece esmorecer diante da inacabada obra de organização e manutenção da biblioteca como estabelecimento de utilidade pública. O relatório apresentava uma breve trajetória da biblioteca, que teria passado por três épocas marcadas pelo descuido do governo e pela ação deletéria do tempo naquele estabelecimento: uma primeira época, no tempo joanino, quando a biblioteca passou de propriedade privada a pública e houve uma grande perda pelo extravio de suas obras; uma segunda época, no tempo das lutas da independência, quando os livros sofreram com as batalhas e se tornaram volumes truncados; e uma terceira época, não definida pelo relator, quando os livros sofreram grande “mutilação”. Este histórico é, na realidade, uma justificativa política para a convocação de um conselho a fim de “remontar este estabelecimento, de tão transcendente utilidade à Instrucção Publica”102

. De tempos em tempos, a figura da biblioteca como panteão da civilização era retomada na cidade da Bahia.

100

FALLA que recitou o presidente da província da Bahia Francisco Jose de Sousa d’Andrea em 1846, p. 27; 28. Neste ano, foram gastos 88.000 reis para compra de livros para o gabinete de História Natural. Disponível em: <http://www-apps.crl.edu/brazil/provincial/bahia>. Acesso em: 6 abr. 2016.

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FALLA que recitou o presidente da província da Bahia Antonio Ignacio de Azevedo em 2 de fevereiro de 1847. Mapas das despesas de obras públicas. Disponível em: <http://www- pps.crl.edu/brazil/provincial/bahia>. Acesso em: 6 abr. 2016.

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RELATORIO apresentado pelo concelho de Instrução Publica a Assemblea Legislativa da província da Bahia, 1846. Disponível em: <http://www-pps.crl.edu/brazil/provincial/bahia>. Acesso em: 6 abr. 2016.

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Dois anos depois, em 1848, o presidente da província, João José de Moura Magalhães, informou que a biblioteca continuava em conserto e que seu acervo dispunha de 12.167 volumes de obras incompletas e de 7.986 volumes de obras completas. Dessas últimas, existiam 3.412 títulos, sendo que 318 estavam em muito bom estado, 1.780 em bom estado, 1.122 em mau estado e apenas 192 em péssimo estado de conservação. Não sabemos os critérios utilizados para a classificação do estado de conservação dos livros, mas os dados nos ajudam a perceber a dimensão do espólio de obras que estava à disposição dos leitores na cidade da Bahia. Preocupado com o bom uso que se poderia fazer da biblioteca, o presidente da província advertia sobre a necessidade de aquisição de obras modernas e de autores brasileiros sobre a História do Brasil e da América, para tornar mais completo o seu acervo.103

Em 1851, Francisco Gonçalves Martins, agora presidente da província, dava conta da finalização da reforma da Biblioteca Pública:

[...] a Bibliotheca ocupa todo o majestoso e antigo salão do Collegio dos Jesuitas. Alem deste acrescentamento os commodos da casa forão augmentados com huma nova galeria ou avarandado d’estantes sobre as que já existião, obra que deve ser brevemente concluída, depois do que informa o Bibliothecario, poder-se-há ali colocar ainda para mais de 6 mil volumes, sem prejuízo do aformoseamento da casa [...].104

Além de enaltecer a beleza do teto da biblioteca, o presidente da província comunicava a demissão do bibliotecário e o aumento dos vencimentos dos demais funcionários, insistindo na necessidade de aprovação, por parte dos deputados, de um aumento dos fundos destinados à “compra de livros e assignaturas de jornais científicos” para o estabelecimento que, desde 1811, “pouco tem progredido em relação ao aumento da illustracção da Provincia”105

. No mesmo ano de 1851, foi aprovado o novo Regulamento, com data de 31 de janeiro, no qual se definia a Biblioteca Pública como o “depósito” de obras científicas e literárias adquiridas por doação ou compra “à custa dos Cofres Provínciaes”106

. Os livros pertencentes à biblioteca

103

FALLA que recitou o presidente da província da Bahia João José de Moura Magalhães em 25 de março de 1848. Bahia. Disponível em: <http://www-pps.crl.edu/brazil/provincial/bahia>. Acesso em: 6 abr. 2016.

104

FALLA que recitou o presidente da província da Bahia Francisco Gonçalves Martin em 1º de março de 1851, p. 11. Disponível em: <http://www-pps.crl.edu/brazil/provincial/bahia>. Acesso em: 6 abr. 2016.

105

FALLA que recitou o presidente da província da Bahia Francisco Gonçalves Martin em 1º de março de 1851..., cit., p. 11.

106

REGULAMENTO da Biblioteca Pública da Bahia, de 31 de janeiro de 1851. Francisco Gonçalves Martins, Palácio do Governo da Bahia, 30 jan. 1851. Todas as citações deste Regulamento estão disponíveis em: <http://www-pps.crl.edu/brazil/provincial/bahia>. Acesso em: 22 abr. 2016.

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eram carimbados, na primeira e última página, com o timbre da sua rubrica; os adquiridos por doação deveriam trazer, ainda, o nome do doador e a data da doação. A preocupação com a organização da biblioteca é confirmada, também, pela necessidade de se compor um catálogo e dispor os livros “segundo o systema bibliográfico da divisão por classes”, em cinco estantes: Teologia; Jurisprudência; Ciências e Artes; Belas Letras; e História. Os mapas e manuscritos deveriam ser depositados em armários especiais e com identificação. Sobre a mobília das salas de leitura, determinava a existência de “mesas para o estudo, e o fornecimento necessário de tinta, papel e pennas para quem quiser escrever”. Caberia aos funcionários da biblioteca “assentados em estrados” inspecionar os leitores.

Além do bibliotecário, fazia parte do quadro funcional da biblioteca um ajudante, um