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5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.4. QUESTIONÁRIO

5.4.2. Espanha

Seguimos os mesmos passos de análise utilizados da marca dos Estados Unidos para relatar o que encontramos nos dados da Espanha.

GRÁFICO 3 – ESCOLARIDADE X PERCEPÇÃO (ESPANHA)

FONTE: Elaboração própria (2018)

Vamos começar com o gráfico de escolaridade x percepção (3). No entanto, qual o motivo deste cruzamento? Conforme Gomes (2000, p. 61), “[...] o cérebro humano não funciona como um simples receptáculo, por possuir uma capacidade de reflexão que permite ao homem fazer previsões, generalizações e construir suas interpretações particulares.” Essas capacidades citadas pelo autor são inerentes a qualquer ser humano, no entanto, é somente através do estudo e constante

aprendizado que poderemos ‘ampliar’ estas capacidades interpretativas e construir um “[...] resultado cognitivo total do viver [...]” (PEIRCE, 7538 apud BARBIERI, 2012, p. 15).

A partir destas cognições particulares e da soma das linguagens aprendidas (verbais e não-verbais), aumentamos ou diminuímos nossa sensibilidade e critérios em relação ao mundo sensível (sígnico) da linguagem e da própria comunicação, ou seja, quanto maior nosso arcabouço teórico em relação ao mundo, mais criteriosas e amplas serão nossas percepções e inferências dos signos a nossa volta (SANTAELLA, 2008; SANTAELLA, 2015).

Por tais motivos, pautamos uma de nossas análises na variável formação (escolaridade) x percepção.

Ao analisarmos o gráfico 3, notamos que em algumas questões, a avaliação foi muito mais criteriosa por parte dos respondentes que apresentam formação acadêmica mais elevada. Como o exemplo da pe2, em que respondentes com ensino médio apresentaram afirmações resultando em 3,50 pontos e respondentes com doutorado completo apresentaram afirmações de 4,06 pontos para o entendimento da sensação de otimismo. Sensação essa que é pautada nas cores da marca da Espanha (vermelho e amarelo).

Apesar das cores representarem principalmente qualisignos (primeiridade), a receptividade e a concordância com a sensação foram maiores em relação aos doutores.

Podemos observar um espectro de respostas semelhante em outras questões, tais como a pe3, pe4, pe7, pe9, pe11, pe14, pe15, pe17, pe19 e pe20, em que a formação influencia na percepção do respondente em relação a marca. Mas, por que somente nestas questões? Por que nas outras questões pessoas com menor taxa de escolaridade apresentaram médias mais elevadas? E por que houveram variações entre taxas maiores e menores?

Como já dito anteriormente, nossa percepção é um construto baseado na soma de tudo que aprendemos e vemos no mundo ao nosso redor. Essa variação existe justamente pela questão da sensibilidade na interpretação. Os signos, por natureza, são geradores de impressões, é necessário que sejamos sensíveis a eles para que possamos compreende-los (GOMES, 2000; SANTAELLA, 2012).

Ter mais conhecimento nos auxiliará a realizar interpretações mais profundas, nos permitindo alcançar os patamares da secundidade e terceiridade, no

entanto, desvelar um signo não depende somente disso (BARBIERI, 2012; SANTAELLA, 2008). Uma das bases da semiótica é a fenomenologia, essa base é a responsável pela interpretação ser tão diversificada, uma vez que essa “[...] quase- ciência, investiga os modos como aprendemos qualquer coisa que aparece à nossa mente: um cheiro, uma formação de nuvens, um ruído de chuva, ou mesmo algo complexo como um conceito abstrato [...] (NICOLAU et al, 2010, p. 9).

A afirmação acima não invalida a premissa da educação (escolaridade) como uma base para a percepção mais completa? A resposta é simples, não. Ao ponto de que tratamos da comunicação através das marcas sob o ponto de vista da semiótica, não nos inclinamos a avaliar se as opiniões estavam certas ou erradas em relação a essas afirmações. Não existe certo ou errado, o que existe nestes gráficos é a percepção – influenciada mais ou menos pela escolaridade – dos respondentes em relação à comunicação de alguns signos da marca.

Podemos apontar que essa premissa (percepção x escolaridade) é verdadeira ao analisarmos alguns dos dados em separado, no entanto, seria errôneo (e até mesmo egocêntrico) de nossa parte presumir que uma pessoa que não apresenta uma escolaridade elevada não possa ‘entender’ a comunicação turística que ocorre através de uma marca.

Segundo Gomes (2000, p. 61), a comunicação é “[...] um processo semiótico, o homem utiliza a informação para fazer generalizações e previsões.” Essa capacidade de generalização e previsão está presente em todos nós, porém, quem tiver mais informações poderá trabalhar melhor com sua visão de mundo e consequentemente a interpretação dos signos (BAUER; GASKELL, 2002). Mas, é importante lembrar que nossas referências de mundo vão além do conhecimento considerado acadêmico (BARBIERI, 2012). Por esse motivo, a percepção acerca dos signos e da comunicação turística através de uma marca variou em determinados níveis

Seguindo nossas análises, notamos no gráfico 4, que ocorre um movimento semelhante ao do gráfico 3 em relação às respostas obtidas. Um ponto interessante a se destacar nesse gráfico é a questão referente aos índices na semiótica peirceana. Nos índices, o signo se refere ao seu objeto por meio de alguma conexão natural – existencial (DIAS, 2013; SANTAELLA, 2012).

GRÁFICO 4 – JÁ VISITOU X NÃO VISITOU (ESPANHA)

FONTE: Elaboração própria (2018)

Essa conexão existencial pode ser observada em dois momentos no gráfico, partindo a existência real (visitou) e da existência simples (não visitou). Ao observamos as respostas de quem já visitou o país, notamos que a concordância em relação aos aspectos presentes na marca foi maior em algumas das questões, isto é, é mais fácil para quem visitou o país acessar memórias relativas aos índices presente na marca, tal qual na questão pe2 e pe3.

Nestas questões foi necessário que os respondentes acessassem suas memórias a fim de lembrar da alegria e otimismo dos espanhóis, a marca, mesmo que indiretamente, refere-se a esses dois sentimentos, tornando-se um índice destas duas características (PEREZ, 2004).

Essa relação entre o que é visto (experienciado) e o que é apenas sabido (visto) foi um dos pontos que nos chamou a atenção nesta análise, pois, existe uma diferença entre o que foi vivenciado e o que é apenas relato ou sabido (URRY, 2002).

Uma forma mais didática de demonstrar essa relação indicial presente nas marcas pode ser exemplificada através de um paralelo entre nossa análise e o livro Cidades Invisíveis de Italo Calvino. O romance conta a história do desbravador Marco Polo que, a mando do imperador Kublai Khan, viaja entre as cidades de seu

vasto império e volta ao seu palácio para descreve-las. O viajante descreve cada cidade como única, com analogias incríveis, cada cidade é única e fantástica (feitas de vidro, de encanamentos, de areia etc.). O imperador não tem conhecimento das cidades, ou seja, seu único índice (relação existencial) são as palavras do viajante. No entanto, ao ver as cidades com seus próprios olhos, o imperador descobre que nada daquilo era real e, sua interpretação dos índices muda (pois, o objeto do índice foi revelado), assim como em uma viagem.

A percepção de quem já visitou o país aproxima-se do que foi descrito nas duas etapas anteriores, uma vez que a pessoa terá os índices necessários para concordar ou discordar das asserções feitas em relação à comunicação turística através da marca. Para quem visitou o país, “[...] gera-se na mente o signo interpretante em um processo de semiose, que é a formação do sentido.” (GOMES, 2000, p. 62, grifo do autor). A formação deste sentido em relação ao país é o que caracterizou as respostas, visto que o respondente tinha um arcabouço e dispunha dos índices necessários para concordar ou discordar. Essa mesma lógica pode ser aplicada a quem não visitou o país, pois o respondente não teve contato com o objeto existencial (o país) (BALDISSERA, 2000).