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5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1. QUERO VIAJAR PARA LÁ! OS SIGNOS NAS MARCAS TURÍSTICAS

5.1.1. A grandeza dos USA

A primeira marca a ser analisada é a “VisitTheUSA”. Essa marca foi criada pela Brand USA para designar as ações promocionais relacionadas ao turismo nos

Estados Unidos (BRAND USA, 2017). No entanto, quais são as qualidades, índices e as convenções culturais representadas nesta marca?

FIGURA 16 – VISIT THE USA

FONTE: https://www.visittheusa.com/ (2017)

A partir da leitura da imagem em suas qualidades é possível notar que as cores utilizadas para a composição do logotipo são predominantemente frias. Em contraste com o fundo branco, vemos os textos da imagem em um tom de azul muito escuro. As cores escolhidas fazem alusão a duas das cores da bandeira americana. As cores frias, por natureza, indicam sentimentos de segurança, tranquilidade, confiança, equilíbrio e profissionalismo (FARINA, 1982). Essas cores, aqui representadas na marca, dão o tom ao turismo que poderá ser encontrado nos Estados Unidos ou que a entidade responsável pela marca espera que sejam percebidos. Segundo um estudo realizado pela Brand USA em 2016, países como Brasil, China, Japão, México dentre outros, reconhecem a marca como uma representação de turismo nos EUA (BRAND USA, 2017).

É possível afirmar que ao utilizar cores frias na composição da marca, transmitem-se aspectos de um turismo organizado e seguro, dando uma sensação de tranquilidade e acolhimento ao turista que visita o destino. Farina (1982, p. 201) destaca que a combinação azul e branco é “estimulante, predispõe à simpatia [...]”, essa combinação, na marca, é uma forma de mostrar a hospitalidade oferecida pelo destino.

com o branco é a saturação24 da cor. Aqui, entramos na análise de um aspecto que

está ligado a associação visual de quem interpreta a marca. Segundo Perez (2004, p. 79) “[...] quanto mais saturada a cor, maior a sensação de que o objeto está se mexendo.” Essa relação entre a saturação das cores e objeto se dá através de uma relação sintática de inclusão através da pictorialização da sigla ‘USA’. É possível notar que a sigla que designa United States of America (USA) é composta por diversos pontos que se aproximam formando a sigla. A saturação e essa

pictorialização não foram feitas a esmo, referindo-se ao movimento de uma viagem os pontos indicam o deslocamento do turista (grifo do autor).

Outro ponto a se observar na imagem são as linhas da marca e do texto, a escrita, tanto na sigla quanto no slogan não apresentam serifa25, esse aspecto dá

um tom orgânico a escrita e uma sensação agradável aos olhos, pois remetem a formas naturais. Essa organicidade nas linhas que compõe a imagem permite que o intérprete deixe-se levar pela própria interpretação. O aspecto sugestivo da imagem é atribuído justamente pela configuração das linhas que a compõem.

Não existe uma simetria clara entre as letras vistas na marca, no entanto, existe uma relação entre as proporções da sigla e do slogan. A sigla se impõe sobre o slogan, tanto por ter sido grafada em letras maiores quanto pela sua posição na imagem, entretanto, apesar deste contraste, há uma relação indicadora de contiguidade26, pois o slogan se refere a sigla e vice-versa (SANTAELLA, 2012).

Ao se tratar da forma da marca é possível estabelecer uma relação de liberdade no contraste entre o fundo e a palavra. Nesta imagem, delimitou-se27 o

que pode ser observado através de uma ‘moldura’ na imagem. No entanto, essa marca, ao ser utilizada em qualquer fundo branco ou de outra cor não limita a visão do intérprete, o que denota um sentimento de infinidade, ou seja, o turismo não é limitado, o ‘movimento’ de turistas pode – e deve – ser infinito, pois segundo a Brand USA essa multiplicidade de mercados gera divisas para o país.

24 A saturação se refere à pureza de uma cor com respeito ao cinza. As cores menos saturadas

tendem para uma neutralidade cromática, inclusive para um acromatismo. São, por isso, sutis e tranquilizadoras. Quanto mais intensa e saturada é uma cor, mais expressividade ela adquire (SANTAELLA, 2012, p. 37).

25 Serifa: Pequeno traço ou espessamento que remata, de um ou ambos os lados, os terminais de

determinadas letras; filete, rabisco, remate. (MICHAELIS, 2017)

26 A mera contiguidade espacial (justaposição) entre texto e imagem serve como um índice que

conecta o signo verbal com o visual (SANTAELLA, 2012, p. 120).

27 Utilizou-se essa delimitação devido as diretrizes da ABNT e da estrutura proposta para a

Ao se observar as relações indiciais na imagem é preciso considerar em que contexto ela se encontra inserida. Anteriormente, foi explicitado que essa é a marca referente ao turismo dos EUA, entretanto, quais os traços de identidade? Referentes? A quem se destina?

Essas três questões podem ser respondidas quando entendemos a finalidade desta marca: promover o turismo dos Estados Unidos. Caso a sigla fosse isolada do texto que está abaixo não teríamos uma indicação clara do que essa imagem representa, a não ser a sigla USA. A complementariedade trazida pelo slogan é o que dá sentido à marca como um todo e permite a produção de significados indiciais sobre ao que ela se refere.

A indicação do slogan “VisitTheUSA” é o que permite que o aspecto singular-indicativo seja perceptível na marca. A marca é denotativa até certo ponto, no entanto, ao inserirmos essa marca em um contexto de representação de um existente, através de um documento, um site, uma campanha impressa etc. revelamos com certa clareza seu aspecto indicial, tornando a marca um índice que se refere ao turismo nos EUA. Os índices funcionam dessa forma, quando inserimos o signo em um determinado contexto existencial, os índices se revelam, passam a fazer sentido e a produzir sentidos em um interpretante (PEREZ, 2004; SANTAELLA, 2015).

Outro aspecto presente no slogan é a indicação de um domínio de internet ‘.com’, a utilização deste complemento no slogan leva o intérprete da marca ao site oficial de turismo do EUA. Essa estratégia de sugestão presente no slogan é outro ponto que contextualiza as relações indiciais presentes nesta marca. Ao inserir o intérprete em um ambiente dominado pela marca e referir-se diretamente ao destino, se produz um ambiente propício para que se contextualize a mensagem transmitida pela marca. Essa capacidade indicial é o que faz com que o referente (o turismo nos EUA) releve seu sentido.

Já passamos pelos aspectos qualitativos icônicos, pelos singulares indiciais e agora entraremos no campo legi-simbólico da marca. Essa última instância de análise da marca centra-se justamente no aspecto pictórico da palavra ‘USA’.

A sigla USA é utilizada para designar a abreviação de United States of

America. Por convenção, a sigla USA é conhecida em quase todo o mundo, pois é a

sigla utilizada para designar os Estados Unidos da América (EUA) (nome oficial traduzido para o português) em qualquer parte do mundo. Mesmo para países que

não utilizam o alfabeto romano em seu sistema de escrita, a sigla USA é reconhecível devido ao alto nível de propagação da cultura desse país, a sigla foi exportada mundo afora.

Ao torna-la um construto pictórico composto pelos ‘pontos’ reforça-se a ideia da grandiosidade e expansão do país, pois não é preciso criar uma nova imagem ou mesmo idealizar uma marca fantasiosa, a simples força da sigla USA se impõe como um meio de reconhecimento por meio da convenção. Desta convenção surgem os aspectos simbólicos representados pelos EUA para o mundo.

Aproveitando-se dessa grande influência que é exercida pelo país, a marca turística segue o mesmo fluxo oportunizado por esse alcance. Outro aspecto simbólico está na grafia do slogan. É interessante notar o discurso imperativo presente no slogan “VisitTheUSA”, a forma com que o slogan foi redigido indica uma frase no imperativo “Visite os EUA” essa construção sintática aumenta o poder da estratégia de persuasão da marca. De uma forma explicita o slogan ‘ordena’ que você visite os EUA, porém, na mente do consumidor, essa ordem não é processada como tal, ela é vista como uma sugestão, que inconscientemente pode ser acatada ou não. Segundo Santaella (2012) a informação na publicidade não visa só informar, mas sim informar e convencer – e o slogan faz bem seu trabalho.

A força simbólica presente tanto na sigla quanto no slogan é reforçada pela grafia do ‘The’ (artigo definido utilizado para definir O (s) ou A (s) em inglês) em maiúsculo. Essa expressão pode parecer em primeiro momento apenas um detalhe estético ou uma frivolidade visual.

Porém, olhando para esse detalhe através de uma convenção simbólica, sempre que se utiliza um artigo definido em maiúsculo no meio de uma frase indica- se a importância ou o destaque da pessoa, entidade, objeto (e.g.: Ele é O cara! Essa música é A música). Ao apresentar isso no slogan “Visit The USA” reforça-se o caráter da tradição do destaque. Essa convenção visa reforçar e estabelecer a identidade do país, anunciando que ele é O melhor destino ou A melhor escolha para o turismo. Um sentimento interiorizado pelos americanos e que se expressa na marca do país.

Em síntese, a marca turística dos Estados Unidos é rica em sugestões e significados (em geral, as marcas têm essa função), criada através de um processo de pictorialização de uma sigla em que se destacam os aspectos de deslocamento e chegada ao país. Essa imagem trabalha junto com o slogan para que se criem os

significados e se fortaleçam processos de reconhecimento simbólico. Atraindo a atenção do consumidor/intérprete e sugerindo que este visite o país. A marca, deste modo, cumpri com sua função de comunicar o destino, uma vez que traz em seu slogan um ‘algo a mais’, que permite (sugere de forma implícita) que o interpretante siga um caminho através de uma espécie de hiperlink para conhecer mais sobre o turismo em seu país.