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1 PSICOLOGIA E PRÁTICAS ESPORTIVAS

1.9 O esporte de alto rendimento

Desde a Grécia Antiga percebe-se a presença de grandes desafios nas disputas esportivas. Com a ampliação do conceito de esporte, as práticas esportivas, em suas dimensões sociais, apresentam em comum a ideia voltada ao rendimento de seus praticantes, seja este na prática de exercícios físicos por gosto, seja pela formação educacional, ou ainda, por lazer, competição ou cuidados com a saúde. A partir da perspectiva de rendimento, podemos pensar que tais atividades voltam-se à produtividade por meio da tarefa executada. Cabe aqui a ressalva e diferenciação peculiar ao esporte de alto rendimento, que, como dito anteriormente, traz, essencialmente, regras pré-estabelecidas, além de exigências e condições voltadas à competição entre os pares e que, por isso, tende a se tornar cada vez mais disputado mediante a dedicação de mais pessoas a determinado objetivo, no caso, a vitória.

O esporte de alto rendimento, para Tubino (2006), apresenta-se como a mais popular forma de lazer da sociedade industrial, tendo em vista também a influência dos instrumentos midiáticos de veiculação de comportamentos e valores.

Na programação dos meios de comunicação, a transmissão de espetáculos esportivos traz grande contribuição à audiência, constituída por um viés de lazer, divertimento, tempo livre e emoção. Nesse sentido, a indústria do lazer obtém ganhos significativos, promovendo poucos esportes, muito embora possua um número significativo de horas na programação das emissoras, ou até mesmo canais de televisão exclusivos à transmissão de competições, que se tornam grandes espetáculos. É interessante à mídia a promoção de esportes de maior impacto, ou seja, de interesse da população, afinal, a preocupação não está voltada à divulgação das práticas em si, mas à comercialização de produtos, bem como à propagação de ídolos e a relação direta com a aparição das empresas patrocinadoras (LOVISOLO, 2000; TUBINO, 2006).

Assim, ao longo do século XX, o lazer passa a fazer parte da vida das pessoas devido ao acompanhamento de eventos esportivos, afinal, o tempo livre não se constitui apenas num momento para diminuir a fadiga e o estresse, mas numa exacerbação do desejo de produção e lucro por parte de outrem, quando são transmitidas disputas entre equipes, atletas, marcas comerciais ou recordes. A este respeito,

Considerado em sua totalidade, o espetáculo é ao mesmo tempo o resultado e o projeto do modo de produção existente. Não é um suplemento do mundo real, uma decoração que lhe é acrescentada. É o âmago do irrealismo da sociedade real. Sob todas as suas formas particulares – informação ou propaganda, publicidade ou consumo direto de divertimentos –, o espetáculo constitui o modelo atual da vida dominante da sociedade. É a afirmação onipresente da escolha já feita na produção, e o consumo que decorre dessa escolha [...] (DEBORD, 1997, p. 14-15).

A lógica consumista, que permeia diversas questões envolvidas no esporte de alto rendimento, se faz muito presente na vida dos atletas, na medida em que estes parecem estar sempre insatisfeitos e em busca de mais vitórias, premiações e superação. E, além disso, o culto ao corpo esportivo, segundo Castro (2007), também configura a construção de um estilo de vida comum para eles. Ou seja: dentre tantas possibilidades de escolha existentes, os atletas-adolescentes compartilham hábitos, gostos e preferências culturais. De outro modo, o público que assiste aos espetáculos, sedento por disputas cada vez mais acirradas entre os competidores e times, também compartilha sentidos relacionados ao consumo das produções esportivas, tendo em vista suas expectativas relacionadas às disputas competitivas, vivenciadas com acentuada intensidade de emoções e sentimentos. Desta forma, o esporte de alto rendimento ganha notoriedade e passa a ser visto por um viés de investimento.

Os interesses mercantis inauguram, portanto, um novo processo esportivo, agora voltado para o negócio, deixando, aos poucos, tanto as influências ideológico-políticas quanto o ideário esportivo no sentido do Olimpismo. O cenário socioeconômico atual traz à tona a competitividade, na qual países e multinacionais têm se empenhado para atrair investimentos, que sejam geradores de riquezas e que estimulem o crescimento econômico. E é com esse enfoque que, hoje, o esporte de alto rendimento é concebido (TUBINO, 1992).

Para Bracht (2000), o rendimento é elevado à categoria central, ao elemento definidor e organizador das ações. O objetivo a ser atingido, portanto, não se refere àquele possível ou ótimo, considerando as possibilidades individuais e das equipes, mas traduz-se no rendimento máximo, ideia disseminada desde o período de iniciação esportiva. Como repercussão, notam- se maiores investimentos voltados ao desenvolvimento técnico, que, por sua vez, possibilitam

o máximo de rendimento e diferenciação perante os adversários. Nesse sentido, “O espetáculo domina os homens vivos quando a economia já os dominou totalmente. Ele nada mais é que a economia desenvolvendo-se por si mesma” (DEBORD, 1997, p. 17-18).

Cada vez mais, avanços tecnológicos vêm auxiliando os atletas na prática do esporte de alto rendimento. Assim, pensamos as contribuições que as Ciências do Esporte, como a Medicina, Fisiologia do Exercício, Nutrição, Fisioterapia e Psicologia, trazem aos seus desempenhos nos treinamentos e competições. Todo o processo de treinamento esportivo, inclusive, independente das técnicas e métodos utilizados, é avaliado, a partir do resultado final, ou seja, da vitória ou da derrota. Considera-se vencedor, apenas, aquele que atinge o primeiro lugar, e é premiado com medalhas e troféus. Evidencia-se que passa a existir

A profissionalização generalizada, o contínuo aperfeiçoamento nos métodos de treinamento, são exigências do espetáculo. Os ‘records’ e as vitórias, uma exigência do espectador e um compromisso dos ídolos-atores. Tudo implica na exacerbação dos custos e na necessidade da venda do espetáculo como forma para permitir o retorno do investimento, condição para que o esporte possa atrair capitais [...] (TUBINO, 1988, p. 69).

Numa alusão ao poder e a influência que os instrumentos midiáticos têm sobre o espetáculo esportivo, refere-se que aqueles atletas do esporte de alto rendimento que obtém maior destaque passam a receber tratamento diferenciado, sendo reconhecidos como personalidades públicas, ídolos e heróis por grande parte da população. Devido a associação que esta faz com determinados valores cultuados pela sociedade atual, como o sucesso, a fama e uma vida vitoriosa, certamente, percebemos que, cada vez mais, tais valores vão sendo disseminados e valorizados em nosso cotidiano. Cabe-nos compreender como tais referenciais repercutem aos atletas-adolescentes, como discutiremos a seguir.