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5 ANÁLISE DOS DADOS

5.3 Os contatos com os atletas-adolescentes

Os contatos com os atletas-adolescentes foram facilitados pelos técnicos das respectivas instituições e modalidades que, em sua totalidade, se mostraram muito atenciosos e disponíveis, desde o primeiro momento, quando na explanação acerca do estudo, o que inclui: objetivos, metodologia e devolução dos resultados. Eles ajudaram na indicação de outros treinadores que poderiam contribuir ao desenvolvimento da pesquisa, e ressaltaram, inclusive, a importância do objeto de estudo vitória/derrota, bem como explicitaram a necessidade do seu grupo na realização de um trabalho de intervenção psicológica, voltado ao esporte, e inexistente até então.

Durante os contatos estabelecidos, a percepção dos treinadores acerca do aspecto emocional dos atletas veio à tona, o que julgavam ser, por vezes, a causa da vitória/derrota deles, na medida em que, fisicamente, estavam bem treinados, com condições para obter um rendimento mais expressivo do que aquele apresentado. A preocupação parecia ser sempre nesse sentido emocional e, mais especificamente, voltada aos fatores negativos que a influência dos aspectos psicológicos pode trazer ao desempenho de um atleta do esporte de alto rendimento.

Outra dificuldade relatada referiu-se à baixa quantidade de equipes e atletas de Pernambucano, que torna o nível de competitividade menor, pois há menos campeonatos e, tal fato, também não contribui tanto quanto poderia para a excelência esportiva, possibilitada por confrontos mais acirrados entre os competidores. Assim, a diferença técnica em campeonatos nacionais foi justificada pelo fato de as equipes do Sul e Sudeste se constituírem em verdadeiros “celeiros de campeões”, tendo em vista o investimento direcionado às categorias de base e formação de atletas profissionais. Além disso, em face das estruturas física e financeira dessas instituições, com maiores recursos para investir nos esportes, disseram que há a migração de atletas do vôlei e da natação, por exemplo, para outros estados, em busca de maior investimento em sua carreira.

Em suma, os contatos com os treinadores foram muito proveitosos, de modo que foi possível conhecer um pouco mais do contexto que envolve as modalidades estudadas e os seus atletas-adolescentes. Percebemos ainda especificidades e formas de interação social diferenciadas entre a modalidade individual e a coletiva, relacionadas também ao estilo de liderança exercido pelo treinador.

De forma geral, os técnicos “autorizaram” os atletas a participarem da pesquisa, mediante o reforço que deram a isso. Um exemplo é um treinador que afirmou, após seus atletas terem respondido aos questionários, ser um pré-requisito para a participação no treino do dia seguinte trazer o TCLE respondido. Vale salientar que, desta equipe, todos os atletas participaram da pesquisa, o que nos mostra como o comportamento do treinador circunscreve a prática do atleta-adolescente.

Os treinadores pareceram-nos exercer funções de cuidadores, por vezes, bem semelhantes aos papéis desempenhados pelos pais. Assim, eles praticam, de forma positiva ou negativa, influências sobre como os atletas-adolescentes irão interagir, não apenas no contexto esportivo, mas na sua vida de modo geral. Afinal, muitas vezes, relataram preocupações e cuidados relacionados à: saúde, alimentação, vida pessoal, social e escolar dos atletas- adolescentes.

No vôlei, verificamos que o treinador compartilhava a sua liderança com outro membro do grupo. Tal procedimento é previsto também nas regras da modalidade, na qual os times devem ter em um atleta, o capitão para a equipe. Este atleta, por sua vez, passa a exercer papel semelhante ao do treinador, influenciando os demais componentes da equipe que, via de regra, atua em como um grupo coeso que pensa e age como tal.

Observamos durante a espera para a aplicação dos questionários que determinadas responsabilidades, como o auxílio ao técnico durante o treinamento, a ajuda e incentivo dado a outros atletas em treinamentos ou campeonatos, e até mesmo para dar início às respostas aos questionários, o aquecimento da equipe realizado em duplas, a montagem do cenário esportivo para a realização dos treinos como o posicionamento da rede, bolas, etc., são divididas entre os atletas-adolescentes, assim como pode acontecer com outras experiências vivenciadas entre eles, como as situações de vitória/derrota.

Entre os participantes de uma das equipes percebeu-se ainda um cuidado peculiar quanto ao cumprimento das atividades propostas na pesquisa, bem como a verificação das informações que foram fornecidas por seus pares, tanto no TCLE, quanto nos dados pessoais dos questionários. Tal cuidado sinaliza-nos um jeito de ser em grupo, no qual uns agem como orientadores de condutas dos outros.

Na natação, a pesquisadora observou condutas mais individualistas. Os nadadores mostraram-se de modo mais solitários em suas atividades, no sentido da preparação para o treinamento, no cumprimento das atividades extratreinos, mediante a não existência de um líder na equipe, e ainda a ausência de estímulos para a realização de várias atividades. Os técnicos pareceram-nos demonstrar posturas diferenciadas, também, quando realizam as cobranças individualmente, mesmo que os atletas-adolescentes realizem atividades nas quais se encontrem aglomerados e se constituam, de fato, como um grupo.

Os comportamentos observados na natação parecem corroborar a ideia da prática de uma modalidade individual que, por mais que o sujeito esteja inserido em um grupo, com o qual interage, treina junto e compete entre si, o seu rendimento depende apenas de si mesmo, dadas as condições ideias de treinamento e, por isso, a sua independência diante de seus pares na realização das ações do cotidiano esportivo se mostre tão evidente.