• Nenhum resultado encontrado

Estabilidade/instabilidade política no governo JK

No documento fernandagallinarisathlermussi (páginas 56-59)

1.4 O RETORNO DO GETULISMO: A VITÓRIA DO POPULISMO

1.4.3 Estabilidade/instabilidade política no governo JK

JK não sonhava com mudanças sociais radicais: buscava o investimento estrangeiro público e privado para satisfazer as necessidades que lhe eram subjacentes; ele era mais pragmático do que nacionalista181 e acreditava que era preciso quebrar o tabu de que o Brasil estava condenado a ser um país agrícola. Há diversas opiniões em torno, se houve ou não estabilidade política no governo de JK. Benevides, ao analisar a situação, concluiu que apesar da maioria dos estudos sobre a política brasileira, o período (embora parcialmente analisado) é apontado como um exemplo de estabilidade política, contrariando o padrão de “instabilidade crônica” que caracterizava a vida política nacional desde a Revolução de 1930. A historiadora não concorda com essa tese, acreditando que ela é fundamentada apenas ao fato de, mesmo com

177 BOJUNGA, Cláudio. JK: o artista do impossível. Edição de bolso, 2010. p. 441-442.

178 Movimento fundado em março de 1956 pelo coronel Nemo Canabarro Lucas com o objetivo de “dar

conteúdo político ao Movimento do 11 de novembro de 1955”, liderado pelo general Henrique Lott para garantir a posse de Juscelino Kubitschek e João Goulart na presidência e na vice-presidência da República. Definindo-se como nacionalista e legalista, a frente foi acusada de subversiva e comunista pelos partidos e jornais da oposição, sendo fechada por Juscelino em 24 de novembro de 1956 (Dados do CPDOC).

179 Reuniões com cerca de cinquenta pessoas, realizadas em residências particulares, durantes as quais conclamavam os participantes a resistir, pois quaisquer meios, ao governo de Juscelino Kubitschek e à sua política econômica (MENDONÇA, 2002, p. 194).

180 BOJUNGA, Cláudio. JK: o artista do impossível. Edição de bolso, 2010. p. 499. 181 Ibid., p. 529.

as crises profundas do começo ao fim da era JK, ele ter sido o único presidente civil que, entre 1930 e 1964, se manteve até o fim do mandato presidencial por meios constitucionais182.

Em contrapartida, Thomas Skidmore acreditava que “o sucesso da política econômica de JK foi o resultado direto de seu sucesso no sentido de manter a estabilidade política. Ele foi capaz de manter isso apenas por um tour de force político. O segredo residia em encontrar alguma coisa para cada um, enquanto evitava qualquer confronto direto com seus inimigos”183. Ou seja, a sua essência seriam as diversas “manobras dentro do sistema presidencial”. Essa hipótese das “manobras” também é o argumento de Hélio Jaguaribe, que discutia “as conquistas altamente satisfatórias” e “as extraordinárias realizações”184 de JK.

Para Marina Mendonça Gusmão, apesar das diversas crises, o governo de JK se caracterizou como a fase de maior estabilidade política no período de 1945 e 1964:

Apontamos ainda os principais elementos que contribuíram para a manutenção da normalidade democrática: de um lado, a atitude conciliatória do presidente, que procurou acomodar todos os focos de conflito, e, de outro, a enorme expansão econômica verificada na época. [...] Dois fatores marcaram esse período de desenvolvimento: 1) o aumento dos investimentos do Estado, por meio do estabelecimento de um programa de metas setoriais, que procurava garantir um mínimo de racionalidade à expansão industrial 2) a entrada maciça de capital externo, em consequência da Instrução 113 da Sumoc. A conjugação desses fatores permitiu a continuidade do processo de substituição de importação que, se de um lado, levaria à aceleração do desenvolvimento, por outro, a longo prazo, agravaria as pressões inflacionárias e os desequilíbrios regionais, que estariam na base da crise do início da década de 1960.”185

Nesse contexto, a caricatura abaixo faz uma crítica a essa política, considerada desenvolvimentista, da era JK.

182 BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. O governo Kubitschek: desenvolvimento econômico e estabilidade política (1956-1961). 4 ed. Paz e Terra, 1976. p. 22-23.

183 SKIDMORE, Thomas. Brasil: De Getúlio a Castello. Paz e Terra, 1982. p. 207.

184 BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. O governo Kubitschek: desenvolvimento econômico e estabilidade política (1956-1961). 4 ed. Paz e Terra, 1976. p. 25.

Figura 2 - Da série: Hotel Brasil. Ala-Mir. A Marcha, 27/04/1957.

Fonte: Christofoletti, R. A Enciclopédia do Integralismo: o dogma do sigma, 2020.

Durante todo o governo, denúncias voltadas principalmente ao vice-presidente João Goulart e sua relação com o governo argentino abalou as possíveis decisões articuladas pelos maioritários. Nenhuma prova concreta foi encontrada, e Lacerda acreditava que havia mensagens sigilosas acerca dessa suposta relação. O governo tomou algumas medidas mais drásticas, como um pedido de licença para processar Lacerda com base na Lei de Segurança Nacional, sob o argumento de que a divulgação da mensagem abriria caminho para a decifração do código secreto do Itamaraty. As manchetes dos jornais, no outro dia, eram “Expulsão ao traidor”, “Mais uma vez Lacerda traía a nação”, a Tribuna da Imprensa teve papel fundamental para suas defesas. Esse tipo de contestação e ataques foram comuns durantes os cinco anos de mandato de JK.

Lacerda encarregou-se de sua defesa e começava a reafirmar sua condição de vítima, cujo heroísmo estaria sendo punido com uma verdadeira perseguição por parte das forças maléficas que haviam se apoderado do poder naquele momento. Lacerda eximia-se de qualquer responsabilidade no episódio da Carta Brandi e também do Código do Itamaraty186. Livrou-se

186 Já líder da UDN na Câmara, Lacerda foi acusado pelo governo de fornecer elementos para a decifração do código secreto do Itamaraty. O Ministério das Relações Exteriores enviou mensagem à Câmara, acompanhada de um ofício da Procuradoria Geral da Justiça Militar, pedindo à Câmara Federal licença para processar o deputado por crime contra a segurança nacional. O "caso Lacerda" ganhou intensa repercussão na sociedade. Na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, o parecer do deputado Martins Rodrigues, pela licença para processar o deputado, foi aprovado, o que permitia a quebra da imunidade parlamentar de Lacerda. A defesa apresentada pelo deputado Carlos Lacerda, no dia 15 de maio de 1957, durou dez horas. Ele respondeu às acusações. Sonora:

das acusações quando o plenário da Câmara, em votação secreta, negou o pedido de licença para processá-lo. O governo perdeu a batalha, apesar de ter a maioria do Parlamento a favor dele.

Depois dessa vitória, Lacerda intensificou as suas acusações sobre o governo em meios a discursos e notícias publicadas na Tribuna da Imprensa, tudo para mantê-lo no centro das atenções nacionais. A agressividade no tom das notícias no Tribuna da Imprensa sobre o governo era tão aguda e baixa que chegaram a ser nomeadas, por exemplo, como, “O cafajeste Máximo”, isso em junho de 1957. Lacerda queria atingir a honra de JK e do General Lott, que eram “Cafajeste sem escrúpulos” e “Traidor cheio de remorso”, respectivamente.

No documento fernandagallinarisathlermussi (páginas 56-59)