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estado da arte da interatividade

Nas ciências da comunicação, o termo interatividade começou a utilizar-se de forma incipiente durante os anos 70, quando se criaram os primeiros serviços de televisão interativa, teletexto e, sobretudo, videotex. são também os anos nos quais se produzem importantes avanços na interface gráfica do utilizador de computadores, que começaram a mostrar “rostos mais humanos”.

mas somente na década de 80 ganhou maior importância nos estudos de comunicação, sentindo-se a necessidade de definir interatividade. Desta época são os trabalhos seminais de rudy bretz (1983), ronald rice (1984), everett rogers (1986), françoise holtz-bonneau (1986), bordewijk e van Kaam (1986), marie marchand (1987), Jerome durlak (1987), sheizaf rafaeli (1988), frederick Williams, ronald rice e everett rogers (1988), Carrie heeter (1989) e John Carey (1989).

a partir dos anos 90, e já no novo século, a utilização do conceito tomou um novo impulso com o rápido crescimento dos serviços que a internet oferece e, particularmente, com a criação da Web. avançou-se, ainda que com diferentes abordagens, na definição do conceito de interatividade (Vittadini, 1995; Hanssen, Jankowski e etienne, 1996; Jensen, 1998; sádaba Chalezquer, 2000; rost, 2001 e 2006; Kiousis, 2002; díaz noci, 2006).

Realizaram-se investigações mais específicas sobre as diferentes opções interativas que os meios na internet iam oferecendo: rafaeli e sadweeks (1997), riley et al (1998), light e rogers (1999), schultz (1999 e 2000), Kenney et al (2000), zeta de pozo (2002), fortunati et al (2005). mais recentemente, e já com novos níveis de participação para avaliar nos sites, podemos citar os trabalhos de bergonzi et al (2008), domingo et al (2008), martínez martínez (2008), garcía

de torres et al (2009 e 2012), tejedor-Calvo (2010) e raimondo anselmino (2012).

Com menor intensidade, observaram e entrevistaram os utilizadores para ver que perceção têm e que utilização fazem das possibilidades de participação que oferece o meio (rost, pugni reta e apesteguía, 2008). de diferentes perspetivas analíticas e metodológicas, há trabalhos que enfatizaram a importância de analisar o que se denominou de “interatividade percebida” pelo utilizador (newhagen e outros, 1995; Wu, 1999; Kiousis, 2002; sohn e lee, 2005)10.

É interessante confrontar estes trabalhos com os estudos etnográficos de redações que observaram e entrevistaram jornalistas para conhecer as rotinas laborais e a abordagem que têm sobre a participação dos utilizadores (boczkowski, 2006; garcía, 2007; domingo, 2008; hermida e thurman, 2008; singer e ashman, 2008; reich, 2009).

existem dois livros, publicados com pouco tempo de diferença, que foram muito influentes no que diz respeito ao estudo da participação dos utilizadores nos media: bowman e Willis (2003) e dan gillmor (2004). ambos destacam de forma entusiasta a irrupção de meios e tecnologias – como blogues, mensagens de texto, wikis, sindicação de conteúdos e publicações colaborativas –, que abrem novas portas à interatividade e acalentam a construção de um jornalismo mais participativo.

Popularizam-se, então, três conceitos relacionados com a interatividade que têm pontos em comum entre si, mas que também provocam diferentes interpretações: “Jornalismo Participativo”, “Conteúdo Gerado pelo Utilizador” e “Jornalismo Cidadão”.

a ideia de “Jornalismo participativo” foi entendida por bowman e Willis (2003) como “o ato de um cidadão ou grupo de cidadãos que desempenham um papel ativo no processo de recolher, informar, analisar e disseminar informação”. estes autores, ao contrário de gilmor, puseram inclusivamente em dúvida a necessidade de que haja jornalistas como “mediadores” ou gatekeepers. mas a utilização que se fez do conceito engloba geralmente todo o tipo de contribuição

10) “o que nós, como cientistas sociais, deveríamos fazer é não reduzir o conceito (de interatividade) nem a atributos tecnológicos nem a caraterísticas pessoais, mas compreender as relações entre ambos”, sugerem Sohn e Lee (2005: 11).

dos utilizadores para a construção da atualidade, geralmente no âmbito de um meio de comunicação11.

uma categoria semelhante é a de “Conteúdo gerado pelo utilizador” (User-Generated Content, UGC). Hermida e Thurman (2008) definem-na como “um processo no qual qualquer pessoa tem a oportunidade de participar ou de contribuir em publicações editadas profissionalmente” (p. 2). Deixam assim clara a diferença entre cidadãos e jornalistas profissionais. García de Torres (2012) inclui na ugC “toda a contribuição pública do utilizador que não constitua uma cópia nem um modo de vida (profissionalização), assim como qualquer elaboração de conteúdos tradicionais que se baseie nas contribuições dos utilizadores como, por exemplo, o ranking de notícias elaborado segundo as preferências dos utilizadores” (p. 59). Acresce que “o grau de esforço criativo” pode constituir um ponto de partida para estabelecer uma tipologia de ugC.

o conceito de “Jornalismo Cidadão” é muito mais controverso porque adjudica diretamente a atividade jornalística a pessoas não profissionais. Refere- se a um tipo de participação mais específica na qual os utilizadores reconhecem e enviam uma notícia original à redação e, em alguns casos, publicam-na diretamente. Contudo, este termo despertou muitas críticas porque, ao combinar ambas as palavras, é lhe atribuída uma sistematicidade e um método para colaborações de utilizadores que se caracterizam por serem mais ocasionais, sem aferição de fontes e de realização simples. podem chamar-se “jornalismo” estas contribuições dos cidadãos? Neste sentido, são particularmente valiosos os estudos de Jan schaffer (2007) e zvi reich (2008) porque mostram o papel e as contribuições da reportagem cidadã não como substituto mas como complemento do jornalismo realizado por jornalistas profissionais.

Estes três termos, que podem associar-se ao que denominámos Interatividade Comunicativa, não são os únicos empregados.12 todos tentam, de uma forma ou

11) singer e outros (2011: 2) destacam esta expressão de “jornalismo participativo” porque “captura a ideia da ação colaborativa e coletiva, e não simplesmente paralela” entre as pessoas que estão dentro e fora da redação.

12) outros conceitos também utilizados para se referirem à participação dos cidadãos, ainda que com diferentes implicações, são o Jornalismo 3.0, o Jornalismo Open Source (Open Source Journalism), o Jornalismo distribuído, o Jornalismo hiperlocal ou microlocal (hyperlocal Journalism), entre outros.

de outra, descrever esse encurtamento na distância entre jornalistas profissionais e utilizadores. a questão central parece ser, como assinala mark deuze (2005), “até que ponto a narração jornalística pode estar baseada no conteúdo ou na conetividade e que nível de participação pode ou deveria ser incluído na experiência narrativa” (p. 2).

Tendências no estudo da interatividade: as redes