• Nenhum resultado encontrado

há dois tipos de interatividade que convém diferenciar.

a interatividade seletiva alude às possibilidades de controlo que tem o utilizador sobre o processo de receção dos conteúdos. ou seja, em que medida o utilizador pode eleger o ritmo e a sequência das mensagens. Quantas mais

opções de acesso aos conteúdos ofereça o meio, e quantas mais se ajustem às necessidades do utilizador, maior será o grau de interatividade seletiva.

Há uma série de elementos que influem em diferentes medidas: o tipo de estrutura hipertextual que propõe o meio para navegar os conteúdos, o menu de ligações semânticas presente em cada notícia, a utilização de motores de busca, hemerotecas, nuvens de etiquetas, índices (geográficos, onomásticos, temáticos), opções de personalização de cada página (tamanho da fonte, cores, ordenação de temas, etc.), diferentes alterações do desenho e da interface perante ações dos utilizadores, e um diversificado menu de alternativas de distribuição/receção de conteúdos (rss, envios de conteúdos por correio eletrónico, distribuição pelas redes sociais, alertas em dispositivos móveis).

Todos estes fatores definem em algum grau as possibilidades de receção interativa dos conteúdos pelos utilizadores: seja a partir das possibilidades de navegação e recuperação de conteúdos, seja das alternativas de personalização ou a partir do aspecto visual e estético.

O hipertexto – com as suas estruturas e ligações semânticas – é a principal ferramenta para tecer possibilidades interativas de seleção, embora não a única. a linguagem Xml, por exemplo, está na base de muitos desenvolvimentos interativos de seleção, ao permitir a criação de sites dinâmicos com informação reutilizável que pode ser distribuída por diferentes dispositivos e ambientes. os motores de busca também contribuem para ampliar as possibilidades de acesso. As aplicações de gráficos vetoriais habilitam a criação de animações e infografias nas quais se desdobra uma diversidade de ações sobre os conteúdos.

é interessante advertir, por último, – como o fazem palacios e Cunha (2012) – sobre o campo que se abre com a “tactilidade” que oferecem os ecrãs “multitouch” de telemóveis inteligentes e tablets (também computadores de secretária), que respondem a uma ampla variedade de gestos e operações tácteis e que convidam a explorar novas formas para a apresentação e o consumo de informação. isto também é interatividade seletiva.

se a interatividade seletiva tem que ver com “fazer coisas” sobre os conteúdos no processo de receção, a interatividade comunicativa transcende essa receção individual já que o leitor gera algum conteúdo que se torna público.

a interatividade comunicativa representa as possibilidades de comunicação e expressão que o utilizador tem entre os conteúdos do meio. por meio destas opções interativas, o leitor procura dialogar, discutir, confrontar, apoiar e, de uma forma ou de outra, entabular uma relação com outros (comunicação). em outras ocasiões, apenas pretende expressar uma opinião individual ou dar uma informação mas sem procurar deliberadamente uma resposta ou um contacto bidirecional ou multidirecional com outros indivíduos (expressão). algumas modalidades interativas apontam mais para a comunicação e outras para a expressão individual, mas em ambos os casos o utilizador fornece um conteúdo.

Este tipo de interatividade manifesta-se em opções como: comentários abaixo das notícias, perfis em redes sociais abertas à participação de utilizadores, blogues de cidadãos/as, pesquisas, fóruns, entrevistas a personalidades com perguntas de utilizadores, publicação de endereços de correio eletrónico de jornalistas, ranking de notícias, chats, envio de notícias/fotografias/vídeos, sistemas de correção de notas, entre outros.

há autores que estabelecem outras diferenças dentro do que aqui chamamos interatividade comunicativa. suau e masip (2011) distinguem a “interatividade participativa” da “interatividade produtiva”. na primeira, a contribuição não implica uma criação genuína por parte do utilizador (por exemplo, comentários abaixo das notícias). na segunda, o utilizador produz um conteúdo próprio original (por exemplo, envio de uma estória ou material videográfico para a sua publicação).

Com um enfoque semiótico, raimondo anselmino (2012) diferencia “espaços de intervenção” de “espaços de participação” do leitor. os primeiros são aqueles que se encontram “explorados” ou “penetrados” de alguma forma pela atividade do leitor, com exceção da produção de enunciados (por exemplo,

ranking de notas, pesquisas, denuncia de abusos). os “espaços de participação”

são aqueles onde o leitor pode manifestar-se discursivamente (comentários abaixo das notícias, blogues, redes sociais, páginas de reportagem cidadã, etc.)

o grau de interatividade comunicativa dependerá de fatores como:

• o grau de potencial visibilidade que tenha o conteúdo fornecido pelo utilizador

• o grau de complexidade na elaboração de conteúdos que permite ao leitor o menu de opções interativas disponíveis no meio

• a integração dos conteúdos proporcionados pelo leitor com ou nos conteúdos de atualidade do meio

• o papel do leitor no meio. que papéis, daqueles que os jornalistas ocupam, pode chegar a ocupar o utilizador num jornal digital? pode ser repórter, entrevistador, editor, comentador, editorialista?

estas são, então, as diferenças entre ambas as modalidades da interatividade:

Interatividade Seletiva Interatividade Comunicativa

interatuantes a interação das pessoas com os conteúdos (ou com a máquina ou com o sistema)

interação entre pessoas em que consiste a

interação um indivíduo escolhe uma opção e o sistema responde há emissores e recetores que podem trocar de papéis papel do leitor o utilizador é um recetor (interativo)

de conteúdos o utilizador é também produtor de conteúdos previsibilidade das

respostas número de possibilidades de resposta limitado Infinitas possibilidades de resposta dimensão da

interatividade a participação do leitor não adquire relevância pública: só tem uma dimensão individual

o resultado da participação do utilizador toma uma dimensão pública

Opções interativas Ligações hipertextuais, motores de busca, infografias, modalidades de personalização, rss

Comentários, blogues, fóruns, entrevistas abertas, chats, envio de notas/fotografias/vídeos