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Onde fica o impresso quando não é o primeiro?

Enquanto as empresas de comunicação têm se esforçado para adaptar seus processos de produção ao sistema de publicação multiplataforma, para algumas organizações os prazos finais do impresso e do broadcast tornaram- se problemáticos. alguns editores acreditam que o website pode ficar sem atualizações enquanto os jornalistas voltam sua atenção para o impresso; ou sentem que jornalistas responsáveis pela cobertura de estórias ‘em desenvolvimento’ vivem sob pressão desnecessária para fornecer informação para equipes em várias plataformas.

em alguns casos, publishers decidiram alterar a periodicidade da publicação de diária para semanal – como o The Birmingham Post em 2009 – ou de semanal para mensal – como a Press Gazette fez em 2008 – ou encerrar a publicação impressa. a cobertura online de notícias tem crescido exponencialmente, enquanto a plataforma impressa está sendo usada mais para publicar detalhes e análises.

As hierarquias estão também sendo ‘achatadas’ em especial nas operações

web de forma a permitir maior agilidade do jornalista na publicação. a mudança

para publicação multiplataforma criou a necessidade de múltiplos editores: um para tomar decisões em cada plataforma. O papel tradicional do editor torna-se cada vez mais gerenciar pontos de conflito entre os vários editores de plataformas.

a proliferação de editores no espaço é ainda mais agravado pela semelhante

proliferação de editores no tempo: a permanência de conteúdo online – em

oposição à natureza efêmera de transmissão em TV/rádio e impresso – tem levado o conteúdo a ser revisitado, reapresentado e reordenado na medida em que novos produtos são criados. Estórias criadas agora – e suas informações associadas – devem ser criadas de maneira que os editores futuros, através de plataformas múltiplas, possam facilmente acedê-las para republicação.

Como resultado, algumas organizações de notícias estão adotando estratégias de gestão de conteúdo que separam o conteúdo da plataforma, e adicionam informação ‘meta’ que provê futuros desenvolvimentos editorial e técnico. No

Financial Times e na Sky, a informação é cada vez mais mantida em formato Xml

visando permitir publicação rápida numa ampla gama de formatos dependendo da necessidade editorial. no The Guardian, as tags e apis desempenham papel- chave e no Reed Business Information, eles estão trabalhando num sistema em que diferentes elementos da estória são semanticamente descritos de tal maneira que possam ser combinados em diferentes formas dependendo da plataforma usada para acedê-los. Eles até preferem um menos poderoso – mas flexível – sistema de gestão de conteúdo àquele que poderia até ter mais funcionalidades no contexto atual, mas será menos propenso a se adaptar às mudanças.

o papel da api

a propagação das Application Programming Interfaces (apis)19 pelas empresas de comunicação e pela Web como um todo representa o potencial para mais aceleração na produção de notícias. as apis permitem integração entre diferentes bancos de dados – por exemplo, cruzamento de conteúdo de notícias com outro conteúdo, tal como apresentar notícias mais próximas de onde se encontra o usuário (cruzando uma notícia em API com um mapa em API) ou informações postadas por pessoas dentro do círculo social (ao combinar as notícias em api com api de uma rede social como twitter, linkedin ou facebook).

As APIs introduziram uma flexibilidade muito necessária em publicação multiplataforma, permitindo às empresas jornalísticas adotarem uma abordagem de inovação aberta, beneficiando-se do conhecimento e experimentação dos usuários, fornecedores e outros. um exame sobre o uso das apis por organizações de notícias mostram sua adoção pelo The Guardian, New York

19) nota da tradutora: Application Programming Interfaces (apis) ou interface de programação de aplicativos é o conjunto de rotinas (ou padrões) que especifica como componentes de software interagem uns com os outros. As APIs são usadas como facilitadores da interface gráfica com o usuário.

Times, NPR e USA Today, os quais encontram na tecnologia uma ajuda para

acelerar desenvolvimento de produtos internos e externos – na medida em que “as empresas jornalísticas baseiam-se em experimentos existentes como modelos para explorações próprias”:

“para citar um exemplo, um colaborador externo criou uma api de política para o The Guardian, a qual cobre informação sobre política e eleições no reino unido, além de informação no the guardian data store visando criar um “índice de poder do eleitor”. o índice avaliou a importância de um único voto em determinada região e, assim, indicou se votar faria alguma diferença na alteração da estrutura do poder político. assim, tem-se que apis abertas trazem consigo potencial para novos produtos que podem levar a uma nova perspectiva nos objetivos democráticos, os quais são centrais à função do jornalismo.” (Chesbrough, 2003)

outros exemplos incluem estar apto a construir uma app para ipad “pela fração do custo normal”, e colaboradores externos desenvolvendo produtos para audiência de nicho. Isto também permite aos publishers resolverem o ‘dilema do inovador’ (‘innovator’s dilemma’) (Christensen, 2000) de serem ultrapassados em novos mercados devido ao valor comercial inicial baixo de inovação. a npr, por exemplo, viu 100% de aumento em tráfego por mais de um ano e atribuem- no à api que está sendo usada para as plataformas móveis.20

apis permitem uma colaboração mais rápida dentro da organização e fora destas e com os usuários. em termos mais amplos, a adoção de práticas de desenvolvimento mais ágeis, envolvendo ciclos curtos de produção, onde ao final de cada pequeno pedaço de software terminado, há também incursões em desenvolvimento de app.21

outras vantagens incluem exercer maior controle sobre a forma como o conteúdo é usado, ganhando métricas mais úteis sobre quem está utilizando o

20) http://www.journerdism.com/the-big-winner-at-ona-apis-for-news-organizations/

21) http://www.poynter.org/latest-news/top-stories/119853/key-departures-point-to-4-factors- critical-to-the-future-of-programming-and-journalism/

conteúdo (e como), abrindo novas oportunidades para parcerias e relações de negócios, na medida em que outras empresas sabem que a integração será feita de forma mais fácil pela existência da API.

As APIs aumentam os problemas, especificamente no que tange aos desafios de integração da estrutura tradicional da estória e unidade de artigo com uma estrutura dirigida a banco de dados que requer mais atomização, atualização e manutenção (muitas dessas questões são exploradas na parte em que se aborda ‘Contexto’). Há ainda algumas questões legais sobre direitos autorais de conteúdo assim como de imagem e cópia de notícias.

estes problemas com a estrutura padrão de produção de notícias estão se tornando cada vez mais visíveis na medida em que novas formas de captar, contar e distribuir estórias, emergem no universo. matt Waite, o programador que construiu a premiada pulitzer app de notícias politifact, escreve que “toda esta conversa [sobre] inovação e economia do jornalismo é apenas falação até que os desenvolvedores tenham permissão para ‘entrar’ no cerne de todo o produto:

“enquanto eu estava na st. petersburg times, tivemos esta abordagem de reconstruir o núcleo a partir do zero com o politifact22. Construímos a partir

do zero, aumentando o formulário da estória com banco de dados relacionado com pessoas, tópicos e decisões (entre outros). Adicionamos transparência ao fazer da lista de fontes uma parte indispensável de um item. pegamos as partes atômicas de estória verificada como fato e construímos uma nova molécula com elas. E com esta molécula, construímos uma audiência nacional para um jornal regional e ganhamos o Prêmio Pulitzer.”23

22) http://www.politifact.com/

23) http://www.niemanlab.org/2011/03/matt-waite-to-build-a-digital-future-for-news- developers-have-to-be-able-to-hack-at-the-core-of-the-old-ways/