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o futuro do rápido: a corrida não é para o veloz

talvez o mais interessante dos desenvolvimentos da velocidade em notícias

online seja a forma como as organizações estão tentando ‘casar’ as pressões

de tempo com a real necessidade de ‘fazer’ dinheiro. enquanto os modelos de negócio baseados em publicidade tradicional apoiam-se na audiência – o tamanho da audiência-alvo alcançada – a capacidade de medir a efetividade da publicidade online tem gerado uma pressão diferente.

As audiências não são apenas medidas em termos demográficos e tamanho – mas em engajamento: quanto tempo empregam lendo ou assistindo conteúdo; quantos ‘pedaços’ leem e se comentam ou compartilham a notícia, apenas para mencionar algumas formas de mensuração.

Jornalismo instantâneo pode trazer tráfego, mas se os usuários não se mantêm conectados a este, não irão pagar para ter jornalismo.

uma pesquisa inicial de sonya song sobre o compartilhamento de notícias em redes sociais sugere uma tensão fascinante entre jornalismo instantâneo, que se presta a ser compartilhado nas redes sociais, e o jornalismo mais profundo, que gera o engajamento desejado pelos anunciantes e consumidores. em outras palavras: como criamos jornalismo que as pessoas queiram ler e queiram compartilhar quando a evidência sugere que são duas coisas diferentes?

song baseia-se no trabalho de daniel Kahneman, cujo livro ‘thinking, fast and slow’ explora dois modos de pensamento dos humanos: o sistema 1 refere-se ao rápido, reações inconscientes em nosso comportamento, enquanto o sistema 2 refere-se ao devagar, mas com reações elaboradas. Este ‘rápido’ e ‘devagar’ pensar por parte dos consumidores, argumenta song, resulta em diferentes tipos de atenção.

imagens, mensagens emocionais e formatação como letras em caixa alta ou em texto em negrito, por exemplo, geram rapidamente respostas ‘sistema 1’ de um grande número de usuários que postam ‘like’ ou retweetam – mas não se engajam. ao contrário, textos mais complexos e narrativas com um ponto de vista

24) uma versão anterior deste capítulo foi publicada como parte de A Model for the 21st Century:

‘forçam’ um menor número de usuários ao pensamento consciente (‘sistema 2’) e a engajarem-se mais diretamente com o conteúdo, resultando em comentários.

a solução, ela arguiu, é combinar ambas abordagens em direção ao mesmo objetivo:

“há várias formas de atrair atenção na mídia social. fotos bonitas, mensagens simples e palavras em caixa alta comummente atraem o sistema 1 para alguma atenção inconsciente. para atrair atenção mais consciente e de significado, podemos endereçar surpresas, linguagem sofisticada e pontos de vista em nossas mensagens. ambas abordagens ajudariam a ganhar mais atenção e, assim, mais tráfego na mídia social.”25

enquanto isso, publishers estão migrando sua atenção dos anúncios para fontes múltiplas de receita como eventos, merchandise e assinaturas, já o jornalismo dedicado a artigos longos com bastante conteúdo está desfrutando um período de interesse sustentado. enquanto um destes – os eventos – parece apoiar-se em alguma imediacidade, a maioria das reportagens assume liderança no dias do evento ou após o seu final.

Na medida em que as tecnologias de velocidade têm se tornado disponíveis a sectores mais amplos da população, poderia ser questionado se valores anteriores daquelas tecnologias erodiram. os publishers ainda precisam manter a competitividade em velocidade, mas é pouco provável gerarem receitas significativas. Atualizações de últimas notícias são, em termos econômicos, um produto substituível: intercambiável, não único, e difícil de cobrar para oferecer.

num mundo onde cada um é o primeiro com suas próprias notícias, ‘ser o primeiro a noticiar’ pode, em muitos casos, não ser a fonte de vantagem competitiva para as editoras. enquanto isso, outros primeiros – primeiros em

factchecking (verificação dos fatos) e storytelling – vem à tona.

a velocidade sempre desempenhará um papel importante na distribuição, como demonstra sonya song: esta ‘joga’ com o instintivo, partes inconscientes de nosso comportamento, enquanto a grande reportagem vale nada se ninguém

ouve sobre esta. todavia, a velocidade precisa ser complementada com a profundidade que as pessoas estão dispostas a pagar, seja diretamente por assinaturas e doações, ou indiretamente, via eventos ou filantropia. Como é frequente se ouvir em discussões sobre a nova tecnologia: não é como ter a escolha entre uma coisa e outra, mas sim a habilidade de escolher e combinar velocidade e profundidade no tempo correto com o objetivo certo.

Referências

baresch, b., Knight, l., harp, d. and Yaschur, C. (2011). Friends Who Choose

Your News: An analysis of content links on Facebook. disponível em:

https://online.journalism.utexas.edu/2011/papers/baresch2011.pdf

beckett, C. (2010). The value of networked journalism. the london school of economics and political science

boyd, d. (2010). Streams of Content, Limited Attention: The Flow of

Information through Social Media, Educause Review.

Chesbrough, h. W. (2003) Open Innovation. The New Imperative for Creating and Profiting from Technology. boston, massachusetts: harvard business school press.

Christensen, C. m. (2000) The Innovator’s Dilemma. boston: harperbusiness. ha, l. & James, e. l. (1998). Interactivity reexamined: A baseline analysis

of early business Web sites. Journal of Broadcasting & Electronic Media, 42(4), pp.456-474

hermida, a.; domingo, d.; heinonen, a. a.; paulussen, s., quandt t.; reich, z.; singer, J. b. (2011). The Active Recipient: Participatory Journalism

Through the Lens of the Dewey-Lippmann Debate. disponível em: https://

online.journalism.utexas.edu/2011/papers/hermida2011.pdf

houston, p. (2011). from print to multi-platform, publishing, http://www. inpublishing.co.uk/kb/articles/from_print_to_multiplatform.aspx

[Webjornalismo: 7 caraterísticas que marcam a diferença, pp.137 - 158]

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