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Capítulo 1. Fundamentação e Objectivos

1.4 Estado de Arte

Nem sempre a arquitectura popular foi compreendida como um tema que merecesse aval e preocupação por parte dos arquitectos. No entanto, dos finais do século XIX até à metade do século XX, gerou-se o movimento da Casa Portuguesa, encabeçado por Raúl Lino. Este movimento, que contava com outras personalidades

20, aludia à procura e à afirmação do tipo português de habitação. Aqui catalisavam-se uma

série de características pitorescas e regionais num só conceito, a chamada Casa Portuguesa que deveria caracterizar o país e proliferar em todo o território.21 Este movimento não

arrancou boas reacções da parte de todos aqueles que reconheciam e defendiam a diversidade da arquitectura popular nacional.

20 Além de Raúl Lino, também integravam o movimento da Casa Portuguesa, Henrique das Neves

(militar), Rocha Peixoto (antropólogo), Joaquim Vasconcelos e João Barreira (historiadores), Abel Botelho (ensaísta), Guilherme Gomes, José Teixeira Lopes, Jorge Segurado, Vasco Regaleira, Carlos Ramos e Crsitino da Silva (arquitectos).

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Em 1945, Fernando Távora escreve O Problema da Casa Portuguesa,22 um manifesto cujo

objectivo seria combater a tentativa de institucionalização de um protótipo de Casa Portuguesa, explicando a multiplicidade de regionalismos existentes no país e a importância da sua salvaguarda. Em 1947, Keil do Amaral redige Uma Iniciativa Necessária,23 apoiando a

linha de pensamento de Távora.

Neste tempo cronológico distinguem-se, de um lado, um grupo de arquitectos conservadores, fechados à introdução do modernismo em Portugal, e do outro lado, uma nova geração de arquitectos que lutavam pela afirmação do modernismo no nosso país, tendo em conta que Portugal não acompanhava a evolução da restante Europa.24

Para toda a nova geração de arquitectos, da qual Fernando Távora e Keil do Amaral faziam parte, a arquitectura popular era em muito semelhante à arquitectura moderna, pois ambas detinham princípios de funcionalidade simples, prontos a servir o homem de acordo com as suas necessidades, e de fusão com o meio envolvente.25 Estava assim lançado o mote para um

daqueles que, até agora, é um dos livros senão o mais representativo da arquitectura popular em Portugal. O Sindicato Nacional dos Arquitectos, dos anos 50 para os 60, promoveu a realização do Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal,26 colocando Távora, Keil do

Amaral e outros da sua geração na senda de um exaustivo levantamento da arquitectura popular. Com isto a diversidade do país seria sublinhada e explicada em dois volumes, que até então têm vindo a ser constantemente reeditados. Este livro foi contra a Casa Portuguesa e o seu sucesso tem vindo a ser enorme. Estes foram dois momentos preponderantes na elevação da temática da arquitectura popular. Desde então alguns estudos vêm sendo elaborados com forte base no Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal.

Já na década de 30, o Instituto Superior de Agronomia havia realizado o Inquérito à Habitação

Rural,27 este porém, com um teor mais inquisitivo, onde a principal preocupação era saber as

condições de vivência das famílias nas habitações rurais, expondo problemas e possíveis soluções de 80 casos minuciosamente estudados. Junto com o Inquérito à Arquitectura

Popular em Portugal, pode-se dizer que o Inquérito à Habitação Rural seria um complemento.

Entre as décadas de 50 e 70 alguns antropólogos também se mostram interessados na temática e, mais tarde, Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano lançam um manual da

22https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/24401/1/FERNANDO%20T%C3%81VORA%20De%20O%20P roblema%20da%20Casa%20Portuguesa%20ao%20Da%20Organiza%C3%A7%C3%A3o%20do%20Espa%C3%A7o..p df; p.35 (consultado a 13-09-2014; às 10:46h) 23http://fims.up.pt/ficheiros/LivroFinalConferencias.pdf; pp.5-6 (consultado a 13-09-2014; às 11:15h) 24 https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/24401/1/FERNANDO%20T%C3%81VORA%20De%20º %20Problema%20da%20Casa%20Portuguesa%20ao%20Da%20Organiza%C3%A7%C3%A3o%20do%20Espa%C3%A 7o..pdf; p.15 (consultado a 13 -09-2014; às 10:46h) 25 Idem; p.25 26 https://sapientia.ualg.pt/bitstream/10400.1/2084/1/Surveys_VR_JA_MRC_portug.pdf; pp.2-3 (consultado em 13-09-2014; às 11:28h) 27 http://fims.up.pt/ficheiros/LivroFinalConferencias.pdf; pp.9-10 (consultado a 13-09-2014; às 11:15h)

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Arquitectura Tradicional Portuguesa,28 em 1992, compilando a descrição da arquitectura

popular existente como fundamento de um estudo etnográfico e antropológico. Muitas outras obras que compilam exemplos de arquitectura popular, abordando o cariz etnográfico, geográfico, antropológico ou meramente descritivo, têm sido realizadas, tal como Mário Moutinho e a Arquitectura Popular Portuguesa; Portugal, Arquitectura e Sociedade de Carlos de Almeida, entre outras. A maioria das obras debruçam-se no país como um todo, não indo detalhadamente às regiões e abordando as suas cambiantes entre fronteiras.29

O tema escolhido para esta dissertação, expondo a Arquitectura Popular de Entre-Douro-e- Vouga, não teve ainda qualquer tipo de tratamento em específico. Mesmo falando de uma pequena sub-região do país, o que diminui as chances de incidência de um estudo particular, nota-se que as abordagens ao território do Douro Litoral e da Beira Litoral são muito parcas. Recentemente, no ano de 2013, foi realizado o Colóquio Internacional de Arquitectura Popular, em Arcos de Valdevez. Neste colóquio, apenas uma sessão dirigida por José Francisco Ferreira Queiroz, abordou de leve modo alguma da arquitectura que podemos encontrar nas proximidades de Entre-Douro-e-Vouga. O tema era “Villas”, Quintãs e Casais;

Aldeias, Lavouras e Montados: Diacronia e Sincronia na Organização Territorial do Douro Litoral.30 Embora se pudessem recolher alguns dados de referência, por intermédio desta

informação, o colóquio não expôs nenhum tratamento sobre a arquitectura deste local em concreto.

Sendo este um tema novo, no sentido literal, continua não sendo uma novidade, pois bebe de diversas fontes da arquitectura popular portuguesa. Como a informação sobre arquitectura popular não abunda, apesar de já ser notória a relevância do assunto para a contemporaneidade, as recolhas de informação advêm dos casos que já foram anteriormente mencionados e que, tal como o frisado, continuam a ser imensamente respeitados e seguidos por todos os estudiosos. Quiçá, ‘Bíblias’ da arquitectura popular de Portugal.

28 http://fims.up.pt/ficheiros/LivroFinalConferencias.pdf; pp.9-10 (consultado a 13-09-2014; às 11:15h); pp.11-12 29 http://www.arquitecturadouro.blogspot.pt/2007/12 (consultado a 14-09-2014; às 13:33h) 30 https://www.sites.google.com/site/coloquioarquitecturapopular/ (consultado a 14-09-2014; às 13:41h)

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No documento Arquitectura Popular de Entre-Douro-e-Vouga (páginas 33-36)

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