• Nenhum resultado encontrado

Estado, feminismo e transversalidade do gênero nas políticas

Algumas reflexões são extremamente importantes e somente mencionadas pelas entrevistadas dos CCM.

Interessante, entretanto, que não há somente consensos nas entrevistas realizadas nos CCM. Sob distintos pontos de vista ocorre a identificação do movimento feminista, há um posicionamento que defende que os movimentos feministas estão distanciados das reais necessidades das mulheres e outro que defende que o movimento feminista possui reivindicações mais bem elaboradas:

destacou-se essa questão brigando por um salário que é desigual, na saúde a mulher ter o direito de querer ou não querer ter um filho, e aí destacou-se a questão do aborto. Eu acho que a questão de políticas para as mulheres, principalmente nas conferencias, vai muito desses movimentos das mulheres que ficam, só fazendo isso, então a Marcha Mundial das Mulheres a Marcha das Margaridas, elas só fazem isso...elas tiraram coisas mais amplas que já vem sendo discutidas a um tempão mas na verdade todos esses movimentos não pegam as mulheres no dia a dia, isso não é falar, não é só fazer movimento... porque geralmente que faz, quem pensa as políticas públicas não estão lá na base, então não sabe da necessidade. (Entrevistada CCM 2)

Olha, eu acho que o momento da conferência é um momento em que você vê o movimento de mulheres organizado. Nós tivemos mesmo a presença de várias entidades feministas, e

94 que é muito importante, porque vamos. dizer assim: qualifica o debate, né? Já tem uma pauta mais substanciosa para apresentar as críticas. (Entrevistada CCM 3)

A oposição entre os dois pontos de vista é interessante, pois revela uma disputa ideológica que perpassa todas as discussões referentes às políticas para as mulheres. Do nosso ponto de vista não se trata de discutir coisas amplas mas sem importância, são questões referentes à autonomia de todas as mulheres, e que neste caso não são elencadas por ordem de importância. Considerando que o movimento feminista é composto por diversas correntes, sinal de pluralidade e democracia, defendemos a ideia de que se faz necessário refletir sobre a que interesses está submetido o argumento de que o movimento feminista não atende à necessidades de todas as mulheres.

Outras reflexões apresentam maior nível de consenso. Algumas que se inserem na leitura da ausência do Estado sob a perspectiva de gênero, o que poderia justificar a falta de credibilidade, nas políticas de Seguridade Social.

Uma delas está relacionada às Conferências de Políticas para as mulheres e ao II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (II PNPM), ambos são frutos de reflexões realizadas em todo o território brasileiro, que traçam objetivos, prioridades, metas e ações para as esferas nacional, estadual e municipal. Os depoimentos mencionam que existe uma grande dificuldade em efetivar as propostas oriundas das conferências, como no trecho abaixo em que a entrevistada cita a conferência de âmbito municipal:

Na nossa conferência de políticas para as mulheres em setembro do ano passado, tem lá um monte de demandas, do Trabalho, da Assistência, da Saúde, e a gente não consegue levar isso oficialmente numa discussão em nível de secretários, e que inspire os planos de trabalho, as políticas de cada um. Não estou dizendo que eles não façam questões para as mulheres, fazem. Por exemplo, a Saúde, tem a Saúde da Mulher, mas não é algo que a gente tenha ainda alguma articulação, que seria o avanço, que viria a dar um salto de qualitativo que a gente deveria dar. Na Assistência, ainda o foco é a família. (Entrevistada CCM 3)

95 É relevante destacarmos que a entrevistada se refere à dificuldade de efetivação das propostas no âmbito municipal. Em outro trecho ela argumenta que “níveis de decisão”, não estão sensibilizados para esta questão de gênero. Intrigante perceber que o Estado que realiza as conferências é o mesmo que as negligencia, pulverizando suas ações e ignorando a transversalidade da questão de gênero presente nas propostas oriundas das conferências.

Recorrentemente argumentam que não há avanços no que diz respeito às questões apontadas nas conferências:

eu vi nas conferências, tanto na municipal quanto na federal sempre martelando na mesma coisa. (Entrevistada CCM 2) Eu acho que a conferência.se fosse assim maciçamente mesmo, as mulheres poderem participar e depois ter uma cobrança. Não é só propor, não é só para que as propostas da conferência, mas que aquelas propostas sejam colocadas em prática. (Entrevistada CCM 1)

mas você pode ver mesmo pelas conferências, a gente continua com as mesmas demandas (...) Então vou te dizer que das duas últimas conferências está praticamente tudo igual as demandas, e a gente não avançou porquê? A gente precisa ter instrumentos, e eu acho que se a sociedade civil não se organizar, se não tiver isso como pauta cobrar o poder publico, vamos dizer assim, vai retardando isso porque é assim que funciona, sobre pressão mesmo. (Entrevistada CCM 3)

Neste último fragmento a entrevistada identifica a recorrência de demandas, a carência de avanços e atribui a estagnação, à ausência de mecanismos de cobrança e controle social. Reconhece, como mencionamos anteriormente, que para o atendimento deste tipo de demanda, a ação do Estado somente ocorre sob pressão.

No trecho abaixo, identificamos uma leitura do momento político e de como isso se reflete, sob a perspectiva de gênero, na deficiência de mecanismos que determinem a efetivação de políticas que busquem a diminuição e eliminação das desigualdades vivenciadas pelas mulheres:

96 Mas a gente vê, como eu acho que é o movimento político em geral, pouca politização para essas questões no nível local, aqui eu acho bastante frágil nesse ponto, mas eu acho que é até reflexo do momento do país, uma mobilização muito frágil, politicamente falando, porque fica difícil saber que canais são abertos para esse tipo de discussão, e a conferência é um momento especial para isso, estão lá o governo e a sociedade civil, você tem lá aquele rol de demandas, mas se você não tem um prosseguimento daquilo, aquilo vai se esfriando e quando você vê já passou outros três anos, quatro anos, e ai existe um movimento de critica, um movimento organizado de crítica muito forte, mas não de instrumento de controle social, então acho que isso a sociedade civil teria que melhorar para nos cobrar enquanto poder público aquilo que foi colocado. (Entrevistada CCM 1)

A entrevistada argumenta que o espaço das conferências constitui lugar de diálogo e de construção coletiva, que não se materializa em políticas públicas. Neste sentido, desdobra-se o argumento de que os serviços públicos não tem reconhecimento da perspectiva de gênero, como os apontamentos identificados nos três CCM:

Não gosto de generalizar mas na maioria o olhar tem sido sem...Não tem sido tendencionado ao gênero, tem sido a questão patriarcal, a coisa de moralizar, a coisa de que tem que analisar a mulher. (Entrevistada CCM 1)

Acredito que ainda não tenha essa clareza, a gente é que tá colocando isso como perspectiva, a partir da existência do CCM ele tenta fazer esse diálogo, apresentar isso a partir de problemas ou de questões que vão aparecendo na própria rede, quando a gente vai se posicionando diante de alguns problemas, por exemplo, ai a gente vai colocando esta perspectiva, mas assim enquanto diretriz de política a gente não percebe, a gente é que vai colocando e quando tem situações concretas, a gente atua em nível local (...) E é aí que eu vejo que há uma resistência, que vai além de diretrizes de políticas, falta isso, mais claro, ter a clareza nas políticas sociais que tem que ter a perspectiva de gênero. (Entrevistada CCM 3)

Nós trabalhamos com gênero, a gente entende que tem que fazer esse corte porque senão a gente não se aprofunda em nada, mas isso é porque somos nós, toda a nossa volta, toda a nossa rede, não entende a questão de gênero, e aí quando

97 você procura algo que seja para a mulher você não encontra.(Entrevistada CCM 2)

A respeito da dificuldade de estabelecer a intersetorialidade, uma das entrevistadas aponta que a existência de um organismo de políticas para as mulheres – nesse caso a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), que em âmbito Nacional atua com status de Ministério – não se converte em transversalização da perspectiva de gênero nas políticas públicas.

Agora, aí entraria, para completar e ter a perspectiva de gênero, sem a intersetorialidade não dá. Não adiantaria dizer que só vai resolver ter uma secretaria da mulher, seria importante, seria um avanço. Como foi ter uma Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres? Foi um avanço, incrível, porque conseguiu dar diretrizes conseguiu ter uma ação, porque ela tem ação com os ministérios, mas isso o que acontece já lá, e que a gente sabe que também não é fácil, mas que acontece em algum nível teria que descer pra outros níveis para os estaduais e para os municípios. E aí precisamos ver, nessa hora, nos planos de meta dos governos municipais. E que aqui em São Paulo tem que ter uma lei com metas, o Prefeito tem que nos primeiros três meses, apresentar as metas do seu mandato. E nas metas do mandato anterior não tem nenhuma na perspectiva de gênero. Não tem nenhuma. (Entrevistada CCM 3)

O trecho acima evidencia uma importante constatação: a ausência de compromisso dos últimos governos com a busca de eliminação ou diminuição das desigualdades de gênero. Quando isso fica nítido podemos compreender a dificuldade em realizar a transversalização da perspectiva de gênero, podemos identificar as bases da falta de compreensão a respeito da perspectiva de gênero identificada nos serviços de Seguridade Social. Mas, mais do que isso identificamos o interesse subjacente à este posicionamento. Ao negar a importância da questão de gênero, o Município adota definitivamente a postura de reiteração das desigualdades de gênero. Ao negligenciá-la, reproduz e agudiza o abismo relacionado ao acesso a direitos pelas mulheres.

98

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o presente trabalho não temos a pretensão de esgotar todas as possibilidades de uma temática tão rica. Mas somente deixar nossa contribuição para a construção de uma sociedade equânime e livre para todas as pessoas, mulheres, homens e aquelas pessoas que não se encaixam em moldes pré-determinados. Defendemos, portanto, que a felicidade, a liberdade e a afetividade são inerentes a todas e todos!

Pedimos a/ao leitora/leitor que nos permita tecer algumas considerações importantes antes de trilharmos o caminho das reflexões finais.

Sob a perspectiva de gênero, temos a dizer que há avanços significativos, mas também não há tanto o que comemorar, temos enfrentado grandes investidas de um ideário que busca estabelecer um saudosismo, relativizando experiências como se no passado não houvessem diversas desigualdades, inclusive a de gênero.

Em nossa experiência profissional, recorrentemente ouvimos o argumento de que as mulheres eram mais respeitadas no passado, e de que a liberdade vivida pelas mulheres na contemporaneidade nada deve às mulheres feministas.

Estas considerações são pano de fundo para ilustrarmos que as desigualdades de gênero são invisíveis no passado, permanecem em grande parte invisíveis hoje, e, se não tomarmos providências, assim será no futuro. Se podemos estabelecer o presente diálogo, ele está diretamente relacionado às mulheres que o iniciaram e lançaram as bases de nossa discussão, mas isso não é reconhecido todo o tempo por todas as pessoas. Desejamos que nossa voz possa se unir à de muitas mulheres que fizeram sua parte na construção de uma sociedade totalmente livre.

99 Na presente pesquisa, procuramos identificar se há apreensão da perspectiva de gênero nas políticas de Seguridade Social, e como essa apreensão se materializa em ações que busquem superar a desigualdade de gênero. Para considerarmos que uma política é dotada de perspectiva de gênero, é necessário que ela reconheça a desigualdade de gênero e adote medidas para combatê-la em suas bases, com o objetivo de superá-la.

Nossa percepção é a de que quanto maior a retração do Estado nas áreas sociais, maiores são as responsabilidades repassadas para as famílias, e essas responsabilidades recaem sobre a mulher.

A recuperação da família como lócus de ação das políticas públicas atende a necessidades da sociedade patriarcal/capitalista, que reitera e reproduz a subordinação/dominação das mulheres, sob o que denominamos reconhecimento subordinante.

A ideia de família em transformação, diversa e plural, não está alheia a estas determinações e ao reproduzir-se reitera as desigualdades de gênero nos moldes tradicionais de papéis de gênero. No mesmo caminho atuam as políticas públicas analisadas, na medida em que elas estão baseadas em determinações subjacentes à lógica capital/patriarcado.

Assim, a adoção da perspectiva de proteção social da família constitui fator relevante para a reiteração dos papéis socialmente e sexualmente atribuídos às mulheres, constituindo importante ferramenta de manutenção da exploração/subordinação/dominação das mulheres.

Na Saúde, as mulheres figuram como mães, ou potencialmente mães. Os programas de saúde da mulher citados referem-se à sua saúde reprodutiva. Sob a alegação da universalidade, negam-se a forma como a desigualdade de gênero se condensa no ingresso ao serviço de saúde e a influência das desigualdades de gênero nos perfis epidemiológicos. Essa negação se identifica, por exemplo, no não reconhecimento de que as mulheres estão submetidas à dupla, tripla, diversas jornadas de trabalho que se materializam em sobrecarga física e emocional e que isso pode se converter em processos de adoecimento.

100 Na Assistência Social, a centralidade familiar ou a matricialidade familiar consiste em armadilha para as mulheres na medida em que elas passam a ser reconhecidas como integrantes de um grupo familiar, gerando invisibilidade das relações de poder inerentes às relações familiares, que invariavelmente resultam na subordinação da mulher que sucumbe à realização de seu papel de mãe, esposa, e cuidadora.

O argumento de que a Assistência Social reconhece a família sob uma perspectiva plural e diversa não retira a carga/responsabilidade de cuidado de que todas as mulheres são cobradas.

Outra questão a ser considerada no âmbito da Assistência Social, é relativa a programas de transferência de renda, operacionalizados nos serviços pesquisados e que são focalizados nas mulheres. Compreendemos que esta focalização corresponde à reiteração e reprodução de papéis socialmente atribuídos às mulheres, portanto cabe afirmar que programas/projetos/ações e atividades para mulheres não são sinônimos de programas/projetos/ações e atividades de gênero.

Em relação à Previdência Social, em que a proteção social é vinculada à lógica do seguro social e que, de acordo com o site do Ministério da Previdência Social, constitui-se no “Seguro social do Trabalhador e de sua família”, pressupondo que o alvo principal da política previdenciária é o homem trabalhador, de fato historicamente é maior o acesso dos homens à aposentadoria por tempo de contribuição – modalidade de aposentadoria que pode ser financeiramente mais vantajosa do que a aposentadoria por idade.

No entanto, precisamos considerar que a inserção na política previdenciária é realizada de duas formas: uma na condição de segurado ou segurada, aquela pessoa que estabelece um vínculo com a Previdência Social por meio de um trabalho formal, ou aquela pessoa que realiza a inscrição na previdência como contribuinte facultativo, empregado doméstico, empresário, ou ainda como segurado especial – note-se que esta é denominação utilizada pelo Ministério da Previdência Social, em que se utiliza a desinência “o” ou a flexão gramatical de gênero “masculino” como pretensamente universal. A

101 outra forma de inserção é como dependente de segurado, havendo aqui uma distinção importante de classes de dependentes, sendo que uma classe exclui o direito da outra13.

Como mencionamos, os homens constituem maioria nos casos de aposentadoria por tempo de contribuição, e isso é reflexo de uma inserção subordinada e não formal das mulheres no mercado de trabalho, ou ainda consequência de que as mulheres por muito tempo ficaram confinadas ao âmbito de seu lar.

Recentemente foi criada a “contribuição do segurado facultativo de baixa renda”, que ficou conhecida como “contribuição da dona de casa”14. Apesar de

o quadro de inserção das mulheres no mercado de trabalho formal ser em alguns pontos distinto do que foi no passado, o Estado adota medidas que estimulem a contribuição previdenciária nos casos em que elas permanecem no âmbito do lar, ou seja, flexibilizou-se a possibilidade de inclusão destas pessoas sem distinção de gênero.

Esse panorama foi traçado porque o acesso à política previdenciária está diretamente relacionado ao mercado de trabalho. No capitalismo, especialmente em tempos de crise do capital, mas também em condições naturais do capitalismo, o mercado de trabalho é sistematicamente desregulamentado, as oportunidades formais de trabalho dão lugar a trabalhos parciais, flexíveis, subcontratados e muitas vezes realizados em domicílio, é nesses espaços que muitas mulheres são incorporadas ao mercado de trabalho. As formas de trabalho flexibilizadas, precárias, parciais foram identificadas quase unanimamente durante as entrevistas como as mais acessíveis para as mulheres usuárias dos serviços entrevistados. Logo, se as mulheres têm salários menores, ou se há discriminação de gênero nos postos

13 Classe 1 , companheiro(a) e filhos menores de 21 anos ou inválidos, desde

que não tenham se emancipado entre 16 e 18 anos de idade; Classe 2 Pais, Classe 3 Irmãos não emancipados, menores de 21 anos ou inválidos.

14 Contribuição previdenciária referente à 5% do salário mínimo, o menor

percentual possível. Destinada a pessoas que se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito do próprio lar e desde que a renda familiar não ultrapasse dois salários mínimos.

102 de trabalho, ou ainda se as opções de trabalhos são majoritariamente informais, isso incidirá diretamente sobre a possibilidade de acessar a previdência.

Entretanto, identificamos algumas medidas que podem vir a configurar a política pública previdenciária como política com perspectiva de gênero. Não é possível afirmar que as medidas se converterão em ingresso equânime, mas há indicativos a serem refletidos.

Um deles é a implantação de ações regressivas obrigando o agressor a restituir todo o montante destinado ao pagamento de benefícios previdenciários nos casos em que há afastamento do trabalho por parte da mulher – de forma temporária ou permanente – em razão da violência doméstica. Vemos, ainda, que apesar de também conter características ambíguas, uma das tendências da apreensão da perspectiva de gênero se dá no reconhecimento de que, apesar da expectativa de vida ser maior, as mulheres têm maior carga de responsabilidade ao acumular diversas jornadas de trabalho, o que justificaria a aposentadoria cinco anos antes em relação aos homens.

Por outro lado, há dimensões que são aparentemente neutras, mas que escondem mecanismos que reproduzem as desigualdades de gênero. Dentre as pessoas que trabalham como “empregados domésticos” a prevalência é de mulheres, e este é um mercado ainda pouco regulamentado que determina diretamente o acesso destas mulheres a direitos previdenciários. Outra dimensão está na distinção de papéis socialmente atribuídos, por exemplo, com relação ao salário maternidade, que, sendo destinado às mulheres, impede que a família decida quem prestará os cuidados às crianças (decorrente do nascimento ou adoção), como seria no caso de uma licença parental, onde tanto o homem quanto a mulher podem acessá-la.

De modo geral, não podemos afirmar que a política previdenciária adote a perspectiva de gênero, pois é justamente essa suposta neutralidade que esconde mecanismos que reproduzem as desigualdades. Como apontamos, algumas medidas tem sido tomadas e podem converter-se em medidas que

103 adotem a perspectiva de gênero, mas esse é apenas um apontamento, não se constitui em afirmação.

Pedimos licença para fazermos uma citação que, apesar de longa, representa nossa compreensão a respeito das políticas de seguridade pesquisadas:

Los programas mencionados privilegian las funciones reproductivas de las mujeres en su calidad de esposas y madres, utilizándolas como “correas de transmisión” para mejorar el nivel de calidad de vida de sus familias y de toda su comunidad. Al estar ausente el planteo de la desigualdad de género, no hacen más que sobrecargar a la mujer con tareas productivas que reproducen y perpetúan la división sexual del trabajo y atomizan su poder en el proceso de la toma de decisiones…No escapan a esta lógica que suponen aumentar el ingreso de las mujeres pero no por su calidad de ciudadanas, sino por su calidad de madres o “jefas de hogar”, ya que los requisitos para acceder a los subsidios y becas, asi como las contraprestaciones (en materia de salud y educación de sus hijos) no hacen más que reafirmar la distribución sexual del trabajo al interior de la familia que carga a la mujer con la “doble tarea” reforzando el rol tradicional de dominación