• Nenhum resultado encontrado

O Índice de Divulgação de Práticas de Compliance Anticorrupção (IDPCA) foi composto por 25 itens os quais foram codificados a partir das informações disponibilizadas pelas empresas da amostra nos Códigos de Conduta, Manual Anticorrupção e nos Formulários de Referência. A pontuação obtida por cada empresa foi transformada em um índice de 0 a 1, mediante a soma do total de itens divulgados divididos por 25 (total de itens no índice), onde valores mais próximos de 1 significam melhores níveis de divulgação de práticas de compliance anticorrupção.

Para validação da consistência interna do índice desenvolvido relativo a divulgação de práticas de compliance anticorrupção, foi aplicado o teste de Alfa de Crombach. O resultado obtido foi de 0,82, indicando grau de confiabilidade do instrumento adequado para a pesquisa, pois valores acima de 0,60 são aceitáveis para validade de instrumentos em ciências sociais (Hair et al, 2009). É importante ressaltar que os testes estatísticos não indicaram que a exclusão de algum item do índice pudesse alterar significativamente a confiabilidade dessa medida. Na Tabela 1 apresenta-se a estatística descritiva do índice, segregando as práticas em prevenção, detecção e mitigação.

Tabela 1:

Estatística descritiva do IDPCA

Medida Estatística IDPCA Prevenção Detecção Mitigação

Média 15,25 8,83 3,42 3,00 Média Percentual 62,42% 58,87% 68,40% 60% Desvio-Padrão 4,45 2,39 1,44 1,29 Coef. de variação 0,29 0,27 0,42 0,43 Mínimo 3 3 0 0 Mediana 16 9 4 3 Máximo 23 13 5 5 Observações 100 100 100 100

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

A partir da estatística descritiva da Tabela 1, observa-se que a média de divulgação do IPDCA foi de 15 itens, sendo a menor divulgação de apenas 3 itens e a máxima de 23 dos 25 itens que compõem o índice. As empresas que apresentaram maior divulgação foram a JSL (49) e a Natura (64). Por outro lado, a empresa CR2 Empreendimentos Imobiliários (21) apresentou menor divulgação na amostra, evidenciando apenas 3 itens dos 25, conforme apresentado na Figura 12. O coeficiente de variação inferior a 0,30 indica que os dados apresentados são homogêneos (Fávero et al, 2009), o que pode ser atribuído ao IDPCA, sendo essa homogeneidade verificada também nos itens relacionados a prevenção da corrupção.

Figura 12. Divulgação do IDPCA nas empresas da amostra Fonte: Elaborado pela autora.

No geral, a divulgação das práticas de compliance anticorrupção mostrou-se heterogênea, conforme apresentado na Figura 12. Algumas empresas apresentaram divulgação acima da média, o que pode ser reflexo do setor de atuação, tal como ocorre com os setores mais regulados da economia, sendo que tais características não foram contemplas no presente estudo. Na Figura 13 evidencia-se os 25 itens que compuseram a métrica.

Figura 13. Divulgação dos Itens do IDPCA Fonte: Elaborado pela autora.

Em função dos critérios para codificação, cada item da métrica recebeu uma pontuação que varia de 0 a 100 pontos, onde 0 indica que nenhuma empresa divulgou tal informação, enquanto 100 implica divulgação por todas as empresas da amostra para o referido item. Os quesitos 7, 11 e 13 apresentaram a menor divulgação de informações apresentadas no índice. Por outro lado, os quesitos 3 e 14 alcançaram o maior nível de divulgação dentre os itens que compõe a métrica.

De acordo com a literatura, a implantação de práticas de compliance anticorrupção envolve a adoção de práticas de prevenção, detecção e mitigação da corrupção (Ubaldo, 2017; Silva, 2018). As práticas de compliance para prevenção da corrupção foram segregadas em: Apoio da Administração (itens 1 e 2), Código de Conduta (itens 3, 4 e 5), Comunicação (itens 6, 7 e 8), Treinamentos (itens 9, 10 e 11) Due Diligence (itens 12 e 13) e Cláusulas nos Contratos (itens 14 e 15). O total da divulgação desses itens encontra-se demonstrado na Figura 14.

Figura 14. Divulgação das práticas de prevenção da corrupção do IDPCA

Fonte: Elaborado pela autora.

Observa-se que o item da métrica que monitorou se a empresa possui comitê ou conselho formal responsável pelo compliance aponta que já foi implantado em grande parte das empresas, com o objetivo de apoiar gestores e equipes na disseminação do programa de integridade. A adoção de Código de Conduta (itens 3, 4 e 5) também está presente em grande parte das empresas analisadas, corroborando com o entendimento de Gordon e Miyake (2001), os quais analisaram como as entidades formulam os seus compromissos anticorrupção e identificaram que muitas criaram códigos de ética. A Figura 14 também mostra que a Comunicação e o Treinamento (itens 6 a 11) ainda são informações pouco exploradas e divulgadas pelas empresas, ratificando o entendimento de Clayton (2013) de que muitas empresas possuem políticas e procedimentos anticorrupção implementados, no entanto a forma de comunicação não é eficaz e os treinamentos são inadequados.

Quanto as práticas de Due Diligence, que trata de uma avaliação de risco prévia a uma contratação ou outra forma de negócio em que tenha um relacionamento jurídico e comercial entre as partes, observa-se por meio da Figura 14 que é explorada no âmbito da contratação de fornecedores (Q12). No entanto, quando se trata de contratação de terceiros, ainda é uma prática pouco adotada e divulgada pelas empresas. Esse posicionamento ratifica a ideia de Ubaldo (2017) no que se refere ao interesse das organizações em buscar, por meio dessa prática, saber quais são os históricos comerciais do seu parceiro, qual a sua estrutura administrativa e societária bem como se este já esteve ou se encontra envolvido em atos de corrupção.

Além disso, a inserção de cláusulas de compliance nos contratos (itens 14 e 15) ocorre na maior parte das empresas. Nesses casos, o foco concentra-se em excluir ou minimizar a responsabilidade organizacional, embora tais atividades não conduzam os terceiros a serem éticos e íntegros (Mendes & Carvalho, 2017). Observou-se que a finalidade dessa prática é a de facilitar o cancelamento do contrato, caso a outra parte cometa algum delito, o que revela proteção à empresa, conforme aponta Silva (2018). Em relação às práticas de compliance para Detecção da Corrupção, estas foram segregadas em: Auditorias Internas (itens 16 e 17) e Canal de Denúncias (itens 18, 19 e 20), conforme apresentado na Figura 15.

Figura 15. Divulgação das práticas de detecção da corrupção do IDPCA Fonte: Elaborado pela autora.

Os resultados mostram que a auditoria interna (itens 16 e 17) é uma ferramenta utilizada na detecção e combate à corrupção em um número razoável de empresas, examinando processos e procedimentos que têm como finalidade a proteção dos ativos e a condução ordenada dos negócios, conforme menciona Costa e Wood Júnior (2012) e Silva, Braga e Laurencel (2009). No entanto, não é possível afirmar se as empresas que não divulgaram tal informação tem esse recurso disponível, mas não evidenciou nos seus relatórios ou se realmente não fazem uso dessa ferramenta.

A maioria das empresas utiliza o canal de denúncias (itens 18, 19 e 20) para auxiliar na identificação de atos fraudulentos e corruptos. Esses achados contribuem com Kaplan et al. (2009), os quais apontam que um dos mecanismos de destaque para a gestão de fraudes e problemas de compliance tem sido a disponibilidade de um canal de comunicação anônimo.

Quanto às práticas de compliance para mitigação da corrupção, estas foram segregadas em: Investigação Interna (itens 21 e 22), Medidas Punitivas (itens 23 e 24) Divulgação dos Resultados da Investigação (item 25), conforme demonstrado na Figura 16.

Figura 16. Divulgação das práticas de mitigação da corrupção do IDPCA

Fonte: Elaborado pela autora.

Em relação a Investigação Interna (itens 21 e 22), 89 empresas divulgaram que investigam situações que possam representar conflito de interesses, tais como parentes empregados na mesma organização. Em decorrência de irregularidades identificadas, apenas 38 empresas afirmam que modificam os procedimentos previamente estabelecidos, modificando também os programas de treinamento e educação.

Quanto às Medidas Punitivas (itens 23 e 24), a maioria das organizações contemplam medidas disciplinares apenas para os seus empregados, incluindo advertências e até demissões, dependendo da gravidade da ocorrência, sendo que em 54 delas há previsão de sanções também para os seus parceiros comerciais, tais como o encerramento do contrato. Esses achados estão em conformidade com Silva (2018), o qual apontava a adoção de medidas disciplinares no caso da ocorrência de um ato que viole as especificações do programa de compliance, tais como repreensão verbal, advertência por escrito, transferência de função e departamento e até demissão do empregado.

Acerca da Divulgação dos Resultados da Investigação (item 25), apenas 33 empresas da amostra adotam essa prática por meio de acompanhamento do denunciante através do canal de denúncias, do status do incidente. Desse modo, é possível verificar qual as ações adotadas pela

entidade diante de tal ocorrência, o que já era visto para Ubaldo (2017) como uma divulgação a ser feita acerca dessas investigações internas.

Analisando a divulgação por tipo de prática, observou-se que houve um equilíbrio de modo que as práticas de prevenção, detecção e mitigação da corrupção tiveram, respectivamente, divulgação de 58,87%, 68,40% e 60%. Entretanto, analisando apenas as informações divulgadas, observou-se que 57,90% correspondem as práticas de prevenção da corrupção, 22,43% correspondem as práticas de detecção e 19,67% referem-se as práticas de mitigação. Tal resultado mostra predominância de práticas de prevenção da corrupção, o que pode representar um efeito da construção do índice, que incluiu maior número de itens relativos a essa categoria em virtude da literatura apontar como a área de maior interesse relativa ao combate de atos fraudulentos e ilícitos (Weber &; Gillespie, 1998; Weber & Wasieleski, 2013).