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Estatuto dos Benefícios dedicados às PME

5. Os Benefícios e Auxílios de Estado na União Europeia

5.2 Estatuto dos Benefícios dedicados às PME

Os benefícios específicos dedicados às PME presentes no Estatuto dos Benefícios Fiscais (EBF) são concretizados e estipulados não só neste diploma, como no decreto-lei de constituição de determinados benefícios nº 372/2007 que consubstanciam a dedução dos lucros retidos e reinvestidos no spread especial para juros e outras formas de remuneração convencional do capital social nos traduzidos na opção pelo regime

97 São aprovados com o “objectivo de incentivar investimento em determinados sectores ou em

determinadas regiões, os Estados-Membros concede em muitos casos benefícios fiscais, salientando-se as deduções ao rendimento tributável, os regimes de amortização acelerada e os créditos de imposto”, in GABRIELA, Pinheiro, A Fiscalidade Directa na União Europeia, Coimbra Editora, Junho de 1998 pp. 281-282.

93 simplificado de determinação da matéria colectável em IRC e IRS, bem como a redução da taxa de IRC para 17% aplicável ao primeiro escalão de rendimentos que vai até aos 15.000€.

De resto, como vimos, foi também a dimensão das empresas a preocupação que esteve na génese da maior parte dos regimes especiais de isenção e beneficiação de programas comunitários com temáticas empresariais para as pequenas e médias empresas. Um incentivo importantíssimo relativamente às empresas e ao seu spread foi estipulado. Sempre que estejamos perante situações em que sejam fixados juros e remunerações de suprimentos e empréstimos feitos pelos sócios a PME foi considerado, pela portaria nº 184º/2002 de 4 de Março no seu artigo número 2.º, e aditado pelo artigo 135.º, da LOE/2011, que a taxa de spread fixada é de 6% a ampliar à taxa de Euribor a 12 meses do dia da constituição da dívida. Sem dúvida alguma, isto apresenta uma verdadeira vantagem para as PME que ficam assim disponíveis para financiar-se através destes estímulos fiscais.

Este incentivo é realmente aquele que mais maximiza o poder das PME porque, numa comparação com o do artigo 41.º, -A do EBF, reflete-se essa afirmação. A determinação legal dos benefícios passa pela tributação do lucro tributável das empresas com direcção efectiva em território português e pode ser deduzida uma parte da remuneração convencional do capital social calculada por uma taxa de 7% no montante das entradas realizadas consoante alguns requisitos que vamos passar a enunciar:

- Que a entidade beneficiada seja qualificada como PME99;

- O sócio tem que participar na constituição da sociedade ou no aumento do capital sejam exclusivamente pessoas singulares, sociedades de capital de risco ou investidores de capital risco;

- O seu lucro tributável não seja determinado por métodos indirectos.

A dedução em causa é efectuada no apuramento total do lucro tributável no tempo de tributação correspondente ao período em que ocorram as mencionadas entradas e nos

99 As pequenas empresas são definidas como as empresas que empregam menos de 50 pessoas e cujo

volume de negócios anual ou balanço total anual não excede 10 milhões de euros. As microempresas são definidas como as empresas que empregam menos de 10 pessoas e cujo volume de negócios anual ou balanço total anual não excede 2 milhões de euros informação disponível em: http://www.pofc.qren.pt (pesquisa realizada dia 02 de Junho de 2019 pelas 12:00 horas).

94 três períodos de tributação seguintes, sendo que o benefício fiscal como explicita o artigo 41.º, -A EBF concretiza-se e é limitado a €20.000 por unidade beneficiada.

É por razões como as que já proferimos que a nossa opinião é positiva de que, realmente existe motivo para o tratamento diferenciado dispensado às PME, por parte da organização da União Europeia. Um tratamento que veio a traduzir-se, em algumas recomendações feitas aos Estados membros para que estes lhes concedam determinados apoios, nos quais se podem incluir naturalmente os incentivos fiscais.

Não queremos, no entanto, desde já considerar tais auxílios de Estado como uma forma de perturbar a concorrência e, por conseguinte, a realização do mercado interno no seu todo, ou seja, não considerando esses apoios como únicos e demasiado beneficiadores para quem os recebe em prol de quem não os recebe devido às diferenças visíveis que, normalmente, as empresas de pequeno porte apresentam.

A este respeito, cabe referir que existem pelos menos dois tipos de benefícios fiscais que têm de ser explicitados e distinguidos. Estes são os benefícios fiscais estáticos ou benefícios fiscais strito sensu contrastando com os benefícios fiscais dinâmicos, incentivos ou estímulos fiscais.

Os benefícios fiscais estáticos correspondem a situações que já se verificaram ou finalizaram, ou então que ainda não se verificaram totalmente, tendo como referência privilegiar razões de política geral de defesa, externa, económica, social, cultural e religiosa. O segundo tipo de benefícios concretiza uma relação de causa-efeito entre vantagens atribuídas e actividades estimuladas.

Cabe agora falar um pouco mais do benefício fiscal em sentido estrito, por ser aquele que se envolve com os benefícios fiscais pelos quais proclamamos em relação às PME. Normalmente, advém do Estado, mas também tem sempre um cunho da União Europeia, até porque estes se definem como um exercício para o futuro de uma actividade também futura.

95 “Justamente porque incentivam ou estimulam actividade que, de outro modo, não chegariam a ter lugar, vão efectivamente originar um aumento das receitas fiscais futuras, as quais iriam advir da concretização dessas actividades económicas.”100

Podemos fazer, deste modo, uma comparação clara com o nosso objecto de estudo, pois o que temos é a atribuição de benefícios fiscais que vem a ser utilizada no desenvolvimento de certos sectores produtivos, empresariais e económicos. Para além disso há, também, o apoio a certos grupos sociais que posteriormente podem concretizar tais benefícios em fruto de oportunidade e eficiência. O estatuto de benefícios fiscais confirma no seu artigo 2.º, números 1, 2 e 3 a afirmação enunciada:

“Conceito de benefício fiscal e de despesa fiscal e respectivo controlo:

1 - Consideram-se benefícios fiscais as medidas de carácter excepcional instituídas para tutela de interesses públicos extrafiscais relevantes que sejam superiores aos da própria tributação que impedem.

2 - São benefícios fiscais as isenções, as reduções de taxas, as deduções à matéria colectável e à colecta, as amortizações e reintegrações aceleradas e outras medidas fiscais que obedeçam às características enunciadas no número anterior.

3 - Os benefícios fiscais são considerados despesas fiscais, as quais podem ser previstas no Orçamento do Estado ou em documento anexo e, sendo caso disso, nos orçamentos das Regiões Autónomas e das autarquias locais.”

Refletindo no número 3 do artigo, conseguimos novamente fazer uma ligação com os fundos comunitários, pois os mesmos apresentam-se também estipulados no Orçamento de Estado e têm uma execução específica que parte exatamente do que consta do Orçamento da União Europeia e, como não poderia deixar de ser, do nacional.

Compreende-se, deste jeito, que a margem do legislador é deveras algo ampla, como já expressámos anteriormente acerca da concessão de isenções e benefícios a cooperativas e igualmente a pequenas e médias empresas com um menor poder, mas ao mesmo tempo colocando como princípio constitucional devido à sua importância.

100 NABAIS, Casalta José, Introdução ao Direito Fiscal das Empresas, 2 ª Edição, Almedina, 2015, pp.

96 Os benefícios representam, assim, um acto de reconhecimento, sendo este um acto de reconhecimento unilateral e administrativo em que o nosso sistema fiscal concebeu e que tem tentado vir a reduzir porque torna-se, certamente, insustentável conceder benefícios sem uma justificação coerente. Isto vem reforçar a nossa opinião e não engloba claramente o caso das PME sendo assim, esses benefícios são totalmente justificados.