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ESTIMULAR O MERCADO DE PRODUTOS TELEMÁTICOS

1 AS BIBLIOTECAS PÚBLICAS E A INFOINCLUSÃO : revisão de literatura

ESTIMULAR O MERCADO DE PRODUTOS TELEMÁTICOS

Estabelecimento de uma acção concertada como apoio a uma plataforma de fortalecimento do diálogo entre as bibliotecas públicas e os fornecedores de sistemas.

O Relatório acerca do Green Paper sobre o Papel das Bibliotecas na Sociedade Moderna apresenta-se como importante documento político a nível da União Europeia; de iniciativa da Comissão para a Cultura, a Juventude, a Educação e os Meios de Comunicação Social do Parlamento Europeu, teve como relatora a Deputada Mirja Ryynänen.

O Relatório é datado de 25 de Junho de 1998 e apresenta um conjunto de acções a serem desenvolvidas pelos Estados-Membros, reconhece que, na Sociedade da Informação, o conhecimento constitui o recurso principal e a informação a matéria-prima mais importante, desta forma coloca a biblioteca como elemento crucial nesse processo atribuindo a ela a missão de garantir que todos tenham a possibilidade de obter a informação e os conhecimentos culturais que desejem, e afirma que “as bibliotecas ocuparão um lugar mais importante na sociedade da informação do que tinham na sociedade industrial” (RYYNÄNEN, 1998, p. 14).

O Relatório inicia reconhecendo e considerando o papel e a importância das bibliotecas na sociedade moderna, quando afirma que “a detenção e o domínio da informação constituem um factor de integração económico, social e cultural e que é conveniente organizar e garantir o livre acesso à informação por parte dos cidadãos” (RYYNÄNEN, 1998, p. 5). Chama atenção que o modelo europeu da Sociedade da Informação deve ser tomado em consideração, além dos factores económicos e tecnológicos, as dimensões democrática, social e cultural da evolução da sociedade e ressalta o papel insubstituível das bibliotecas, no processo de organização e de acesso ao conhecimento.

No respectivo relatório foi evidenciado a importância de destacar as bibliotecas de forma apropriada nas estratégias da União Europeia sobre a Sociedade da Informação, e que as mesmas sejam incluídas em programas e orçamentos; recomenda ainda que os Estados-Membros adoptem medidas apropriadas que permitam que as bibliotecas desempenhem um papel activo no acesso à informação e à transmissão do conhecimento, solicita ainda que a Comissão acelere o processo de elaboração do Livro Verde sobre o papel das bibliotecas na Sociedade da Informação. Recomenda ainda aos Estados-Membros que todas as bibliotecas devem possuir equipamentos modernos, e em particular

ligações à Internet, e que, de acordo com as recomendações do Manifesto da UNESCO sobre as bibliotecas públicas, garantam a gratuidade dos serviços básicos, dado destaque ao material produzido com o financiamento dos contribuintes (RYYNÄNEN, 1998, p. 10-12).

Um outro momento marcante que evidenciou a preocupação em debater o futuro das Bibliotecas Públicas na Sociedade da Informação, assim como discutir sobre o Relatório acerca do Green Paper sobre o papel das Bibliotecas na Sociedade Moderna, aconteceu em Louven, Bélgica, em 22 de Agosto de 1998, quando 23 países europeus, estiveram reunidos em um workshop organizado pela “Pública: Acção Concertada para as Bibliotecas Públicas” que resultou na deliberação de acções a serem desenvolvidas pelas bibliotecas públicas. Os participantes do evento concordaram com as declarações e acções propostas, constituindo assim “uma base de trabalho comum para as políticas nacionais e europeias, no que dizem respeito às Bibliotecas Públicas” (DECLARAÇÃO DE LEUVEN, 1998, p. 1). Desse workshop, resultou a elaboração do documento denominado Declaração de Leuven, ou Comunicado de Leuven, onde os delegados destacaram pontos-chave necessários para a actuação das Bibliotecas Públicas na Sociedade da Informação.

a) DEMOCRARIA E CIDADANIA – à medida que as bibliotecas públicas oferecem oportunidades estratégicas para o aumento da qualidade de vida através da democratização da informação, mediante o acesso gratuito e igual a todos os cidadãos.

b) Desenvolvimento ECONÓMICO E SOCIAL – ao satisfazer as necessidades locais de informações das comunidades, possibilita seu crescimento e reduz as disparidades informacionais.

c) APRENDIZEGEM AO LOGO DA VIDA – através da implantação em larga escala na Europa de Bibliotecas Públicas com infra- estruturas eficazes para uma aprendizagem permanente e para acesso fácil às redes virtuais.

d) DIVERSIDADE CULTURAL E LINGUÍSTICA – devido à grande responsabilidade das Bibliotecas Públicas relativamente à herança cultural, à literatura e à literacia.

A Declaração e/ou Comunicado de Leuven, estabelecem ainda as acções a serem desenvolvidas, e definem os objectivos que devem constar nas políticas nacionais e federais das Bibliotecas Públicas, sendo elas:

• Assegurar a liberdade de acesso à informação e ao conhecimento, mantendo um justo equilíbrio entre os interesses dos produtores e dos utilizadores no que diz respeito aos direitos de autor e outros direitos; • Melhorar o acesso dos cidadãos aos recursos de informação, chamando a atenção para os aspectos de natureza legal, técnica, económica e política que podem promover ou inibir o acesso através das Bibliotecas;

• Apoiar as Bibliotecas na satisfação das necessidades dos cidadãos, recomendando e financiando, por exemplo, infra-estruturas, acordos e acções de formação adequadas tanto para os utilizadores como para os profissionais das Bibliotecas;

• Ajudar os cidadãos a se beneficiarem da Sociedade da Informação, garantindo o fornecimento de pontos de acesso e serviços para todos os que não têm meios técnicos ou financeiros próprios;

• Minimizar algumas dificuldades de utilizadores no acesso a recursos de informação em rede nas regiões em que há debilidades ao nível das infra-estruturas técnicas;

• Trabalhar no sentido de impedir que o acesso a alguns recursos de informação fiquem na posse de interesses comerciais que levem a um aumento da distância entre os info-ricos e os info-pobres;

• Garantir a expansão dos serviços das bibliotecas na Sociedade da Informação mantendo, igualmente, de forma permanente, o acesso a recursos tradicionais e digitais (DECLARAÇÃO DE LEUVEN, 1998, p. 2).

A Declaração de Copenhaga se apresenta como um outro documento de natureza política, é resultado do encontro realizado entre os dias 14 e 15 de Outubro de 1999, com 31 decisores políticos de países europeus, onde foi debatida aimportância da biblioteca pública na Sociedade da Informação, tendo como pano de fundo a Declaração de Leuven onde foram confirmadas as designações então estabelecidas sobre o papel da biblioteca pública, sendo eles: Democracia e Cidadania; Desenvolvimento Económico e Social; Aprendizagem Continua; e a Diversidade Cultural e Linguística.

Dentre as recomendações que constam da Declaração de Copenhaga, esta o apelo que foi feito para que os governos nacionais e federais implementem as acções apresentadas na declaração, bem como apelam para que a Comissão Europeia dê apoio à iniciativa do Parlamento Europeu quanto à aplicação das recomendações apresentadas no “Relatório sobre o papel das bibliotecas no mundo moderno” onde foi destacada a importância do papel fundamental das bibliotecas públicas na Sociedade da Informação e a necessidade de uma política de informação a nível europeu. Essas acções são apresentadas e comentadas por Figueiredo (2004a, p. 190-191).

- Definam uma política nacional de informação que desenvolva e coordene todos os recursos relevantes de interesse público. Essa política deve reconhecer o papel único e vital das bibliotecas públicas como pontos de acesso para a maioria dos cidadãos, sendo apoiada por legislação adequada.

- Criem uma rede de infra-estruturas que suporte o desenvolvimento de uma política nacional de informação para a Sociedade da Informação que eleve a cooperação as instituições, principalmente as que são tradicionalmente consideradas instituições de memória como as bibliotecas, arquivos e museus. Esta infra-estrutura deve encorajar uma cooperação efectiva entre bibliotecas públicas.

- Criem um programa de desenvolvimento para as bibliotecas públicas que assegure um nível básico de acesso a cada cidadão que inclua financiamento para assegurar esse acesso.

- Assegurem que as bibliotecas públicas são equipadas de modo a disponibilizarem o máximo acesso aos novos recursos informativos, a todos os cidadãos independentemente da situação económica, física ou educacional- Que estas bibliotecas tenham recursos adequados para sustentarem a continuidade dos serviços.

- Façam lobby no Parlamento Europeu para que as bibliotecas públicas fiquem bem posicionadas na agenda social actual e futura.

- Trabalhem no sentido de assegurar que exista um equilíbrio entre os direitos dos criadores da informação e os direitos de acesso à informação dos cidadãos (FIGUEIREDO, 2004a, p. 190-191).

Em 2000, através de uma acção articulada, foi realizada em Lisboa uma conferência internacional, organizada pelo Instituto Português do Livro e da Biblioteca, intitulada “Bibliotecas Públicas: Inventando o futuro”, onde foi discutida a necessidade de se criar uma rede20, que “permitisse abordar problemas comuns

com o objectivo de articular acções e políticas na área das bibliotecas públicas na Europa (FIGUEIREDO, 2004a, p. 192).

Na perspectiva de garantir e assegurar uma Sociedade da Informação que possa trazer benefícios para todos, foi realizado em Junho de 2006 a “Riga Ministerial Conference”, em Riga, Letónia, evento este organizado pela Comissão Europeia, juntamente com o Governo de Letónia pela presidência Austríaca na União Europeia, cujo tema central versou sobre “A tecnologia da informação para uma sociedade inclusiva21”: Como resultado desse evento, foi aprovada uma Declaração sobre a infoexclusão, que fornece políticas para acções futuras, expressas em formato de 46 pontos que a comissão identificou como relevantes. Os pontos apontados versam basicamente que a TIC contribui para a melhoria da qualidade de vida e a participação social dos cidadãos europeus (EUROPE’S INFORMATION SOCIETY, 2006). Abaixo algumas das questões apresentadas como prioridades:

• Reduzir as disparidades geográficas para acesso às tecnologias digitais;

• Facilitar para todos a acessibilidade e usabilidade de produtos e serviços de TIC;

• Melhorar a literacia e competências digitais;

• Promover o pluralismo, a identidade cultural e a diversidade linguística no espaço digital;

Promover a inclusão através da criação de sítios Web públicos;

• Mobilizar instrumentos adequados para assegurar a inclusão em conformidade com a Declaração.

Com efeito, os diferentes papéis desempenhados pelas Bibliotecas Públicas, ao longo do seu processo histórico evolutivo, possibilitaram que ela emergisse de guardiã do conhecimento para espaço democrático, aberto a todos. Ao desempenhar o papel na formação de competências, possibilita que todo cidadão exerça a sua cidadania.