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Questões relativas às razões que levam os idosos a frequentarem a biblioteca

2 CAMINHOS METODOLÓGICOS

C) Questões relativas às razões que levam os idosos a frequentarem a biblioteca

No seguimento do inquérito, foi inquirido se a Biblioteca saberia dizer quais os motivos que levam os idosos a frequentarem a biblioteca. Das 92 Bibliotecas que, na questão anterior afirmaram existir essa categoria de utilizadores idosos, 88 delas souberam explicar o motivo, demonstrando assim conhecer a preferência de uso dos seus utilizadores e uma biblioteca deixou em branco. Somente três não souberam descrever o porquê dessa preferência, sendo elas: Biblioteca Municipal António Ramos Rosa, do Distrito de Faro; Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, do Distrito de Guarda e a Biblioteca Municipal de Alenquer, do Distrito de Lisboa.

Era uma questão aberta e os motivos32 apontados pelas Bibliotecas, foram agrupados por ordem decrescente de frequência de indicações, a saber:

• Interesse na leitura de publicações periódicas – 62 indicações • Solidão; Ocupação do tempo livre; Fuga à rotina – 20 indicações • Empréstimo domiciliário – 19 indicações

• Participação nas actividades da Biblioteca – 18 indicações • Gosto pela leitura – 11indicações

• Uso da Internet – 9 indicações • Secções de cinema – 8 indicações

• Participação nas actividades direccionadas aos idosos – 7 indicações • Formações na utilização de computadores – 6 indicações

• Exposições – 6 indicações

• Aprofundar conhecimentos – 5 indicações • Consultas diversas – 4 indicações

• Interesse em ler os livros – 3 indicações

• A procura de espaço privilegiado de informação e leitura - 3 indicações • Acompanhar os netos – 3 indicações

• Por lazer – 2 indicações

• Leitura de livros e periódicos de forma gratuita – 2 indicações

• Colaboração entre instituições, Biblioteca e Lares/dia – 2 indicações • Necessidade de uma rotina diária - 1 indicação

• Consulta de legislação – 1 indicação

Como se percebe da lista acima, a utilização da Biblioteca com o propósito de leitura dos periódicos, dentre os quais, os jornais diários, foi apontada pelos inquiridos como o maior motivo agregador para a frequência de idosos nos espaços das Bibliotecas Públicas. Faz parte da cultura portuguesa o hábito de ler os jornais nos cafés, o que não justificaria a permanência dos idosos nas Bibliotecas apenas por esse motivo; essa cultura do cafezinho e do jornal é confirmada na citação de Sousa(2009):

O hábito de tomar um café é muito comum na sociedade de hoje .[...] Digamos que um bom companheiro é o motivo para muitas circunstâncias. [...] Esta bebida está tão presente na nossa vida e o hábito português é tão frequente, que a cada esquina ou rua não falta um café de bairro ou um mais chique que nos convide a entrar e a tomar o gosto. [...] Sem dúvida

32 Ao indicar os motivos que levavam os idosos a frequentarem a Biblioteca, na grande maioria, foram listados

mais de um motivo, por isso a quantidade de indicações referidas é superior ao número de inquéritos respondidos.

que vale a pena tomar um bom café, acompanhado de um jornal, revista ou mesmo de um bom livro. Também cai sempre bem com uma boa companhia e num sitio agradável, seja num café histórico, seja em algo mais moderno ou até mesmo numa esplanada a contemplar uma paisagem do nosso agrado. [...]

Sobre a preferência pela leitura de periódicos, a pesquisa desenvolvida por Freitas; Casanova e Alves (1997) já anteriormente referida, aponta para a mesma realidade; no item especifico que mediu a frequência de leitura dos jornais diários, verificou-se que mais da metade dos inquiridos (55%) declararou lê-los “todos os dias”. No que se reporta às idades, conforme a Tabela 3, a “tendência desenhada para os leitores de jornais (em geral)” diários, nas percentagens encontradas, aponta uma faixa etária que vai até ao limiar dos 50 anos, porém, essa particularidade do resultado não vai ao encontro do resultado da pesquisa em curso, onde a idade estudada foi acima de 61 anos, e mesmo assim a preferência manifestada pelos idosos em relação ao uso da Biblioteca é sobre os periódicos.

TABELA 3 – Frequência de leitura dos jornais diários

Sexo Classe Etária

Leitores de Jornais N = 1739 Masculino N = 1015 (58,4%) Feminino N = 724 (41,6%) 15-19 N = 203 (11,7%) 20-29 N = 426 (24,5%) 30-39 N = 341 (19,6%) 40-49 N = 288 (16,6%) 50 e + N = 481 (27,7%) Leitores de Diários 88.2 89,5 86,5 81,8 88,0 72,4 91,3 86,3 Leitores de Semanários 55.3 55,7 54,8 52,7 57,3 62,5 55,6 49,5

Foi curioso perceber que a causa que mais agrega motivação para utilização da Biblioteca pelos idosos foi a leitura de periódicos, considerando que, em 1986, por ocasião do relatório do estudo desenvolvido para implantação da Rede de Bibliotecas Municipais, foram apontados como factores negativos das bibliotecas municipais então existentes, além do carácter estritamente conservador das bibliotecas municipais, a “inexistência de actividades de animação” bem como a utilização das bibliotecas apenas para leitura de periódicos, conforme citação: “da conjunção de todos estes factores negativos, as bibliotecas municipais têm servido reduzido número e restritos sectores da população, estudantes e idosos que as frequentam sobretudo para a leitura de periódicos” (MOURA, 1986, p. 12).

Se em 1986 já foi considerada como factor negativo a utilização das bibliotecas apenas para a leitura de periódicos, como justificar que essa preferência dos utilizadores continue 24 anos depois? Vale ressaltar que o quadro em que se encontravam as bibliotecas municipais na altura era uma realidade bem diferente da que hoje se apresenta, conforme consta no relatório, onde, em sua maioria, era referido que tinham as seguintes características: “normalmente instaladas em edifícios antigos”; “sem prática do serviço de empréstimo domiciliário, nem livre acesso às estantes”; “funcionários em número reduzido e sem formação adequada” (MOURA, 1986, p. 11).

Observando uma das conclusões apresentadas no relatório de Moura (1986) onde atribuiu a eficácia dos serviços de bibliotecas às modernas instalações, e fazendo uma comparação com o resultado desta pesquisa, leva-nos a concluir que a preferência dos utilizadores não se coadune com a realidade actual das bibliotecas portuguesas, que estão instaladas em modernos edifícios, num cenário totalmente diferente do apontado no relatório de Moura (1986).

A experiência da leitura pública noutros países mostra que a existência de um novo equipamento concebido em moldes modernos e atractivos, que corresponda com eficácia às necessidades das populações, pode ser decisiva para criar o hábito da sua utilização (MOURA, 1986, p. 12).

D) Questões relativas às actividades desenvolvidas pela biblioteca