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ANEXO 33: Matéria em CartaCapital – “Do Fora Temer ao Diretas Já”

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 TRATAMENTO DO CORPUS

3.1.2 Estratégias argumentativas

Como detalhado anteriormente, existem, para Breton (1999), os argumentos de Enquadramento e Vínculo, somando, então, mais de 30 argumentos. No entanto, em outra obra, o autor reagrupa a grande taxinomia de argumentos em quatro famílias: autoridade, comunidade, enquadramento e analogia, visto que, para ele, esse reagrupamento “engloba, de maneira simplificada, todos os tipos de argumentos descritos na literatura da área sobre essa questão (BRETON, 2006)” (BRETON, 2012, p. 122). Mesmo que nesta última obra Breton

36 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/12/1713918-bancada-petista-decide-votar-contra-

cunha-no-conselho-de-etica-da-camara.shtml. Acesso em: 10 fev. 2018.

37 Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/funaro-temer-e-cunha-confabulavam-diariamente-para-

tramar-impeachment-de-dilma.ghtml. Acesso em: 10 fev. 2018.

38 Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/07/relembre-trajetoria-de-eduardo-cunha-na-camara-

dos-deputados.html. Acesso em: 27 set. 2017.

39 Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2017/03/quais-sao-os-crimes-pelos-quais-

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(2012) só cite a metáfora como variação do argumento de analogia, para esta pesquisa, acrescenta-se também a comparação como variação da família de argumentos de analogia.

Nesse sentido, tendo como base toda a gama de argumentos expostos na obra A argumentação na comunicação – que foram detalhadas anteriormente – e o reagrupamento que o próprio autor faz no texto exposto no parágrafo acima, aplica-se, a esta pesquisa, as seguintes famílias de argumentos, agora chamadas de estratégias argumentativas: autoridade, comunidade, reenquadramento, analogia (metáfora) e analogia (comparação). Procura-se, agora, conceituar cada estratégia argumentativa.

A estratégia argumentativa de autoridade é aquela que, segundo Breton (1999), move uma autoridade, seja pela competência – científica, intelectual ou institucional –, experiência ou testemunho. O autor acredita que essa autoridade deve ser aceita pelo público, e que existem variantes dessa estratégia, entre elas: o próprio orador ser a autoridade e o orador evocar uma autoridade externa. Essa primeira variação é empregada em frases como: “Confirmou o que VEJA antecipara em março” (VEJA 3, p. 52), isto é, quando a própria revista se coloca como autoridade.

A variação da estratégia de autoridade40 que mais aparece no corpus é a avocação de uma autoridade exterior, seja a partir da competência institucional, como quando as revistas citam o Datafolha como fonte, ou quando citam uma pessoa comum que “testemunha” ou “experiencia” algo, como na frase: “Para conhecer a verdadeira história do país inventado por Lula e Dilma, basta acompanhar a triste trajetória de Cristina Alves da Silva, casada, seis filhos e vizinha do Palácio do Planalto” (VEJA 1, p. 48).

Para Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005, p. 348), o argumento de autoridade recai sobre prestígio de alguém; é o argumento “o qual utiliza atos ou juízos de uma pessoa ou de um grupo de pessoas como meio de prova a favor de uma tese”. Contudo, as autoridades também podem, segundo os mesmos, serem impessoais: “a física” e “a Bíblia” são exemplos. Os autores também retomam o problema que existe no argumento de autoridade, que é o fato deste argumento ser coercitivo. Para Perleman e Olbrechts-Tyteca (2005, p. 348):

Certos pesquisadores positivistas atacaram esse argumento – cuja enorme importância reconhecem na prática – tratando-o de fraudulento [...]. Seria, portanto, um pseudo-argumento destinado a camuflar a irracionalidade de nossas crenças, fazendo que sejam sustentadas pela autoridade de pessoas eminentes, pelo consentimento de todos ou do maior número.

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Para Charaudeau (2008), a autoridade pode se manifestar pelo procedimento discursivo de citação que “consiste em referir-se, o mais fielmente possível (ou pelo menos dando uma impressão de exatidão) às emissões escritas ou orais de um outro interlocutor, diferente daquele que cita, para produzir na argumentação um efeito de autenticidade” (CHARAUDEAU, 2008, p. 240).

Breton (2012) define a estratégia argumentativa de comunidade como aquela que “apela para as crenças e valores compartilhados pelo auditório” (2012, p. 122). Na sua obra Argumentação na Comunicação, o autor, no entanto, não se refere, em nenhum momento, a argumentos de comunidade. Sendo assim, acredita-se que os argumentos equivalentes aos de comunidade são, na obra maior, os argumentos chamados de “Pressupostos comuns”, no corpo do texto, e de “Valores e Pontos de Vista” no diagrama da obra. Sendo assim, tem-se uma ideia de que os argumentos de comunidade são aqueles que movimentam os valores e também as normais sociais – e a quebra delas – comuns entre orador e auditório. Esses valores, de acordo com Breton (1999), podem ser o certo, o errado, a virtude, o belo, o feio, por exemplo.

Em relação ao corpus da pesquisa, apresentam-se como estratégias argumentativas de comunidade os valores em jogo do discurso político, como a democracia, a popularidade, a honra, a ética, a ideologia, a credibilidade, a legitimidade, entre outros. Fernandes (2016, p. 10) ratifica a percepção da importância que essas palavras têm quando se fala em política: “‘Corrupção’, ‘democracia’, ‘igualdade’ são palavras que podem mudar de sentido de acordo com os elementos significantes que a cercam, por isso são termos caros e em disputa no cenário político”. A título de exemplo, quando CartaCapital expõe que: “E, se esse processo tiver curso no Senado, há risco de vermos uma presidente legitimamente eleita por 54,5 milhões de votos ser substituída por um vice perjuro, sem um só voto” (CC 1, p. 32) vemos, em afinidade, aspectos do jogo político como o fato de expor que Dilma Rousseff foi “legitimamente eleita”, o número de votos e o fato de ser “substituída” por alguém “sem um só voto”.

Argumenta-se com o propósito da aderência do público àquele pensamento, por conseguinte, limita-se ou maximiza-se certos aspectos da ideia que se quer convencer fazendo o recorte que se julga necessário. Quando Veja afirma que “Dilma Rousseff ascendeu ao poder em 2010 pela graça de uma pessoa só, o ex-presidente Lula, que atuou na comissão de frente de sua campanha, abrindo espaço para que a candidata recebesse o voto de milhões de brasileiros” (VEJA 1, p. 19)”, a revista toca na popularidade do Partido dos Trabalhadores e

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de Lula, porém, de certo modo, também expõe a vulnerabilidade de Dilma Rousseff ao direcionar sua vitória apenas ao ex-presidente.

São essas nuances dos textos comunicativos, que dizem algo querendo dizer algo além que se prestam as estratégias argumentativas de reenquadramento. É, consoante Breton (1999), abordar o problema de outra maneira. Outro exemplo é a simples frase, mas que reenquadra Michel Temer como “beneficiário imediato da queda de Dilma [...]” (CC 1, p. 18). Ou ainda, também em CartaCapital, quando se antecipa o possível futuro com Michel Temer na Presidência, enquadrando seu governo como favorável à elite: “Com o PMDB no comando haverá a possibilidade de se criarem os objetivos de um Estado benfeitor, cuja finalidade seria algo particularmente favorável aos grupos do topo da pirâmide social” (CC 1, p. 31).

É certo que todas as frases presentes nas revistas analisadas querem dizer algo, neste sentido, o argumento de reenquadramento é encontrado em todas elas. Porém, visto que trabalhamos com outras quatro estratégias argumentativas – autoridade, comunidade, analogia (metáfora) e analogia (comparação) – parte-se da ideia, neste trabalho, de que as frases que não contemplem elas, apropriem-se da estratégia argumentativa de reenquadramento.

Quando Veja decreta a “morte política” (VEJA 1, p. 11) de Dilma Rousseff ou quando afirma que a mesma “caiu no limbo” (VEJA 1, p. 15), bem como quando CartaCapital declara que “São poucas as esperanças de livrar a presidente da cassação no Senado após a batalha sangrenta na Câmara” (CC 1, p. 23), ambas fazem uso de metáforas para expressar suas opiniões. A estratégia argumentativa de analogia, expressada através da metáfora, é de uso recorrente entre as revistas analisadas uma vez que o tom satírico apela para as emoções e também faz parte do jogo político-midiático. Além disso, de acordo com Breton (1999), a metáfora é, provavelmente, o mais poderoso dos raciocínios argumentativos.

Outra manifestação da estratégia argumentativa de analogia é por meio da comparação. A comparação também explicita a opinião do veículo ao comparar, por exemplo, a popularidade de dois políticos brasileiros que foram impedidos de continuar seus governos: “Dilma Rousseff é hoje mais impopular do que era Collor quando caiu” (VEJA 1, p. 16); ou dois políticos durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff: “Calheiros promete não ser tão afoito quanto o colega Cunha” (CC 1, p. 19).

De acordo com Perelman e Olbrechs-Tyteca (2005, p. 278), a comparação é a avaliação de alguns objetos em relação a outros:

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A escolha dos termos de comparação adaptados ao auditório pode ser um elemento essencial da eficácia de um argumento, mesmo quando se trata de comparação numericamente especificável: haverá vantagem, em certos casos, em descrever um país como tendo nove vezes o tamanho da França em vez de descrevê-lo como tendo a metade do tamanho do Brasil.

Esta afirmação dos autores condiz com a argumentação de CartaCapital quando esta expõe, por meio de uma analogia (comparação), que há uma articulação a favor do impeachment por parte de deputados: “Entre a quinta-feira 14 e o domingo 17, o aeroporto internacional recebeu três vezes mais jatos particulares do que o habitual [...]” (CC 1, p. 18). Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005, p. 278) assentam a força da comparação na referência angariada: “São as características do termo de referência que conferem uma série de argumentos seu aspecto particular”. No caso de CartaCapital, a revista quer expressar que, nos dias anteriores e no dia da votação na Câmara dos Deputados, houve maior movimento de políticos para concederem votos a favor do impeachment de Dilma Rousseff.

Mais do que identificar as estratégias argumentativas utilizadas nas frases de Veja e CartaCapital, pretende-se, nesta pesquisa, angariar as ideias centrais semelhantes de cada frase e agrupá-las em “Finalidades”, ou seja, categorias que explicitem os pensamentos das revistas.

Figura 14: Eixo 2: Estratégias argumentativas Eixo 2: Estratégias argumentativas Autoridade Analogia (metáfora) Comunidade Reenquadramento Analogia (comparação) Fonte: Elaboração própria.