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ANEXO 33: Matéria em CartaCapital – “Do Fora Temer ao Diretas Já”

4 ANÁLISE EM VEJA E CARTACAPITAL

4.1 VOTAÇÃO NA CÂMARA DOS DEPUTADOS

4.1.6 Impeachment

Em relação ao processo de impeachment, observa-se na revista Veja seis Finalidades das estratégias argumentativas. A revista aborda a votação na Câmara dos Deputados como

Votação similar a grandes competições/lutas/jogos por das estratégias argumentativas de

comunidade e reenquadramento. Referente a esta última, Veja ressalta frases que falam em “placar” (VEJA 1, p. 10), “folga de 25 votos” (VEJA 1, p. 9), “festa” (VEJA 1, p. 10), “fogos de artifício e buzinaços” (VEJA 1, p. 9) e “multidão acompanhou a votação em três telões instalados na orla” (VEJA 1, p. 10), o que acaba por espetacularizar um acontecimento político. Ainda, pela estratégia argumentativa de comunidade, a revista evidencia o canto conhecido pelos brasileiros em estádios esportivos: “[...] os deputados começaram a cantar: ‘Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor’” (VEJA 1, p. 9); bem como a esperança como crença de uma sociedade: “Com lágrimas nos olhos, ele disse: ‘Quanta honra o destino me reservou de poder da minha boca sair o grito de esperança de milhões de brasileiros’” (VEJA 1, p. 9).

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A revista também expõe a Confirmação do impeachment como um todo por meio da estratégia argumentativa de reenquadramento ao dizer que “O afastamento é considerado barbada. Já há folgada maioria na casa” (VEJA 1, p. 12) e “Se não houve uma reviravolta, o Senado seguirá a Câmara e formalizará a percepção de que o governo Dilma acabou faz tempo” (VEJA 1, p. 12). Aqui, a revista exalta um dos sentidos do conceito de acontecimento, aquele no qual o futuro é exaltado.

Outra Finalidade encontrada em Veja é Impeachment como vontade do povo/das

ruas/das manifestações. Para tanto, a revista move, por meio da estratégia argumentativa de

comunidade, valores democráticos em jogo na política. Algumas expressões utilizadas por Veja são “manifestação popular” e “maior protesto já realizado no país” para dizer que a Câmara dos Deputados “enfim, decidiu dar voz à voz da maioria da brava gente brasileira” (VEJA 1, p. 47) e que a mesma “acompanhou o grito mais numeroso, ecoado das ruas. Em política, ‘maioria’ é outro nome de ‘totalidade’. Se nem Deus é unânime, a tradução para ‘voz do povo’ é esta: ‘voz da maioria’” (VEJA 1, p. 40).

Para reafirmar o processo de impeachment como uma manifestação popular, a revista Veja também recorre a uma Comparação entre impeachment e Diretas Já por meio de duas estratégias argumentativas: de comunidade e de autoridade. A primeira estratégia se manifesta em frases que movem marcos históricos como: “Em março de 2015, os protestos superaram as Diretas Já (1984) e, como numa onda montante, foram crescendo até culminar nas manifestações de março de 2016, as maiores já vistas no Brasil” (VEJA 1, p. 18); já a estratégia argumentativa de autoridade recorre a números de manifestantes presentes para comparar os dois fatos históricos da política brasileira: “Só na Avenida Paulista teriam estado entre 500 000 e 1,4 milhão de pessoas (respectivamente, segundo o Datafolha e a Secretaria de Segurança Pública). O recorde até então era do comício do Anhanhabaú da campanha das Diretas Já, em 16 de abril de 1984, com 400 000 presentes, também de acordo com o Datafolha” (VEJA 1, p. 42).

Enquanto Veja entende o resultado da votação na Câmara dos Deputados como a “voz do povo”, comparando-a com a campanha pelas Diretas Já e também confirma esse mesmo resultado na votação no Senado Federal, CartaCapital emprega diversos Adjetivos

pejorativos ao País/República/impeachment. A revista mobiliza, negativamente, pela

estratégia de autoridade, o Instituto Datafolha como “avalizador da barbárie” (CC 1, p. 35). Já pela estratégia argumentativa de reenquadramento, pode-se observar CartaCapital indagando se os deputados, na noite da votação, eram “idiotas ou hipócritas”; também afirmando que o

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país é “parvo e palerma” (CC 1, p. 35) e, ainda, que “Aos olhos do mundo civilizado, o Brasil do 17 de abril passou a ser uma piada de dimensões continentais” (CC 1, p. 34).

A estratégia argumentativa de analogia (metáfora) é a mais utilizada por CartaCapital para expressar adjetivos negativos à “Pobre política brasileira” (CC 1, p. 32). Algumas expressões utilizadas pela revista são “suicídio coletivo” (CC 1, p. 17), “espetáculo grotesco oferecido pela Câmara Federal [...] (CC 1, p. 34), “não há nada que remedie o horror proporcionado pelo freak show encenado pela Câmara de Deputados” (CC 1, p. 34), “surto de cegueira coletiva” (CC 1, p. 35) e “assassinato da soberania popular” (CC 1, p. 38). A revista, ainda pela estratégia argumentativa de analogia (comparação), expõe que: “O espetáculo que conseguimos oferecer ao mundo exorbita na prova, esta sim indiscutível, de nossa condição de republiqueta das bananas” (CC 1, p. 17). A sentença que mais resume a argumentação de CartaCapital sobre o processo de impeachment é a seguinte:

Espetáculo público de vexame coletivo, densa experiência da vergonha alheia, o momento Oscar do alô papai, alô mamãe, os filhinhos, os netos, a sagrada família, a tia Eurides, os amigos, a amante, o contador, o patrão, o seu Zé da Venda, meus eleitores de Cabrobó e de Barueri. Os medonhos papagaios de pirata. Os bobalhões embandeirados. As selfies de risonha hipocrisia. O verde-amarelo fazendo tilintar o renitente 7 a 1. Vinte segundos pelo direito de se atirar, ao vivo, em triunfo, na lixeira da História (CC 1, p. 34).

CartaCapital também explicita, na Finalidade Citação de Deus na votação na

Câmara dos Deputados, o fato dos deputados emitirem, hiprocritamente, segundo a revista,

seu voto em nome Deus. Para isso, a revista mobiliza a estratégia argumentativa de reenquadramento: “Recorre-se a Ele, em plenário, em perorações eivadas de ódio nada cristão, com uma intimidade surpreendente, de fazer gosto. Dão-Lhe insano trabalho, Coitado” (CC 1, p. 34). A revista, ironicamente, também questiona a interlocução dos deputados com Deus: “[...] não há confraria terrena, nem mesmo nos sagrados recintos da Santa Sé, tão magnanimamente agraciada, como o Parlamento de Brasília, com o dom da interlocução direta com o Todo-Poderoso” (CC 1, p. 34).

Outra Finalidade comparativa encontrada em CartaCapital – e também em Veja – é

Comparação entre impeachment e Diretas Já. No entanto, diferentemente de Veja, que

compara as manifestações a favor do impeachment com o clamor popular pelas Diretas Já, CartaCapital aponta, pela estratégia argumentativa de analogia (metáfora), que a concretização do processo de impeachment será: “A segunda morte das Diretas Já” (CC 1, p. 38), pois “Apesar da campanha pelas Diretas ter conseguido forte mobilização popular, não

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foi capaz de vencer as casamatas do poder real que, desde sempre, comandam a política brasileira” (CC 1, p. 38). Aqui, pode-se ver que a revista compara o desfecho de um acontecimento político passado com o acontecimento político atual, pois acredita que como as Diretas Já não obtiveram sucesso em relação ao que reivindicavam, as manifestações que lutam contra o processo de impeachment terão o mesmo desenlace.

Ao passo que Veja vê a ânsia pelo processo de impeachment similar ao clamor, em 1984, pelas eleições diretas, CartaCapital afirma que a abertura do processo na Câmara é “Bem pior que 64” (CC 1, p. 16) ao apresentar a Finalidade Comparação entre Impeachment e “Golpe de 1964”. A revista, para tanto, mobiliza a estratégia argumentativa de comunidade, evidenciando os valores democráticos em pauta: “Certo é que o golpe de 2016, a mostrar a nossa imaturidade para qualquer tentativa democrática e a fragilidade de quanto foi construída depois da saída do general Figueiredo [...], é muito pior, infinitamente mais assustador, do que o de 1964” (CC 1, p. 17); e a estratégia argumentativa de analogia (metáfora) quando, enfaticamente, afirma: “Feliz outrora, infeliz agora quem lutou pelo restabelecimento da via democrática e assiste ao mergulho na treva da maior parte da classe política brasileira” (CC 1, p. 36). Pode-se ver aqui que CartaCapital faz uso de um processo de dramatização (discutido no primeiro capítulo), pois ela traz à tona a questão do medo da antidemocracia que envolve o imaginário social em torno do Golpe Militar de 1964. A revista tenta, então, “tocar o outro” através da comparação entre o momento atual com os vividos durante a ditadura militar.

CartaCapital ainda argumenta seu ponto de vista, pela estratégia argumentativa de reenquadramento, fazendo referência ao papel que a grande mídia brasileira desempenhou na cobertura do processo de impeachment. Segundo a revista, na Finalidade Referência à mídia: “A iminência do golpe de Estado, por setores do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e do Judiciário, mas articulado de fora pelas forças de sempre (o monopólio ideológico dos meios de comunicação liderados pelo sistema Globo) [...]” (CC 1, p. 33).

O mesmo ponto de vista da revista é também exposto por meio da estratégia argumentativa de analogia (comparação) que denuncia disparidade entre as notícias divulgadas pela mídia brasileira e a estrangeira: “[...] Enquanto a mídia brasileira legitima o golpe, a mídia estrangeira define os fatos como eles são. Basta ver as reportagens e editoriais em publicações como The New York Times, Der Spiegel, Guardian, Le Monde e até a liberal The Economist” (CC 1, p. 23).

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Outra Finalidade que se pode observar em CartaCapital, que enfatiza que o processo de impeachment não foi democrático, mas sim articulado, é Articulação/Financiamento a favor

do impeachment. Nesta Finalidade, a revista move a estratégia argumentativa de

reenquadramento como na frase: “O patrocínio patronal à queda de Dilma Rousseff pode ser só especulação, mas o empresariado está coberto de motivo para desejar Temer na presidência” (CC 1, p. 20). A estratégia argumentativa de analogia (metáfora) também pode ser vista na frase: “Os dias que precederam a votação do impeachment, tornou-se cristalina uma trama de venda casada” (CC 1, p. 24). E a de analogia (comparação) quando a revista diz que “Entre a quinta-feira 14 e o domingo 17, o aeroporto internacional recebeu três vezes mais jatos particulares do que o habitual [...]” (CC 1, p. 18).

Se CartaCapital declara abertamente o financiamento da campanha pró-impeachment, citando até autoridades como: “Nas semanas pré-votação do impeachment, a Fiesp despejou rios de dinheiro em propagandas a favor do impedimento” (CC 1, p. 20), Veja é bem mais discreta ou cometeu um deslize ao afirmar, pela estratégia argumentativa de reenquadramento, em uma única frase, pertencente à Finalidade Articulação a favor do impeachment que: “Antes interessados em derrubar Dilma, agora os tucanos têm motivos para evitar ameaças ao governo do qual pretendem fazer parte” (VEJA 1, p. 26).

Retornando à revista CartaCapital, apresenta-se como última Finalidade, nesta revista, a de nome: Impeachment como golpe/Não comprovação de crime de responsabilidade. Nesta Finalidade, a revista se expressa por meio das estratégias argumentativas de reenquadramento, analogia (metáfora) e analogia (comparação). A primeira estratégia move frases que declaram que o resultado da votação na Câmara dos Deputados não teve “provas”: “quem programou Sem Evidências para o mesmo momento em que, sem evidências, a Câmara Federal condenava a presidenta legítima agiu de caso pensado ou conforme pauta definida com larga antecedência?” (CC 1, p. 16). Por essa mesma estratégia a revista declara em várias frases o impeachment como golpe45, por exemplo: “Essa [a classe dominante] continuou no comando do golpe” (CC 1, p. 33) e “Caso a presidenta Dilma Rousseff seja impedida de governar, e isso significaria a vitória de um golpe parlamentar, tosco e desarrazoado [...]” (CC 1, p. 30).

A estratégia argumentativa de analogia (metáfora) aparece nas frases em que a revista afirma que o “golpe rasga a Constituição” (CC 1, p. 18) e “Golpear o governo Dilma, sem

45 Deve-se ressaltar que, nesta pesquisa, a palavra golpe não é entendida como uma metáfora, mas como uma

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prova do crime de responsabilidade, significará botar lenha na fogueira. Um pouco antes das festividades juninas” (CC 1, p. 31). Já a estratégia argumentativa de analogia (comparação) mostra que o golpe é “de inspiração paraguaia e hondurenha” (CC 1, p. 16).

Enquanto CartaCapital declara, abertamente, o impeachment como golpe, a revista Veja nega essa denominação na última Finalidade encontrada na mesma: Negação do

impeachment como golpe. Por meio das estratégias de autoridade a revista afirma que: “O

mais antigo integrante da corte, Celso de Mello, afirmou que tratar o processo de impeachment como golpe é um ‘grande e gravíssimo equívoco’”. Nesta última frase, Veja apela para o prestígio do “mais antigo integrante da corte” para legitimar sua argumentação, nesse mesmo sentido, move a competência de outras autoridades do poder executivo: “[...] os ministros Luís Roberto Barroso e Cármen Lúcia já tinham desqualificado publicamente a tese de golpe” (VEJA 2, p. 55) e “De papel passado: Depois da votação na Câmara, as atas do impeachment foram enviadas ao Senado. Tudo dentro da legalidade, segundo o STF” (VEJA 2, p. 55).

Pela estratégia argumentativa de reenquadramento, a revista, cometendo mais um deslize ou uma incoerência com a argumentação que vem apresentando, expõe a seguinte frase, na qual afirma a fragilidade da razão pela qual Dilma Rousseff foi deposta: “A defesa de Dilma não fala de golpe no sentido militar, naturalmente. Refere-se mais ao fato de que a acusação contra ela – as pedaladas fiscais – nunca foi usada para cassar o mandato de outros presidentes que também pedalaram. Seria, nesse sentido, um ‘golpe parlamentar’. Que a acusação é frágil para ceifar seu mandato é uma questão que rende debate” (VEJA 2, p. 55).

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Figura 21: Impeachment – votação na Câmara dos Deputados Impeachment CartaCapital Veja Negação do impeachment como golpe Impeachment como vontade do povo/das ruas/das manifestações Votação similar a grandes competições/lutas/ jogos Adjetivos pejorativos ao País/República/ impeachment Impeachment como golpe/Não comprovação de crime de responsabilidade Referência à mídia Articulação/ Financiamento a favor do impeachment Reenquadramento (9) Comunidade (4) Analogia (comparação) (2) Reenquadramento (6) Reenquadramento (5) Autoridade (1) Autoridade (2) Confirmação do impeachment Comparação entre impeachment e Golpe de 1964 Citação de Deus na Câmara dos Deputados Analogia (metáfora (2)/comparação (1)) Reenquadramento (8) Analogia (metáfora (15)/comparação (3)) Reenquadramento (2) Articulação a favor do impeachment Comunidade (2) Reenquadramento (2) Comparação entre impeachment e Diretas Já Comunidade (2) Comunidade (5) Analogia (metáfora (3)/comparação (2)) Reenquadramento (10) Reenquadramento (2) Autoridade (6) Reenquadramento (1) Analogia (metáfora) (2) Comparação entre impeachment e Diretas Já Analogia (metáfora) (3)

Fonte: Elaboração própria.