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5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.4 Estratégias de Análise de Dados

Segundo Tesch (1990, apud Godoy, 2006, p. 137), a partir de um exame detalhado das diferentes possibilidades de análise de dados qualitativos, chega-se à conclusão de que existem muitas formas de manusear os referidos dados de pesquisa, em muitos casos, sendo difícil dizer qual delas seria a mais adequada quando se trata do desenvolvimento de estudos de caso. Entretanto, Tesch (1990, apud Godoy, 2006) reúne um conjunto de dez princípios e

práticas orientadoras da análise qualitativa e que são úteis no estudo de caso, de acordo com o Quadro 8.

QUADRO 8: Dez princípios e práticas orientadores da análise qualitativa Princípios para estudo de caso

A análise não é a última fase do processo de pesquisa; ela é concomitante com a coleta de dados ou é cíclica. A análise começa com o primeiro conjunto de dados e torna-se, além de paralela à coleta, integrada aos próprios dados.

O processo de análise é sistemático e abrangente, mas não pode ser encarado de forma rígida. Tem seu caminho de forma ordenada, requer disciplina, uma mente organizada e perseverança. A análise só termina quando novos dados nada mais acrescentam. Neste ponto, diz-se que o processo analítico “exauriu” os dados.

A análise de dados inclui uma atividade reflexiva que resulta num conjunto de notas que guia o processo, ajudando o pesquisador a mover-se dos dados para o nível conceitual.

Os dados são segmentados, divididos em unidades relevantes e com sentido próprio mantendo a conexão com o todo. A análise se concentra em conjuntos de partes dos dados, cada vez menores e mais homogêneos.

Os segmentos de dados são categorizados de acordo com um sistema de organização que é predominantemente derivado dos próprios dados. O material pertencente a cada categoria particular é agrupado, tanto conceitual como fisicamente, de forma indutiva.

A principal ferramenta intelectual é a comparação. O método de comparar e contrastar é usado praticamente em todas as tarefas intelectuais, durante a análise, para formar as categorias, estabelecer suas fronteiras, atribuir segmentos de dados às categorias, sumariar o conteúdo de cada categoria e encontrar evidências negativas.

As categorias são tentativas e preliminares desde o início da análise e permanecem flexíveis, já que, sendo derivadas dos próprios dados, devem acomodar dados posteriores.

A manipulação de dados qualitativos durante a análise é uma tarefa eclética. Não há melhor meio de realizá-la, sendo a marca registrada da pesquisa qualitativa o envolvimento criativo do pesquisador.

Os procedimentos não são mecanicistas. Não há regras estritas que possam ser seguidas. Embora a pesquisa qualitativa deva ser conduzida “artisticamente”, ela requer muito conhecimento metodológico e competência intelectual.

O resultado da análise qualitativa é algum tipo de síntese de nível mais elevado. Apesar de muito da análise consistir em “quebrar em pedaços” os dados, a tarefa final é a emergência de um quadro mais amplo e consolidado.

FONTE: Adaptado pelo autor de Godoy (2006)

Uma desvantagem da entrevista em profundidade nos estudos de caso é a necessidade de interpretação dos dados, que é muito subjetiva e demorada, de acordo com Godoy (2006).

Independentemente dessa situação, esta pesquisa fará uso de todas as estratégias possíveis para uma análise que possibilite um entendimento adequado do processo decisório estratégico.

Os casos foram analisados isoladamente e, posteriormente, em conjunto. De acordo com Yin (1981), a utilização de sumário dos casos individuais, seguida da análise cruzada dos casos, possibilita maior credibilidade à pesquisa de campo.

A análise individual envolveu o estudo detalhado da base de dados coletada para cada caso, a partir da análise de seu conteúdo, sendo essa metodologia uma estratégia de investigação desenhada para ser aplicada às informações existentes. Esta etapa foi fundamental em dois principais aspectos. Possibilitou lidar com o enorme volume de dados característicos deste tipo de pesquisa (EISENHARDT, 1989b). E permitiu a percepção das características particulares de cada caso, o que possibilitou a análise cruzada posteriormente. O sumário descritivo dos processos decisórios e das alianças estratégicas foi estudado, identificando-se as principais atividades desenvolvidas e classificando-as de acordo com o modelo proposto por Mintzberg et al (1976) e desenvolvido por Nutt (1992, 1993, 1998) e por Powell (1987, 1996, 1998).

A tática de “construção da explicação” foi utilizada na análise cruzada dos casos, ou seja, foram induzidas hipóteses causais, não definitivas, sobre o processo decisório de busca de parcerias colaborativas (YIN, 2001; EISENHARDT, 1989b; GLASER; STRAUSS, 1967).

Não há um padrão para a construção de explicações (YIN, 1994; EISENHARDT, 1989b). Dessa forma, foram identificados os fatores de similaridade e divergência, a partir das variáveis de interesse, para cada par de empresas estudadas (EINSENHARDT, 1989b).

As proposições explicativas foram geradas a partir dessas classificações e por comparações. Em seguida, essas proposições foram contrapostas a cada um dos casos, para averiguar se os dados confirmavam as relações propostas e, em caso afirmativo, permitiram um melhor entendimento da dinâmica existente. As proposições, geradas pelo processo indutivo, foram melhoradas por meio da literatura existente. Esta metodologia, de acordo com Merrian (1998), trata da análise dos dados a partir do agrupamento em categorias e subcategorias, a fim de organizar conceitualmente os fenômenos que, aparentemente, pertencem ao mesmo conceito. Ou seja, quais categorias devem responder às questões do estudo, quais devem ser mutuamente excludentes, devem contemplar todos os dados na mesma categoria e serem conceitualmente congruentes (MERRIAN, 1998).

Para a exploração do material foram analisadas todas as transcrições realizadas com os respondentes das três empresas selecionadas da indústria farmacêutica.

As informações obtidas foram codificadas e agrupadas em categorias e subcategorias, que permitiram a classificação dos elementos constitutivos de um conjunto, conforme descrito no item 5 (procedimentos metodológicos). Estas categorias foram definidas a partir da teoria e usadas na análise de dados, sendo elas: alianças estratégicas para a formação de parceria colaborativa, principais razões para a formação de alianças estratégicas, competência essencial da empresa, centralidade da rede de parcerias colaborativas, fase de identificação do processo decisório, fase de desenvolvimento do processo decisório, fase de seleção do processo decisório, pessoas e áreas envolvidas no processo decisório, duração do processo decisório, fatores dinâmicos ao ambiente de rede e política, poder e conflito no processo decisório.

Por causa da grande quantidade de informações obtidas na pesquisa de campo e com o objetivo de estruturar, organizar e analisá-las de forma mais científica e acadêmica, foi utilizado o software QSR XSight, versão 2.0.75.0 SP2, da empresa QSR International. Ele foi desenvolvido para a análise de dados qualitativos em pesquisas exploratórias. Este software auxiliou o mapeamento, a análise e a interpretação das informações não estruturadas.

Para demonstrar, de uma forma geral, como esse software apresenta e estrutura os dados, a Figura 6 apresenta a tela principal do QSR XSight.

FIGURA 6: Tela principal do software QSR XSight versão: 2.0.75.0 SP2 FONTE: Elaborado pelo autor