• Nenhum resultado encontrado

4. O SETOR FARMACÊUTICO

4.1 O Setor Farmacêutico no Mundo

O setor farmacêutico teve sua origem na Europa, na metade do século XIX, e até hoje é um dos que mais se caracterizam pela sua sustentação por pesquisa e desenvolvimento (P&D) tecnológico (ACHILLADELIS; ANTONAKIS, 2001).

A indústria farmacêutica desenvolveu-se através do progresso da medicina e com o avanço da pesquisa médica, química, biológica. A fabricação industrial dos medicamentos em sua essência envolve atividades de extração, purificação, síntese química, procedimentos de fermentação e o processamento farmacêutico e conta com inúmeras fontes de matérias-primas (BASTOS, 2006).

Empresas farmacêuticas manufatureiras alemãs e suíças inicialmente se estabeleceram como sendo as principais com forte base científica. Logo após a Segunda Guerra Mundial, houve o domínio do mercado farmacêutico americano, entretanto, as empresas de origem inglesa permaneceram como líderes do setor (ACHILLADELIS; ANTONAKIS, 2001).

Os estudos da dinâmica da inovação tecnológica na indústria farmacêutica feitos por Achilladelis e Antonakis (2001) identificam três fases no que se refere ao fluxo de tecnologia e internacionalização no setor, sendo destacados a seguir.

Na fase de 1880 a 1950, quando surgiram todas as indústrias que atualmente desenvolvem esforços intensivos em pesquisa e desenvolvimento, este momento foi marcado pela limitada transferência de tecnologia entre os países. O cenário político que se apresentava - com a Primeira Guerra Mundial, o período de recessão nos anos 20 e o início dos anos 30 e a preparação para a Segunda Guerra Mundial - levou os governos a aumentarem as barreiras protecionistas e a diminuírem as importações (ACHILLADELIS; ANTONAKIS, 2001).

Na segunda fase, de 1950 a 1980, o intercâmbio entre os países foi intensificado por meio da legislação nacional e de acordos internacionais. A transferência de tecnologia foi acelerada, porém as empresas que investiam fortemente em P&D mantiveram seus departamentos nos países de origem (ACHILLADELIS; ANTONAKIS, 2001).

A fase seguinte, iniciada em 1980, caracteriza-se pela globalização dos mercados e pela mudança na concepção tecnológica, que passa a não ser mais totalmente centrada apenas em química orgânica, farmacologia e rastreamento de moléculas, mas beneficia-se dos avanços em áreas de fisiologia, biofísica, biologia molecular, bioquímica e enzimologia. As empresas com alto esforço em P&D passaram a investir em outros países e as fusões e aquisições ocorreram entre empresas de diferentes países (ACHILLADELIS; ANTONAKIS, 2001).

Essa nova fase caracteriza uma nova competição e formas organizacionais são menos marcadas pela hierarquia e mais pela flexibilidade, dando lugar a arranjos e redes interorganizacionais, na busca por pesquisa e desenvolvimento de rápida aceleração e conquista de novos mercados.

A relação forte entre maturidade tecnológica e comercial fez com que algumas empresas mantivessem seus investimentos em P&D ao mesmo tempo em que verticalizassem suas atividades com a produção de genéricos. Na prática, essa verticalização ocorreu através de dois processos: deslocamento de segmentos manufatureiros de baixa rentabilidade, mas alta capacitação tecnológica, para países em desenvolvimento (o que criou um fluxo de capital para os setores de pesquisa) e as aquisições e fusões de outras empresas de manufatura e distribuidores de medicamentos (ACHILLADELIS; ANTONAKIS, 2001).

Como conseqüência desse processo, houve uma concentração de grandes companhias integradas globalmente e a diminuição do número de firmas competindo entre si. A diversificação horizontal das atividades do setor farmacêutico é calcada nas classes terapêuticas. Grande parte das empresas continua desenvolvendo pesquisas em seus países de origem, entretanto, o sucesso em uma classe terapêutica não é correlacionado com o sucesso em outras classes. Porém, por meio do processo de fusões ou aquisições de empresas com diferentes competências, uma empresa líder em uma área terapêutica pode também ganhar competência em outra (ACHILLADELIS; ANTONAKIS, 2001).

Um exemplo que abrange a diversificação horizontal e a verticalização em uma mesma empresa é o caso da Merck. A fusão com a Sharp & Dohme trouxe-lhe competência na área de diuréticos (ACHILLADELIS; ANTONAKIS, 2001).

Para que se possam caracterizar as redes interorganizacionais no setor da indústria farmacêutica, é importante entender as características intrínsecas da produção de medicamentos. Neste setor, existem quatro estágios de produção: primeiro estágio – P&D de novos princípios ativos, os quais são denominados no setor de fármacos, como o estágio que mais envolve riscos de insucesso e a necessidade de altos investimentos; segundo estágio – produção em escala de fármacos; terceiro estágio – fase em que os fármacos são misturados aos reagentes e embalados e, por fim, o quarto estágio – introdução dos medicamentos no mercado (QUEIROZ; GONZÁLEZ, 2001).

Observando as fases da cadeia de produção, compreende-se que a indústria farmoquímica, responsável pela matéria-prima necessária à formulação de medicamentos, está ligada à indústria farmacêutica de forma bastante intrínseca. Observa-se, porém, peculiaridades inerentes a cada setor (farmoquímica e farmacêutica). No que se refere à localização de plantas, por exemplo, a produção de fármacos e de medicamentos comporta-se de maneira diversa. A indústria farmacêutica é fortemente internacionalizada, ao passo que a produção de fármacos é mais concentrada em determinados centros como os EUA, países da Europa, Índia e China. Esse dado indica que a importância da proximidade dos mercados é maior para a produção de medicamentos que de fármacos (HASENCLEVER, 2001).

Para a execução dos terceiros e quartos estágios da cadeia produtiva, há a necessidade de interação da indústria farmacêutica com os segmentos de embalagens, equipamentos especializados, marketing e distribuição dos produtos às clínicas, farmácias e hospitais (HASENCLEVER, 2001).

As grandes multinacionais farmacêuticas realizam os quatro estágios, porém, centralizam os dois primeiros em seus países de origem e os dois últimos em outros países, utilizando o relacionamento de redes interorganizacionais (QUEIROZ; GONZÁLEZ, 2001).

Na figura 3, é destacado o modelo adotado pelos atores do setor farmacêutico para as relações interorganizacionais (QUEIROZ; GONZÁLEZ, 2001).

De acordo com os estudos realizados por esses autores, a indústria farmacêutica caracteriza-se por uma complementaridade de ativos. Os investimentos para manter todos os processos na elaboração de princípios ativos (moléculas) são muito elevados e há a necessidade de busca externa com o objetivo de otimizar e agilizar as necessidades na fabricação, comercialização e distribuição de medicamentos.

FIGURA 3: Relação de redes interorganizacionais na indústria farmacêutica FONTE: Adaptado pelo autor de Queiroz e González (2001)

Ao longo de sua história, a indústria farmacêutica passou por muitas mudanças e, atualmente, tem seu alicerce de existência na pesquisa e desenvolvimento de medicamentos. Em sua fase inicial, a maioria dos medicamentos era de origem natural e o seu desenvolvimento ocorria na aplicação de práticas terapêuticas primitivas, cujas principais atividades eram a separação e a purificação de produtos extraídos de plantas ou animais. Em seguida, essas drogas foram substituídas por medicamentos químicos sintéticos, o que passou a exigir crescente conhecimento científico e volumes de capital investidos na pesquisa e no desenvolvimento dos materiais sintéticos (BASTOS, 2006).

Atualmente, o setor industrial farmacêutico é altamente internacionalizado e gera um mercado mundial de cerca de US$ 407 bilhões por ano, concentrado inicialmente nas nações desenvolvidas, Tabela 1. Apesar do grande número de fabricantes, dominados por um pequeno número de empresas internacionalizadas, apenas as dez maiores multinacionais representam mais da metade das vendas do setor (BASTOS, 2006).

IND

INDÚÚSTRIA FARMACÊUTICASTRIA FARMACÊUTICA NO BRASIL NO BRASIL REDES DE PARCERIAS REDES DE PARCERIAS NO SETOR NO SETOR PROCESSO PROCESSO DECIS

DECISÓÓRIORIO ESTRAT

ESTRATÉÉGICOGICO

CONSUMIDORES CLIENTES

RELA

RELAÇÇÃO INTERORGANIZACIONAL/ÃO INTERORGANIZACIONAL/ FORMAS H

FORMAS HÍÍBRIDASBRIDAS IND

INDÚÚSTRIA FARMACÊUTICASTRIA FARMACÊUTICA NO BRASIL NO BRASIL REDES DE PARCERIAS REDES DE PARCERIAS NO SETOR NO SETOR PROCESSO PROCESSO DECIS

DECISÓÓRIORIO ESTRAT

ESTRATÉÉGICOGICO

CONSUMIDORES CLIENTES

RELA

RELAÇÇÃO INTERORGANIZACIONAL/ÃO INTERORGANIZACIONAL/ FORMAS H

TABELA 1: Mercado Global de Medicamentos por Região – 2007

Nesse mercado global do setor industrial farmacêutico, as cinco maiores empresas nos últimos 12 meses, considerando o período de setembro de 2006 a agosto de 2007, foram: Pfizer, Glaxosmithkline, Novartis, Astrazeneca e Sanofi-Aventis. Na América Latina, dentro da participação de mercado de 5%, o Brasil se destaca com US$ 9,5 bilhões (46%), o México com US$ 8,5 bilhões (41%) e a Argentina com US$ 2,6 bilhões (12%), dados esses recentemente confirmados pela IMS Health Incorporated.

A tendência mundial, com base na ciência e na tecnologia, está cada vez mais inter- relacionada com os setores intensivos de conhecimento, que envolvem estruturação de arranjos com outros agentes. Apesar de essas firmas deterem a maior participação do mercado, várias outras instituições participam do processo de P&D na indústria farmacêutica, tais como: instituições acadêmicas, instituições públicas e privadas de pesquisa, laboratórios públicos e pequenas firmas de biotecnologia. Não longe disso, outros países que possuem poder de mão-de-obra contribuem fazendo parte da rede interorganizacional, seja por meio de universidades, instituições públicas ou governos (BASTOS, 2006).

A configuração da indústria farmacêutica nos países em desenvolvimento é, de maneira geral, marcada pela presença de empresas e instituições locais e das grandes multinacionais européias e americanas. Estas tendem a dominar parcela significativa do mercado.

No Brasil, por exemplo, embora as empresas nacionais representem 80% do número total de empresas instaladas no país, elas detêm menos de 20% do mercado, daí o porquê das limitações das empresas nacionais em investir em P&D.

Em relação à indústria farmacêutica instalada na Argentina, o núcleo central do setor está formado por, aproximadamente, 75 empresas, dentre empresas nacionais, filiais de grandes empresas multinacionais e laboratórios públicos. Assim como na maioria dos países, a indústria farmacêutica na Argentina é muito concentrada, dado que as quatro maiores

empresas respondem por 25% do mercado e as oito maiores empresas possuem 28% de todo o mercado argentino de medicamentos. Outro elemento a ser destacado é o fato de que 71% do faturamento dos laboratórios tiveram origem no mercado interno. A concentração naquele mercado é mais pronunciado quando se avaliam as vendas locais de importados. Sob esse critério, as quatro primeiras empresas são responsáveis por 30% das importações (IMS HEALTH, 2007).