Capítulo III: Metodologia de Intervenção e Investigação
3.3. Estratégias metodológicas de recolha e análise de dados
Neste projeto, orientado por ciclos sucessivos de reflexão, corroboramos as afirmações de Kemmis, o qual caracteriza o processo de investigação como “uma espiral autorreflexiva de ciclos de planificação, ação, observação e reflexão” (citado por Cardoso, 2014, p. 31).
Neste sentido para uma análise fundamentada, utilizamos os seguintes instrumentos de recolha e análise de dados:
Observação direta e participante Notas de campo (N.C)
Registo de incidentes críticos (I.C) Diários de bordo (D.B)
Reflexões pormenorizadas Registos áudio
Registos fotográficos
Grelhas de avaliação de competências
Dois questionários enviados para contexto familiar na EPE Desafios matemáticos e linguísticos no 1.ºCEB
Fichas diagnósticas e formativas com questões com o símbolo estrela (indicador de investigação).
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Relativamente à observação participante, esta foi crucial para observar e escutar com rigor as interações entre as crianças e com a educadora/professora, pois “permite o conhecimento direto dos fenómenos tal como eles acontecem num determinado contexto” (Máximo-Esteves, 2008, p. 87). Deste modo, a técnica de observação “ajuda a compreender os contextos, as pessoas que nele se movimentam e as suas interações” (Máximo-Esteves, 2008, p. 87).
Importa referir a importância da observação no ciclo de documentação, pelo que evidenciamos o que é descrito no documento das Aprendizagens Essenciais, o qual estabelece que “em cada escola, se possa promover trabalho articulado entre as AE e as outras aprendizagens previstas nos demais documentos curriculares, com aprofundamento de temas, explorações interdisciplinares diversificadas, mobilização de componentes locais do currículo, entre outras opções” (DGE). Refira-se a observação in loco, as notas de campo, e o processo dialógico cooperativo e reflexivo com a Educadora Conceição e com a Professora Lurdes que nos permitiram definir com maior assertividade a matriz do projeto. Sublinhe-se que a fase de observação participante mediante as notas de campo e os registos fotográficos possibilitaram identificar as características do contexto pedagógico, as especificidades singulares e grupais das crianças, aferir qual a rotina e a/s tipologia/s de trabalho utilizada/s, quais os interesses destas, as suas Áreas de Conteúdo/ Curriculares preferidas e o que ainda não despoleta a sua atenção, isto é, os pontos favoráveis e menos favoráveis do contexto pedagógico e do meio local e global, procurando delinear estratégias que garantissem o equilíbrio entre o que é possível potenciar e o que carece de maior acuidade para que não constitua uma fragilidade. Assim, estes indicadores permitiram definir com maior assertividade a matriz do projeto.
Saliente-se que na Educação Pré-Escolar desenvolveu-se um projeto em que a questão do trabalho cooperativo, da integração curricular, de uma cidadania ativa e da valorização do meio local e global e, por fim, da construção de competências transversais foram os principais motores da metodologia de investigação-ação. Por conseguinte, procuramos que no 1.º Ciclo do Ensino Básico se mantivessem os princípios orientadores supramencionados. Trata-se de construir um projeto transversal em que a temática da valorização e preservação do meio local e global e, consequentemente, de ações promotoras de um desenvolvimento sustentável são o cerne de inter- relação entre estes dois níveis educativos.
No que diz respeito ao diário de bordo reflexivo, este foi uma ferramenta utilizada nos dois níveis educativos e possibilitou elaborar-se anotações dos principais aspetos vivenciados pelos respetivos grupos de crianças. Assim, a elaboração deste diário revelou-se determinante como
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complemento dos registos áudio, porque diversas fontes de informação resultaram do cruzamento destes dois instrumentos. Segundo Máximo-Esteves “o diário é, pois, um dos recursos metodológicos mais recomentados, pela sua potencial riqueza descritiva, interpretativa e reflexiva” (2008, p. 89).
No que concerne aos registos áudio, estes possibilitaram evocar o que as crianças disseram, constituindo um ponto de referência no que argumentaram aquando da comunicação das suas ideias, das suas sugestões e o modo como se formularam as questões. Estas permitiram identificar quais as estratégias que as crianças referiram como as mais assertivas na construção do seu conhecimento e o que é preciso alterar para que estas respeitem a heterogeneidade dos grupos.
Denote-se que os registos fotográficos documentam a interação dos grupos, evidenciando os momentos de comunicação oral e escrita e possibilitando estabelecer comparações entre as diferentes atividades realizadas no âmbito do projeto. Estas configuram-se como instrumentos que apoiam a recolha de dados, visto que permitem evocar e analisar pormenores que poderão não ter sido identificados com clareza no momento da ação. Aluda-se, ainda, à sua relevância na documentação das diferentes fases do projeto e de ser um suporte que ilustra as produções realizadas pelas crianças. De acordo com Lídia Máximo-Esteves (2008), os registos fotográficos “permitem, por exemplo, inventariar rapidamente os objetos da sala – os produtos artísticos das crianças, os painéis de parede, a estante dos livros, a organização da sala, o registo o que está escrito no quadro” (Bogdan & Biklen, citados por Máximo-Esteves, 2008, p. 91).
Sublinhe-se a centralidade da observação in loco, pois é fulcral ao nível da autoavaliação e autorregulação, permitindo identificar limitações que carecem de formação contínua, visto que é crucial garantir que essas lacunas não condicionam a prática pedagógica do profissional de Educação. Posteriormente, na fase de implementação do projeto a grelha de competências possibilitou a identificação das principais mudanças ao nível da evolução da utilização das competências transversais, nomeadamente a capacidade de pesquisa, de diálogo e de distribuição de tarefas. Este instrumento de recolha de dados permite verificar com maior grau de segurança a consistência e a importância deste tipo de trabalho, da articulação das diferentes Áreas de Conteúdo/Curriculares na construção de competências transversais.
Nas questões relativas às fichas formativas e aos desafios marcados com o símbolo estrela no 1.º Ciclo do Ensino Básico, regra geral, correspondem a perguntas de índole projetivo/regenerativo, evidenciando de que modo a comunicação, a argumentação, o
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posicionamento pessoal e a articulação das aprendizagens contribuíram para uma maior competência ao nível do pensamento crítico, criativo, inferencial e metacognitivo, isto é, se forma uma rede de significados aplicável em circunstâncias similares ou distintas.
Por conseguinte, os instrumentos de recolha e análise de dados são fulcrais para verificar o processo singular de aprendizagem de cada criança, explorando ciclos didáticos contínuos e consistentes que possibilitem a construção pró-ativa de conhecimento por parte das crianças, estabelecendo a articulação entre o contexto escolar e o contexto social.
Em suma, importa explicitar o que é consignado no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, o qual evidencia a importância de um perfil de base humanista, ou seja, as aprendizagens configuram-se “como centro do processo educativo, a inclusão como exigência, a contribuição para o desenvolvimento sustentável como desafio, já que temos de criar condições de adaptabilidade e de estabilidade, visando valorizar o saber e a compreensão da realidade obriga a uma referência comum de rigor e atenção às diferenças” (PA, 2017, p. 6).