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Estratégias – Uso do buscador

5.3 Construção do Conhecimento

5.3.3 Busca por informação

5.3.3.4 Estratégias – Uso do buscador

Um fator muito interessante despontou na consciência de um dos participantes sobre a importância de definir a melhor forma de interagir com o motor de busca. Remetendo a Furnival e Abe (2008); estas autoras apontaram um estudo que indica que os usuários se colocam como agentes passivos no processo de busca, atribuindo à ferramenta de busca ou à própria Internet a responsabilidade e principalmente o mérito dos dados recuperados. Este participante mostrou uma atitude oposta:

Eu acho que muito tem a ver como que você enuncia o que você quer, porque muitas vezes sai uma coisa completamente o contrário do que você quer realmente. Tem lá seus pontos negativos e positivos.

Os demais alunos relataram utilizar artifícios próprios para driblar os eventuais riscos de obter informação na relação “grande quantidade e baixa qualidade”. Um deles pontuou o doutrinamento que recebem dos professores e do próprio método de aprendizagem através da pesquisa:

A gente trabalha muito com pensamento dedutivo, então quando você vê, você já leu, você já percebe: ‘olha, tem alguma coisa errada’. Nós somos designados a olhar muitos textos acadêmicos também, nós somos estimulados a isso.

O outro declarou fazer uma busca mais horizontal/ampla e depois cruzar as informações. Segundo ele:

Uma coisa que já ajuda a ter essa precisão do que é do que que tá legal ,do que é que não tá; o que que é confiável e do que não é; é pesquisar em várias fontes. Então normalmente para uma questão eu abro cinco fontes diferentes [sites da Internet] e

131 aí eu dentro dessas cinco fontes vou vendo e no final pego todas as informações e aí consigo elaborar uma resposta.

Esta é a nova tendência de pesquisa descrita por Mieli (2009) que o incomoda e vem causando inquietações nos professores. De acordo com ele, estamos observando, através dos alunos, o Google se transformar na principal interface entre a realidade e o pesquisador na Internet. Seria esta uma forma de plágio? Retoma-se a discussão apontada na seção 3.4, que mostra-se longe de ter conclusões apuradas.

Um ponto em comum de incômodo a mais de um aluno refere-se a grandes sites. A Wikipédia, que tem boa aceitação como fonte de informação e pesquisa – que é inclusive tema de muitos estudos científicos – foi preterida por dois participantes, como se observa:

Tem alguns sites que são mais confiáveis que outros, por exemplo: no YahooRespostas e Wikipédia as coisas são mais... Como tem uma liberdade maior de pessoas comuns - entre aspas - escreverem então aí eu evito, mas por exemplo, sites de universidades tem bastantes coisas. Independente de cada tema eu vou achando aqueles sites que são sites bons.

Aí eu não gosto de olhar na Wikipédia, prefiro olhar em sei lá, sites que são do assunto, assim por exemplo, eu estava fazendo um roteiro de religiões afro brasileiras e eu fui em um site que era Terreiro Tio Antônio ao invés de ir em empresas assim, sites corporativos.

Este último aluno, quando questionado sobre a escolha de um site, respondeu se guiar pelo que considerava que era “uma boa definição do conceito ou se era de um lugar

confiável”. Ao ser perguntado “o que é um site confiável?” o aluno ofereceu a seguinte

resposta:

Eu vou muito pela imagem do site assim, aquele site cheio de propaganda com textos meio fora de estrutura é meio confuso. Ah e eu não confio em quem não usa uma linguagem..., a norma culta brasileira.

Após a entrega do trabalho os sentimentos relatados pelos alunos foram positivos, em sua maioria. Bastante semelhantes com o que sentem logo ao receber, pois entendem que tudo

é um ciclo. Algumas falas relatam “um certo orgulho de ter terminado aquilo e ter saído uma coisa boa” e outros ficam felizes de “tirar um pouco do peso das costas”.

Se eu sentir que eu fiz um bom trabalho; porque assim muitas vezes a gente entrega com dúvidas né; então, se eu sentir que eu fechei o assunto e que é eu me apropriei das informações e ganhei conhecimento com isso, então assim eu fico muito feliz. Com relação à análise do antes e depois: quando perguntados sobre quais fontes utilizaram e a metodologia, o confronto do antes e depois nas entrevistas dos alunos mostrou pouca discrepância. Parcialmente por que tudo é muito variável. No discurso dos dois alunos

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que conciliam o uso do buscador com as fontes impressas não houve nada significativamente diferente do que os mesmos alegaram antecipadamente.

O destaque ficou com o aluno que alegou costumar pedir mais ajuda, consultar muito a Internet e ler antes o que é proposto nos exercícios. Com um discurso praticamente idêntico ao enunciado por ele anteriormente, ele revelou que:

Eu não li tudo; eu não vou ler tudo e absorver tudo. (...) muitas das respostas estão nos textos, então eu recorri aos textos, mas esse roteiro eu fiz muito na Internet também; mais na Internet do que nos próprios textos.

Quando perguntado o que contribuiu mais o aluno respondeu: “O Google. A gente

acha quase tudo no Google”.

Outra incidência ficou com o participante que disse usar “bem pouco” a Internet. A

narrativa do seu modo de trabalho demonstrou que este acaba usando a Internet mais do que imagina. Para a finalização do roteiro, declarou ter utilizado: “foram esses livros, que são livros didáticos e mais estes sites, mas eu peguei mais de faculdade, essas coisas, o dicionário e ajuda dele [professor]”. Ao ser perguntado sobre o que contribuiu mais ele retomou:

“ciências sociais eu utilizo mais os textos que já são separados pelos professores e ciências naturais é mais Internet, principalmente em física e matemática”.

Como se pode observar, mesmo durante a tentativa de compreender o processo de aprendizagem praticado na escola eleita como objeto de estudo – aqui chamado de método construtivista e associado, pelo seu modelo de roteiros e de aprendizagem autônoma, ao

guided inquiry sugerido por Kuhlthau – foi feita uma primeira observação entre o uso da

biblioteca e do Google pelos estudantes investigados. A próxima seção se propõe aprofundar este paralelo biblioteca/Google apresentando, entre outras, mais propriamente as análises advindas da aplicação da Abordagem Clínica da Informação (ARAÚJO, 2013; PAULA, 1999, 2005, 2009, 2011, 2012, 2013, 2015).