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Método construtivista

5.3 Construção do Conhecimento

5.3.1 Método construtivista

As entrevistas se iniciaram questionando os respondentes acerca do método de ensino da escola. O objetivo aqui era convidar cada aluno a refletir e opinar sobre suas posturas em relação à escola, às atividades solicitadas e sobre o próprio aprendizado. Os julgamentos foram diversificados e as repostas ressaltaram muito mais os aspectos positivos do que os negativos. De forma geral, em congruência, todos os entrevistados declararam gostar do modelo. A variação incidiu nas impressões sobre o mesmo (arrojado e progressista ante o tradicional e conservador) e nas vantagens e desvantagens que apresenta.

As falas dos participantes mostraram interseções comuns porém com significativas divergências. Enquanto alguns entenderam que estas práticas e técnicas de instrução renovaram as antigas estruturas de ensino e aprendizado, outros acharam que o tradicional não deixou de se fazer presente. Como é possível constatar, a fala de um aluno revelou que: “É um

método de ensino completamente inovador, é revolucionário [...]” ao passo que outro o

considerou:

Esse método de ensino é o método tradicional, mais outros métodos, porque ele em momento algum deixa as aulas expositivas; ele na verdade complementou com outras coisas que as outras escolas não têm.

Este somatório do tradicional com elementos originais é o que fortalece a qualidade, segundo este aluno:

Eu acho que na maioria [das vezes] eu saio aprendendo muito mais do que eu aprenderia com professor falando, porque é muito mais amplo, é muito mais trabalho. Por exemplo, em sociologia você tem um roteiro, vídeo aula, você tem texto, tem debate com professor; a cada tema tem um debate com professor; no final

113 de tudo tem um debate, então, depois de tanta pesquisa, depois de tanto se discutir com os colegas e com professor, vai acrescentando.

Uma reação de apatia e neutralidade pôde ser observada na fala de um respondente, que avaliou este método “uma possibilidade de ser ensinado, diante de muitas”. Em contrapartida, outro exaltou a nova metodologia, declarando-a extremamente válida, uma vez

que “se tem alunos diferentes têm que ter escolas diferentes”. Este mesmo participante ainda

reforçou que:

Olha, eu tive problemas muito sérios com estudo durante minha vida; eu estudei durante uns oito, nove anos em uma escola tradicional e sempre fui um aluno bastante mediano. Aqui na escola, foi assim, engraçado que aqui aprendi o gosto por estudar.

A relação dos benefícios diante dos inconvenientes mostrou que o lado positivo se sobressaiu. Ao serem perguntados sobre o que mais valorizavam dentre as possibilidades oferecidas pela metodologia empregada, os aspectos mais elencados pelos participante foram a independência, a liberdade e a possibilidade de escolha do aluno. Segundo este participante, o novo projeto pedagógico:

tem uma proposta muito bacana do ponto de vista de liberdade do aluno, de construção de autonomia, de construção de respeito com o colega; se vai criando a própria responsabilidade.

Somando ao discurso do entrevistado anterior, novamente apareceu a importância que os mesmos conferem à liberdade de ação. Através da autonomia conferida a eles, os alunos trabalham a responsabilidade e a consciência. Desta forma, podem assumir uma postura ativa e se sentirem partes integrantes do processo de construção do conhecimento, como se confirmou:

o foco na autonomia, na decisão de escolha do aluno, nessa coisa de você tipo ‘o aluno conduzir o próprio conhecimento’ de ter um professor fazendo com que o aluno reproduza o conhecimento. Agora a gente faz realmente parte do processo de construção do conhecimento.

Isso vem reforçar a teoria do Inquiry Learning, de Carol Kuhlthau (KUHLTHAU; MANIOTES; CASPARI, 2007; KUHLTHAU, 2010b) apresentada na seção 2.3. Segundo a autora, uma das importantes vantagens da abordagem de aprendizado através desse método é a variedade de competências e conhecimentos que os estudantes desenvolvem através dele:

information literacy, aprender a aprender, conteúdo curricular, literacy competence (ler,

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23). Entre essas os estudantes acima ressaltaram a autonomia e habilidades sociais (respeito com o colega).

Curiosamente, esta mesma autonomia apareceu vinculada ao único aspecto negativo que um dos alunos conseguiu elencar: o compromisso e incumbências que a abertura do modelo pressupõe. O método de ensino tradicional acomoda uma participação mais passiva do sujeito; mostrando-se “mais fácil” para os alunos que não tem despontado o ímpeto

investigativo, como evidenciou o aluno: “O problema é (sic) pessoas como eu que são meio

preguiçosas, por que você que tem que ter o impulso de fazer [aprender] as coisas e nem sempre isso é fácil”.

Este estudante que se confessou preguiçoso foi o indicado como “menos dedicado”

pelos professores no momento da seleção da amostra. No decorrer da entrevista, este aluno relatou preferir as fontes da Internet para realizar suas pesquisas. Muito embora isso não possa ser presumido como regra ou mesmo tendência, a fala de outro aluno identificou a crença de que a Internet pode auxiliar a prática do copia e cola e a ociosidade:

Acho que vai da personalidade do aluno. Por exemplo, se você é uma pessoa muito preguiçosa e não gosta disso, parar pra ler um livro e no ir no sumário ver se tem o assunto e se quer uma pesquisa bem rápida e dinâmica – não que no livro não seja rápida; vou colocar a palavra rápida – se essa é a personalidade do aluno, de mais preguiça, então com certeza ele vai utilizar mais Internet.

Ainda que divergentes e espontâneas, as respostas demonstraram alunos muito conscientes e maduros no que se refere às respectivas competências em julgar seus processos de trabalho, iniciativa e o próprio desempenho estudantil. Estas inferências mostraram-se importantes para compreender o processo de trabalho destes alunos.