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O usuário diante da “Googleteconomia”

3.4 Boom Informacional

3.5.2 O usuário diante da “Googleteconomia”

Refletindo sobre a relação de jovens usuários com o Google, descreve-se aqui, do ponto de vista encontrado na literatura, uma conduta atual por parte destes ao desempenharem pesquisas escolares. Godwin (2006) declara que os estudantes da geração Net não vêem mais a biblioteca como o lugar natural de investigação para consolidar a sua aprendizagem. De acordo com ele, a pesquisa na Internet tem imperado cada vez mais e o Google, com a simplicidade de sua página, se tornou a maneira favorita de pesquisa dos alunos.

Igualmente Griffiths e Brophy (2005) apresentam o resultado de um estudo sobre comportamento de busca de estudantes, que demonstra que os mecanismos comerciais de busca na Internet predominam entre suas estratégias de busca por informação.

A mesma preocupação também foi descrita por William e Rowlands (2008) dentre outros. Em síntese, o que todos eles evidenciam é que os jovens, ao procurarem por um dado, acham mais fácil utilizar o Google primeiro. Os alunos têm dificuldade para localizar informações e fontes e mostram-se confusos quanto à qualidade quando se trata de avaliar os recursos que consultam. Demonstram, ainda, que o uso de recursos escolares tradicionais pelos alunos é baixo e que, muito embora a preferência por motores de busca prevaleça, os alunos não necessariamente estão melhor com esta abordagem.

Como deixa entrever a obra compilada por Miller e Pellen (2005), a grande incidência da presença do Google como ferramenta informacional não pode ser desvinculada do paradigma das bibliotecas, da postura dos bibliotecários e nem da tendência atual de comportamento dos usuários. O que os textos analisados indicam é a necessidade encontrar o equilíbrio neste processo. Parece evidente que as bibliotecas devem acompanhar as atuais

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tendências tecnológicas e redimensionar seus espaços, trabalhos, serviços e produtos. A questão que permanece é o que isso representa em termos práticos? O mais notável permanece na forma como a era digital transformou o modo como as pessoas vivem suas vidas e se relacionam entre si e com a informação ao seu redor.

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4 - DESENHO METODOLÓGICO

Como ensina Vergara (2010), em uma pesquisa, a metodologia orienta a maneira pela qual um pesquisador aborda um determinado recorte da realidade. Tomando o problema apresentado e os objetivos propostos neste trabalho, procura-se nesta seção detalhar os procedimentos empregados para avaliar como se posiciona o sujeito ante a informação nas perspectivas da Internet (explorada pelo Google) e da biblioteca. Explica-se aqui o universo e as características da pesquisa, bem como as técnicas que fundamentaram a coleta de dados.

4.1 - Caracterizações da Pesquisa

A pesquisa aplicada é de caráter qualitativo e compreendeu essencialmente um estudo de usuários, com alunos do Ensino Médio de uma escola particular. Rememorando, segundo Figueiredo (1994, p.7), estudo de usuários são investigações destinadas a saber o que os indivíduos precisam em matéria de informação. Baptista e Cunha (2007) atestam que desde as últimas cinco décadas a temática tem sido amplamente analisada nas mais variadas

perspectivas, todavia com a constante de “coletar dados para criar ou avaliar produtos e

serviços de informação bem como entender melhor o fluxo da transferência da informação (p.168)”.

Assim como Cunha, Amaral e Dantas (2015) adota-se o conceito de estudo de usuários como:

Um campo interdisciplinar do conhecimento que, no âmbito da Biblioteconomia e da Ciência da Informação, a partir da aplicação de diferentes métodos e técnicas de pesquisa, possibilita a análise dos fenômenos sociais e humanos relacionados com os diferentes aspectos e características da relação do usuário com a informação em suas ações, comportamentos e práticas informativas52.

Nesta definição, está implícita a aceitação da expressão estudos de usuários da informação englobando todos os tipos de estudos de necessidades, desejos, demandas, expectativas, atitudes, comportamentos e demais práticas no uso da informação pelo usuário (CUNHA, AMARAL, DANTAS, 2015, p.36).

De fato, nos contextos em que informação é produzida e trabalhada os estudos de usuários são capazes de responder diversos questionamentos que se colocam, neste caso, referentes ao processo de busca de informação no Google e na Biblioteca. Kulathuramaiyer e Balke (2006) declararam que estudos de usuários que demonstram as reais implicações sobre

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o que uma companhia como a Google pode imprimir a seus usuários são muito necessários e ainda não explícitos para a maioria das pessoas; o que contribuiu para corroborar na definição das pretensões da pesquisa.

4.2 - A Escola Pesquisada

A escola pesquisada é uma instituição laica e particular da cidade de Belo Horizonte, que atua desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, sendo este o foco de análise. Tem uma proposta pedagógica bastante diferenciada e considerada inovadora no Brasil. Desde fevereiro de 2014, esta escola vem implementando mudanças nos padrões tradicionais de ensino, o que envolveu a emersão de um currículo aberto e reformas físicas no ambiente da escola. A peculiaridade deste novo modelo, centrado em bases construtivistas, ressalta a autonomia do sujeito e a pesquisa escolar enquanto ferramenta essencial de efetivação e consolidação do aprendizado. O aluno é levado a encontrar respostas a partir de seus próprios conhecimentos e interação com a realidade e com os colegas.

A escolha da instituição em questão justificou-se diante da necessidade da colaboração de professores e métodos de ensino que privilegiassem a pesquisa escolar. Como detalhado no item 2.3 desta dissertação, a pesquisa, feita da forma convencional (solicitada pelo professor e trabalhada em casa), não corresponde à realidade da escola em estudo. Ao contrário, a pesquisa parte do dia a dia das aulas e é constituinte do método de ensino, sendo incorporada a ele para despertar o espírito investigativo dos alunos, o interesse dos mesmos pelo conteúdo e habilidades em se relacionar com a informação.

Como se evidencia no Plano Pedagógico:

Se desejamos formar jovens pesquisadores, produtores de conhecimento, capazes de contribuir para a transformação do mundo, é essencial que desenvolvam o espírito investigativo, aprendendo a lidar com a pesquisa. Por isso, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, a pesquisa constitui a estratégia prioritária de produção de conhecimento (Projeto Pedagógico53 da Escola Investigada; revisado e atualizado para o ano letivo de 2015; grifo nosso).

Do conteúdo ministrado aos estudantes do Ensino Médio somam-se disciplinas

consideradas de “base nacional comum” e “partes diversificadas” complementadas pela

escola. Integram as áreas do conhecimento: Artes, Linguagens (Língua Portuguesa, Literatura, Língua Estrangeira), Ciências Humanas e Sociais (História, Geografia, Sociologia, Filosofia), Ciências da Natureza (Química, Física, Biologia), Matemática, Corpo e Mente (Educação

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Física e Artes Corporais: Yoga, Tai-Chi, Capoeira), além de Trabalho e Política (Empreendedorismo, Projeto de Vida e Noções de Direito).

Curiosamente se aproximando da lógica que anui à obra de Sibilia: “o confinamento

dos alunos em paredes nas escolas perdeu o sentido” (SIBILIA, 2012, p. 187) – citada na

seção 2.3 dessa dissertação – na escola não existem paredes, não existem salas de aula nem apresentações expositivas por parte dos docentes. Com exceção das partes diversificadas, as aulas são trabalhadas em salões (Figura 15). Nestes ambientes ficam dispostas estantes com livros didáticos (Figura 16) e mesas com 4 ou 6 cadeiras, onde os alunos se organizam em grupos de trabalho e recebem roteiros temáticos, método pelo qual acontece o início do processo de aprendizagem.

FIGURA 15: Salões de aula

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FIGURA 16: Materiais didáticos na estante em sala

FONTE: Fotografia tirada pela autora. Dados da pesquisa, 2014.

Os estudantes começam a cumprir suas atividades separando e integrando o que é individual e o coletivo. Se sentem dificuldades, pedem apoio aos colegas (de sua própria mesa ou de outras) ou ao professor, que então dá explicações para grupos ou alunos específicos. Normalmente ficam 4 professores (relativos à área do conhecimento) presentes no salão à disposição dos alunos. Estes ficam percorrendo as mesas e acompanhando os alunos.

Os grupos são divididos segundo critérios bem específicos. A heterogeneidade de idade, sexo e afinidade com as disciplinas procura ser mantida em todas as mesas (grifo nosso). O objetivo é equilibrar o grau de conhecimento para que os alunos, além de aprender, possam compartilhar e colaborar com o aprendizado dos demais colegas. O método de avaliação também é personalizado. Existem módulos nos quais se divide a totalidade do conteúdo programático. Como são os alunos que administram o tempo e o prazo para terminar os roteiros, quando se sentem prontos solicitam e marcam as avaliações com o professor.

Com relação às regras de organização internas: não há uniformes e não existe chamada. A lista de presença é marcada pelo aluno, a quem o encargo de assinalar a frequência é delegado desde o primeiro dia de aula. Há um controle esporádico realizado por parte da coordenação, mas não é regra. Ensina-se aos alunos assumir responsabilidades.

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FIGURA 17: Mesas de Trabalho

FONTE: Fotografia tirada pela autora. Dados da pesquisa, 2014.

Nesta instituição, cada aluno tem autonomia de tempo e de metodologia para conseguir cumprir suas atividades. Prevalece a liberdade de escolha entre os alunos. Não existe uma filosofia de métodos impositivos. Pais e alunos votaram pela mudança, e através de uma enquete realizada pela escola (em 2014), a grande maioria (quase que absoluta) revelou preferir a metodologia atual.

4.3 - Sujeitos pesquisados

Foram entrevistados quatro alunos, com idades entre 14-17 anos, duas do sexo feminino e dois do masculino54. Estes jovens cursam o Ensino Médio (de acordo com o Plano

Pedagógico, “o Ensino Médio constitui um ciclo em si, que corresponde à juventude”). O

perfil socioeconômico dos mesmos permite que sejam classificados na categoria classe

“média-alta”. Todos declararam ter condições de manter acervos particulares de livros e fácil

acesso a demais materiais bibliográficos. Quanto às tecnologias, todos têm computadores, todos têm acesso regular à Internet, alguns levam tablets e computadores próprios, outros usam os da Escola na ocasião das aulas. Os estudantes convivem com diversas tipologias de material; a utilização fica a critério deles e o que varia usualmente é a recomendação do professor. Como mencionado anteriormente, eles não são excluídos digitalmente.

A amostra procurou abranger estes estudantes, pois tanto a faixa etária destes adolescentes em questão, como o acesso à Internet, os coloca dentro da classificação estudada

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anteriormente: os nativos digitais, geração Net; ou ainda Geração Google, na classificação de Ian Rowlands mencionada no item 1.5. A escolha foi feita através de um convite a alunos específicos, cujas posturas despertaram interesse e curiosidade da pesquisadora, após um período de observação que se extendeu por duas semanas (aproximadamente 06 dias de acompanhamento). Os professores também foram convidados a manifestar suas opiniões a respeito da seleção; convidados a indicar alunos de diferentes graus de desempenho: excelente, medianos e um cujo interesse pela disciplina e dedicação à escola fosse pouco expressivo. Os participantes estão identificados por números e não há identificação por gênero.

Os indivíduos que se dispuseram a participar (bem como os respectivos responsáveis, visto que eram menores de idade) receberam os Termos de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) e os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE); documentos com a apresentação da pesquisa, explicação dos objetivos e procedimentos da mesma, os direitos dos participantes, e informações sobre a ausência ou presença de riscos aos quais estariam expostos (disponíveis nos apêndices 4 e 5).