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Relação com os ambientes

5.3 Construção do Conhecimento

5.3.3 Busca por informação

5.3.3.2 Relação com os ambientes

O papel da biblioteca e da Internet como canais de pesquisa fica mais explícito na relação e concepção deles com cada um destes espaços. Através da descrição do ambiente e da reflexão sobre as fontes que contribuíram mais na realização dos trabalhos algumas observações se destacaram.

A biblioteca não foi considerada necessária para cumprir as atividades. E os motivos desta mudança paradigmática devem-se aos acervos pessoais, aos livros nas salas e, em grande, parte à Internet. Na opinião dos alunos:

Eu acho que agora ficou muito mais fácil de você conseguir encontrar os livros na Internet, então como fonte de pesquisa eu já não uso mais os livros da biblioteca ou eu tenho os meus em casa ou eu tenho acesso aos que eu não tenho na Internet, mas eu também criei o hábito de estar fazendo a minha própria biblioteca.

No sentido escolar/acadêmico a biblioteca é um meio, mas tem vários outros meios de se conseguir a mesma coisa e como eu tenho bastante acesso a esses outros meios também, eu tenho facilidade.

De acordo com eles a Rede oferece principalmente comodidade diante da facilidade do acesso ante o espaço/tempo. Elimina também o “transtorno” do deslocamento. Acredita-se que em uma era na qual é possível estar totalmente conectado, com acesso à informação na ponta dos dedos a todo o momento, o confinamento dos livros, dos dados, perdeu o sentido.

Com relação ao material impresso, são mais empregados os que ficam na própria sala de aula e o que possuem em casa. Quando questionou-se que materiais eram usados além do contido na Internet, as respostas remeteram novamente à questão do espaço da biblioteca e dos livros bem ao alcance dos alunos:

Tem livros meus; livros daqui da escola; a maioria é daqui da escola que ficam nas salas. Fica muito mais fácil evitar justamente este trânsito, esse deslocamento.

126 São os livros didáticos que estão disponíveis pra gente aqui na escola, ou senão livros de literatura mesmo; como por exemplo, tem um livro chamado 1822. Esse é um livro, por exemplo, que pode auxiliar, pode ligar com esses outros estudos, com os livros didáticos, por exemplo. Esses livros ficam aqui na sala se você precisar levar pra casa você pode levar contando que você traga no dia seguinte.

Quando solicitados a descrever como exatamente os alunos usavam a Internet e o Google para localizar e trabalhar as fontes, confirmou-se que a Rede é utilizada como principal recurso por apenas um dos alunos, que diz utilizar o Google para buscar os termos das pesquisas relacionados com a atividade em questão. Quando perguntado se ele se direciona mais à Internet do que aos livros para fazer essas buscas ele assente.

Geralmente eu vou buscando conceitos, como (exemplo do roteiro em questão) conceito de universalidade, conceito de particularidade, conceito de natureza e de cultura pra eu mesmo formular uma resposta.

Por outro participante tanto a Internet como o buscador são pouco utilizados. Este aluno revela ter uma relação difusa com a Web devido ao desconforto com a vastidão da Internet e diante da dificuldade em delimitar um foco para as pesquisas feitas através do buscador, identificando os termos de busca mais acertados, úteis relevantes ou adequados:

Eu raramente uso a Internet só em caso de coisa que eu não consigo entender mesmo a solução, aí às vezes eu puxo o raciocínio que por não ser tão abstrato fica mais fácil olhar pela Internet. (...) Nesse campo eu cheguei a pesquisar na Internet, mas como eu pensei ‘nossa vou achar diversas fontes, desde músicas a poemas, e não vou conseguir fazer isso’ então vou usar o que eu já aprendi na escola para fazer. Os dois demais exibiram um comportamento bem balanceado: porém um deles utilizando mais ora um, ora outro (livros/impressos x Google para recuperar informação da Rede e procurar demais materiais) e o seguinte conciliando sempre as duas possibilidades, na realização de pesquisas e trabalhos mais aprofundados, como mostra a fala:

É variável se é a primeira opção, mas a Internet normalmente é um complemento; ela é uma coisa que vai complementar a leitura básica que eu já tenho, ela vai trazer alguma informação que o trabalho não ofereceu e outra base.

Um aspecto interessante de ser ressaltado sobre o emprego da Internet refere-se à dinâmica dos recursos multimídia. A interação de texto, som, imagem e vídeo que estes oferecem em mesmo suporte atraem os alunos e cada vez mais se consolidam ferramenta educacional. Como declaram dois entrevistados:

Em sociologia tem muito isso, a professora até extrapola e fala vai lá escuta o álbum de tal músico, ou veja o filme tal para poder esclarecer ou leia o texto tal pra (sic) poder ajudar.

127 Na Internet busco muito, tipo assim principalmente as questões de buscas rápidas e interativas que são palavras-chaves ou, por exemplo, “aqui tá falando mapa da mesopotâmia e eu não sei onde fica então eu vou lá na Internet”.

Um aluno, especificamente, se destacou dos demais ao falar sobre suas impressões da biblioteca. Apesar de declarar não frequentar e nem depender delas, este entrevistado realizou

uma série de “diagnósticos” e criticou em diversos momentos o que ele denomina “papel contraditório das bibliotecas”. Segundo ele, “o acesso ainda é limitado; e não tem a mesma amplitude da Internet”. Ao ser questionado se a biblioteca realmente deveria ter a mesma

amplitude da Internet e se ele acredita que o papel de organizar informação, registrar, divulgar e garantir acesso poderia ser cumprido pela mesma o aluno se confunde um pouco e declara:

Eu acho que é sim e não. Não porque a Internet vem também para substituir essa biblioteca, porque a Internet você faz de casa, você não tem o trabalho de ir para um espaço para poder pegar o livro, a Internet é muito mais acessível. A Internet hoje está muito ampla, você consegue pegar obras de autores de diversas épocas, coisas que muitas vezes não acha em uma biblioteca. Então eu acho que a Internet vem também para inibir esse processo de desenvolvimento [da biblioteca - falado da fase da colheita] por que uma pessoa, por exemplo, um jovem hoje, um pouco mais novo do que eu, já nasceu já neste contexto de enraizamento da Internet, ele já não têm esse interesse de ir em uma biblioteca e muitas vezes não conhecem as bibliotecas, porque já vem dessa construção cultural da Internet ser o meio de informação mais importante da nossa sociedade.

Foi novamente perceptível a aproximação dos dois ambientes (item 5.2.1 Imaginário). No inicio da entrevista ele deixou claro que não associa a Internet com o Google, e que coloca a Internet e a biblioteca em patamares completamente diferentes. Contudo ao declarar suas impressões intimamente, foi possível perceber que ele fazia esta aproximação direta Internet - Google – Biblioteca, envolvendo principalmente a mediação no contexto dos nativos digitais. Além das questões comportamentais (particularidades e metodologia de cada estudante) e tecnológicas, outro fator incisivo para que a biblioteca fosse valorizada, mas não mais representasse fonte de pesquisa para estes alunos, foi a influência familiar. Todos os entrevistados citaram a família nas entrevistas e reconheceram a participação essencial na criação de hábitos e na formação educativa, sendo esta determinante do comportamento informacional e da propensão ao se privilegiar um ou outro determinado tipo de fonte. A presença dos pais na integração escolar valorizando o ensino, estimulando a leitura e intermediando o acesso à Internet foi categórica ao influenciar os filhos, tanto no gosto e reconhecimento da leitura, como na seleção de seu próprio material. Como mencionado antes, tratam-se de estudantes de considerável poder aquisitivo, cujos pais puderam, portanto estimular e financiar o desenvolvimento de acervos próprios.

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Neste trecho o participante explica o motivo de não frequentar a biblioteca da escola para pegar livros, que neste caso, seriam para atividade de lazer:

Aqui até que é menos porque na minha casa por todos serem muito leitores então eles têm muitos livros, muitos livros, a gente compartilha com as tias, faz sempre a troca de livros.

É fato, o bibliotecário escolar em um cenário ideal atua sobre o indivíduo em bases estabelecidas pela família e pela qualidade da educação conferida à escola nos primeiros anos da infância. Como mostrou um aluno, partiu dos pais a preocupação inicial em restringir o que eles (pais) consideravam um contato precoce com a Internet. Sob este julgamento baseou-se a crença que a busca tradicional o prepararia melhor para outros tipos de mídia. Saber realizar uma busca nos meios tradicionais para julgar melhor as ditas “insídias” da Internet.

Começou em casa com uma proposta dos meus pais de eu evitar ao máximo que esse contato com a tecnologia fosse exagerado. [...] Quando eu tinha por volta de uns oito anos já estava na febre dos computadores, de fazer a pesquisa pelo computador. Eles falaram; eles meio que me proibiram de estar usando o computador pra poder usar outras formas de pesquisa, para que eu no futuro soubesse lidar com as formas de pesquisa tradicionais e com as novas que vem surgindo. [...] A gente tinha uma biblioteca em casa e eu “usava ela” como fonte de pesquisa.

Segundo este mesmo participante, assim começou seu interesse em manter os próprios materiais e apesar de ter se mostrado um grande entusiasta da biblioteca, revelou também sua opinião sobre a mesma ressaltando o que o incomoda:

estar comprando os livros que eu acho que vão ser interessantes para eu poder não depender de um espaço e de ficar nessa coisa; ter mais independência”. Como: estou precisando do livro agora e está aqui em casa. Bem devagarzinho, vou comprando um livro, leio o livro, depois eu guardo e aí vai criando, criando.