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A dissertação está organizada em cinco capítulos. O presente capítulo descreve o pro- blema, define os objetivos desta pesquisa e a forma como está organizado o texto.

Estabelecido o marco introdutório, o Capítulo II discorre sobre os aspectos técnicos e regulatórios vinculados ao processo de Segurança de Barragens, bem como apresenta o referencial teórico pertinente à definição de critérios de seleção e escolha de Métodos Multicritério de Apoio à Decisão (MCDA), com ênfase no método ELECTRE TRI e na

aplicação de regras Fuzzy.

O Capítulo III mostra os procedimentos e métodos utilizados para concepção de um modelo de apoio à decisão em termos de avaliação de segurança de barragens, tendo como referência os critérios estabelecidos pela Lei nº 12.334/2010.

A partir de um estudo de caso, o Capítulo IV apresenta, aplica e discute os resultados

do modelo desenvolvido para estabelecimento de um ranking de avaliação de barragens

quanto a vulnerabilidade das barragens, bem como analisa os demais resultados relacio- nados aos objetivos específicos desta pesquisa.

Por fim, o Capítulo V traz as conclusões obtidas por meio da execução da pesquisa, bem como propostas de estudos futuros.

Capítulo 2

Revisão Bibliográfica e Documental

2.1

Segurança em Barragens: Breve Histórico

Construídas para utilizações diversas dos recursos hídricos, as barragens servem ao homem há milhares de anos, estando sua história intimamente conectada à da humanidade. Suas ruínas são encontradas em locais considerados berços da civilização, tais como Babilônia, Egito, Índia, Pérsia e em países situados no oriente distante [1], conforme Figura 2.1.

Figura 2.1: Mapa das mais importantes barragens romanas (cheio) e pré-romanas (vazado) na zona mediterrânea e no Oriente Próximo. Fonte: Quintela, 1986 [41].

Neste universo, as barragens deJawa, na Jordânia, consistem nas estruturas de repre-

samento mais antigas já documentadas. Implantadas há cerca de 5.600 anos [42], a 100 km a nordeste de Amã, este agrupamento de cinco pequenas barragens de acumulação era parte integrante de um sistema de abastecimento de água composto por canais e demais

Tão antigo quanto as próprias barragens são os registros de acidentes a elas associadas.

Historicamente reconhece-se a ruptura da barragem deSaad el-Kafara1, no Egito, ocorrida

há aproximadamente 4.600 anos, retratada na Figura 2.2), como o primeiro acidente neste tipo de estrutura [44].

Figura 2.2: Diagrama da barragem Saad el-Kafara baseado em foto aérea. Fonte: Sch-

nitter, 1994 [43].

A exemplo de el-Kafara, os primeiros barramentos consistiam em barreiras de terra

situadas ao longo de cursos d’água. Adicionalmente seus construtores faziam uso de

materiais como solo e pedras. Porém, como as técnicas construtivas eram bastante ru- dimentares, muitas vezes as estruturas falhavam em sua finalidade por serem facilmente destruídas [31]. Como consequência, surgiram os primeiros marcos legais.

OCódigo de Hamurabi, conjunto de leis criadas na Mesopotâmia, por volta do século XVIII a.C, pelo rei Hamurabi, da primeira dinastia babilônica, é reconhecido como a lei mais antiga que trata sobre o tema segurança de barragens. Em seu corpo são identificadas regras e regulamentos relativos a muitos aspectos da operação de barragens [45], quais sejam:

• Caso haja colapso no dique, o proprietário deve ressarcir todos os danos materiais causados;

1A barragem de Saad el-Kafara, por não dispor de sistema de desvio, foi destruída por transbordamento

na fase final de sua construção, cujo tempo de duração foi estimado de 8 a 10 anos. O galgamento originou a formação de uma grande brecha no trecho central do corpo da barragem, sendo possível ainda hoje observar-se os vestígios de seus trechos laterais.

• Caso não tenha recursos para cobrir os danos, o proprietário transfere seus bens e escravos aos atingidos pela inundação;

• Caso as duas condições acima ainda não cobrirem os danos causados, o proprietário torna-se escravo dos atingidos pela inundação.

Até o final do século XIX, as barragens continuaram a desempenhar um papel funda- mental no desenvolvimento econômico das nações, na produção de água para uso domés- tico, irrigação, para repor perdas em canais de navegação e abastecimento de água, entre outros [46].

Após a Revolução Industrial, estas necessidades permaneceram e se ampliaram como um recurso no combate a enchentes, geração de energia elétrica e para prover recreação [43].No decorrer do século XX, foram construídas muitas barragens e institucionalizadas diversas normas de segurança.

Incidentes e rupturas de consequências trágicas, ocorridos na Europa e nos Estados Unidos entre as décadas de 50 e 70, a exemplo de: Malpasset, França, 1959; Vajont, Itália, 1963; Baldwin Hills e Teton, Estados Unidos, 1951 e 1976; intensificaram este processo, servindo como motivadores para o desenvolvimento das políticas de segurança de barragens e de vales e dos estudos de ruptura e propagação em seus respectivos países.

Figura 2.3: Ruptura da barragem de Teton. Fonte: Uemura, 2009 [47].

Estas ações possibilitaram um controle mais rigoroso do comportamento das barra- gens. A gestão de riscos e emergências passou a ser considerada, motivando a elaboração

de Planos de Ações Emergenciais [48]. Até então, o campo da segurança de barragens considerava apenas a segurança das próprias estruturas, sem incluir a hipótese de um provável cenário de acidente, como uma ruptura do barramento.

Mas foi a década de 90 a mais marcante no desenvolvimento desses documentos. Nesse período, vários países europeus promulgaram ou iniciaram estudos de novas regulamen- tações ou normas técnicas de segurança. No Brasil, o marco regulatório deu-se com a promulgação da Lei nº 12.334, de 20 de setembro de 2010, que estabeleceu a Política Nacional de Segurança de Barragens - PNSB e criou o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens - SNISB [11].

Dentre os motivos que levaram à aglutinação de esforços para a elaboração e aprova- ção da Lei nº 12.334/2010, destaca-se o reconhecimento do elevado nível de problemas de natureza organizacional, responsável pelo estado geral de abandono de milhares de barragens brasileiras, com vulnerabilidades latentes em projetos, construção e operação

de estruturas existentes [49]. De acordo com Menescal (2009apud PANIAGO, 2018) [49]:

"(...) a importância da atenção do Estado à questão de Segurança de Barragens:

“Não só devido à falta de cuidados, mas, também, ao envelhecimento natural das barragens, chegou-se a uma situação que precisa ser de imediato corrigida, sob o risco de causar elevados prejuízos à sociedade e ao patrimônio nacional. Somente com um grande esforço de melhoria da gestão da segurança, as barragens pode- rão atender às necessidades da população, sem representarem fonte permanente de riscos inaceitáveis. Outro aspecto a ser considerado é que a implantação de um Sistema Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos não se completará sem a ela- boração e implementação de um sistema de gestão da segurança de barragens, que garanta sua operação com níveis aceitáveis de risco para a população e para o meio ambiente(...)".

Independentemente dos esforços depreendidos, muito ainda há a ser feito. Conforme destaca Almeida [50]:

O rompimento de barragens no Brasil acontece numa frequência considerada acima do normal, ou seja, entre cada 3 e 4 anos. No período de 15 anos, entre 2000 e 2015, foi registrado o rompimento de 10 barragens, 6 das quais no estado de Minas Gerais. Esse elevado quantitativo indica a necessidade de revisão na eficiência da aplicabilidade da lei de segurança das barragens, visto que não está gerando os retornos esperados e assim ocasiona altos custos, seja para o governo, a sociedade, o meio ambiente ou até mesmo para as empresas responsáveis pela manutenção das barragens.

A necessidade de sensibilização e responsabilização parece, no entanto, não acompa- nhar a velocidade dos fatos. Pouco mais de 3 anos após o acidente de Mariana, em 25 de janeiro de 2019, registrou-se o rompimento da barragem de na região de Córrego do Feijão, no município brasileiro de Brumadinho, a 65 km de Belo Horizonte, em Minas Gerais. O

rompimento resultou em um desastre de grandes proporções, considerado como um desas- tre industrial, humanitário e ambiental, com cerca de 246 óbitos e 24 desaparecimentos

registrados 2, gerando nova calamidade pública.

Segundo registros o desastre pode ainda ser considerado o segundo maior desastre industrial do século e o maior acidente de trabalho do Brasil. Nesta perspectiva, um dos

autores do relatório sobre barragem de minério intitulado Mine Tailing Storage: Safety

is no Accident, publicado pela Organização das Nações Unidas - ONU, o geólogo Alex

Cardoso Bastos, afirmou que "a tragédia em Brumadinho estará, certamente, no topo dos

maiores desastres com rompimento de barragem de minério do mundo. Infelizmente, é possível que ultrapasse Stava, que foi a maior tragédia do tipo nos últimos 34 anos"[51].

O acidente de Brumadinho reacende e reforça perante a sociedade o ainda descaso dado para a gestão de risco em barragens, bem como na promoção e aperfeiçoamento de mecanismos técnicos e regulatórios como no caso da Lei nº 12.334/2010.