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Para melhor exposição do arcabouço desta pesquisa, apresentamos de modo resumido sua estrutura, composta pelos seguintes capítulos:

Primeiro capítulo – Introdução: expõe nossas inquietações, esclarecendo alguns dos caminhos que nos conduziram até a composição do objeto de estudo. Também são apresentados nossos objetivos e os procedimentos metodológicos para que estes sejam alcançados.

Segundo capítulo – Transitando por entre os bastidores dos museus. Contextualiza a história dos museus e suas origens no exterior, no Brasil e na Paraíba. Para tanto são estabelecidas relações entre a Ciência da Informação e os estudos em museus, centrando o ‘usuário interno’ como significativo elemento de pesquisa. Neste capítulo, se encontram as considerações dos ‘usuários internos’ sobre os museus aos quais estão vinculados.

Terceiro capítulo – Rede de Educadores em Museus: apresenta estas Redes, esclarecendo sobre sua origem e finalidade, atendo-se com maior veemência ao estado da Paraíba, uma vez que este é o recorte da pesquisa. Para tanto, trouxemos a situação da política pública no estado a fim de contextualizarmos as feições que a REM/PB assume, principalmente a informacional. Aqui foram registradas e analisadas as expressões dos ‘usuários internos’ acerca da referida Rede.

Quarto capítulo – Usuários da informação: discute de modo geral sobre os estudos de usuários da informação, considerando os paradigmas de Capurro, expondo o entendimento de Araújo quanto à necessidade de movimentação, no sentido de introduzir tais estudos utilizando os paradigmas (físico, cognitivo e social) de forma complementar. Também são apresentados dados sobre os ‘usuários internos’ dos museus brasileiros e analisados os dados coletados nesta pesquisa acerca dos ‘usuários internos’ dos museus paraibanos.

Ao final do texto, são apresentadas nossas considerações. Acreditando que estamos começando outros ‘inícios’ e, na expectativa que mais pesquisas sejam realizadas inserindo o ‘usuário interno’, como objeto de estudo, deixamos o trabalho aberto à possibilidade de continuação por outros pesquisadores.

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Mário de Andrade ___________________________________

2 TRANSITANDO POR ENTRE OS BASTIDORES DOS MUSEUS

Estamos convictos que a inter-relação entre Ciência da Informação e os estudos sobre museus possibilita uma diversidade de estudos, inclusive de caráter exploratório ou mesmo inéditos. No entanto, nesta pesquisa buscamos destacar um dos pontos considerados, em nossa realidade empírica, significativos desta inter-relação: a aproximação com o usuário.

Na Ciência da Informação, Capurro (2003) critica o paradigma cognitivo quando este tenta separar a informação do usuário, ou ainda, quando este paradigma visualiza o usuário apenas como um sujeito cognoscente, sem considerar os condicionantes sociais, materiais e históricos a que este está submetido. Ao considerar este aspecto, o autor realça o paradigma social e destaca a relevância do contexto do usuário e dos sistemas de informação. Neste sentido, Durval de Lara Filho afirma que “A informação se mostra, assim, como um objeto que tem uma face social e outra subjetiva que se complementam”. (LARA FILHO, 2009, p. 168).

Semelhante ao movimento ocorrido na relação contexto social, cognitivo e físico, apontado por Capurro (2003) e Frhomman (1992), os estudos sobre os museus também passaram por mudanças em seu foco. No século XX, o objeto museal que até então era o cerne da atenção do museu se afasta para dar lugar ao público (PRIMO, 1999). Assim, o museu insere o público no centro de sua ‘vocação institucional’(KÖPTCKE, 2012). Esta mudança de foco deve ser considerada com mais intensidade dentro dos museus, espaço de relações sociais, educativas, culturais, informacionais. Nesse sentido, Lara Filho (2009, p. 168), nos adverte que no caso dos museus, estas preocupações:

[...] ao invés de promover a reificação dos objetos baseando-se em categorias de objetos, os museus têm de observar que operam nas dimensões

do tempo e do espaço, com campos do conhecimento, com o simbólico, com os problemas humanos e, enfim, com a articulação entre todos esses elementos. (LARA FILHO, 2009, p. 168)

Os museus como espaços de preservação e exposição dos patrimônios tangíveis e intangíveis constituem-se instituições de memória que disseminam informação para a sociedade. Sendo espaços de memórias, e como a memória se relaciona intimamente com o esquecimento, os museus também são espaços de esquecimento. “O museu é um mar de esquecimento, de onde pescamos algumas memórias.7”

No campo das memórias, Marcos José de Araújo Pinheiro (2004, p. 92) enfatiza que “[...] o homem elege o que deve ser lembrado, e com isso determina o que deve ser esquecido.” Estas instituições vivem a dialética entre memória e esquecimento através das intervenções de seus ‘usuários internos’, das seleções que, sob influência de seus contextos (físico, social e pessoal), constroem. O ‘usuário interno’ é o principal responsável pela execução das atividades informacionais do museu e, consequentemente, da apresentação de suas memórias, tornando-se, assim, objeto de interesse desta pesquisa.

Neste sentido, considerar o contexto social do usuário da informação nos permite observar a importância do ‘usuário interno’ na construção da informação nos museus. Se o ‘usuário interno’, também usuário da informação, elabora a informação que será exposta, a forma como realiza as pesquisas está diretamente relacionada com seu contexto que, por sua vez, irá interferir na interação com o ‘usuário externo’, também inserido em seu contexto.

Desta forma, acreditamos que a metáfora de Brenda Dervin (1998), na qual o usuário constrói uma ponte8 sobre lacunas (vazio cognitivo) em direção ao uso, deve inserir o usuário produtor da informação (‘usuário interno’) como elemento auxiliador no processo desta construção, pois este usuário, também assentado em seus contextos, irá fortalecer ou enfraquecer a estrutura desta ponte interferindo na travessia do usuário (externo). Incluir o ‘usuário interno’ nesta discussão, pode ser confundido com a participação do museu, como emissor. No entanto, centramos a discussão não na instituição, mas entre os dois usuários (externo e interno), ambos com seus contextos, pois o museu, como instituição física, sem a interferência e participação do ‘usuário interno’ não seria, sozinho, responsável pela comunicação da informação a que se destina.

7 Frase proferida oralmente pela Prof.ª Dr.ª Maria Lúcia Niemeyer Matheus Loureiro durante a qualificação do

projeto desta pesquisa.

Neste sentido, podemos procurar modos de perceber como os museus são operados em relação à sociedade e como esta se comporta com aqueles. Os estudos de usuário nos dão uma ideia desta percepção, porém estes estudos voltam-se apenas à opinião do público, e deixam à margem, com raríssimas exceções, um elemento importante: o ‘usuário interno’, aquele que está trabalhando no museu.

Na literatura desenvolvida sobre o tema no Brasil, encontramos dois trabalhos voltados ao ‘usuário interno’, embora as autoras não adotem o termo ‘usuários internos’ e sim profissionais ou funcionários. A pesquisa realizada por Figurelli (2010) analisa a implantação de um programa educativo, pela Pinacoteca de São Paulo, para os funcionários desta instituição. No entanto, o objetivo da pesquisa não é o ‘usuário interno’, mas “[...] investigar a importância de ações educativas voltadas aos trabalhadores de museu, para o funcionamento da instituição” (FIGURELLI, 2010, p. 139). A pesquisa desenvolvida por Marília Xavier Cury (2005), por outro lado, preocupa-se com a comunicação museológica envolvendo os profissionais de museus para serem observados quanto à fundamentação teórica de suas práticas.

Os museus também não possuem informações sobre a relação de seus ‘usuários internos’ com as respectivas instituições, e desconhecem qual a compreensão que essas pessoas têm sobre o museu, pois ainda não foi realizado nenhum trabalho tendo como objetivo principal, este usuário. A ausência da pesquisa mencionada acrescenta a esta pesquisa um caráter inovador.

Durante as reuniões da Rede de Educadores em Museus na Paraíba, os ‘usuários internos’ expuseram inquietação com a pouca interação das comunidades dos respectivos municípios com os museus, apresentaram a necessidade de enfrentar árduas barreiras para conseguirem permanecer na área e para manterem o funcionamento das instituições. Os ‘usuários internos’ conhecem o museu, seu funcionamento, sua relação com o público, seus problemas, etc.