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Os museus tal como concebemos hoje são oriundos da Revolução Francesa, tendo também como raízes o colecionismo da Idade Média. Inicialmente, e sem muita ordenação, as coleções tinham seu acesso restrito e eram reservadas aos nobres convidados dos proprietários. Não só a nobreza, mas a Igreja também mantinha sob sua guarda coleções privadas. “Durante a Idade Média, os tesouros das igrejas e mosteiros reuniram principalmente objetos de adoração e obras de arte religiosa; raras são as ocasiões para mostrá-los ao público de fiéis e peregrinos” (GOB; DROUGUET, 2010, p. 20, tradução nossa). O acesso torna-se público no final do séc. XVIII (Figura 2), “marcando o surgimento dos grandes museus nacionais”. (JULIÃO, 2006, p. 20).

Figura 2 - Visita ao Gabinete de Vincent Levin no começo do século XVIII. Fonte: Dictionaire Encyclopédique de muséologie.

Letícia Julião (2006) ainda esclarece que o museu, da forma como é concebido na atualidade, teve origem durante a Revolução Francesa, pois:

Para preservar a totalidade e diversidade de um patrimônio nacionalizado, no contexto da Revolução, foram desenvolvidos métodos para proceder ao seu inventário e gestão. (...) No caso dos bens móveis, estes deveriam ser transferidos para depósitos abertos ao público, denominados, a partir de então, de museus. A intenção era instruir a nação, difundir o civismo e a história, instalando museus em todo o território francês, pretensão que não se efetivou [...] (JULIÃO, 2006, p. 20 -21).

Após este período, surgidos da necessidade de incentivar o nacionalismo, são criados grandes museus europeus durante o século XIX. Vinculados à questão da educação da população para o culto à nação, através das memórias do passado, eram:

Concebidos dentro do “espírito nacional”, esses museus nasciam imbuídos de uma ambição pedagógica — formar o cidadão, através do conhecimento do passado — participando de maneira decisiva do processo de construção das nacionalidades. Conferiam um sentido de antiguidade à nação, legitimando simbolicamente os Estados nacionais emergentes. (JULIÃO, 2006, p. 21)

É desta forma, a partir do colecionismo e seu caráter enciclopédico (ICOM, 2004), que os museus públicos são formados. No continente sul-americano, o Brasil é reconhecido como o país que cria um dos primeiros museus. Referimo-nos ao Museu Nacional, fundado em 1818, na cidade do Rio de Janeiro.

Na América do Sul, são as cidades do Rio de Janeiro (Museu Nacional, 1818), Buenos Aires (Museu Nacional de História Natural, 1823) e Bogotá (1823), que veem surgir os primeiros assentamentos do continente. (MAIRESSE, 2011, p. 280, tradução nossa).

No século XX, os museus se renovaram, principalmente após a metade do século em questão. Segundo François Mairesse (2011), no final da década de 60, os museus entram em crise e veem sua missão clássica em conflito, conduzindo a redefinições destas instituições. Então, durante o século XX acontecem várias movimentações, recriando estes espaços a partir de ideias de valorização do coletivo, da identidade e cultura da comunidade.

No espaço de um século, a ideia do museu é, assim, desenvolvida para além do continente europeu, cruzando os mares e oceanos para gradualmente cobrir todos os pontos do globo. (MAIRESSE, 2011, p. 280, tradução nossa).

Essa renovação acontece em vários continentes, incluindo a América Latina. Segundo André Gob e Noémie Drouguet (2010), juntamente com os africanos e os asiáticos, os primeiros países da América Latina buscavam valorizar, através dos museus, suas identidades nacionais.

Apesar dos primeiros museus brasileiros terem suas fundações relacionadas com a vinda da família real portuguesa ao Brasil, é possível verificar que alguns foram criados a partir do século XVII. No entanto, na literatura não são tratados como museus, mas como ‘experiências museológicas’.

A mais antiga experiência museológica de que se tem notícia no Brasil remonta ao século XVII e foi desenvolvida durante o período da dominação holandesa, em Pernambuco. Consistiu na implantação de um museu (incluindo jardim botânico, jardim zoológico e observatório astronômico) no grande parque do Palácio de Vrijburg. Mais adiante, já na segunda metade do século XVIII, no Rio de Janeiro, surgiria a famosa Casa de Xavier dos Pássaros – na verdade, um museu de história natural – cuja existência prolongou-se até o início do século XIX.

Ainda que essas duas experiências museológicas não tenham se perpetuado, elas são ainda hoje notáveis evidências de que, pela via dos museus, ações de caráter preservacionista foram levadas a efeito durante o período colonial.

De qualquer modo, acontecimentos museais capazes de se enraizar na vida social e cultural brasileira só seriam perpetrados após a chegada da família real portuguesa, em 1808, um marco sem precedentes (BRASIL, 2006, p. 10).

A chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808, foi relevante para o desenvolvimento das questões culturais na então colônia. É a partir deste momento que muitas instituições culturais são criadas, como, por exemplo, a Biblioteca Nacional. Nesta época, também por incentivo do Império, são fundados diversos museus, como por exemplo, o Museu Nacional criado em 1818. Foi neste contexto do século XIX que o Brasil começou a possuir museus.

Seguindo a tendência mundial, os museus enciclopédicos brasileiros começaram a declinar nas primeiras décadas do século XX. Conforme relaciona Julião (2006), isso se deu pela ‘superação das teorias evolucionistas’ nas quais estavam fundamentados. Além da característica enciclopédica, a autora acrescenta que estas instituições acabaram contribuindo para um fortalecimento nacionalista, uma vez que possuíam acervo da natureza e cultura brasileira.

É a partir da segunda metade do século XX que acontecem transformações significativas nos museus brasileiros. “Os museus passaram a ser tratados como processos e práticas culturais de relevância social.” (NASCIMENTO JÚNIOR; CHAGAS, 2006, p. 14).

As mudanças e dificuldades começam a ser observadas, e o governo percebe a necessidade de saber mais a respeito destas instituições. Conhecer os dados referentes aos museus brasileiros é uma necessidade antiga, e uma das publicações marcantes aconteceu a partir da parceria entre UNESCO e ICOM. Segundo o IBRAM (2011), esta publicação teria criado no Brasil:

[...] uma cultura de coleta, sistematização e publicação de informações sobre os museus brasileiros, em forma de guias. Não nos parece coincidência que a data de impressão do primeiro guia de museus no Brasil [Museums of Brazil] tenha ocorrido três anos após o trabalho inicial da UNESCO, e nem que sua edição tenha sido realizada pelo Ministério das Relações Exteriores, em inglês. (BRASIL, 2011, p. 20-21)

Dentre as publicações consideradas significativas pelo IBRAM (2011) há também o

Guia dos Museus Brasileiros, que buscava suprir as lacunas deixadas por ações pontuais realizadas de forma descontínua, e tinha o objetivo de aproximar o cidadão dos museus

brasileiros. Já a publicação Museus em Números valoriza os dados estatísticos referentes aos museus no Brasil.

Conforme os dados do Guia dos Museus Brasileiros, os museus paraibanos estão localizados em 22 (vinte e dois) municípios: Alagoa Grande, Araruna, Areia, Bananeiras, Bayeux, Cabedelo, Campina Grande, João Pessoa, Lagoa Seca, Matureia, Monteiro, Patos, Poço de José de Moura, Pombal, Prata, Princesa Isabel, Santa Luzia, Sapé, Serra Branca, Soledade, Sousa, Teixeira (BRASIL, 2006, p. 86), conforme nos mostra o item que segue.