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Os estudos de usuário foram discutidos, e sua importância ressaltada anteriormente. Como unidade de informação, os museus também necessitam conhecer seu público, descobrir como seus usuários utilizam e constroem a informação nestes espaços, e analisar como estas informações interferem na sua compreensão e funcionamento. Por conseguinte, elaboramos um breve histórico das pesquisas de público28 em museus que será exposto, seguido da caracterização destes no Brasil. Também será vista a relação destes estudos com a comunicação e a inserção do ‘usuário interno’ neste contexto. Finalizando, veremos o panorama quantitativo dos ‘usuários internos’ dos museus, segundo dados do IBRAM.

Nas pesquisas sobre museus, os estudos de usuário também são recentes, tendo iniciado no princípio do século XX. Segundo esclarece Eloísa Pérez Santos, nesta época, os museus norte-americanos objetivavam analisar os “comportamentos impactados pelo desenho expográfico e o tempo despendido nas exposições” (SANTOS, apud BRASIL ,2011a, p. 93). Santos ainda elucida que foi a partir deste período que questionários foram usados para delinear o perfil do usuário, visitante do museu, por nós denominado ‘usuário externo’.

A utilização de estudos de usuário em museus ocorre com maior intensidade, conforme expõe Rosane Maria Rocha de Carvalho (1998), no Hemisfério Norte e se concentram no usuário (externo) que é o centro, através de seu perfil e preferências. A partir da década de 60 do século passado, esses museus passam a realizar estudos com grandes públicos nesta área. Estes estudos eram quantitativos e auxiliados por computadores (SILVA29apud CARVALHO, 1998 p. 137). Um exemplo deste tipo de pesquisa, para esta época, foi a pesquisa dirigida por Pierre Bourdieu e Alain Darbel que utilizaram um questionário considerado simples, claro e breve, buscando analisar a expectativa dos visitantes quanto à pedagogia dos museus. O questionário foi aplicado entre os anos de 1964 e 1965, de modo padronizado, em 5 (cinco) países europeus (Espanha, França, Grécia, Holanda e Polônia) buscando uma homogeneidade de categorias para a análise. Carvalho acrescenta que

28 Na Museologia o termo mais usado é estudo de público, mas para fins desta pesquisa usaremos “estudos de

usuário”, uma vez que este considera as pessoas que estão fazendo uso da informação. O estudo de público abrange diversos segmentos: o público (visitantes e frequentadores), o público potencial (grupos que podem vir a ser público de determinada instituição), o não-público (grupos que não frequentam museus) e a população (referência para estudo dos grupos). (KÖPTCKE, 2012, p. 217-218)

é neste período, década de 60 e 70 do século XX, que os estudos de usuários em museus, começam a “revelar, além do perfil do visitante de museus, aspectos relacionados às motivações e ao comportamento do seu público”. (CARVALHO, 2000, p. 137).

Mais recentes que as pesquisas internacionais, as pesquisas de usuário em museus no Brasil buscam, em sua maioria, traçar o perfil do visitante (‘usuário externo’). No cenário nacional surgem ações governamentais específicas para o setor. Com o intuito de traçar um perfil do usuário de museu, o governo federal estabelece parceria com o Departamento de Museus e Centros Culturais/IPHAN, Fundação Oswaldo Cruz e o Museu de Astronomia e Ciências Afins, e cria o Observatório de Museus e Centros Culturais - OMCC – “programa de pesquisa e serviços sobre os museus e instituições afins”. O OMCC realizou uma pesquisa quantitativa em 2006/2007, Pesquisa Perfil Opinião, que obteve repercussão nacional. Apesar de restrita à região sudeste, esta pesquisa proporcionou a análise de dados relevantes sobre os museus.

Ainda como ação governamental, é criado o Cadastro Nacional de Museus, do Instituto Brasileiro de Museus, IBRAM. Com caráter censitário, o Cadastro é responsável pelo mapeamento nacional das instituições de memória no país, possuindo informações, até então desconhecidas, sobre estas. Seu espectro de atuação poderá exibir a diversidade dos museus brasileiros. O Cadastro buscou informações acerca da existência e frequência de pesquisa de público realizada pelas instituições e da verificação do quantitativo de visitantes a esses museus. Conforme dados do IBRAM, 74,7% dos museus afirmaram realizar pesquisas voltadas ao usuário. Destes, 53,5% declaram manter regularidade na sua execução (BRASIL, 2011a, p. 94). A Figura 32 exibe a tabela elaborada pelo IBRAM acerca desses dados. Um elemento intrigante nesta tabela é a posição do estado da Paraíba. Dos 92,9% dos seus museus que afirmam realizar estudos de usuários, 48,6% acrescentaram que realizam com regularidade. Empiricamente, estes dados referentes aos museus paraibanos não se confirmam.

Figura 32 - Tabela de porcentagem dos museus brasileiros, âmbito nacional e com recorte regional, que realizam pesquisa de público, considerando também a regularidade de aplicação da mesma (grifo nosso). Fonte: BRASIL, 2011a.

Carvalho, expondo a deficiência e traçando um panorama das pesquisas de público, que para nós assume a denominação de estudos de usuário, afirma que:

Poucas pesquisas de público foram feitas no Brasil, sendo a maior parte quantitativa. Grandes recursos envolvem a montagem de exposições, mas ainda não contemplam estudos científicos do público que as visita. Também não foram identificadas pesquisas que privilegiassem a informação, tal como ocorre na Ciência da Informação (CARVALHO, 2000, p. 141).

Deste modo, constatamos que, de uma forma geral, os estudos de usuários em museus, no Brasil, concentram-se dentro da abordagem tradicional, de cunho quantitativo, objetivando traçar um perfil do ‘usuário externo’.

Dois dos modelos de comunicação aplicados aos museus inserem o ‘usuário interno’ em sua constituição. São eles: o modelo comunicativo aplicado à exposição, de Hooper- Greenhill (1994) e o modelo contextual de aprendizagem, de FlarkeDierking (1992), ambos citados por Almeida (2004). O modelo comunicativo aplicado à exposição é apresentado por Almeida como uma adaptação do modelo comunicativo da teoria da informação de Shannon e Weaver (1949), e possui a seguinte estrutura:

Figura 33 - Modelo comunicativo aplicado à exposição.

Neste modelo percebemos que a equipe de exposição participa do processo de comunicação entre o museu e o usuário externo. No entanto, Almeida faz críticas ao mesmo por ser unidirecional e não considerar o ‘usuário externo’ como capaz de realizar trocas durante o processo. Dentro da mesma análise, a autora ainda elege como melhor modelo, o denominado modelo contextual de aprendizagem (FlakeDierking), uma vez que :

Nesse modelo, o contexto sociocultural envolve todos os contatos com indivíduos ou grupos envolvidos na visita, sejam aqueles dos quais o visitante participa, sejam os de visitantes com outros grupos, seja o de servidores do museu e qualquer outra pessoa com as quais o visitante possa ter contato no processo da visita (ALMEIDA, 2004, p. 333).

Além do contexto sociocultural, existem mais dois: o físico e o pessoal. Conforme o modelo, eles interagem entre si durante a experiência museológica. No entanto, acrescentaríamos o contexto físico, pessoal e sociocultural do ‘usuário interno’, em imbricamento com os mesmos contextos do ‘usuário externo’. Afinal, quem produz a informação não é a instituição: é um elemento humano que trabalha para a mesma, mas tão passível de sofrer influências destes contextos, como o ‘usuário externo’. A influência do contexto para a construção da informação pode ser investigada a partir da reflexão de Choo ao considerar que o uso da informação é situacional:

O meio social ou profissional ao qual o indivíduo pertence, a estrutura dos problemas enfrentados pelo grupo, o ambiente onde os grupos vivem ou

Sinal captado Sinal Mensagem Mensagem EXPOSIÇÃO

EXPOSIÇÃO OBJETOS TEXTOS EVENTOS MULTIDÃO FADIGA SINAIS MENTE DO VISITANTE SÃO VISITANTE

trabalham e o modo de resolver os problemas – tudo isso se combina para estabelecer um contexto para o uso da informação (CHOO, 2003, p. 111).

Neste sentido, além de situacional, o autor considera a informação como processo dinâmico, sendo construída pelo usuário conforme experiências anteriores, e as necessidades apresentadas e, também, ressignificada segundo o contexto. Desta forma, além de construir suas próprias informações a partir de seus contextos, acreditamos que o ‘usuário interno’ participa, direta ou indiretamente, como elemento influenciador para a construção da informação pelo ‘usuário externo’. De modo equivalente, o ‘usuário interno’ está exposto às influências do externo, estabelecendo entre os dois uma relação dialógica.

Para os estudos em museus, o interesse com a pesquisa de público é centrado no ‘usuário externo’. Este fato vem expor a necessidade de pesquisas direcionadas aos ‘usuários internos’, afinal estes usuários são produtores e fazem uso da informação. Gabriela Figurelli (2010, p. 6) explica que esta inserção é necessária, a “partir do entendimento de que os funcionários dos museus são também público da instituição, já que possuem direito à memória coletiva e à identidade cultural [...]”.

Dentre estas pesquisas, encontramos apenas uma se referindo ao ‘usuário interno’. Figurelli (2010), através da aplicação de um questionário, analisa as ações educativas do Programa Educativo Funcional da Pinacoteca do Estado de São Paulo voltadas para os funcionários deste museu, considerando estes e o público espontâneo do museu. O questionário, com trinta e nove questões (fechadas, abertas, múltipla escolha e ordenação), foi dividido em grupos: Características Sociodemográficas, para conhecer o contexto do funcionário; Práticas Culturais, de Lazer e Entretenimento; Contexto Profissional dos Entrevistados; Percepções dos Entrevistados sobre Museu, Patrimônio e Público (FIGURELLI, 2010, p. 93). Quanto ao questionamento sobre o que pensam sobre o museu, relaciona as respostas com a visão que:

De um modo geral, os participantes da pesquisa associam ao museu o papel de proporcionar cultura, educação, conhecimento e diversão à população, através do acesso à história e à memória retratadas em seu acervo. Esta caracterização aproxima-se da imagem que a sociedade faz do museu, de acordo com investigações promovidas junto à população. (FIGURELLI, 2010, p.113).

Nos museus há um setor que demonstra preocupação com a realização de estudos de ‘usuários internos’, ainda que não com este fim específico. Trata-se do setor educativo. É uma

prática comum dentro destes setores a execução de processo avaliativo entre os ‘usuários internos’, para poder analisar o êxito de determinada exposição. Almeida enfatiza que:

Os profissionais dos setores educativos dos museus realizam avaliações sistemáticas, seja das exposições seja dos programas educativos, visando estruturá-los, aproximá-los do interesse do público e alimentar novas programações (ALMEIDA apud CARVALHO, 2000, p. 140).

O setor educativo dos museus paraibanos, representado pela REM/PB, também realiza a avaliação de sua participação. Neste processo, surgem necessidades. Conforme pode ser conferido na sequência, a necessidade de estudo de usuário é percebida como uma das 5 (cinco) prioridades dos museus, para indicação de oficinas do Programa de Formação e Capacitação em Museologia:

Os participantes da Rede de Educadores em Museus da Paraíba – REM-PB, reunidos no dia 10 de dezembro de 2009, na Escola Viva Olho do Tempo, em Gramame, João Pessoa, debateram, entre outros assuntos, o Programa de Formação e Capacitação em Museologia do Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM. Em meio às discussões, os participantes da REM-PB apresentaram as demandas de oficinas do Programa para o ano de 2010, listadas a seguir, as quais encaminho para o conhecimento de Vossa Senhoria:

a) Gestão e documentação de acervos

b) Elaboração de projetos e fomento para a área museológica c) Museus e novas tecnologias de informação

d) Estudos de público

e) Plano Museológico: implantação, gestão e organização dos museus. (REM/PB, 2009, grifo nosso)

Através da reivindicação das oficinas, não podemos assegurar para qual usuário este tópico se refere, porém acreditamos que é apenas ao ‘usuário externo’. No entanto, a partir das observações da relação com os membros da REM/ PB, percebemos que não podemos avançar na aproximação da instituição de memória com a população se, inicialmente, não houver a apropriação do ‘usuário interno’.

4.2 ‘USUÁRIOS INTERNOS’ DOS MUSEUS BRASILEIROS

Uma das dificuldades encontradas para realização desta pesquisa foi a escassez de estudos dirigidos aos ‘usuários internos’ dos museus. Desta forma, os dados que estamos apresentando, referentes a esses usuários, foram obtidos a partir do Instituto Brasileiro de Museus, através do Cadastro Nacional de Museus.

Os museus brasileiros apresentam quadros de pessoal com diversidade de áreas de formação. Segundo o IBRAM (BRASIL, 2011a), quanto à área específica para Museologia, é a partir da criação do Museu Histórico Nacional em 1922, que surge o primeiro curso no Brasil, o Curso de Museus (1932), mas a regulamentação da profissão de museólogo só acontece em 1984 com a Lei 7287/84. Ainda conforme o IBRAM, o Brasil possui 14 cursos de graduação em Museologia.

Durante o Cadastro Nacional de Museus foram registrados mais de 20 mil funcionários de museus, oriundos de áreas diversas. Esse número refere-se às pessoas que aceitaram responder aos questionários. Na Figura 34 podemos verificar, em ordem decrescente, os 10 (dez) museus brasileiros com maior número de funcionários.

Figura 34 - Gráfico do quadro dos dez museus brasileiros com maior número de funcionários. Fonte: BRASIL, 2011a.

O gráfico nos permite analisar que, dentre os museus citados, há uma concentração na região sudeste do país. No Cadastro são considerados como funcionários “os profissionais

formados ou em processo de formação que exerçam atividades regulares na instituição museológica.” Outrossim, muitos funcionários que não possuem formação específica, mas que trabalham nos museus não foram registrados.

Se observarmos a concentração por setor, dentre os setores específicos, o administrativo é o mais significativo, representando esta posição com 3.568 funcionários.

Figura 35 - Gráfico do quadro de funcionários, por setor, dos museus brasileiros cadastrados. Fonte: BRASIL, 2011a .

Quanto à vinculação funcional, o Cadastro revela a diversidade de ocupações que compõem o quadro de funcionários dos museus brasileiros. É o que pode ser observado nas Figuras 35 e 36:

Um dos dados que chama atenção nesta tabela é o elevado índice de funcionários voluntários, em torno de 32,1%. Quanto ao incentivo à qualificação de seus funcionários, o IBRAM menciona que 47,2% dos museus declararam ter políticas voltadas para capacitação e qualificação dos seus funcionários.

Em um panorama geral, temos o quadro dos funcionários dos museus como sendo diversificado, e eles encontram-se concentrados no setor administrativo e com maior número na região sudeste do país. Destaca-se a forte participação de voluntários no funcionamento dos museus brasileiros.

Apesar dos números apresentados, da diversidade que caracterizou o quadro de funcionários dos museus brasileiros, o esquecimento destes funcionários pelos estudos só ratifica nosso esforço para estudar a relação que estas pessoas mantêm com a instituição na qual trabalham.

4.3 ABRINDO AS CORTINAS: PERCEPÇÕES QUE REVELAM OS ‘USUÁRIOS