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2.4 Planeamento Urbano Sustentável

2.4.3 Estrutura Ecológica Urbana

Enquanto a estrutura verde engloba todo o espaço revestido por vegetação (dividindo-se em: estrutura verde principal e estrutura verde secundária), a estrutura ecológica

representativas dos ecossistemas presentes, correspondendo por tal à estrutura verde

principal (MAGALHÃES, 2001).

A estrutura ecológica está prevista no Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro, no seu Art.º 10.º na alínea d), onde define que os instrumentos de gestão territorial identificam os recursos territoriais, entre os quais está a estrutura ecológica. No mesmo diploma mas no Art.º 14.º define a estrutura ecológica como “as áreas, valores e sistemas fundamentais para a protecção e valorização ambiental dos espaços rurais e urbanos, designadamente áreas de reserva ecológica”. Determina ainda que sejam os Planos Municipais de Ordenamento do Território a estabelecer os parâmetros de ocupação e utilização do solo assegurando a compatibilização das funções de protecção, regulação e enquadramento com os usos produtivos, o recreio e o bem-estar das populações. Neste sentido, no Art.º 70.º determina precisamente que um dos objectivos dos Planos Municipais de Ordenamento do Território é a definição da estrutura

ecológica urbana. Então no Art.º 73.º prevê que a qualificação do solo urbano

determina a definição do perímetro urbano considerando, entre outros, os solos afectos à

estrutura ecológica necessários ao equilíbrio do sistema urbano. Ora, no Art.º 85.º, que

define o conteúdo material do Plano Director Municipal, determina que este define um modelo de organização urbano do território estabelecendo, entre outros aspectos, “a definição dos sistemas de protecção dos valores e recursos naturais, culturais, agrícolas e florestais, identificando a estrutura ecológica urbana” e no Art.º 86.º, que define o conteúdo material do Plano de Urbanização, determina que este prossegue o equilíbrio da composição urbanística nomeadamente estabelecendo, entre outros aspectos, a concepção geral da organização urbana, a partir da qualificação do solo, definindo a rede viária estruturante, a localização de equipamentos de uso e interesse colectivo, a

estrutura ecológica, bem como o sistema urbano de circulação de transporte público e

privado e de estacionamento”.

Para CANGUEIRO (2005) as vantagens trazidas pela introdução do conceito de

estrutura ecológica no Plano Director Municipal são as seguintes: possibilidade de

tratamento da interpenetração dos espaços naturais, rurais e urbanos na procura da defesa e valorização ambiental dos mesmos (e onde ocorrem processos naturais e culturais de forma continuada e interdependente); possibilidade de algumas condicionantes legais no domínio da conservação da natureza, da ecologia da paisagem e da protecção dos recursos naturais (tal como a Reserva Ecológica Nacional, a Reserva Agrícola nacional, o Domínio Hídrico, etc.) integrarem tanto espaços rurais como urbanos; possibilidade de integração de áreas, valores e sistemas fundamentais, na óptica da protecção e valorização ambiental, numa estratégia coerente de regulação das suas valias, e que não estão contempladas noutros instrumentos legais; a oportunidade

Figura 13 – Fases da Estrutura Ecológica, Adaptado de CANGUEIRO, 2005

de realizar a abordagem estrutural, da componente ambiental do ordenamento do território, no seio de outras abordagens, também elas com características estruturais (sobre outros recursos territoriais) e com as vantagens da sistematização de metodologias; e a abertura de tratamento e a liberdade criativa nos estudos de análise, diagnóstico e proposta da estrutura ecológica, bem como a própria liberdade de definição dessa estrutura.

Entre os objectivos que estão na base da definição da estrutura ecológica destacam-se (CANGUEIRO, 2005): protecção e conservação da integridade biofísica (qualidade e quantidade) de ecossistemas fundamentais (sapais, dunas, zonas húmidas, núcleos vegetais, biótopos, biocenoses, etc.); garantir a permanência da diversidade e raridade de ocorrências biofísicas (geológicas, paisagísticas, paleontológicas, biota, etc.); preservar o equilíbrio de zonas de elevada fragilidade ecológica (áreas com risco de erosão, escarpas, ecossistemas litorais, etc.); conservar a produtividade biogenética de áreas naturais (sapais, zonas húmidas, estuários, etc.); limitar, potenciar ou mitigar a influência das actividades humanas, considerando os riscos, recursos e aptidões naturais (agricultura, silvicultura, edificabilidade, turismo); recuperar ou restaurar áreas degradadas de elevado potencial ecológico e natural (erosão, infestação, inertes, edificabilidade, etc.); reconhecer e avaliar gradientes e polaridades ecológicas e naturais no território, de forma a estabelecer conexões valorizadoras dos sistemas ecológicos e naturais e do território em geral (corredores ecológicos); criar e valorizar ocorrências naturais em espaço urbano ou urbanizável (“oásis”, cinturas ou penetrações verdes – eco-urbanismo); preservar e recuperar

estruturas fundamentais da paisagem (festos, talvegues, colinas, etc.); inflectir e corrigir tendências de uso nocivas aos sistemas territoriais com mais valia ecológica e natural; e estabelecer estratégias de planeamento e gestão para uso, ocupação e transformação do território, potenciadoras e valorizadoras dos sistemas ecológicos e naturais (normativos, condicionar práticas, criar usos alternativos). A estrutura ecológica deverá assim assumir expressão no Plano Director Municipal, especialmente no seu conteúdo documental (CANGUEIRO, 2005), como se pode observar a figura 13.

Deve então integrar: os Estudos de Caracterização do Território Urbano, através da análise e diagnóstico das componentes ambientais da estrutura ecológica, sobre as características físicas, morfológicas e ecológicas do território, com os correspondentes estudos temáticos do Plano Director Municipal; o Relatório que fundamenta as soluções adoptadas, onde devem ser apresentados os critérios e metodologias consideradas para delimitar as áreas da estrutura ecológica; o Programa de Execução das intervenções previstas, onde devem constar as intervenções a realizar e financiamentos previstos, especialmente quando incidam nas áreas da estrutura ecológica a valorizar (para recuperação, restauro, reabilitação ou melhoramento das condições ambientais e/ou infraestruturais), tanto em solo rural como em solo urbano; o Regulamento que deve ser organizado procurando que, as normas a aplicar à estrutura ecológica urbana, no seu todo, estejam arrumadas num capítulo ou numa secção ou em capítulos e secções diferentes, em função do tratamento diferenciado do solo rural e do solo urbano; e as

Plantas de Ordenamento e de Condicionantes. Assim, a estrutura ecológica é, por um

lado, estruturada através dos documentos que acompanham a proposta do Plano Director Municipal e, por outro, estruturante através da Planta de Ordenamento e do Regulamento.

“O mesmo é dizer que, haverá que avaliar quais as áreas, valores e sistemas que são fundamentais para a protecção e valorização ambiental dos espaços rurais e urbanos (e sua graduação de importância) e que influência tem essas áreas, valores e sistemas na proposta do plano, nomeadamente nas outras estruturas não ecológicas (perímetros urbano, usos agro-florestais de produção e/ou conservação, áreas naturais, etc.)” (CANGUEIRO, 2005).

Há ainda a salientar o facto desta estrutura ecológica urbana constituir um “subconjunto da estrutura verde urbana, no qual se pretende assegurar uma maior riqueza biológica e salvaguardar os sistemas fundamentais para o equilíbrio ecológico da cidade” (MAGALHÃES, 2001).

Neste sentido, com a estrutura ecológica urbana procura-se criar um continuum

naturale integrado no espaço urbano, de forma a prover a cidade, homogeneamente, de

um sistema constituído por diferentes biótopos e por corredores que os interliguem, representados, quer por ocorrências naturais, quer por espaços existentes ou criados para o efeito, que sirvam de suporte à vida silvestre. Pode mesmo considerar-se a cidade uma estrutura básica de um sistema de biótopos ideal, ligando a paisagem rural envolvente ao centro da cidade (Kunik, 1991, in MAGALHÃES, 2001).

Contudo, a riqueza biológica é variável consoante o tipo de espaço verde urbano pelo que “parece estar provado que as seguintes tipologias apresentam maiores valores de riqueza biológica, por ordem decrescente (MAGALHÃES, 2001): hortas urbanas e

quintais permeáveis, cujas as características de humidade e de maior profundidade do

solo, acrescidas das frequentes mobilizações e incorporação de matéria orgânica, aumentam o nível de vida microbiana, no solo, contribuindo de forma significativa para a manutenção das cadeias tróficas; associações paraclimácicas húmidas, cuja a maior disponibilidade de água assegura uma maior variedade florística e faunística;

associações paraclimácicas secas, nas quais quanto maior a diversidade dos estratos,

maior a riqueza faunística que suportam; áreas pouco utilizadas, tais como áreas abandonadas, pois nestas áreas desenvolve-se vegetação particularmente adaptada às condições artificiais do meio urbano, a qual poderá constituir importante reserva genética para futuras utilizações; e áreas declivosas, as quais apresentam elevados contrastes nos factores ecológicos que as caracterizam e podem constituir nichos ecológicos privilegiados.

A estrutura ecológica urbana nas cidades é condicionada pelos índices de ocupação edificada, o que é particularmente notório em cidades com densos centros históricos urbanos, pois a edificação, incluindo pavimentos, é quase contínua, e os espaços verdes existentes são como que pontos ou “ilhas”, relativamente raros em relação a essa continuidade edificada. Neste sentido, os logradouros ou quintais assumem particular importância para a estrutura ecológica urbana, devendo por tal ser devidamente regulamentados, de modo a garantir-se a sua progressiva desocupação de edificações ou de pavimentos impermeáveis e a substituição destes por vegetação. Deve-se procurar criar, num espaço urbano predominantemente impermeável, uma interface entre o subsolo e a atmosfera, onde as trocas de água, de produtos gasosos e de nutrientes possam ter lugar, com todos os benefícios já conhecidos daí decorrentes, possibilitando a sua utilização por actividades fundamentais ao bom ambiente urbano, como sejam as de recreio e lazer e de alimentação.

Assim sendo, a estrutura ecológica urbana integra um conjunto de espaços verdes, tanto quanto possível contínuos e interligados, integrados no espaço urbano, para os quais concorrem espaços existentes, complementados com espaços a criar.

Para TELLES (1997) os sistemas constituintes da estrutura ecológica urbana são: o

sistema húmido que integra áreas como leitos e margens e áreas adjacentes de linhas de

água existentes a céu aberto; bacias de apanhamento de águas pluviais, existentes a montante das bacias hidrográficas; lagos e charcos; e o sistema seco que integra áreas com declives superiores a 25 %; saibreiras e pedreiras; elementos de compartimentação da paisagem; áreas de prados de sequeiro com ocupação condicionada; maciços de vegetação representativos; sistema de corredores que integra faixas de protecção às vias e arruamentos arborizados; e sistemas pontuais que integram os logradouros e quintais das áreas históricas e áreas consolidadas.

Refere ainda que os usos preferenciais a instalar no sistema húmido são os espaços verdes de grande utilização, nomeadamente hortas urbanas e parques urbanos, pelo que a implantação de superfícies de água, tanto de concepção naturalizada como formal, é aqui particularmente adequada. Quando estas áreas se localizem nas faixas adjacentes às vias, assumirão a função de integração das mesmas. A vegetação a instalar deverá ser, tanto quanto possível, das associações paraclimácicas húmidas. Já no sistema seco os usos preferenciais a instalar são os de espaço verde de média e baixa utilização e de integração de vias ou de edifícios. Nos casos em que existam explorações agrícolas em funcionamento, estas devem ser mantidas e, quando possível, evoluírem para sistemas equivalentes de utilização colectiva. A vegetação a instalar deverá ser dominantemente a da associação paraclimácica seca. No sistema de corredores admitem-se todos os usos compatíveis com os espaços públicos urbanos. Poderá então dizer-se que a continuidade entre o sistema húmido e o sistema seco é assegurado por corredores, sob a forma, quer de faixas largas de ligação entre biótopos, quer de ruas arborizadas, quer ainda de faixas de protecção às vias de maior dimensão, constituindo assim o sistema de corredores, aliando-se ainda os importantes sistemas pontuais.

A estrutura ecológica urbana representa então um conjunto de ecossistemas, alguns em áreas críticas, de maior sensibilidade, onde se deve preservar a renovabilidade dos recursos naturais, nomeadamente do solo, da água, da vegetação e da circulação das massas de ar, em condições de qualidade e de serem usufruídos pela comunidade que neles se instala. São também estas áreas que servem de suporte a actividades que vão desde a agricultura, à silvicultura e aos espaços urbanos de lazer e recreio e que, pela sua natureza, condicionam a edificação. Assim, os condicionamentos à edificação que a

estrutura ecológica urbana impõe devem ser respeitados, nomeadamente nas expansões

que vierem a ser implementadas, procurando desta forma uma coexistência sustentável entre o Homem e a paisagem que lhe deu origem, garantindo o funcionamento dos sistemas ecológicos que lhe estão subjacentes, dos quais o Homem depende, quer física quer psicologicamente.

Assim, no essencial a estrutura ecológica urbana procura: salvaguardar áreas indispensáveis è manutenção do equilíbrio ecológico, integrando no tecido urbano uma rede de activação biológica que permita recriar o contacto das populações com os fenómenos naturais; melhorar e sanear o ambiente urbano; enquadrar as infra-estruturas de transporte; fornecer à população sub-urbana o suporte às actividades de lazer e recreio; melhorar a qualidade estética do espaço, só possível através do contraste existente entre os materiais vegetal e inerte, integrados na sua concepção, através da composição; e impedir o alastramento do contínuo edificado.

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