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3. AGRICULTURA URBANA

3.2 Hortas Urbanas

A cidade de hoje configura-se como um espaço diferenciado em termos de paisagem e usos do solo predominantes, formando um verdadeiro puzzle: o centro, as áreas residenciais, as áreas industriais, as áreas comerciais e a franja rurbana ou periurbana (MARTÍN, 1991). Frequentemente, dentro de áreas bem definidas dos pontos de vista funcional e morfológico, sobrevivem enclaves de paisagens residuais que são uma herança do passado e que resistem a desaparecer na lógica das forças de mercado por várias razões, entre elas, destacam-se as hortas urbanas que, além de protegerem a paisagem, apresentam outros valores como espaços de convivência, de economia e de alimentação para toda a cidade.

Uma horta constitui uma parcela de terreno cercada, de pequena extensão, onde se cultivam legumes, hortaliças, plantas ornamentais e árvores frutíferas, sujeitas a uma técnica intensiva de produção. Em geral, as hortas urbanas têm a sua dimensão

condicionada pela disponibilidade de terrenos, os quais são, por norma, pequenos. Por exemplo, uma mini-horta intensiva pode apresentar uma área mínima de 2,25 m² e uma horta familiar pode apresentar uma superfície máxima de 2000 m². O lote convencional funcional apresenta, geralmente, uma dimensão entre 200 m² e 300 m².

As hortas urbanas traduzem uma forma espontânea de utilizar os espaços intersticiais das cidades, permitindo o auto-abastecimento, a redução dos consumos energéticos, o incremento da actividade económica ao gerar postos de trabalho e ter um efeito multiplicador na economia, a disponibilidade de produtos frescos e, se se tratar de agricultura biológica, de produtos sãos.

A paisagem urbana raramente se dissocia totalmente da agricultura, pois a maior parte das cidades “logo que se desprendiam do anel defensivo das primeiras muralhas e ocupavam uma certa área já não circunscrita à elevação coroada pelo castelo, as hortas e pomares, os olivais e ferragiais, ocupavam áreas interiores e intercalares do casario, enquanto surgiam quintas de recreio que envolviam perifericamente os aglomerados mais importantes” (TELLES, 1994). Estes espaços revestidos de vegetação, de solo permeável, permitindo a alimentação das toalhas freáticas, desempenham, conjuntamente com os espaços públicos, um importante papel cultural, de melhoria do ambiente natural das cidades e contribuindo para a estabilidade e segurança dos edifícios. As hortas servem ainda, quer se encontrem mais próximas da periferia urbana, quer se encontrem no interior da cidade, de fonte de abastecimento próximo em produtos verdes e espaço de recreio e melhoria ambiental.

Estas hortas urbanas também aparecem como elemento da estrutura verde urbana, nomeadamente da estrutura verde urbana principal, a qual procura assegurar a ligação da paisagem envolvente ao centro da cidade e também o enquadramento das redes de circulação viária e pedonal, mediante integração dos espaços que constituem os equipamentos colectivos verdes de maior dimensão e de concepção mais naturalista. “A presença da natureza na cidade torna-se absolutamente necessária e pensa-se concretizá-la através de corredores verdes, construídos por diferentes ocorrências: jardins públicos, hortas, relvados e prados, árvores, flores, matas e ribeiros” (TELLES, 1996).

Entre os diferentes tipos de espaços verdes urbanos (HIGUERAS, 2006) encontram-se as hortas urbanas, como se pode observar na tabela 7, cuja relevância é conhecida para a protecção ambiental e a preservação da natureza nos ecossistemas urbanos.

Tabela 7 – Tipos de Espaços Verdes, Adaptado de Palomo, 2003, in HIGUERAS, 2006

Escala de Utilidade: - nenhuma; ○ insignificante; + quase insignificante; ++ significante

Naturalmente que para que esses espaços verdes urbanos, nomeadamente as hortas urbanas, exerçam, na plenitude, as suas funções devem ser estabelecidos padrões adequados de dimensionamento no sentido de obter: a criação de cidades atractivas; a protecção ambiental e o equilíbrio ecológico; padrões funcionais e de bem-estar; e padrões económicos. Como exemplo de padrões para hortas urbanas, apresentam-se, na tabela 8, os valores utilizados no Plano de Verde da Cidade de Valência (PALOMO, 2003).

Tabela 8 – Sistema de Espaços Verdes – Plano Verde de Valência, Adaptado de PALOMO, 2003

Conceito Superfície média mínima m²/hab. Relação com a

superfície % Raio de influência Áreas naturais Espaços naturais 2 ha 5 2,75 % 2 km para 20 ha 5 km para 100 ha 10 km para 500 ha Áreas periurbanas Parque periurbano (incluindo as florestas) 25 ha 5 2,75 % de 1 a 2 km Áreas urbanas Parque urbano Parque distrital Jardins (parque de bairro)

Jardins e praças Total

Passeio e repouso pedonal Áreas livres 10 ha 5-10 ha 1-5 ha 1000 m² - 1 ha > 1000 m² 1500 m² 5 2,5 2 1,5 1,5 12,5 m²/hab. 2 2 2,75 % 1,38 % 1,1 % 0,8 % 0,8 % 6,38 % 1,1 % 1,1 % 1000 m 500 m 250 m 100 m 100-1000 m (*) 400 m Hortas urbanas Hortas de ócio 2 ha 1 0,55 % 1000 m Arvoredo 1/3 árvore/hab.

(*) 0-4 anos: 100 m; 4-10 anos: 250 m; 10-12 anos: 1000 m

É importante que as cidades disponham de áreas verdes, preferencialmente extensas, contínuas e de diferentes tipos “umas a serem mantidas privadamente: ajardinados a nível de condomínio ou de fogo (na tradição, aliás, dos antigos quintais) para as classes

Propriedades Maciços de flores Jardins e Hortas Pradarias

de turfa Avenidas de frutas Hortas

Florestas sem matos baixos Florestas com matos baixos Cercas altas Corta-ventos - - - + + ++ ++ ++ Protecção da poeira e dos ventos - - ○ + + + ++ ++ Protecção do ruído - - - ○ ○ + ++ ++ Controlador de erosão ○ - + ○ ++ ++ ++ ++ Protecção contra produtos tóxicos - - + ○ + + + + Produtividade biológica ○ + + + + ++ ++ + Protecção da fauna, microorganismos - - ○ ○ + + ++ ++ Protecção de abelhas e insectos + ○ + + ++ + + + Protecção de pássaros - - - + + + ++ ○ Protecção de espécies de plantas - - - - ○ ++ ++ ○ Diversidade de espécies ○ - ○ - + + + + Auto-regeneração de plantas ○ - + ○ + + ++ ○

sociais que a tal possam aceder; hortas e outras áreas agrícolas (de propriedade privada, ou de propriedade pública mas alugadas a privados); outras a nível público – ajardinados, parques e áreas semi-naturais” (SARAIVA, 2005). Este autor considera ainda o importante papel que estas áreas verdes podem ter como um novo tipo de equipamento para promover a educação ambiental, dando como exemplo “hortas e quintas pedagógicas (visto a maioria dos cidadãos das grandes cidades já se ter esquecido como são as plantas da couve, ou do feijão, as ovelhas e as galinhas)” (SARAIVA, 2005).

“Torna-se essencial deixar que o urbano se imiscua com o rural e refazer a ruralidade na cidade. As pessoas chamadas a escolher declararam: «não queremos um jardim público

exclusivamente para andar à volta dos canteiros, para estar sentados nos bancos ou jogar à bisca. Queremos jardins que nos permitam trabalhar como na horta e nos campos. Recriar a ruralidade»” (TELLES, 1996). As pessoas querem mais viver o

espaço verde do que apenas contemplá-lo. “Em Berlim, houve um concurso para a construção dum espaço público. Para elaborar o programa, foi ouvida a população do bairro para se pronunciar sobre o que desejava. A resposta foi: «Pretendemos uma horta

colectiva onde possamos trabalhar com os nossos filhos e vizinhos». Projectou-se então

uma horta colectiva onde a população tivesse não só lugar de convivência, mas também onde pudesse exercer um trabalho activo com a colaboração dos amigos, vizinhos e da família. Esta atitude é o prolongamento do movimento das hortas sociais, com velhas raízes por toda a Europa. Londres tem cerca de 3000 hortas sociais. Por toda a Europa as hortas sociais e os jardins familiares preenchem os espaços livres das cidades. A cidade retoma assim pouco a pouco, o seu contacto com a ruralidade” (TELLES, 1996). Estes espaços livres das cidades normalmente são entendidos como espaços com uma extensão territorial não comprometida com edificação, funcionando como suporte de actividades de recreio e lazer ao ar livre.

A noção de espaço livre está normalmente associada à de espaço aberto. Os espaços abertos são espaços que podem ser apropriados e que não estão destinados a um uso específico, pelo que são susceptíveis de interpretações diversificadas, de acordo com o seu uso potencial ou a utilização desejada ou programada. Ora, pelas suas características, estes espaços são essenciais na programação e instalação dos equipamentos e infra-estruturas de recreio e lazer destinadas ao uso público e à qualificação ambiental das cidades. Assim “a adequação entre o desenho, o uso proposto ou possível e os hábitos da população constitui, de facto, uma condição essencial para a viabilidade das áreas e para a concretização das vocações definidas” (FADIGAS, 1993).

Têm então surgido novas formas de organização, funcionamento, uso e gestão desses espaços, especialmente através de um papel mais activo e interveniente dos utilizadores como agentes participantes na sua criação e manutenção. Considerando, para tal, tanto os utilizadores individualmente como as formas em que eles surgem representados por um grupo ou entidade representativa, ou até mesmo, na sua concessão e entidades vocacionadas para a sua gestão que, através de critérios previamente estabelecidos no contrato de concessão, os colocam à disposição dos utilizadores, funcionando, assim, como mediadores da prestação de um serviço público. “A oportunidade, nestes casos, traduz um ajustamento entre a disponibilidade, a vontade e os meios necessários para concretizar vocações. O ressurgir das hortas sociais permitiu a jardinagem como actividade de ocupação de tempos livres e de recreio de ar livre, tornando-a possível para quem não dispunha, para tal, de um espaço próprio e privado” (FADIGAS, 1993). Esta realidade traduz uma atitude nova de programação de espaços verdes públicos e, em muitos casos, perante a utilização de espaços abertos, imediatamente disponibilizáveis, para uso colectivo, como é o caso das hortas sociais, que podem representar não apenas uma área verde de recreio de ar livre para os utentes das hortas, mas também de acesso público.

Estas hortas sociais proporcionam o desenvolvimento espontâneo do convívio, facilitando a criação de novos conhecimentos e amizades e ainda de motivação para a prática de actividades de ocupação de tempos livres. Estas actividades (de grupos humanos ou de humanos isolados) proporcionarão a livre troca de opiniões e o convívio informal entre habitantes.

As hortas sociais, como se pode observar na figura 15 (LABORATÓRIO NACIONAL DE ENGENHARIA CIVIL – LNEC, 1986), para além de favorecer as relações interpessoais, propiciam ainda: economias na ocupação e manutenção das zonas verdes; definição de um solo-paisagem variado, agradável e motivador do convívio e da interacção social, pois é suporte de paisagem natural e de actividades visíveis incentivadoras da curiosidade e da entreajuda humanas; definição de condições que contribuirão para a redução do desequilíbrio orçamental das famílias economicamente mais desfavorecidas, pela auto-produção de

espécies vegetais de primeira necessidade alimentar e ainda a criação (bem controlada e regulamentada) de alguns pequenos animais domésticos produtores de carne e ovos; definição de um conjunto de actividades e de um salutar ambiente para realização das mesmas que são naturalmente amenizadoras das tensões psicológicas provocadas pela vida urbana. Essas actividades são ainda excelentes exercícios físicos de manutenção e de restauração do equilíbrio fisiológico do corpo humano; e definição de condições que permitem a criação no exterior de pequenos animais domésticos de estimação. Esta liberdade de criar e de conviver com animais domésticos é de grande importância para os habitantes, nomeadamente para as crianças e os idosos por razões didácticas e afectivas. Assumindo grande importância quando as residências não possuam espaços exteriores privados em que seja possível criar esses animais sem consequências nefastas na salubridade das habitações e no convívio entre vizinhos.

Os espaços das hortas sociais devem cumprir exigências ambientais e funcionais que evitem que se tornem, com o decorrer do tempo, espaços residuais/abandonados, passando pela existência de regulamentação que controle os seus usos e a sua manutenção e pela estruturação básica entre estes espaços e os circuitos pedonais (a visibilidade pública é factor de inibição do descuido e abandono dos quintais) (LABORATÓRIO NACIONAL DE ENGENHARIA CIVIL – LNEC, 1986).

Se se considerarem estas áreas verdes do ponto de vista funcional e tipológico, elas podem ser incluídas num sistema misto de produção e recreio, o qual “inclui todas as áreas verdes às quais é atribuída uma função simultaneamente produtiva e recreativa ou lúdica, nomeadamente quintais, jardins e hortas familiares, matas, logradouros interiores” (TELLES, 1997). Esta áreas devem ser mantidas e preservadas, pelo que todas as áreas destinadas a jardins familiares e hortas urbanas podem ser cedidas por concessão a famílias que terão um prazo para as cultivar, prorrogável, e cuja concessão cessará quando a família dela prescindir, sendo posteriormente cedida a outro agregado familiar. Desta forma, os habitantes da cidade, alguns sedentos de ruralidade, tem oportunidade de contactar com a natureza e de desfrutá-la. Há que garantir a presença do espaço rural e do natural na cidade, como instrumentos de presença da natureza e da biodiversidade, necessária à espécie humana

As hortas urbanas representam portanto um elemento fundamental a considerar no espaço urbano, disso é exemplo a cidade de Lisboa. “Em Lisboa, existem 3000 hortas que são absolutamente indispensáveis a 3000 famílias para que não passem fome. Isto sucede, hoje, em qualquer cidade europeia principalmente nas cinturas, onde vivem aqueles que fugiram à fome. Não podemos tirar estas pessoas das hortas e metê-las em casarões (…). Elas não se podem adaptar a uma nova circunstância económica, porque não lhes são dadas nem a possibilidade nem o dinheiro para que possam ir aos

supermercados. Fica-se espantado quando, em 1987, se verificou que 3000 famílias em Lisboa passariam fome se não tivessem a sua horta de que pagavam renda à câmara urbano. Para além dos alimentos, retiram apenas dois outros rendimentos: um, dos crisântemos, que vendem no dia dos finados, e outro dos manjericos que vendem no mês dos Santos Populares. Pode acontecer que, num futuro, essas hortas – que hoje servem para ajudar a matar a fome – possam ser, como nas cidades europeias, para recreio. E, antes do mais, são zonas de infiltração de água e pulmões verdes de manutenção muito económica para a autarquia” (TELLES, 1996).

As hortas urbanas, além de servirem para combater a fome, proporcionam a infiltração de água e a renovação do ar, contribuem ainda com uma série de outros benefícios para as cidades, tais como: produzir alimentos; povoar o território; garantir o equilíbrio ecológico e a estabilidade do espaço; reciclar resíduos orgânicos (compostagem); integrar socialmente; gerar renda; e ainda são fonte de cultura, de espaço e de recreio, e até uma terapia anti-stress.

Para LE CORBUSIER (1995) a hora do lazer é a hora de espairecer, por isso considerava que a horta é fundamental para que os habitantes das cidades recuperem forças depois do trabalho, servindo para se auto-abastecerem durante grande parte do ano.

Actualmente a pressão urbana é cada vez maior, assistindo-se a uma excessiva construção urbana que tende a apoderar-se cada vez mais do espaço envolvente à cidade. “Neste momento, não é possível estabelecer uma fronteira nítida entre os espaços rural e o urbano: não sabemos onde começa a cidade nem onde acaba o campo. (…) Em termos ecológicos, devemos partir do princípio de que a cidade e o campo são fases diferentes de um mesmo sistema: uma não pode viver sem a outra. A cidade pontual deu origem à cidade região. A cidade é hoje uma região com variadíssimos aspectos, desde os centros históricos, às expansões urbanas de diferentes épocas, aos espaços abertos agricultados, ou mais ou menos próximos da natureza selvagem, aos espaços verdes. (…) Nela já não há fronteiras definidas entre os espaços urbano e rural. (…) Hoje há uma cidade que começa em Braga e acaba em Setúbal. É uma cidade/região cuja realidade deve ser pensada: tem (e deve ter) agricultura, tem centros históricos, constitui um sistema contínuo de actividades industriais, culturais e de serviços. É uma realidade!” (TELLES, 1996).

Perceber onde acaba a cidade e começa o campo deixou de ser uma realidade facilmente perceptível. “Aquilo que ontem era o campo, tende hoje a ser um deserto humano, as cidades deixaram de se confinar aos aglomerados clássicos e o espaço intercalar tende a assumir um maior protagonismo no processo de urbanização. (…) Há muito que a cidade deixou de se distinguir do campo pela fronteira das suas muralhas, pelo limiar

dos seus arrabaldes, pela distinção diversificada e concentracionária do seu espaço, em antagonismo com o território envolvente. (…) É cada vez mais complexo distinguir o campo da cidade, porque as áreas rurais tendem rapidamente a desaparecer ou a se rurbanizar” (BANDEIRA, 1994).

É no espaço intercalar, de transição, que surge a agricultura periurbana, isto é, aquela que ocorre na periferia das grandes cidades e dela está dependente, representando uma situação que, no processo de expansão urbana merece atenção especial. Trata-se, em muitos casos, de uma agricultura de transição em terras que, a prazo, irão ser transferidas para a construção pelo que os investimentos feitos nesta agricultura de periferia nunca são de médio ou longo prazo. No entanto, a sobrevivência desta agricultura e dos espaços que ocupa constitui uma condição de garantia da persistência de valores naturais qualificados na periferia urbana e no interior do tecido urbano em expansão. Para que a sua sobrevivência seja possível, bem como a sua função de espaço verde periurbano se mantenha, não poderá ser uma agricultura sujeita às regras e condições da agricultura de mercado. “Por esta razão a agricultura periurbana, bem como as manchas florestais, por ocorrer em zonas sob pressão, só poderá subsistir quando a qualidade dos produtos for elevada e exista uma população urbana próxima, com suficiente poder de compra para poder pagá-los. A agricultura com fins ambientais e paisagísticos, como a periurbana, assumindo as funções de zona tampão diversificada, e comportamento de espaço verde da cidade que sobre ela cresce, é simultaneamente uma fonte de rendimento de quem a pratica e da sociedade que dela recebe os benefícios directos e indirectos. Os custos sociais que a sua manutenção acarreta deverão, por isso, ser assumidos por ambas as partes. Agricultura de tempo parcial na maior parte dos casos mas com a garantia de rendimentos mínimos para quem nela trabalha. Seja em regime de pequenas hortas onde apenas uma parte da produção se destina ao mercado seja em explorações mais extensas e tecnologicamente mais evoluídas. Só assim as zonas com condições para o uso agrícola e florestal periurbano poderão resistir às pressões económicas e de valorização dos terrenos que ocorre nas zonas urbanizáveis ou em vias de urbanização” (FADIGAS, 1993).

Urge então no planeamento da cidade reintegrar a ruralidade e a agricultura, a tempo parcial e complementar, de forma que os diferentes sectores tenham a mesma força e não apenas aqueles dão dinheiro a curto prazo. É a componente cidade-natureza da cidade emergente entendendo-se, descontínua, a cidade abrange a natureza, abrange o campo. Não é mais a cidade verde, de jardins e parques. É a própria agricultura, por adoptar modos de vida urbanos e pela interpenetração territorial, que integra a cidade. (CARVALHO, 2003).

Figura 16 – Hortas Colectivas, Adaptado de CROFT, 2001

A cidade actual é fragmentada, estende-se, dispersa, pela área rural envolvente. Pretendendo encarar-se a cidade na sua real dimensão territorial, incluindo as suas periferias mais próximas, ter-se-á então que assumir a existência de uma área agrícola, de dimensão ainda significativa, como fazendo parte integrante da cidade, havendo que pensar na sua utilização numa nova perspectiva, ambiental, educacional, turística e de lazer, complemento da outras funções urbanas. “Não se trata, pois, apenas de criar parques urbanos ou jardins botânicos. Trata-se de encarar estruturas agrícolas e florestais numa perspectiva de património, com o seu valor simbólico, pedagógico e ambiental, mas também económico, enquanto oferta de lazer e turismo. Poderão imaginar-se contactos das escolas com os ciclos de vida dos nossos produtos alimentares, vegetais e domésticos. Poderão organizar-se fins-de-semana de trabalho de campo, associados a uma gastronomia tradicional. Poderá desenvolver-se um nicho de agricultura biológica. Poderão criar-se hortas urbanas” (CARVALHO, 2003).

As hortas urbanas pela sua importância assente mas inúmeras funções que podem desempenhar pois, além da função pedagógica, de combaterem a fome entre os mais carenciados e de equilibrar o orçamento familiar, de serem um veículo de integração social, funcionam também como uma estratégia de recuperação ambiental de terrenos vazios que serviam apenas para acumular mato e lixo, devem ser consideradas no Plano Director Municipal para que a actividade seja regulamentada. Devem ainda ser consideradas nos estudos de habitação ou até em projectos de loteamento, com o objectivo de promover o convívio, o recreio e momentos de lazer entre as pessoas, bem como ampliar o consumo e produção de alimentos de terrenos da área urbana, especialmente em modo de produção biológico, e assim aumentar a consciência ecológica e o respeito pelo ambiente e mudar hábitos alimentares.

Apresenta-se, na figura 16, um exemplo de hortas num estudo sobre habitação para realojamento, que previa na habitação evolutiva multifamiliar, em prédios de andares com três pisos, hortas colectivas (CROFT, 2001).

Promover a criação de hortas urbanas colectivas ou comunitárias contribuirá para o aumento da oferta de alimentos de elevado valor nutritivo e para melhorar as condições de vida de

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