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3. AGRICULTURA URBANA

3.1 Objectivos e Orientações

“A Agricultura Urbana é recente como programa ou política urbana portanto, é um campo de inovação promissor” (DECLARAÇÃO DE QUITO, 2000).

Como já foi referido, a agricultura urbana assenta na utilização de espaços privados ou públicos, individuais ou colectivos, dentro do perímetro da cidade, para a produção de cultivos para consumo próprio ou para venda em mercados locais. Difere da agricultura rural em vários aspectos: inicialmente a área disponível para o cultivo é muito restrita na agricultura urbana; há escassez de conhecimentos técnicos por parte dos agentes/produtores directamente envolvidos; frequentemente não há possibilidade de dedicação exclusiva à actividade; a actividade destina-se, normalmente, para o auto- consumo; há grande diversidade de cultivos; e a finalidade da actividade é distinta, pois normalmente não é requisito para a agricultura urbana a obtenção de lucro financeiro. Observa-se, porém, uma relação muito forte entre a agricultura urbana e agricultura rural, pois a agricultura urbana é normalmente praticada mais intensivamente em municípios que tenham tradição agrícola no meio rural.

O principal aspecto que distingue a agricultura urbana da rural é o ambiente. A agricultura urbana pode ser realizada em qualquer ambiente urbano, podendo ser praticada directamente no solo, em hortas, em canteiros suspensos, em vasos, ou onde a criatividade sugerir. Qualquer área disponível pode ser aproveitada, desde um vaso dentro de um apartamento até extensas áreas de terra, sob luz natural ou artificial. Exige, no entanto, alguns cuidados especiais como ensombramento parcial, sobretudo onde houver insolação elevada, e irrigação cuidadosa e frequente. E no caso de luz artificial devem ter-se alguns cuidados especiais com a intensidade da luz e o foto-período. A ideia é garantir o abastecimento de alimentos diversificados todo o ano e, ao mesmo tempo, a preservação ambiental pela possibilidade que proporciona de ocupação de áreas abandonados ou sub-aproveitadas e pela reciclagem de resíduos orgânicos urbanos.

A agricultura praticada em meio urbano representa uma actividade com múltiplas vantagens e benefícios para os habitantes das cidades pois permite: uma alimentação mais saudável, mais barata e, sobretudo, mais segura, com mais alimentos e mais frescos; o combate à fome dos mais carenciados; a inclusão social, dos mais carenciados e dos migrantes; um complemento ao rendimento familiar; a melhoria das condições ambientais; a revitalização de espaços vazios ou degradados e de espaços indevidamente ocupados; o aumento da permeabilidade do solo, reduzindo a erosão; a educação alimentar e ambiental; a diversificação e valorização da cultura alimentar local; o fortalecimento da agricultura familiar; a reciclagem aos utilizar os resíduos orgânicos na compostagem para obter adubo verde.

Refira-se então que são inúmeras as mais valias que a agricultura urbana pode trazer para a cidade, ou seja, são vários os motivos para praticar a agricultura urbana, passando por: produção de alimentos de qualidade – incremento da quantidade e da qualidade de alimentos disponíveis para auto-consumo; reciclagem de resíduos orgânicos – utilização de resíduos domésticos, diminuindo assim a sua acumulação, tanto enquanto composto orgânico para adubação, como reutilizando embalagens para semear e depois transplantar; utilização racional de espaços – melhor aproveitamento de espaços ociosos, evitando a acumulação de resíduos e entulho ou o crescimento de ervas daninhas, onde se podem encontrar abrigo espécies animais que podem ser prejudiciais à saúde humana; educação ambiental – todas as pessoas envolvidas, seja na produção ou no consumo, na agricultura urbana, passam a ter um maior conhecimento e sensibilidade sobre o ambiente, aumentando a consciência ambiental; desenvolvimento

humano – aliada à educação ambiental e ao recreio, ocorre também uma melhoria da

qualidade de vida, prevenindo e combatendo o stress, além da formação de lideranças e de troca de experiências; segurança alimentar – favorece o controlo total de todas as fases de produção, diminuindo o risco de se consumirem alimentos contaminados;

desenvolvimento local – valoriza a produção local de alimentos e de outras plantas úteis,

como medicinais e ornamentais, fortalecendo a cultura popular e criando oportunidades para o associativismo; recreio e lazer – a agricultura urbana pode ser usada como actividade de lazer e recreio, sendo mesmo recomendada para desenvolver o espírito de grupo; farmácia caseira – prevenção e combate a doenças através da utilização e aproveitamento de princípios medicinais; formação de microclimas e manutenção da

biodiversidade – através da construção de uma horta em modo de produção biológico,

que favoreça a manutenção da biodiversidade, proporcione sombras, odores agradáveis e contribua também para a manutenção da humidade, etc., tornando assim o ambiente mais agradável, até para os animais domésticos; infiltração de águas das chuvas e

diminuição da temperatura – favorece a infiltração de água no solo, diminuindo o

escoamento de água nas vias públicas, e contribui para a diminuição da temperatura, devido ao aumento de áreas com vegetação e a respectiva diminuição de áreas construídas; protecção do solo – ao favorecer a infiltração diminui o risco de erosão do solo; valor estético – a utilização racional do espaço confere um enorme valor estético, valorizando inclusivamente as construções; diminuição da pobreza – através da produção de alimentos para auto-consumo ou consumo comunitário (em escolas, associações, etc.) e da receita de venda dos excedentes; renda – possibilidade de produção em escala comercial, especializada ou diversificada, tornando-se uma opção para a geração de renda, isto é, tornando-se outra fonte de rendimento; e integração

população rural que chega à cidade e da população rural absorvida pelo crescimento da cidade para a periferia.

Resumem-se em seguida as principais contribuições da agricultura urbana (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO – Habitat II, 1996): no ambiente, a conservação dos recursos naturais, a redução do impacto ambiental, as comunidades sustentáveis e incremento da reutilização e reciclagem de resíduos; no bem-estar, o aumento da segurança alimentar, a melhoria da nutrição, a melhoria da saúde e o ambiente mais limpo; na economia, a fonte de trabalho, o fortalecer da base económica, a diminuição da pobreza, o fomento do empreendimento e do trabalho para mulheres e para outros grupos marginalizados.

A agricultura urbana pode revelar-se numa nova função da cidade. Função essa que tem necessidades, relações e potencialidades, muito para além da produção de alimentos e que, por tal, deve ser considerada no planeamento urbano, atendendo à sua relação benéfica com os outros componentes do ambiente urbano, tais como os serviços, as áreas verdes, os espaços de recreio e lazer, os edifícios, a economia, a paisagem, entre outros.

A agricultura urbana pode constituir-se um instrumento de desenvolvimento urbano ao trazer benefícios económicos, sociais e ambientais para as cidades. Para além de gerar renda e auto-subsistência e integração social, pode ainda traduzir-se numa forma de implementação da Agenda 21 Local ao promover a mudança de hábitos comportamentais e a consciencialização para as questões ambientais.

Neste sentido, as políticas urbanas devem incentivar a implementação da agricultura urbana como forma de promover o desenvolvimento urbano sustentável.

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